sexta-feira, 27 de setembro de 2013

[Breaking Bad] 5x15 - Granite State


 

 “I did wrong. I…I made some terrible mistakes. But the reasons were always... Things happened that... I never... intended.” – Walter White




Depois da possibilidade de ser preso, e da fuga após todos ao seu redor passarem pelo inferno, é hora de acompanharmos como é viver após a tragédia. “Granite State” mostra mais uma possível conclusão pra série, sendo o terceiro episódio consecutivo em que a jornada de Walt poderia se dar por encerrada, e de uma forma pior do que vista anteriormente. Aparentemente tudo de ruim já foi mostrado, exceto pela morte.

É um episódio com uma divisão bem clara: o inferno particular vivido pelo protagonista, e o inferno que ele deixa para sua família e Jesse na forma de Jack, Todd e Lydia. De um lado, a total impotência de quem sempre conseguiu planejar algo, e agora sequer consegue completar uma ameaça (sua tentativa de intimidar Saul é idêntica a de “Live Free Or Die”, agora interrompida pela crise de tosse), que não encontra utilidade para a vestimenta de Heisenberg e a única coisa que pode fazer com seu dinheiro é pagar por companhia. Do outro, o mal encarnado presente nas vidas de Jesse e Skyler.

Confesso que não sei muito bem o que pensar de um grupo de nazistas fazendo as coisas mais terríveis na reta final da série. É compreensível a presença de um antagonista, de alguém que nos faça torcer pelo personagem principal e que nos renda alguma catarse quando ele conseguir sua vingança, mesmo que Gilligan já tenha deixado claro que Walt não terá nenhum tipo de redenção. Mas também me parece um pouco fora do tom, talvez um pouco diabólico demais, que faça parte de sua punição ter se envolvido com os tipos mais frios e cruéis que se poderia ter – mas devo dizer que acho excelente a sequência em que o grupo ri do vídeo de Jesse, enquanto este chora ao falar sobre a morte de Gale; é como se fossem retratados ali os fãs que ridicularizaram o personagem pela sua fase “deprê”, e não tenho dúvidas de que Jack e amigos odiariam Skyler caso assistissem à série.

Por outro lado, o episódio deixa evidente que o grupo de Jack é só um sintoma de um mundo já doente, numa visão que, se não é positiva, é bastante coerente com o que a série sempre foi: ninguém presta, pois Lydia é tão cruel quanto os nazistas sugerindo a morte de Skyler; o homem que muda a identidade de Walt negocia sua companhia (10 mil, sim, mas só por uma hora); seus antigos sócios da Gray Matter fazem doações e mentem sobre sua participação na fundação da empresa para que as ações não sejam desvalorizadas. O individualismo e o Deus-dinheiro são responsáveis pelos atos mais desprezíveis e egoístas. Uma visão de mundo infelizmente pouco explorada pelas discussões atuais sobre “Breaking Bad”, que parecem se resumir a uma análise de caráter e personalidade do protagonista e seu papel real na narrativa (herói, anti-herói, sociopata, incompreendido, monstro, etc), além de tentar atribuir culpa aos personagens pelos eventos que nos trouxeram até este final. E se esta é essencialmente a história de Walter White (e é ele quem traz todos para o olho do furacão), há culpa pra todo mundo. Jesse sofre as consequências por não aceitar plenamente as regras do jogo que decidiu participar, e Skyler sofre justamente por aceitar entrar em um jogo cujas regras não conhecia. Mesmo a morte de Andrea (filmada pelo ponto de vista de Jesse, amplificando a crueldade e sofrimento) poderia ter sido evitada caso Hank tivesse agido de forma diferente quando interceptou a ligação de Walt pra Jesse, assim como sua morte é consequência também tanto do seu código de justiça quanto do seu orgulho.

É importante enfatizar que esse clima de fim de mundo francamente depressivo em que a série se encontra, faltando apenas um episódio para o fim, é fruto dessa construção em cadeia que está presente desde o princípio de tudo. E como esta é a história de Walt, é maravilhoso o retorno ao início de sua jornada no final de “Granite State”, nos lembrando pela enésima vez que não há intenções de suavizar o protagonista ou torná-lo mais simpático (ainda que seja inevitável alguma simpatia e compaixão quando vemos o personagem que acompanhamos por cinco temporadas vivendo naquela situação, não importando o que ele fez pra chegar ali). Já tinha comentado que o telefonema pra Skyler em “Ozymandias” não tinha objetivo de redenção e aqui, falando com o filho, ele sequer consegue completar a frase sobre os motivos de ter feito tudo o que fez.

Não há dúvidas de que Walt sempre pensou em sua família, algo muito explorado nos últimos episódios, e que os flashforwards que vimos poderiam mesmo mostrar seu retorno para se vingar de Hank e proteger sua esposa e filhos. Mas Heisenberg foi uma criação necessária para fortalecer seu ego, preservar o orgulho, criar algo duradouro e lhe dar um poder sobre as pessoas que o brilhante professor de química nunca teve na vida medíocre que levava, com intelecto subaproveitado e submisso no trabalho e em casa. “Remember My Name”, diziam os cartazes publicitários que divulgavam este último ano da série. E a preservação do mito, do nome e de um império é que são coisas mais importantes que a família, o suficiente para reerguer um homem acabado.

De uma só vez, a entrevista com os seux ex-sócios da Gray Matter o faz se lembrar de como tudo começou (e com sua realização reduzida à criação do nome da empresa) e que uma metanfetamina de qualidade (mas NUNCA como a sua) circula pelo mundo. Uma das melhores sacadas dos realizadores, que ainda completam com o uso do tema da série como trilha sonora, algo que nunca haviam feito e que reforça a ideia de retorno ao que sempre mais importou ao protagonista.

Eu não tenho ideia do final que Gilligan e seu time reservam a cada um dos personagens, mas o que eles têm feito nestes últimos episódios consegue ampliar ainda mais as expectativas, de uma forma que parece até improvável que resolvam tudo de forma satisfatória. Ao mesmo tempo, transmitem uma segurança tão grande no material em mãos, que seria decepcionante se tudo fosse de forma “apenas” satisfatória. O fato é que a expectativa não é só de saber como será o fim, mas do quanto ainda podemos ser surpreendidos. Seja como for, o mundo das séries ficará um tanto mais triste a partir do dia 30 de setembro. 






Hélio Flores

4 comentários:

Seadini disse...

Excelente a análise!

e.fuzii disse...

Realmente acho incrível não conseguir prever sequer um fio da trama, mesmo tendo tantas pistas em mãos. Vejo pessoas reclamando do "exército" neonazista agora mas não vejo grande diferença para os gêmeos do deserto, por exemplo. Como você mesmo disse, nada mais do que aquilo que o próprio Walt atraiu para si (e para os outros).

Faltou falar de Robert Forster, a melhor escalação já feita pela equipe de elenco. Espero que ele apareça também neste novo spin-off do Saul...

Anônimo disse...

Laura Fraser mto gostoza!!!!

Unknown disse...

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