terça-feira, 16 de julho de 2013

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Veteranas - Parte 2)

Continuando o post anterior, mas antes algo que esqueci de dizer: os comentários sobre as séries evitam ao máximo spoilers sobre elas.

Completando, então, a lista das melhores séries veteranas concorrentes ao Emmy:





6º - Justified – 4ª Temporada

Vendo em retrospecto, talvez “Justified” nem merecesse uma posição tão boa: após uma temporada divertida, mas problemática, pelo excesso de vilões, a opção para este ano foi um “whodunnit” não muito interessante, que demora a engrenar, e com subtramas que parecem que resultarão em algo maior, mas que ficam pelo caminho (o ex-marido lutador da namorada de Raylan; o fugitivo interpretado por Chris Chalk; o pastor e sua irmã). Mas o fato é que ainda que os problemas superassem em quantidade as qualidades, estas são tão incríveis que tudo é perdoado. Poucas séries são tão prazerosas em se ouvir diálogos, com caracterizações tão divertidas de personagens e do ambiente caipira em que convivem. Troco qualquer “relevância narrativa” e mesmo séries inteiras pelo prazer de acompanhar Raylan Givens entrando na sala de Art, fazendo uma visita ao bar de Boyd, interrogando bandidos idiotas ou supostamente ameaçadores, fazendo parceria com Rachel ou Tim, ou ainda as reações de Wynn Duffy ao que acontece em sua volta, Boyd intimidando alguém, ou uma visita rápida de quem quer que seja ao território de Limehouse. Ainda poderia falar de Arlo, mas sua participação nesta temporada talvez tenha sido o maior tiro no pé que a série já deu, impedindo que temas e relações mais complexas pudessem se manter por mais tempo. Também não gosto do caminho moralizante trilhado por Boyd e Ava, mas terminam a temporada com novas e estimulantes possibilidades para o ano que vem. Fora isso, o mistério se resolve de forma satisfatória e a tempo de nos proporcionar episódios extraordinários lidando com as consequências da revelação (“Decoy” e “Peace of Mind”), uma feliz junção de grandes diálogos, humor, tensão e sequências marcantes (em que participam novos e ótimos personagens vividos por Patton Oswalt e Mike O’Malley).

Chances no Emmy: O melhor momento da série, a 2ª temporada, rendeu indicações para Timothy Olyphant, Walton Goggins e a vitória para Margo Martindale. Provavelmente esteve muito próxima de uma indicação a Melhor Série, mas com competição cada vez maior surgindo e sem alcançar seu ápice, dificilmente veremos um ano tão rico de indicações como o de dois anos atrás. Pelo número de vagas abertas para Ator Coadjuvante, Goggins ainda é uma possibilidade, mas Olyphant teria que desbancar um dos seis indicados do ano passado (todos retornam), além de novos candidatos que atendem por nomes como Kevin Spacey e Jeff Daniels. Jeremy Davies ganhou ano passado como Ator Coadjuvante, mas não retorna este ano. Se votantes quiserem manter alguém do elenco, bons nomes não faltam: Patton Oswalt, Mike O’Malley e Jim Beaver são todos nomes respeitáveis e com grandes momentos na série. Mas nenhuma indicação entre os convidados me deixaria mais feliz que a de Abby Miller. Ellen May deve ser a personagem mais pateticamente trágica e triste da TV, e há momentos realmente especiais da atriz, tanto com Joelle Carter como com Beaver. No mais, seria mais do que justo ver “Decoy” indicado para Melhor Roteiro, mas votantes gostam muito de pilotos e finais de temporada de suas séries prediletas, então não deve acontecer.




5º - Boardwalk Empire – 3ª Temporada

Se “Homeland” não consegue lidar com coadjuvantes, “Boardwalk Empire” tira isso de letra. Pense em Chalky White lidando com seu futuro genro nos primeiros episódios desta temporada: ainda que pudesse ser visto apenas como uma forma da série continuar com ator e personagem por perto, já que não se conectava a nenhuma das outras tramas, é tão bem executado (em termos de performance, dramatização e comentário sócio-político da época) que passa longe do desleixo e desinteresse da subtrama de Dana Brody na série da Showtime. O que dizer, então, quando na reta final da temporada vemos que se encaixa perfeitamente com o que os roteiristas prepararam para a série? Não só esta, mas todas as subtramas tornam-se importantes para o todo, no que é, sem dúvida, a mais redonda temporada da série e, talvez, de qualquer série vista este ano. Se havia preocupações após o destino de Jimmy Darmody na temporada anterior, Terence Winter mostra um controle absoluto de tudo, com cada uma das situações vistas nos primeiros episódios sendo potencializadas ao final. Nos dá um grande oponente para Nucky, estreita, modifica e desestabiliza alianças entre os “chefões”, continua o crescimento de Margaret como personagem (sem esquecer do quanto é insustentável o seu casamento), além do sempre forte e impactante material para Richard e Gillian. E tudo com um olhar afiado sobre politicagem e moralidade. Com o top 3 desta lista dando adeus até o fim do ano que vem, “Boardwalk Empire” será o que de mais refinado nos restará. Que tenha uma longa vida.

Chances no Emmy: com novas e fortes candidatas ao prêmio principal, parece ser consenso que as séries da HBO são as que correm mais risco em não retornarem este ano. É interessante que “Boardwalk” sempre é vista como a mais frágil da categoria, por ser a série que menos se discute e que menos tem fãs ardorosos, além de ter sido exibida há tanto tempo que é possível que muitos a esqueçam. Mas o fato é que a série continua sendo indicada para premiações similares (Globo de Ouro e SAG) e, contra todas as expectativas, o final da temporada anterior venceu o prêmio de Direção no Emmy 2012, vencendo “Homeland”, “Downton Abbey”, “Mad Men” e “Breaking Bad”. Steve Buscemi também pode ficar de fora da congestionada categoria Melhor Ator, até porque muitas vezes a impressão é de que Nucky Thompson é coadjuvante de sua própria história. Mas se votantes lembrarem-se de um episódio como “The Milkmaid's Lot”, é impossível não indicá-lo. E apesar do fantástico elenco continuar sendo ignorado (Kelly Macdonald conseguiu uma vez pelo primeiro ano), Bobby Cannavale tem boas chances como Ator Coadjuvante (mesmo que fosse esperado concorrer na categoria Ator Convidado) pelo marcante Gyp Rosetti. Mas o ator já é bem conhecido dos votantes (duas vezes já indicado, a última foi ano passado por “Nurse Jackie”, e novamente é candidato – Ator Convidado Comédia).




4º - Game of Thrones – 3ª Temporada

 






















Comparando friamente, esta colocação deveria ser de “Boardwalk Empire”. Mas o aspecto viciante de “Game of Thrones” acabou sendo um critério decisivo: a série de Terence Winter é como um bom vinho a ser degustado calmamente; já a fantasia épica de Benioff/Weiss nos deixa querendo mais, curiosos com o destino dos personagens, torcendo para que certas coisas aconteçam, e mais empolgados em discutir numa mesa de bar ou no twitter (com o perigoso risco de ouvir/ler algum spoiler dos leitores da obra de Martin). E seus problemas são defensáveis: pela ambição do projeto, é impossível que todas as tramas e personagens consigam ser interessantes o tempo todo. Assim, para cada minuto perdido com Theon Greyjoy, somos recompensados em dobro com uma visita a King’s Landing (qualquer personagem interagindo com quem quer que seja serve); para cada momento que vemos pouco acontecer com Bran, há um onde muito acontece com Jaime e Brienne; e personagens importantes como Daenerys e Snow que tiveram uma fraca segunda temporada, tiveram muito mais o que fazer este ano. A estrutura narrativa e a montagem também se aprimoraram, com transições mais elegantes e funcionais entre as tramas, muitas vezes também ligadas tematicamente, além de fazer com que cada episódio pudesse terminar com uma sequência de maior impacto. Os que não gostam da série, aliás, costumam dizer que nada acontece por 55 minutos. Até tento compreender essa frustração, já que temos uma quantidade gigantesca de personagens prontos para a guerra e, portanto, a ação é esperada o tempo todo. Mas as melhores batalhas de “Game of Thrones” são verbais, o jogo é de xadrez (e não poderia ser diferente, pois os conflitos mais aguardados envolvem a chegada de personagens a King’s Landing e que estão muito distantes – Daenerys, Stannis, os mortos-vivos), e pra manter o interesse é preciso grandes personagens, grandes atores e inteligência na encenação. E há tudo isto, tanto no desenvolvimento de personagens e seus dramas (o maior deles sendo Jaime Lannister, e se muitos se surpreendem como ele se tornou um dos mais carismáticos este ano, basta retornar a alguns momentos-chave de temporadas anteriores pra perceber que a série já tinha isto bem estabelecido), quanto em pequenas pérolas espalhadas por todos os episódios - lembro, por exemplo, de Tywin Lannister se projetando sobre o Rei Joffrey, deixando claro, em silêncio, uma relação de poder que, com palavras, poderia não existir. É uma de muitas cenas que se resolvem lindamente graças à perfeita união de atores, posicionamento de câmera, luz e edição. E com tudo isto, nem precisei falar de “Dracarys!” e “Casamento Vermelho”. Pra que a covardia?

Chances no Emmy: Enquanto “Game of Thrones” não vencer a categoria principal, sempre haverá espaço para o argumento “o Emmy não gosta de séries do gênero fantasia/fantástico” e a possibilidade de não indicação. Mas esta é a sua temporada mais elogiada, e se isto não for o suficiente, o perfeitamente sádico “The Rains of Castamere” foi o episódio mais comentado dos últimos anos. A não ser que muitos votantes reajam como vários fãs raivosos que juraram em redes sociais que nunca mais voltariam a ver a série. “Castamere” ser indicado nas categorias Direção/Roteiro é mais complicado, apenas porque o excelente “Blackwater” da temporada anterior foi estranhamente ignorado. Além das óbvias indicações técnicas, Peter Dinklage continua sendo obrigatório na categoria Ator Coadjuvante. Nikolaj Coster-Waldau talvez tenha a melhor atuação da temporada (Charles Dance não se submeteu), e o efeito “Castamere” pode beneficiar Michelle Fairley, mas será uma (agradável) surpresa se houver reconhecimento para além de Dinklage. O mais perto disto é Diana Rigg, a excelente vovó Tyrell, como Atriz Convidada.




3º - Treme – 3ª Temporada

Não concordo com algumas críticas que consideram esta a melhor temporada de “Treme”. Sim, a série aproximou muitos dos personagens, como nunca antes (o que resultou em coisas adoráveis, como LaDonna e Albert), e não só dividindo os mesmos espaços físicos, como também os mesmos temas. Mas isto é necessário numa série como “Game of Thrones”. Aqui, a ambição de se narrar a reconstrução (e manutenção) de uma cidade e sua cultura acaba correndo o risco de se tornar didática e pedagógica: quanto mais direcionada por um roteiro, por personagens com dramas convencionais e similares, mais chances de termos uma série “com mensagens”. Quase podemos ver isto com o excesso de selvageria capitalista presente no chefe de Janette ou no projeto do centro cultural em que Delmond se envolve, na falência da instituição educacional (via Antoine e seus alunos), da polícia (via Toni e Terry) e da justiça (LaDonna). É tudo muito “in your face”. Felizmente, David Simon continua um dos grandes nomes da TV americana e as qualidades superlativas de “Treme” se sobressaem: o respeito e a admiração pela cultura local, sequências musicais deliciosas, sensibilidade para pequenos e preciosos momentos entre personagens, e uma capacidade singular de criar atmosfera e ambientação que nos coloca respirando e vivendo New Orleans. Há algo de épico em “Treme”, que infelizmente será encerrada após uma reduzida quarta temporada. Mas ficará como um documento histórico dos mais prazerosos de se ver e ouvir já realizados pela TV.

Chances no Emmy: Nenhuma. A série passa longe do radar do Emmy, ainda que tenha conseguido duas indicações pela primeira temporada (Direção e Canção). E mesmo no incrível elenco, fica difícil votar em grandes atores como Clarke Peters e Wendell Pierce, quando concorrem na categoria principal, sendo claramente coadjuvantes.




2º - Breaking Bad – 5ª Temporada (Parte 1)

O que tinha a dizer já foi dito neste blog durante sua exibição. Quase um ano depois a impressão geral é a mesma: prejudicada levemente pela decisão da AMC em dividir a temporada, o que fez com que certos elementos fossem apressados. Continuo não tendo problemas com o último episódio, seja a passagem de tempo e as decisões de Walt, ou a cena final e a forma como foi representado um dos momentos mais aguardados de toda a série. Mas em menos de um mês saberemos como isso continuou.

Chances no Emmy: Na história da premiação há muitas séries (e atores/atrizes) que receberam indicações ao longo dos anos e que nunca venceram. “Breaking Bad” não me parece ser uma delas e talvez este seja o ano de reconhecimento na categoria principal: “Mad Men” perdeu a invencibilidade e “Homeland” não conseguiu sustentar a qualidade de sua temporada vencedora. Seria o momento ideal pra uma série que não só mantêm sua excelência, mas que a cada ano torna-se mais cultuada e comentada (é bom lembrar que ela veio do nada e que a própria premiação pode se orgulhar de revela-la ao mundo, quando deu o prêmio a Bryan Cranston por uma primeira temporada que pouca gente viu). Especialmente porque o Emmy 2014 terá que lidar com o fim da série de Vince Gilligan, mas também com o fim de “Mad Men”. Num mundo perfeito, um empate para se despedir de duas das mais marcantes séries da história seria ideal. Mas por que não começar a resolver o problema este ano? Portanto, já nem falo de chances de indicação, mas sim de vitória. O mesmo vale para Bryan Cranston e Aaron Paul, também favoritos para vencer em suas categorias. Anna Gunn conseguiu sua primeira indicação ano passado e deve se manter na categoria: com cenas muito mais intensas este ano (Skyler na piscina!), arriscaria dizer que é a atriz com mais chances de vencer Maggie Smith. A expectativa, então, é só se Jonathan Banks conseguirá ser indicado como Melhor Ator Coadjuvante. Com a vaga deixada por Giancarlo Esposito, seria uma escolha óbvia. E além das justas indicações técnicas (a série não vence aí desde a segunda temporada, quando o season finale levou um prêmio de Edição), é de esperar que algum episódio marque presença na categoria de Direção. Sempre uma escolha difícil quando se trata de “Breaking Bad”, mas “Fifty-One” já ganhou um prêmio do Sindicato dos Diretores (talvez por Rian Johnson ter dirigido o cult movie “Looper” no mesmo ano), embora eu consiga imaginar vários votantes pensando “naquele do roubo do trem” (“Dead Freight”).




1º - Mad Men – 6ª Temporada

A mim parece desnecessário discutir se esta temporada de “Mad Men” é melhor ou pior que as anteriores. Porque não cabe na série o uso de alguns clichês que permitam comparações, como “a série amadureceu” ou “Matthew Weiner perdeu a mão”. A excelência e consistência me parecem evidentes, mudando apenas o tom que muitas vezes é dado pelo recorte que Weiner faz do espírito da época, do ano em questão. Como a série tem a pretensão de abordar toda uma década, os personagens inevitavelmente sofrem as consequências das mudanças e transformações dos costumes, cultura e valores que os EUA vivem nos anos 60: se 1968 é um ano de grandes tragédias nacionais (as mortes de Bobby Kennedy e Martin Luther King Jr.) e manifestações e atos violentos (Direitos Civis, Vietnã, criminalidade em alta em Nova York), temos Peggy sofrendo com a vizinhança, sirenes de polícia como som ambiente na casa dos Draper, um estranho roubo promovido por uma senhora negra; se a época é tomada cada vez mais por drogas que alteram os estados da consciência (seja para ter novas experiências, ou para aumentar a produtividade no trabalho), temos episódios que colocam os personagens (e a narrativa) neste estado de euforia e alucinação; se o mercado de trabalho aponta para a necessidade de novas configurações das empresas, temos mudanças inesperadas no status quo da série; e se é mais ou menos nesta época que Los Angeles começa a ser uma atraente opção ao caos nova-iorquino, temos aquele season finale. E no meio de tudo isso, Don Draper. Tão fascinante quanto sempre foi, mais perdido do que nunca. Os grandes diálogos, o fino humor, a elegância narrativa, a viagem no tempo que nos proporciona por meio da direção de arte e figurinos (aqui é preciso chamar a atenção para as brilhantes e imperdíveis análises de Tom e Lorenzo, na seção Mad Style), tudo continua intacto. Dizer que a quinta temporada é superior à sexta, pra mim, é como dizer que 67 foi um ano melhor que 68. E pararei por aqui, porque é impossível dar conta da quantidade de maravilhas que a série mais uma vez nos trouxe. O Eric Fuzii já fez um trabalho precioso aqui mesmo no blog.

Chances no Emmy: Após um recorde de quatro vitórias consecutivas na categoria principal, “Mad Men” conseguiu ano passado uma outra marca histórica, mas bem infeliz: a de maior derrotado do Emmy, perdendo em todas as 17 categorias em que foi indicado. A série manteve um domínio tão grande por tanto tempo, que a exaustão chegou com força total. Poderia ser pior este ano ou o prestígio é suficiente pra continuar forte ao menos nas indicações? O Globo de Ouro conseguiu esnobá-la na última edição e, apesar de sempre surgir grandes surpresas no anúncio dos indicados ao Emmy, poucas seriam tão desagradáveis. Talvez os votantes estejam apenas procurando novos vencedores, então esperem as mesmas indicações de sempre: além das técnicas, Melhor Série, Ator (Jon Hamm), Atriz (Elisabeth Moss), Atriz Coadjuvante (Christina Hendricks) e, no mínimo, Roteiro (onde a série costuma dominar, às vezes até com mais da metade das vagas). John Slattery perdeu seu lugar ano passado para Jared Harris e é improvável que retorne (Roger tem até alguns grandes momentos, mas no Emmy quando você é esnobado uma vez, é difícil ser lembrado de novo). Eu já perdi as esperanças de ver Vincent Kartheiser indicado, então seria uma boa surpresa ver Kevin Rahm assegurando a vaga da série na categoria de Ator Coadjuvante. Já January Jones (que tem sua melhor temporada em anos) e Jessica Paré (que desta vez tenta como Coadjuvante) correm muito por fora. Ben Feldman e Julia Ormond foram indicados ano passado nas categorias de Ator e Atriz Convidados, mas Feldman se submeteu como Coadjuvante este ano (curiosamente quando fez bem menos que na temporada passada) e Ormond pouco faz, sendo mais provável que seja substituída na categoria por Linda Cardellini. Curiosamente, James Wolk não concorre pela série pelo personagem mais comentado da temporada, Bob Benson (Wolk se submeteu apenas como Ator Coadjuvante em Minissérie/Telefilme, por “Political Animals”). E com elenco tão incrível, mais uma triste curiosidade: nestes cinco anos, “Mad Men” também detêm o recorde de 25 indicações para atuações (nas categorias de principal, coadjuvantes e convidados) e nenhuma vitória. Este recorde, lamentavelmente, parece que tende a aumentar este ano.


A seguir: As novas séries que concorrem ao Emmy 2013.






Hélio Flores

segunda-feira, 15 de julho de 2013

[Emmy 2013] Melhores Séries - Drama (Veteranas - Parte 1)


Aproveitando que o Emmy anunciará seus indicados na próxima quinta-feira, dia 18, decidi fazer listas com as séries vistas deste ano, comentando um pouco sobre cada uma delas e suas chances de indicações na maior premiação da TV americana.


Primeiro, explicando:

- Farei duas listas, apenas com séries da categoria DRAMA: a primeira com as séries veteranas e a segunda com séries que estrearam na última temporada. Novas séries podem nos empolgar com conceitos originais e não se sustentarem depois, ou ao contrário, não serem interessantes no início até encontrarem um caminho. Então preferi evitar compará-las com as séries que já aprendemos amar (ou odiar);

- Não farei o mesmo com as comédias por não ter visto ou não estar atualizado com um número grande o suficiente pra fazer, pelo menos, um top 10. Mas tentarei fazer um post comentando sobre minhas prediletas e as favoritas ao Emmy;

- Nas listas, há temporadas exibidas ano passado. Isso porque o calendário do Emmy vai de 1º de Junho de 2012 a 31 de Maio de 2013. Séries que tiveram episódios exibidos antes ou depois desta data são elegíveis desde que a maior parte da temporada tenha passado dentro do prazo (caso de “Mad Men” e “Veep”, que tiveram seus últimos episódios no mês passado);

- Neste post, começo o ranking das séries veteranas. Foram doze séries vistas. Já faz um bom tempo que abandonei séries que estavam ruins, como “Dexter” e “True Blood”, ou boas como “Southland” e “Parenthood”, que por um motivo ou outro acabei acumulando mais episódios atrasados do que deveria. Este ano, só houve um abandono: “Fringe” (mas como se trata da última temporada, um dia farei o esforço). No próximo post, a segunda parte da lista de veteranas e, a seguir, farei um top 10 das novas séries;


Vamos, então, ao top 12 Séries Veteranas. Listadas da pior para a melhor:




12º - The Walking Dead – 3ª Temporada
 
Desde sempre que a série não consegue construir seres humanos interessantes, então os zumbis continuam sendo o maior motivo de continuar assistindo. Mas é preciso admirar o esforço desta temporada: é só ver o que fizeram com Lori, Carl e T-Dog (de longe, os personagens que mais foram alvo de piadas na internet) pra perceber que os roteiristas devem estar levando a sério a opinião dos fãs. Há ótimos momentos de tensão e drama aqui e ali (especificamente o episódio “Killer Within”), e é louvável começar a investir em vilões humanos, deixando os zumbis de lado. Estes sempre estarão disponíveis para pregar sustos e é bom vê-los fazendo parte do ambiente (há várias cenas em que personagens conversam, com mortos vivos caminhando ao longe, sem necessariamente participar ativamente da sequência). Mas ainda é difícil se interessar por aquelas pessoas: as alucinações de Rick são irritantes e é preciso muita tolerância pra aceitar a estupidez de Andrea ao longo da temporada, necessária pra narrativa. Os novos personagens também falham miseravelmente: Michonne é um mistério pessimamente explorado (e a atriz se resume a fazer caretas) e o Governador infelizmente é mal caracterizado, indo do racional à insanidade de forma irregular (e impossível não ver David Morrissey como um Liam Neeson genérico). Ainda assim, um episódio como “Clear” mostra que o potencial está lá. Talvez manter o foco em dois ou três personagens por episódio, de vez em quando, seja o caminho pra dar densidade ao drama.

Chances no Emmy: Apesar de um fenômeno de audiência (que já seria grande se fosse da tv aberta), “The Walking Dead” não conseguiu até agora mais do que indicações em categorias de Som, Efeitos Visuais e Maquiagem. Gênero que é levado pouco a sério nas categorias principais, provavelmente a “cota-Fantasia” já está mais do que preenchida com “Game of Thrones”. Deve continuar assim.




11º - Sons of Anarchy – 5ª Temporada


Depois de muitas críticas à covardia da temporada anterior, que deu um “jeitinho” malandro de não lidar com consequências maiores e matar personagens principais, Kurt Sutter parece ter pensado que a melhor forma de calar seus críticos era pisar o pé no acelerador e nos trazer um choque após o outro – e se há algo em que Sutter é mestre, é em dar peso à violência dos seus personagens, sempre nos fazendo arregalar os olhos, e desta vez, inclusive, eliminando personagens importantes. O problema é que nesta jornada de Jax Teller (e ao colocar o protagonista como centro, os coadjuvantes parecem cada vez mais sem vida, apenas girando em torno dele), a violência vista parece ter apenas este propósito do choque, já que pouco lida com as consequências: é uma série em que um personagem acorrentado é obrigado a ver sua filha adolescente ser queimada viva, mas que só sofre com isto quando interessa à trama, chegando ao cúmulo de protagonizar humor vagabundo em sequência que conta com uma bizarra participação especial de Walton Goggins. O elenco continua muito bom, com o único (e grave) porém sendo Harold Perrineau, ator péssimo em personagem importante, e é possível ver claramente as mudanças vividas por Jax. Mas pra isso, Sutter sacrifica lógica, injeta boa dose de situações convenientes pra narrativa andar e quando não há muito drama envolvido, a interação e diálogos entre personagens são bem ruins. Sutter não se interessa muito pelo trivial (tratado de forma tão burocrática como os obrigatórios tiroteios e perseguições  de moto que sabemos não trazer perigo nenhum aos personagens), e isso poderia dar mais consistência ao todo.

Chances no Emmy: Nenhuma. “Sons of Anarchy” foi esnobada até mesmo no seu auge, a incrível 2ª temporada (quando Katey Sagal teve talvez a maior atuação do ano em questão), e depois disso Sutter deve ter se tornado persona non grata, ao deferir as maiores ofensas aos votantes do Emmy em seu twitter pessoal. Mas se me dissessem que a série receberá uma indicação este ano, só poderia ser o queridinho doze vezes indicado Jimmy Smits, como Melhor Ator Convidado, que tem, inclusive, um papel mais interessante do que teve em “Dexter”, quando concorreu nesta mesma categoria.




10º - Downton Abbey – 3ª Temporada

Que a sensação inglesa é um novelão, nunca se teve dúvida. Mas havia humor afiado ao retratar a decadência de uma família aristocrata causada pelas mudanças sociais do início do século passado, e a imobilidade de classes vista na relação entre esta família e seus criados (elementos que deram ao criador da série, Julian Fellowes, um Oscar de Roteiro Original por “Assassinato em Gosford Park”). Em algum momento da temporada anterior, no entanto, isso se perdeu e o que ficou foi uma quantidade inacreditável de conflitos dramáticos ruins, que se estenderam até a metade deste terceiro ano: em “Downton Abbey”, se alguém fica paraplégico, logo voltará a andar; se alguém pode ter uma grave doença, logo haverá um prognóstico positivo; a honra a se manter ao não usar uma conveniente herança é preservada por uma revelação ainda mais conveniente de que o dinheiro pode ser utilizado. É tudo tão simplório e vagabundo (nos diálogos, inclusive), que o drama inesperado na segunda metade da temporada surge como um sopro de ar fresco. É verdade que dura pouco, e muitos dos problemas continuam, mas há bem mais situações que fazem retornar alguma simpatia pela série – a ciranda amorosa com a introdução de novos personagens entre os empregados, por exemplo, poderia ser melhor desenvolvida, mas rende bons momentos. No geral, é uma série que sobrevive do carisma de seu elenco e de algumas falas inspiradas, a maioria proferida por Maggie Smith. É bom que tenha algo a mais reservado pra próxima temporada (que, por problemas com elenco, terá um início recheado de drama, como mostra a cena final), porque como está é a minha favorita a ser a próxima série que abandonarei.

Chances no Emmy: Após vencer os principais prêmios nas categorias de Minissérie/Telefilme pela sua primeira temporada (onde costumam concorrer as séries inglesas), “Downton Abbey” migrou para as categorias de série no ano seguinte e, além das já esperadas indicações nas categorias técnicas e principais como Melhor Série, Roteiro, Direção e Maggie Smith como Atriz Coadjuvante (vencendo esta, inclusive), conseguiu ter mais quatro atores indicados, mostrando o fenômeno que se tornou entre os votantes. Destes, apenas Brendan Coyle decidiu não concorrer este ano, e é difícil imaginar o retorno de Hugh Bonneville em Melhor Ator, tanto pelos novos candidatos este ano quanto pela sua participação de coadjuvante na série (seu Mr. Crawley também é irritante na maior parte do tempo), e de Joanne Froggatt como Atriz Coadjuvante, já que sua personagem também teve bem menos a fazer este ano. Poderia dizer que Michelle Dockery (Atriz) e Jim Carter (Ator Coadjuvante) também não fazem nada impressionante, mas isso vale para a temporada anterior, o que não impediu de serem indicados (Carter ainda tem ótimos momentos nos últimos episódios, com as reações de Mr. Carson a um caso de homossexualidade). E se esta temporada é claramente melhor que a anterior, é possível ver novos nomes indicados: Elizabeth McGovern foi indicada pelo primeiro ano como Atriz e ignorada ano passado, mas desta vez acertadamente tenta concorrer como Coadjuvante. O mesmo ocorre com Dan Stevens, então não seria absurdo pensa-los como substitutos de seus colegas de elenco, mesmo que não mereçam (este ano Rob James-Collier também tenta como coadjuvante, e a reta final da temporada lhe dá até mais material que Stevens). Smith tem ainda mais material este ano, o que significa que pode vencer mais uma vez, além, claro, da indicação certa para Shirley MacLaine como Atriz Convidada. Pelo número de novidades este ano, gosto de pensar que haverá surpresas quando anunciarem os indicados e que “Downton Abbey” será ignorada. Talvez não de tudo, mas quem sabe a maioria? Sonhar não custa...



9º - Homeland – 2ª Temporada

Não morro de amores pelo primeiro e elogiadíssimo ano da série, mas me parece claro que houve uma piora significativa nesta segunda temporada. O mais grave talvez seja a incapacidade de “Homeland” construir personagens coadjuvantes interessantes. À exceção de Saul, todo o resto parece estar lá pela mera obrigação de estar lá. A família de Brody é um peso enorme: o romance de Jessica com Mike não funciona e o tempo gasto com Dana é absurdo (Morgan Saylor, aliás, é séria candidata a pior atriz do ano). O fato de todas as discussões políticas sobre terrorismo serem superficiais e simplistas acabam nem incomodando tanto, após passar 10 ou 15 minutos com Dana Brody vivendo um dilema moral. Felizmente, há ainda muito a se explorar na relação entre os protagonistas, a verdadeira razão da existência da série. Claire Danes continua excelente e, mesmo que Damian Lewis seja bastante limitado, a química entre eles funciona. É verdade que os roteiristas nem sempre conseguem criar situações e diálogos interessantes, mas o avanço inesperado que a trama dá nos primeiros episódios da temporada e a virada de jogo do episódio final ainda permitem manter o interesse pelo que vem a seguir: “Homeland” é uma dessas séries que nos perguntamos como pode durar por mais de um ano e até agora isso tem se resolvido de forma satisfatória. Há a promessa também de se dar mais destaque a Saul na próxima temporada, o que pode resultar em um ano muito melhor. Mas é só pensar em como os roteiristas lidam com as conspirações de forma frouxa e clichê, e que teremos mais de Jessica, Mike e Dana, que a expectativa diminui. É neste equilíbrio entre coisas boas e ruins que a série vive, e só resta torcer por uma terceira temporada melhor. Uma mudança na equipe de roteiristas, talvez? É só lembrar que o pessoal de “Breaking Bad” já está disponível. Quem sabe na quarta temporada...

Chances no Emmy: “Homeland” conseguiu um feito incrível ano passado. Não só quebrou a invencibilidade de “Mad Men” na categoria principal (que havia vencido por quatro anos consecutivos), como levou também os prêmios de Ator e Atriz, algo que ocorreu pela última vez em 1993 com “Picket Fences”. Embora a vitória este ano seja menos provável (mas ainda com boas chances, e Claire Danes mantendo seu favoritismo), as indicações são dadas como certas. Resta saber se Mandy Patinkin será lembrado desta vez, único nome aguardado e não indicado ano passado. Com três vagas em aberto na categoria de Ator Coadjuvante (e Jim Carter longe de ser um nome certo), é bem provável o anúncio de seu nome na próxima quinta. Ajuda o fato de ser ele quem encerra (de forma bonita, diga-se) a temporada.




8º - Scandal – 2ª Temporada


É preciso ser sincero: se a segunda temporada de “Scandal” não tivesse se tornado um repentino sucesso de audiência com críticas entusiasmadas, provavelmente eu teria desistido da série ainda na primeira (e curta) temporada. Caramba, talvez eu não tivesse passado do piloto. Há um número (com o perdão do trocadilho) escandaloso de coisas ruins e irritantes na série e este comentário se tornará mais longo só em citá-las: a edição rápida e moderninha com os cliques de câmera fotográfica que fazem as transições de cenas ou resumem a vida do “cliente da semana”; diálogos constrangedores e lições de moral típicas de Shonda Rhimes (ou pelo menos o pouco que conheço dela, já que não suportei duas temporadas completas de “Grey’s Anatomy”); a falsa ideia de que personagens são inteligentes se despejam enormes monólogos, longas frases sem perder o fôlego; a total histeria de personagens pra passar a impressão de importância dos casos (Kerry Washington aumenta o tom de voz em uns bons decibéis pra mostrar que o que está sendo dito é grave); a exigência de se acreditar que os personagens são bons no que fazem apenas porque isso é dito: dizem que o presidente dos EUA é um grande homem e líder, mas não há nada na série que comprove isto, enquanto a protagonista Olivia Pope é a melhor no que faz (sua firma é uma bagunça, mas diante de tantos problemas, é o menor deles), mesmo que nada de impressionante aconteça – pior, somos informados que não há nem espaço para seus funcionários chorarem (sinal de fraqueza), os “gladiadores de terno” (a segunda pior expressão utilizada na série, perdendo apenas para o “I’m the leader of the free world” que o presidente grita em quase todo episódio), quando não há um único episódio em que Olivia não faça cara de choro, ou sofrendo por amor ou por um de seus clientes; por fim, há um número indecente de atores ruins em papeis importantes: o presidente, o promotor, o jornalista (James), Harrison (“gladiador de terno”). Muitos desses problemas continuam quando a segunda temporada começa e, ao final dos 22 episódios, alguns se atenuaram e outros até sumiram. Muita gente chamou a série de “guilty pleasure”, mas discordo: o conceito passa a impressão de que o prazer de “Scandal” está naquilo que é considerado de mau gosto (ou seja, tudo que listei acima), quando na verdade isso a impede de ser uma série excepcional. E que a faria subir, pelo menos, duas posições neste ranking. E que qualidades “Scandal” tem? Uma capacidade vertiginosa de fazer sua trama principal andar, de prender a atenção com revelações e reviravoltas a cada episódio. Pense nas primeiras temporadas de “Lost”. Só que ao invés de um acúmulo de mistérios, acumula-se  “plot twists”, que nunca perdem a lógica interna e, melhor, são explicados e justificados não muito tempo depois. O segredo está na dose homeopática de informações que os roteiristas liberam: em um dos primeiros episódios da segunda temporada, há uma daquelas revelações que fazem você repensar tudo o que viu antes só pra enumerar os possíveis buracos da trama, mas aos poucos descobrimos não haver problemas; se um episódio termina com um atentado chocante, o seguinte termina com a surpreendente revelação do autor do crime e no próximo a inusitada explicação; em outro momento, personagens resolvem compartilhar seus segredos, que servem como peças de um quebra-cabeça, pra que consigam descobrir um mistério. Enquanto séries abaixo de “Scandal” neste ranking claramente podem ser vistas como mais “refinadas”, nenhuma delas consegue satisfazer a necessidade de diversão vinda com uma trama bem estruturada, cheia de acontecimentos inesperados e personagens coerentes diante das situações em que se encontram. Não acredito que a série continue levando isso adiante sem se perder em breve (como não poderia deixar de ser, a última cena da temporada acrescenta novos e surpreendentes problemas), mas enquanto passar a impressão de que os roteiristas sabem o que está fazendo, estou dentro.

Chances no Emmy: Alguns anos atrás, quando a tv aberta ainda era uma força nas premiações, “Scandal” faria bonito. Hoje, com a dominação dos canais fechados, é difícil conseguir espaço. Sucessos de audiência podem surpreender, então não dá pra descartar totalmente suas chances. Kerry Washington é o mais perto que a série tem de uma indicação importante (e sua participação em “Django Livre” certamente ajuda), embora não me pareça justo considerando a qualidade de muitas de suas concorrentes. Aprendi a tolerar Olivia Pope, mas Washington abusa da interpretação com a boca e nariz (ao invés do clássico “caras e bocas”), realmente irritante. Guillermo Diaz e Jeff Perry são muito elogiados, mas também não me impressionam. Eu ficaria feliz mesmo se visse Bellamy Young indicada a Atriz Coadjuvante, no papel da primeira dama. De longe, quem melhor consegue lidar com o tom “soap opera” muitas vezes adotado pela série e quem melhor solta suas longas frases de efeito. Gregg Henry como Ator Convidado viria em seguida em minha preferência, devidamente asqueroso e engraçado como Hollis Doyle.




7º - The Good Wife – 4ª Temporada

Por três anos, “The Good Wife” parecia se adequar tranquilamente ao título “melhor série da tv aberta”. Afinal, era um verdadeiro milagre administrar ótimos “casos da semana” em meio a tantos acontecimentos envolvendo os diversos personagens de importância da série: o triângulo amoroso de Alicia Florrick, sua relação com os filhos e/ou a sogra, sua rixa/amizade com Cary Agos, a candidatura de Peter Florrick, Eli Gold nos divertindo com seu trabalho, Kalinda nos intrigando com seus mistérios, os problemas financeiros da Lockhart & Gardner e tantos outros subplots. Tudo sempre funcionou muito bem, com todos os personagens carismáticos e com espaço merecido (e nem falei das diversas participações especiais, de advogados de oposição a clientes recorrentes, passando por uma interessante galeria de juízes). Até que esta quarta temporada começa dando sinais de cansaço, passando a impressão de que a mágica estava indo embora e, apesar de muito do prazer da série continuar, por quase todo o ano houve problemas: casos não tão interessantes, o péssimo arco de Kalinda e seu marido, uma fraca oponente para Peter (Maura Tierney como Maddie, estranhamente apática), Eli Gold pouco presente e com um oponente desnecessário vivido por T. R. Knight, a personagem de Amanda Peet não cresce nunca, enquanto a trama financeira da firma se resolve bem, mas não tão empolgante quanto grandes tramas de temporadas passadas. Felizmente, sempre são benvindas as participações de Michael J. Fox, Carrie Preston e Dylan Baker, David Lee torna-se um personagem mais presente, uma interessante parceira/oponente para Kalinda e nos últimos episódios a mágica parece acontecer novamente, com os episódios mais sólidos da temporada (mais especificamente a partir de “Death of a Client”, com participação de John Noble e Matthew Perry – aliás, se Perry não tivesse se comprometido com “Go On”, teríamos uma temporada bem diferente, e provavelmente superior, com a presença mais constante de Kresteva), encerrando com a promessa de uma nova dinâmica entre os personagens, e a expectativa de renovação de criatividade. Foi a temporada mais fraca, mas ainda um prazer de se ver.

Chances no Emmy: após dois anos presente na principal categoria, a série falhou em conseguir uma indicação ano passado, que se tornou a primeira vez em que nenhuma série da tv aberta concorreu a Melhor Série Drama. Josh Charles e Alan Cumming também não conseguiram repetir as indicações do ano anterior, e apenas as mulheres se mantiveram: Julianna Margulies como Atriz, Archie Panjabi e Christine Baranski como Coadjuvantes. Com novas e elogiadas séries na disputa, seria possível “The Good Wife” perder ainda mais prestígio? Dificilmente retorna à categoria principal, mas Margulies certamente se mantêm na sua categoria e Baranski é uma possibilidade apenas por ser muito amada, já que Diane Lockhart não teve grandes momentos este ano (mas fala francês e é acusada de escrever um roteiro para Vampire Diaries!). Panjabi é a mais prejudicada pelos roteiristas, graças à péssima trama com o marido de Kalinda, e sua indicação vai depender do quanto os votantes ainda tem ela (e a série) em alta conta. A série deve conseguir também algumas indicações nas categorias de atores convidados. Michael J. Fox e Dylan Baker já são velhos conhecidos da categoria por seus personagens, e podem ter a companhia (ou serem substituídos por) Nathan Lane, comediante que tem muito espaço em papel dramático, o que deve contar a seu favor. Na categoria feminina, Martha Plimpton ganhou ano passado, mas dificilmente retorna, com participação muito pequena este ano. No seu lugar, há nomes fortes como o de Carrie Preston e, principalmente (por ter mais prestígio) Stockard Channing, no papel da mãe de Alicia.



(continua...)




Hélio Flores


 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

[Mad Men] 6x13 In Care Of

"If I had my way, you would never advertise. You shouldn't have
someone like me telling that boy what a Hershey bar is."

Desde que Don Draper pediu Megan em casamento na ensolarada Califórnia há alguns anos atrás, sua vida se tornou um elaborado processo de auto-sabotagem, em que sua identidade parecia se desintegrar aos poucos. Nem é preciso dizer o quanto esse fator se relaciona com a publicidade, que preza por valorizar e revelar suas melhores características para conquistar um cliente, ou mesmo para cativar o público. Honestidade nem sempre é obrigatória, por isso Don Draper (e nesta temporada, Bob Benson) encontra neste nicho a chance de se sentir acolhido. Por muito anos Don conseguiu progredir na carreira por entender a necessidade do momento. Sua apresentação do carrossel da Kodak no final da primeira temporada, por exemplo, continua viva em nossas memórias porque ele foi capaz de atingir fundo em nossos sentimentos, vendendo nostalgia como satisfação. Mas de uns tempos para cá, Don vinha perdendo essa noção do presente, ficando cada vez mais distante e tentando se conectar com aquela identidade de seu passado. Na abertura da temporada, ele se encontra no Havaí em férias com sua mulher, vivendo uma experiência que segundo ele era impossível de colocar em palavras. Quando traduz isso em publicidade, mostra um homem se perdendo no mar, deixando suas roupas pela praia. Dessa vez, requisitado em uma reunião com a própria Sheraton, é Don quem desaparece sem deixar vestígios. O episódio resume em algumas cenas essa condição crítica que acompanhamos na temporada, faltando na reunião para beber sozinho em um bar, passando a noite na prisão por agredir um evangélico, e até Sally mais uma vez acusando o pai por sua conduta imoral. Levou tempo, mas Don finalmente percebeu que está completamente fora de controle.

A solução para seus problemas, ao menos temporariamente, estaria nessa campanha elaborada por Stan para se candidatar à filial da agência na Califórnia, atendendo a Sunkist. Don queria apenas fugir novamente, aproveitando para fechar esse ciclo iniciado desde que pediu Megan em casamento, recomeçando sua vida ao lado da mulher em outro clima, como deveria ter feito desde o início. Parecia o plano perfeito, até para atender às necessidades da carreira de Megan, mas que acaba esbarrando em um pedido desesperado de Ted Chaough, que enxerga também nesta oportunidade a única forma de salvar sua família, a quilômetros de distância da sedutora presença de Peggy. O telefonema de Betty informando que Sally havia sido suspensa na escola por comprar bebidas alcoólicas com uma identidade falsa (no nome da mãe, claro, que afinal oferecia cigarro para a filha no episódio anterior), também afetou Don profundamente, principalmente quando Betty lamenta pela menina crescer num lar arruinado. Então, Don resolve ter seu primeiro momento de completa revelação diante de ninguém menos do que os clientes da Hershey's. A apresentação começa da maneira mais tradicional possível, com Don contando uma passagem falsa de sua infância, resumindo que a barra de chocolate é o símbolo de amor para as crianças. Mas ele simplesmente não consegue sustentar essa mentira, não por aquele produto que fazia ele se sentir brevemente como uma criança "normal". Sua confissão passa também pelo desejo quando criança de frequentar a escola para órfãos de seu fundador, de receber a atenção e o carinho que nunca teve enquanto crescia. Para Don o nome Hershey's significa muito mais do que seus produtos, assim como ele reconhece que criar uma peça refletindo este sentimento seria não apenas impossível, como desnecessário. A vida por vezes vai muito além da publicidade. Por isso, ele decide recuar e dar a chance de Ted recomeçar ao lado de sua família na costa oeste. As portas então começam a se fechar para Don, primeiro sua mulher decidindo mudar-se sozinha para Hollywood, depois os sócios armando uma espécie de intervenção para anunciar seu afastamento por tempo indeterminado. Tudo que lhe resta são seus filhos no feriado de Ação de Graças, e Don toma uma atitude inusitada levando eles para conhecer o local que passou a infância. Se Sally reclamava que não conhecia detalhes do passado de seu pai após aquele incidente no apartamento dos Draper, agora aquela troca de olhares no final parece transmitir enfim uma sensação de sintonia entre os dois.

No episódio anterior, chamava atenção para a forma como a série conhece suas próprias limitações e consegue lidar com as expectativas. Afinal, analisando essa temporada depois de encerrada, certamente não se pode acusá-la de falta de coesão (se tem dúvidas disso, assista a esse vídeo sobre como Mad Men enfrentou a Guerra do Vietnã). Como acompanhamos, 1968 foi um ano caótico para a sociedade americana e um dos pontos de grande destaque na temporada foi a decadência da cidade de Nova York, em vários momentos de terror e violência. Durante esse mesmo período, a série nunca havia saído tanto de seus domínios, levando seus personagens para o Havaí, Detroit e a própria Califórnia. Já neste episódio, vários dos personagens cogitam ou até mesmo tem de aceitar a ideia de deixar Nova York. Por isso, quando Don apresenta essa ideia para Megan, uma saída fácil para seus problemas, mas condizente com sua condição atual e sua conexão com a cidade no passado, chegava a ponderar se essa mesma série poderia existir na costa oeste americana, ainda que temporariamente longe do núcleo principal de personagens. Até que Don decide permanecer na cidade, mesmo sem sua mulher, mesmo sem seu trabalho. Não acredito que seja o final do casamento com Megan, talvez a distância seja até positiva para o relacionamento, embora fosse difícil também piorar do jeito que está. Megan passou tão imperceptível durante a temporada, quase uma sombra opaca de Don, que não dá para prever qual seriam os planos para ela no último ano. Já em relação à agência, esse afastamento indeterminado pode muito bem significar uma demissão, mas diante de sua epifania na sala de reunião, talvez fosse o próprio Don quem virasse as costas de vez para o mercado publicitário. Embora fosse difícil imaginar a série tomando esse rumo, seria a única forma dele encarar a vida com total transparência. Mas é isso, se por vezes era até cansativo falar da decadência de Don durante a temporada, acho que depois de três parágrafos dá para perceber o quanto os roteiristas reverteram isso com este finale.

Já Pete há quase duas temporadas não tem um momento sequer de sossego. Dessa vez, chega a ele a notícia de que sua mãe desapareceu a bordo de um cruzeiro pelo mar e, para piorar, Manolo parece estar envolvido, depois de casar-se com ela provavelmente visando sua herança. Nem mesmo quando Pete tenta confrontar novamente Bob Benson termina bem sucedido. Ao menos dentro da agência, esse relacionamento foi um dos destaques da temporada pra mim, e me parece um pouco frustrante que os dois terminem se dirigindo a cidades diferentes. A aparente vantagem que Pete demonstrava no episódio anterior foi estranhamente ignorada, e depois de uma humilhante cena diante dos clientes da Chevy em Detroit, ele não tem outra opção senão reconstruir sua carreira na Califórnia. Mas como bem aconselha Trudy, essa é sua chance de recomeçar sem precisar prestar contas a ninguém. Antes de partir, Trudy ainda concede que ele possa enfim ver sua filha e se despedir. É interessante como neste episódio o dia de Ação de Graças promove essa aproximação entre pais e filhos, seja Pete, Don, Ted e até Roger, que passa o feriado finalmente junto de seu filho com Joan.
A única aposta que podemos fazer para esta última temporada é em relação ao futuro de Peggy. Embora Duck já apareça com o provável substituto de Don (sem perder a chance de saborear a derrota do antigo colega), a imagem de Peggy passando o feriado na agência é bastante emblemática. Afinal, pela primeira vez ela aparece usando calças no trabalho e enquanto senta-se confortavelmente na cadeira de Don assume a mesma postura que é marca da série. Claro que não foi um final agradável para Peggy, vendo seu único prazer dos últimos meses se despedindo e sendo deixada para trás, tendo que se adaptar a uma nova situação. Mas talvez o futuro realmente esteja aberto para Peggy na agência, que pode enfim sonhar em construir uma carreira sólida e seguir seu próprio caminho, sem depender das decisões de nenhum outro.

Assim terminamos a penúltima temporada de Mad Men e confesso que ainda não quero nem pensar na ideia de se despedir da série no ano que vem. A todos que acompanharam até aqui, meu muito obrigado. Até a próxima temporada! Abraços.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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domingo, 23 de junho de 2013

[Mad Men] 6x12 The Quality of Mercy

Previously on Mad Men: infelizmente, por conta de algumas questões pessoais, acabei não conseguindo comentar os dois episódios anteriores aqui no blog. Como eu acho que já não vale a pena elaborar textos muito detalhados com tanto atraso, principalmente sabendo o que acontece nos episódios seguintes, decidi concentrar no episódio da semana e relacionar com alguns acontecimentos pontuais das semanas anteriores. O texto será um pouco mais longo, espero que entendam.
Nesses três últimos episódios antes do season finale, Mad Men deixou de lado os simbolismos e variações de estrutura que vinha apresentando até então, para assim concentrar-se numa abordagem mais direta, principalmente em relação à nova dinâmica da Sterling Cooper & Partners. Aproveitando a onda de protestos contra a guerra do Vietnã, "A Tale of Two Cities" também mostra atos de rebeldia contra a tradicional hierarquia da agência. O fato de Mad Men acompanhar o que acontece em uma agência de publicidade não é simplesmente por retratar a mudança da sociedade através da influência em suas campanhas. É antes uma forma de retratar essas mudanças se refletindo dentro de seus domínios. Por vezes isso aparece até forçado, como a contratação de Dawn, servindo de símbolo das lutas raciais, ou mesmo Ginsberg, chamando atenção para a forte presença judia. Mas o mais notável é que apesar de manter as regras de uma empresa comum, a publicidade apresenta seu diferencial neste constante choque entre a equipe de gerentes de conta e o setor criativo. Jim Cutler, por exemplo, precisa engolir a insubordinação de Ginsberg porque sabe da importância dele na satisfação de seus clientes. Já Joan, que há alguns episódios condenava as secretárias que burlavam o sistema de ponto, dessa vez decide quebrar ela mesma essa hierarquia, desrespeitando a ordem de deixar Pete conduzir as negociações com um potencial novo cliente da Avon. Se existe uma forma de mostrar os direitos das mulheres sendo enfim reconhecidos, talvez a gerência de contas em publicidade seja o maior exemplo, e claro, Joan seria o símbolo ideal para indicar essa mudança. Peggy, que foi a primeira a conquistar seu merecido espaço na agência, aparece então para salvar Joan de uma situação tensa na sala de reunião. Até por conhecer Ted a mais tempo, Peggy sabe que jogar a isca de um novo negócio concretizado já é suficiente para acalmar seu chefe. A ironia é que Ted, mais tarde, tem de engolir seu próprio orgulho com uma proposta irrecusável vinda da Sunkist.

Essa eterna disputa entre Sunkist e Ocean Spray também motiva nesses episódios diversos conflitos que são resolvidos na base de acordos. Ted pede trégua para Don e concordam em colaborar; Don e Sally chegam a um acordo oculto atrás de uma porta fechada; Pete e Bob Benson após idas e vindas também chegam a um entendimento. Bob Benson vinha sendo o grande mistério da temporada, com aparições pontuais mas cada vez mais frequentes, até que tem sua importância reconhecida quando Cutler confia a ele uma tarefa de Roger e ele é capaz de manter esse cliente ao menos satisfeito. E nesse últimos episódios, Bob mostra atributos que seriam altamente valiosos em qualquer cargo: solícito e ao mesmo tempo ambicioso, um otimista irrefreável, sempre buscando melhorar. Ele consegue até mesmo arrumar uma situação adversa e entender a necessidade de atenção de Ginsberg, oferecendo seu discurso de estar sempre pronto. Este permanente estado de atenção, aprendido através de seus áudios motivacionais, é o que faz Bob procurar estar sempre no lugar certo atrás de uma oportunidade e o que faria ele atingir certamente sucesso em sua carreira. Ou pelo menos seria, até cruzar com o caminho de Pete Campbell. Na semana passada, seu toque de pernas e a revelação de seus sentimentos por Pete motivou diversas interpretações. Mas até por essa semana Bob retratar-se dizendo que sente apenas imensa admiração pelo colega, leva a crer que sua cena era muito mais uma busca por respeito, após Pete considerar a conduta de Manolo como nojenta. Entre as diversas especulações sobre Bob, havia a aposta de alguns de que ele seria na verdade gay, outros tantos apontavam uma semelhança de personalidade com Don Draper, mas acho que poucos imaginavam que Bob Benson também seria uma identidade forjada. E por um momento, Pete considerou levar esse confronto até o fim, mas parece que finalmente conseguiu controlar seus impulsos. Bob declarava sua derrota, já até considerava sair de cena furtivamente, apenas pedia um tempo para preparar seu próximo passo. Aprendendo com seu erro anterior, quando não se conteve e decidiu usar a informação da identidade secreta de Don para conseguir prestígio com seus chefes, Pete parece enfim saber como usar esse segredo a seu favor. Pelo seu pedido de desculpas, não fica claro se Pete deseja apenas fazer uso dessa boa vontade de Bob ou se ainda pretende chantageá-lo mais pra frente.

Apesar disso, os problemas de Bob Benson não parecem ser tão preocupantes, ao menos quando comparados à situação de Sally. Para piorar o flagrante de seu pai e Sylvia -- e ela realmente tem azar de aparecer sempre nas horas erradas, já que havia presenciado outra cena assim envolvendo Roger e a mãe de Megan -- Don Draper tenta distorcer os fatos, minimizá-los e tentar manter seu mundo imerso em fantasia. Depois de tantos flashbacks na temporada revelando o ambiente que Don cresceu, aquilo que presenciou quando adolescente, realmente esperava uma reação mais madura por saber que seria um trauma na vida da menina. Ainda assim, Sally reage bem ao escolher voluntariamente se matricular em um internato. Ela não suporta mais ver seu pai, nem é capaz de tolerar sua mãe em casa, e Sally não faz o tipo que fugiria de seus problemas como sua amiga violinista. Então ela escolhe o internato buscando algum sentido de ordem, um ambiente que tenha algum significado. Suas colegas certamente serão um teste constante, a presença de garotos quebrando as regras também. O que importa então é como Sally irá reagir a partir disso, e esse episódio mostra que ela está no caminho certo. Não apenas ela se manteve sóbria como conseguiu reverter as atitudes do amigo de Glen, impressionando sua colega de quarto.

Já Don Draper, pelo contrário, continua decepcionando todos ao seu redor e caminhando em direção à solidão. Nem mesmo sua queda na piscina, um evento de quase morte, durante uma festa na Califórnia foi suficiente para pará-lo. Ele não suporta sequer ver Megan na televisão e "envenena" o próprio suco de laranja que a mulher faz com carinho. Seu favor ao jovem Mitchell, arriscando o relacionamento da agência com a Chevy e disposto a pedir um favor a Ted, é sua tentativa de fazer enfim alguma coisa certa. Seus motivos podem ser nobres, nem que seja motivado ainda pela paixão por Sylvia, ou por ter experimentado o terror da guerra, ou até sentindo culpa por trair seu amigo Arnold. Mas reparar essa situação cria outra ainda mais desastrosa. E essa decepção leva Don ao seu pior momento na série, talvez pior até do que quando sua identidade era investigada pelo governo. Nesta semana, apesar de toda a agência perceber que esse clima afetuoso entre Peggy e Ted está prejudicando os negócios, Don faz questão de colocá-los em um situação embaraçosa diante do cliente para servir como lição. Claro que existe uma dose de ciúme por parte de Don, ele certamente sente falta daquela antiga conexão com sua jovem aprendiz. Mas essa atitude apenas afasta Peggy ainda mais, a ponto de chamá-lo de monstro. Don começa e termina o episódio em posição fetal, primeiro acuado em seu apartamento, depois em sua própria sala.

Há outras referências a fertilidade ao longo do episódio, e não apenas pelo encontro casual dos dois casais numa sessão de 'O Bebê de Rosemary'. Há toda a encenação na sala de reunião para o comercial de aspirinas, quando Don imita uma criança chorando. Ou mesmo Ken, depois de enfrentar todo tipo de exigência maluca dos clientes da Chevy, decidindo largar a conta porque sua mulher está grávida. E temos Peggy, alguém que recusou o papel de mãe, envolvida neste comercial de aspirinas, e que na semana passada é abordada pela mãe de Pete, que a confunde com Trudy. Em um jantar repleto de bebida e algumas confissões, esse segredo ressurge em uma conversa deliciosa entre Pete e Peggy, quando ambos tem um momento de cumplicidade diante de um surpreso Ted. Apesar de tudo isso, esses três episódios não apresentam nenhum tipo de evento marcante como nas temporadas anteriores, por isso torna-se ainda mais difícil prever qualquer surpresa reservada para esse finale. Aliás, apesar dessa temporada manter sempre um tom "mais baixo" em relação às outras, me parece indicar uma certa maturidade da série, que consegue mesmo sem apresentar grandes arcos ao longo de seus episódios, criar diversos momentos memoráveis para seus personagens. E isso ocorre apenas quando uma série já conhece seu próprio potencial e é capaz de ser relevante dentro de suas limitações.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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domingo, 2 de junho de 2013

[Mad Men] 6x09 The Better Half

"Status quo ante bellum. Everything as it was."

Quando falava na semana passada que Mad Men era capaz de nos surpreender sem precisar depender de substâncias alucinógenas, era justamente disso que estava falando. Afinal, acho que ninguém esperava por um episódio em que Don levasse para a cama sua ex-mulher e Peggy terminasse enfiando uma lança no abdômen de seu (ex-)namorado. "The Better Half" como parece óbvio pelo título, trata de dualidades, e aparece como tema das personagens interpretadas por Megan em sua telenovela, duas irmãs gêmeas, a prestativa morena e a perigosa loira. Peggy é a principal vítima dessa indecisão, colocada em um complexo dilema quando deve escolher entre a ideia de Don ou de Ted para a propaganda de margarina. Seja qual fosse o lado que escolhesse, traria ressentimento, então ela tenta ficar em cima do muro. Além disso, com a violência frequente na cidade (enfatizada pelas constantes sirenes ao fundo), Peggy não se sente segura nem mesmo dentro de sua própria casa, o que gera cada vez mais desentendimentos com Abe. Principalmente porque ele não consegue mais lidar com a postura de Peggy diante da sociedade, com seu trabalho, a ponto de tratá-la como uma inimiga desta revolução que tanto anseia. Já seu caso com Ted, que poderia servir como alívio nesta situação, parece também estar chegando ao fim, depois que seu chefe passa a ser incomodado por sua consciência. O episódio não trata apenas de exemplos de figuras opostas, mas de uma dualidade encontrada dentro dos próprios personagens, e essa crise de culpa de Ted parte desse seu senso de justiça para lidar com os problemas. Uma reação talvez descabida para um simples toque de mãos, que Peggy garante ter sido involuntário, mas sabemos como esse era um gesto recorrente na relação com seu outro mentor. E pelo que vimos aqui e conhecemos de Don, numa situação assim, ele certamente não seria o cara que pediria pra parar.

Logo que Don e Betty se instalaram para passar o final de semana no acampamento de seu filho, imaginei que o dilema teria alguma relação com Bobby, talvez disputando a atenção e o carinho dos pais. Mas com Betty enfim voltando a sua velha forma, e encarnando seu papel favorito de despertar o desejo dos homens ao seu redor, era difícil para Don resistir. Claro, nada pareceu forçado por ele, os sinais vinham cada vez mais óbvios do lado de Betty, mas apenas reforça a química desse casal de atores quando dividem a mesma cena. Também serve para mostrar que Betty seria melhor aproveitada se estivesse menos isolada em eventos periféricos. A análise de seu ex-marido parece tão franca e madura, que é realmente desolador ouvir Megan pouco depois dizendo se esforçar para o relacionamento voltar a ser como antes, constatando que eles precisam mudar. E mais uma vez Don termina solitário, depois de acordar e encontrar Henry fazendo companhia para Betty no café da manhã. Acho que nunca a série insistiu tanto nos mesmos sinais antes.

Além das curvas sexy de Betty, o episódio marca também o retorno de Duck Phillips depois de longo tempo. Aparecendo agora como um caça-talentos do marketing, ele oferece a chance de Pete mudar de lado, assim como reforça o papel da família em sua vida profissional. Sabemos que aliado à bebida, foi isso que trouxe a ruína de Duck em outras épocas. Pete continua desesperado, sem saber o que fazer com a mãe presa dentro de seu apartamento, mas Bob aparece oferecendo o contato de uma enfermeira que teria recuperado seu pai anos antes. Bob Benson ainda é um mistério, principalmente porque a outra vez que se referiu ao pai, dizia a Ken que ele havia morrido (o que pode ter sido também depois da recuperação). Não sabemos se ele é realmente dissimulado ou apenas prestativo demais, mas parece ter ganho bem mais do que a simples confiança de Joan. Mas o fato de Roger descobrir sobre isso provavelmente crie uma dinâmica bem interessante. Acho também que Roger tende a melhorar quando se relaciona com Joan, até se formos considerar sua outra trama no episódio, que motivou ele a tentar assumir o filho novamente. Pareceu um pouco forçado sua filha ligar nervosa porque Roger levou o neto para assistir "Planeta dos Macacos" (filme do ano, aparentemente), não sei também se faz algum sentido ela deixar o filho aos cuidados do avô.

Durante a semana, depois de Janie Bryant confirmar que o fato de Megan usar a mesma camiseta de Sharon Tate (brutalmente assassinada a facadas anos depois) não era mera coincidência, fez surgir todo tipo de teoria apostando que Megan estaria com os dias contados. Mas em seu tradicional post Mad Style da semana, Tom & Lorenzo, embora não descartando a teoria, me parecem ter resolvido essa charada. Eles levantam uma série de relações entre os figurinos de Abe e Megan ao longo do episódio, e a camiseta da estrela vermelha surge justamente depois que Abe é perfurado pela faca no abdômen. Acho que isso serve apenas como indício de que ele não deve resistir. Resta saber agora como a série lidaria com isso, já que parece um caso grave demais para ficar nas entrelinhas, e de fácil drama caso viesse à tona.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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sexta-feira, 24 de maio de 2013

[Mad Men] 6x08 The Crash

"– Where do you want to go?
– I don't know."
– Then it doesn't matter, does it?"

Aposto que ninguém estava preparado para isso. Embora Mad Men sempre tentasse surpreender seu público, este episódio se situa em um ponto tão fora da curva que fica difícil até mesmo de avaliá-lo com clareza. Certamente dividiu opiniões, mas é impossível deixar de valorizar um episódio que mostra Stan e Jim Cutler apostando corrida dentro da agência, por exemplo, ou até mesmo Ken Cosgrove em uma performance memorável de sapateado. A agência volta sua atenção novamente à Chevrolet, que faz novas exigências absurdas, a ponto de envolver Ken em um grave acidente, pedindo para refazer o trabalho outra vez. Aproveitando dessa situação adversa, Jim traz seu médico para receitar uma injeção de anfetamina para os colegas, e assim mantê-los sob efeito alucinante pelo final de semana inteiro. Não deixa de ser divertido acompanhar essas pessoas trabalhando de modo improdutivo, tentando superar suas velhas ideias, buscando por outras soluções alternativas, tudo em ritmo acelerado. Parecem devaneios, eventos até surreais, mas que partem sempre de uma mesma premissa: discutir o processo criativo sob pressão. Não importa se é para cativar o público, vender seu produto ou conquistar uma amante, a questão é como transformar essa ideia abstrata em alguma coisa palpável, que faça sentido. Muita gente desmerece qualquer tipo de análise em relação à arte justamente porque duvida que essa ideias abstratas possam ser "decodificadas". E todas as semanas Mad Men parece nos instigar com pistas que levam a extrair temas, estabelecer relações entre cenas, personagens. Dessa vez, eles decidem nos torturar, sapatear sobre nossas cabeças, juntando diálogos que aparentemente não fazem muito sentido, desenvolvendo relações que não chegam a lugar nenhum. Quanto mais levam isso ao limite, mais questionam a si mesmos e todo esse processo criativo. Don Draper se depara constantemente com portas neste episódio, um símbolo recorrente na série, e trazido à tona na análise de Roger de que a vida é uma sucessão de portas até seu derradeiro final. Don jura que existe um código capaz de abrir a porta de Sylvia, mas termina se desculpando por ter deixado a porta de seu próprio apartamento aberta para uma estranha.

Se existe um ponto frágil neste episódio, que escapou um pouco desse delírio coletivo, esteve novamente no flashback de Don Draper. Mais uma vez revelando uma cicatriz de seu passado, parece simples demais relacionar com sua vulnerabilidade no presente. O que Don mais teme é ser abandonado, como foi por sua mãe, como foi por Aimée, como foi por Sylvia. Assim como ele repete o mesmo erro, abandonando seus filhos sozinhos em casa. O problema é que, nas primeiras temporadas, o passado parecia impulsionar Don, que corria para tentar superá-lo. De uns tempos pra cá, conforme este vem sendo revelado, Don parece dominado como se vivesse acuado por suas lembranças e traumas. E essa não parece ser a situação ideal para um protagonista que precisa mostrar determinação, ao invés de desmaiar em colapso diante de sua família. Mas claro, sem escapar de ouvir de sua ex-mulher que Henry concorrerá à próxima eleição, ou mesmo ser confrontado pela filha por não conhecer detalhes de seu passado. Não adianta ele procurar as respostas numa propaganda de mingau, que remete a outra passagem de sua infância, pois isso já não é mais suficiente. Nem tentar aliviar seu sentimento de perda com drogas ou sexo. Na manhã seguinte, ele não tem palavras diante de Sylvia no elevador e se recusa a participar do bordel que a agência se transformou novamente. Se antes Don tinha certeza do que precisava enquanto crescia -- carinho, conforto --, agora suas necessidades passam a ser cada vez mais confusas e incertas.

Outro motivo que domina o episódio é o luto, não apenas ecoando ainda o assassinato de Bobby Kennedy, mas sentido tanto pela morte de Frank Gleason como por Stan, que recebe a notícia do primo morto em combate. Interessante como em ambos os casos é Peggy quem serve como figura para prestar apoio. Não bastasse sua relação ainda confusa com Ted, até Stan tenta aproveitar deste momento de fragilidade para fazer uma investida. Peggy considera Stan como seu irmão, mas ele enxerga nela uma companhia para aquela noite. Identidades trocadas e confundidas, como a mulher negra que invade o apartamento de Don e consegue convencer os filhos de que poderia ter alguma relação com seu pai. Note que Sally não demonstra qualquer tipo de choque pelo ocorrido, apenas lamenta por ter se portado de modo tão ingênuo. As coisas não saem fora do controle apenas porque os personagens estão sob efeito de drogas, mas porque passam por uma crise de identidade, sem ter ideia da função que devem assumir nesta sociedade. Peggy cita o gato de Alice, dizendo que não adianta querer ir sem saber para onde. A filha hippie de Frank aparece questionando se sabem que são amados. São perguntas fundamentais que diante de um futuro tão obscuro, nenhum deles é capaz de responder.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

[Mad Men] 6x07 Man with a Plan

"Move forward."

Após o choque inicial do anúncio da fusão repentina de duas prestigiadas agências de publicidade, as coisas começam a ser colocadas de volta aos eixos, com a CGC mudando para os dois andares ocupados antes pela SCDP, embora o novo nome ainda continue indefinido. Assim como continua indefinido também o futuro de seus funcionários, muitos deles ocupando cargos semelhantes, temendo passar pelos usuais cortes nestas ocasiões. Até mesmo os antigos sócios não parecem seguros, sem ter lugares suficiente ao redor da mesma mesa de reuniões, a não ser claro pelos grandes arquitetos desse plano: Don Draper e Ted Chaough. Enquanto Pete chega exigindo seu lugar, Ted é capaz de ceder seu assento à secretária e assistir tudo praticamente de fora. Há algum tempo toda trama envolvendo a agência precisava de maior dinâmica, que não fossem apenas conflitos entre seus coadjuvantes, e agora finalmente se estabelece esse embate entre Don e Ted. Ambos devem se respeitar mutuamente para a agência funcionar, mas já mostram diferenças cruciais no modo de trabalhar. Somando-se a isso a sempre questionável postura de Don em sua vida pessoal, enquanto que Ted vinha sendo até aqui retratado de maneira bastante afável, principalmente em relação a Peggy, parece impossível assumir qualquer lado nesta disputa. Para começar "dominando" essa batalha, Don recorre ao tradicional método de vencer o adversário pela embriaguez. Já Ted busca conselhos de seu antigo sócio e amigo, questionando sobre o mistério de seu oponente. Ao final, o cansaço dos primeiros rounds realmente vem à tona, com Ted pilotando o avião em meio a tempestade, enquanto Don nem bem consegue se segurar de tanto medo. O anúncio, de margarina, também envolve substituição, em um eterno conflito com um produto similar. Com a aproximação do final da década de 60, e consequentemente da série, parece cada vez mais claro que se não mudar, Don Draper será deixado para trás como o antagonista desta história. Peggy, numa de suas posturas mais destemidas desde então, espera por seu chefe em sua sala para reprovar aquela conduta, exigir que ele mude e siga em frente. Basta lembrar da outra vez que essas palavras apareceram na série, quando Don vai visitá-la no hospital logo após o parto, e perceber essa inversão de papéis.

O episódio traz ainda muitas outras cenas que remetem a situações que ocorreram anteriormente: Joan conduzindo Peggy ao seu novo espaço no trabalho, Roger tendo o prazer de demitir Burt novamente, a já mencionada tática de Don de embebedar Ted, assim como ele havia feito antes com Roger, até mesmo para conseguir seu primeiro emprego em agência. E finalmente Bob Benson, saindo dos bastidores em um momento providencial para ajudar Joan a chegar no hospital. Talvez cabe forçar um pouco para lembrar de uma cena parecida na sala de espera do hospital envolvendo Joan e Don, não pela situação em si, mas muito mais pelo cavalheirismo de Bob, que parece ter conquistado se não o carinho, ao menos a confiança de Joan. Se ele agiu de modo premeditado, como o homem que tem um plano no título do episódio, parece ser a grande questão, embora não mude o fato do charme do personagem ganhar destaque a partir de agora. Todas essas cenas recorrentes atingem uma convergência no final do episódio, quando é revelado a morte do segundo Kennedy, para tristeza da população americana. Em um dos momentos mais inspirados dos roteiristas ao incorporar um fato histórico à série, eles usam a demência da mãe de Pete para estabelecer esse clima de desesperança, em outro ciclo sem fim. Aliás, parece que os roteiristas não querem definitivamente dar folga a Pete.

Passando por um momento delicado na agência, temendo até por sua posição, Pete se vê obrigado a manter a mãe confinada em seu apartamento na cidade. Claro que isso se mostra muito mais desgastante para ele, que termina refém desta própria situação. Para aquele que sempre tentou imitar o mesmo estilo de vida de Don, Pete tem um desempenho cada vez mais decepcionante. Ainda mais fazendo o paralelo com a outro caso de confinamento do episódio, quando Don mantém Sylvia como sua refém sexual dentro de um quarto de hotel. Nunca seu jogo de poder chegou a esse ponto, de tomar literalmente a liberdade de alguém. Sylvia obviamente se sente seduzida por um tempo, embora saiba estabelecer os limites nas ordens de seu patrão, mas a medida que as torturas vão aumentando (confiscar seu livro talvez tenha sido a gota d'água), ela toma a decisão de dar um basta. Se é o final deste relacionamento, como a despedida no elevador sem sequer olhar para trás parece indicar, ainda acho frustrante por apenas somar-se a outro de seus casos. Embore ele termine beirando o desespero, quase implorando para ela desistir, esperava que Megan ainda descobrisse sobre essa traição. E Megan então? Cada vez mais desesperada para salvar seu casamento, sugerindo até que retornassem àqueles dias ensolarados no Havaí (ou o Paraíso), enquanto o marido sequer presta atenção nas palavras que saem de sua boca. A cena final é marcante, Megan aos prantos com a notícia do assassinato de Bobby Kennedy, Don Draper sentando do outro lado da cama, solitário e devastado. Mas devastado porque, ao contrário do outro evento trágico da temporada, a morte de Martin Luther King, ele não tem com quem se preocupar desta vez. Mulher, filhos, amante… nada mais parece ter qualquer importância na vida de Don Draper.

Foto: Divulgação/AMC.


e.fuzii
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sábado, 11 de maio de 2013

[Mad Men] 6x06 For Immediate Release

"Just once I would like to hear you use the word 'we'."

De todos os cliffhangers deixados pelo finale da temporada passada, certamente aquela imagem dos sócios "isolados" em janelas diferentes é a que mais me marcou e que parece ditar o ritmo dos episódios recentes. Não apenas porque a série tem de lidar com tantas tramas, que raramente tem pontos em comum (a não ser pelo tema do episódio), mas principalmente pela tensão recente na SCDP. Até aqui, é uma temporada muito preocupada em estabelecer segredos, em dimensioná-los e como isso parece afetar seus personagens. Indo na direção oposta, como o próprio título "For Immediate Release" sugere, esse é um episódio que retrata momentos de revelação. Já começamos com uma proposta de abertura de capital, discutida apenas por três de seus sócios, na calada da noite. Enquanto isso, Don Draper perde a paciência com Herb da Jaguar e dispensa o cliente em um jantar particular. Com a ajuda de uma aeromoça (alguém mais lembrou daquela série que nasceu querendo ser Mad Men?), Roger consegue colocar a agência na concorrência pelo projeto de carro futurista da Chevrolet. E essas três situações entram em conflito quando são reveladas ao mesmo tempo dentro da sala de reunião, com todos os outros funcionários assistindo pelo vidro, em um clássico momento de drama empresarial. Joan acusa Don de ser egoísta, de não reconhecer seu esforço para conseguir aquela conta, mas sua decisão provavelmente também seria outra caso soubesse que o capital da agência iria a público. Para complicar ainda mais, Pete descobre casualmente seu sogro em um mesmo bordel e acaba perdendo a conta da Vick em razão disso. Assim como já provou por diversas vezes, Pete tem dificuldades em manter seus segredos sob controle, saber a hora certa de recuar. Tentando pagar na mesma moeda, ele não só sai prejudicado nos negócios, como parece decretar o fim de seu casamento com Trudy.

Mas Don Draper promete resolver tudo isso. E quando vemos Don motivado para reverter uma condição adversa, podemos esperar qualquer coisa.

"So should we go home?"
"We? That's interesting."

Desde o casamento com Megan, apesar de ainda ter seu destaque como protagonista, Don perdeu muito de seu carisma na série. Depois de viver aqueles meses em lua-de-mel na agência, mesmo quando enfim voltou à área criativa, ele próprio reconhecia que estava se sentindo ultrapassado. Suas mais recentes apresentações para clientes também não pareciam ter o mesmo apelo que antigamente. Com a CGC passando também por dificuldades entre seus sócios, e ambas as agências nadando contra a correnteza das grandes firmas, parecia natural uma fusão como essa. Mas a forma como isso ocorreu, tão leve lembrando a fundação da própria SCDP, estabelece um clima de otimismo pelo futuro. Bem diferente, por exemplo, do episódio que este parece reverter, "The Other Woman" na temporada passada, quando Peggy sai pela porta da frente e Joan concorda com a proposta indecente de salvar a agência em um último ato de desespero. Assim parecem chegar ao fim estes dois arcos principais que vinham sendo constantes nesse início de temporada: Peggy buscando pela independência financeira e criativa de seu mentor, e a decisão de Joan ecoando até hoje pelos corredores da agência. Mas ninguém pode negar também que essa nova disposição é capaz de render novos arcos interessantes, prováveis conflitos tanto criativos como pessoais. Peggy aparentemente é a que mais saiu prejudicada com essa união. Don pede para que ela escreva a carta à imprensa imaginando a agência que gostaria de trabalhar. Mas por suas fantasias envolvendo Ted e sua aversão a mudanças, conforme disse a Abe, essa situação está bem longe de ser a que Peggy deseja no momento. Ainda mais trabalhando nas altas horas da madrugada para Don Draper, redigindo uma carta, como se fosse novamente sua secretária.

Foto: Divulgação/AMC.


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sábado, 4 de maio de 2013

[Mad Men] 6x05 The Flood

"This is an opportunity. The heavens are telling us to change."

Mad Men já mostrou inúmeras vezes que não tem a pretensão de tratar dos fatos e ocorrências dos anos 60 como uma série histórica. É antes um drama de época, focado em personagens que vivem neste período de profundas mudanças. Porém, alguns eventos tornam-se tão marcantes para a sociedade americana que é impossível ignorar o impacto que também causariam nesses personagens. O assassinato de Martin Luther King certamente é um desses casos e, por chegar também agregado a toda luta pelos direitos dos negros, já era antecipado por muitos como um ponto importante na história. Assim, a introdução de alguns personagens negros, até em posição de destaque como no caso de Dawn, contribuíram para aumentar ainda mais a expectativa por esse momento. Mas Mad Men não perde sua essência, e apenas reforça que esse grupo de personagens, em sua maioria brancos, não estavam prontos para lidar com uma tragédia como essa. Podemos resumir nesse abraço de Joan em Dawn no dia seguinte, envolvendo toda uma constrangedora "culpa branca". Por isso, com temas tão diferentes, em períodos tão distintos, não parece muito justo estabelecer qualquer paralelo com The Grown-ups, o episódio que tratava da morte de Kennedy, a não ser pelo cuidado ao revelar essa tragédia ao público. Durante uma premiação de publicidade, nada menos do que Paul Newman acaba sendo o porta-voz da notícia na cerimônia, pegando todos de surpresa, dando início à tensão e a uma busca frenética por maiores informações. Outro fato curioso é que naquela ocasião Peggy prefere trabalhar no dia seguinte para evitar o clima de luto em sua casa, assim como Dawn provavelmente prefere passar o dia na SCDP, mas dessa vez consola sua secretária dizendo que ninguém deveria estar trabalhando neste dia. Mas as comparações terminam aí, já que o sentimento é outro, não existe um desejo de superação, um amadurecimento da sociedade, os personagens simplesmente parecem perdidos tentando entender o significado dessa tragédia.

Se na semana passada reclamava da falta de Ginsberg na série, esse episódio retoma sua história através de um encontro arranjado pelo seu pai, com uma professora judia. Durante o encontro a notícia surge, e eles acabam cancelando o jantar, Ginsberg volta para casa e seu pai cita a passagem da Arca de Noé, a inundação que dá título ao episódio, dizendo que em momentos assim as pessoas tem de escolher alguém para se apegar. Ou a alguma coisa, como é o caso de Harry, que lamenta os programas e horários comerciais perdidos na televisão por conta da cobertura dessa tragédia. Pete se revolta com essa postura do colega e chega a chamá-lo de racista, para logo revelar quanto é hipócrita, pouco se importanto com os direitos dos negros, mas por tratar-se de um homem de família assassinado. Da mesma forma, Pete tenta aproveitar a delicada situação para voltar para casa e consolar sua família, mas Trudy continua irredutível. Henry Francis vê uma chance aparecer para tentar a candidatura ao Senado por reprovar a postura de seu prefeito, tentando acalmar os ânimos em meio ao caos na cidade. Já Peggy, que abre o episódio de costas num radiante vestido amarelo, naquele famoso ângulo usado para retratar Don (e é cada vez mais interessante o quanto tentam fazer paralelos com ele durante essa sua ascensão), para depois ampliar o foco para o apartamento de seus sonhos e seu futuro com Abe. Aproveitando o momento turbulento, sua corretora tenta especular mais do que devia e acaba perdendo na negociação. Mas isso parece até providencial, já que dá a chance de Abe opinar sobre essa mudança de vizinhança, revelar seus projetos para o futuro e encher Peggy de esperança. Talvez minhas suspeitas de que esse relacionamento tivesse vida curta estavam equivocadas.

Na SCDP há ainda a visita de Randy, um estranho agente de seguros (tão estranho que não consegui deixar de lembrar de Ethan e a iniciativa Dharma), tirando proveito dessa tragédia para sugerir uma mudança nos negócios. Nada de muito substancial por enquanto, mas pela sua relação próxima a Roger, deve ser alguém importante nos próximos episódios. E Don Draper? Seu monólogo sentado na cama para Megan foi certamente bastante emocionante, embora fosse um daqueles momentos que Mad Men parece se render às palavras óbvias demais. No entanto, não sei exatamente relacionar com o tema do episódio, a não ser pela sua visita ao cinema com Bobby, assistindo ao mundo chegar ao fim na versão original de Planeta dos Macacos. Charlton Heston vagando pela Terra vazia no final parece um sinal do caminho de solidão que Don está se destinando. Embora não houvesse qualquer implicação da briga da semana passada com Megan, sabemos que o casamento continua passando por problemas. Sua maior preocupação é com Sylvia em Washington, e ele tenta fazer contato de todas as maneiras possíveis, mas sem qualquer sucesso. Agora quando ele revela finalmente conseguir estabelecer algum vínculo afetivo com seu filho, a preocupação dele em meio a seus pesadelos é pela sobrevivência de seu padrasto. De repente, a suspeita de que Don Draper precisaria de mudanças de postura e pensamento para acompanhar o ritmo frenético desse período já não parecem ser mais suficientes. Ele e tantos outros personagens que desfilam sua insensibilidade ao longo do episódio, precisam de mudanças bem mais profundas em seu próprio caráter.

Foto: Divulgação/AMC.


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