quarta-feira, 25 de abril de 2007

[Heroes] 1x19 - ".07%"

As seis semanas que separaram o episódio “Parasite” deste “.07%” foram bem mais longas que aquelas seis semanas do primeiro intervalo que a série teve, entre “Fallout” e “Godsend”. Isso porque naquela ocasião, Heroes nos deixou “apenas” com uma informação-bomba (sem trocadilhos), que foi o sonho premonitório de Peter Petrelli, em que ele se vê explodindo New York, e nos restava esperar como isso se desenvolveria. Sonho, aliás, que mais uma vez se mostra impossível de realizar, pelo menos da forma como vimos. Mas daqui a pouco chego lá.

Desta vez, a série havia nos deixado com uma quantidade boa de situações em suspense, incluindo um cliffhanger que muita gente esperava acontecer apenas no final da temporada. Daí esse intervalo ter durado uma eternidade. Mas a espera acabou e Heroes seguirá sem interrupções até o final da temporada. Depois deste “.07%”, são mais quatro episódios, sendo que o último terá o dobro da duração de um episódio normal, com o sugestivo título “How to Stop an Exploding Man”.



Este retorno de Heroes foi surpreendente. Foi um episódio muito bom porque avança consideravelmente a trama, embora alguns problemas persistam, como a fragilidade de algumas soluções encontradas pelo roteiro, alguns diálogos e interpretações, e os furos que a gente nunca sabe se são furos mesmo ou se algum dia terão explicação. Mas isso também eu comento daqui a pouco.


A surpresa em “.07%” é que a série teve a ambição de dar continuidade a todas as pontas soltas criadas no episódio anterior, e isso envolve praticamente todos os personagens de Heroes. O resultado final foi satisfatório. Com estes dois últimos episódios, Heroes conseguiu uma unidade que Lost ainda está devendo na sua terceira temporada cheia de episódios que desenvolvem determinada situação, esquecendo de todas as outras, criando um vácuo que só será preenchido tempos depois, fazendo muita gente perder o interesse.


E que pontas soltas foram essas? Só para relembrar, coisa que a introdução do episódio fez muito bem na narração do Linderman: Mr. Bennet enrascado com a Organização para a qual trabalha; Claire descobrindo sua avó, Mamãe Petrelli; Nathan cara a cara com Linderman; Isaac pintando seu próprio destino; Hiro e Ando visitando a New York devastada do futuro; e, claro, o tal cliffhanger, em que Sylar e Peter se enfrentam. Os produtores, inclusive, tiveram a audácia de dar continuidade a esta cena apenas 10 minutos depois do início do episódio! Mas vamos por partes:


Eu me incomodo facilmente com coisas que não são totalmente explicadas, por isso não gostei muito da fuga de Bennet, Matt e Ted. Meu incômodo se deve ao fato de que aquelas celas onde eles estavam presos parecem ter algum mecanismo que inibe os poderes dos heroes. Como, ainda não se sabe. Mas se a prisão do Ted o impedia de se tornar radioativo, porque não impediria o Matt de ler pensamentos? A sacada é boa (Bennet conduzir Matt através de pensamentos, pela segunda vez, mas em circunstâncias diferentes), mas a realização peca nos detalhes. E eu nem quero entrar numa discussão sobre como alguém que emite radiação pode também emitir um pulso eletromagnético (e com uma rápida concentração!). Fiquem à vontade para responder e desculpem minha ignorância. Essas questões físicas e quânticas não são o meu forte. E, ainda em relação a esta seqüência, não vamos esquecer da famosa barata que ronda aquele local.


Vem Kafka comigo: Matt e a coadjuvante de luxo.

O trio resolve partir para New York, onde fica o sistema de rastreamento utilizado pela Companhia para localizar os superpoderosos, e destruí-lo. A seqüência na lanchonete faltou bons diálogos e, particularmente, achei bem tosca a cena em que Matt desdenha de Bennet, embora tenha gostado quando Ted diz que sempre quis conhecer New York, já que sabemos muito bem em que isso pode resultar. Pra finalizar este núcleo da trama, fiquei me perguntando (mais uma vez) onde estaria a Hannah e porque diabos ela desapareceu, já que seria tão útil neste momento...


A outra subtrama que se desenvolveu ainda no início do episódio foi aquela envolvendo Linderman e Nathan, com a surpreendente revalação de que Linderman tem o poder da cura - ou seria ressureição? A seqüência traz outras revelações, como a confirmação de que houve uma geração anterior de heroes da qual fazia parte não apenas Linderman, mas muito provavelmente Mrs. Petrelli, e que tratou-se de uma geração mais preocupada com ganhos individuais. Linderman também mostrou estar ciente da explosão que dizimará New York, acreditando que isso será para um bem maior, discurso típico dos grandes vilões desse tipo de história. O título do episódio, aliás, refere-se a porcentagem de pessoas que morreriam em relação a população mundial. Um título bacana, realmente.


Novo poder: Linderman e a habilidade de curar... ou ressucitar?

Mas como nenhuma subtrama de Heroes parece resistir aos furos, eu continuo a me perguntar: por que, diabos, o Linderman mandou Jessica matar Nathan se o que ele quer é justamente ver e manipular o Nathan no Congresso? Alguém se arrisca a responder?


Falando em Jessica, foi interessante ouvir Linderman, na introdução do episódio, dizer que Nikki/Jessica trata-se de uma única “alma” fragmentada, possivelmente eliminando qualquer teoria de que Jessica teria de alguma forma se aprisionado no corpo de Nikki na época em que morreu. Prova disso é ver Jessica chamando Micah de “MEU filho” e de cara com Linderman ter a coragem de dizer um não para ele e mandando-o se afastar de seu filho.


O interesse de Linderman por Micah é bom, porque traz o moleque e seu pai D.L. para o núcleo da história, algo que vinha sendo extremamente necessário, pois esses personagens só atrasavam o andamento da trama. O que Linderman planeja é um mistério, mas fico mais curioso em descobrir como Linderman sabe qual exatamente é o poder de Micah, do que o seu objetivo com o garoto. Como se não bastasse, esse evento ainda serve para reconciliar (por enquanto) Nikki, Jessica e D.L., na busca por Micah. Aqui, vale mencionar também a breve presença de Candice, personagem que já merece maior participação na série.


Nikki e Jessica, uma alma só.

No aspecto “novelão”, temos a família Petrelli, com a interessante conversa de Mrs Petrelli com Claire, sobre permitir que a neta tenha a escolha de não fazer parte daquilo tudo, algo que, aparentemente, ela própria não teve. Tudo indica que Angela Petrelli (e seu falecido marido, ainda um mistério) tenha algum tipo de poder e, sendo assim, este poderia ter algo a ver com premonições e empatia, o que explicaria as visões e sonhos que Peter têm desde o início da série (ele teria absorvido de sua mãe). Mas sendo assim, ela não deveria “sentir” a morte de Peter neste episódio? Tudo muito nebuloso por enquanto, mas acredito que essas respostas venham até o final da temporada.


Se isto foi interessante, o dramalhão certamente não o foi, com algumas cenas bem ruinzinhas envolvendo choros, lágrimas e reencontros sem a menor sensibilidade ou desenvoltura, seja por parte de atores ou texto. Incomodou bastante, por exemplo, a seqüência em que Nathan vê Peter morto e nos demonstra aquela “brilhante” performance, tão sem timing. Piorou ainda o fato de que provavelmente nenhum espectador poderia acreditar que Peter estava morto, afinal já tínhamos visto a Claire numa situação semelhante no início da série. E se não há a expectativa, tudo se dilui e todas aquelas cenas acabaram sendo totalmente desnecessárias.


"Desculpa, mas eu não consigo fazer uma boa cena de choro!"

E então chegamos ao tão esperado confronto entre Peter e Sylar.


Eu imagino que muita gente deve ter ficado frustrada, pois foi algo tão rápido, que nem deu tempo ficarmos empolgados. Mas eu não estava esperando por muito, já que este confronto surgiu mais cedo do que esperávamos. Teve seus prós e contras: do lado positivo, Sylar se mostrou o grande personagem que ele é. O ator Zachary Quinto está fazendo um ótimo trabalho, e é sempre divertido ver suas reações diante do inusitado (“Interessante, mal posso esperar pra testar esse”, ele diz quando Peter fica invisível). Sua versatilidade para usar os poderes, como mostrou com os vidros quebrados, deixa-o mais perigoso. Só acho que com uma super audição, ele não precisaria enxergar Peter. Esse, aliás, é um dos grandes desafios dos roteiristas, ao lidar com personagens com poderes múltiplos.


Do lado negativo, os outros dois protagonistas da seqüência acabaram sendo tratados pelo roteiro como grandes imbecis: eu fico imaginando o que Peter estava fazendo invisível de costas para Sylar, podendo usar telecinese, parar o tempo e sabe-se lá mais o quê; já Mohinder, que no episódio anterior não hesitou em atirar em Sylar amarrado, teve a brilhante idéia de correr e deixar o vilão desacordado, sendo que poderia ter dado um fim em tudo ali mesmo. Foi uma dessas soluções frágeis que os roteiristas parecem não se preocupar muito. Pior: eles acham mesmo que a gente tem que engolir que Mohinder saiu de um prédio carregando um cadáver, sozinho, e atravessou New York até chegar a casa de Angela Petrelli? E que tipo de ser humano bate na porta de uma mãe e entrega a ela o corpo ensangüentado do filho, daquela forma?!


"Bom dia, Madame. Serviço de entrega!". Mohinder, nada sutil.

O episódio ainda nos reservou duas surpresas. A primeira, sem dúvida, foi a morte de Isaac. Eu não esperava que mais algum personagem morreria por agora, e até o último minuto esperei por alguma intervenção, que impedisse o Sylar de arrancar o cerébro do pintor. Felizmente isso não ocorreu, e foi uma cena muito boa, com o vilão cada vez mais impiedoso e frio. Fico tentando entender o que Isaac quis dizer quando fala que fez algo de bom antes de morrer, e todo aquele discurso de mártir, e a única coisa que posso imaginar é que tem algo de muito importante naquele envelope ou no caderno de rascunhos que ele entrega para aquele fã nerd. A única imagem que peguei foi de uma mão com uma seringa (!). Além, claro, da edição em quadrinhos com o Hiro do futuro. Seja como for, é bom a série ir eliminando alguns personagens. Isaac realmente não tinha muito o que acrescentar, e quanto menos personagens, mais coesa fica a trama como um todo.


"Coma-me, Sylar... o cérebro não, pô!" Rest in Peace, Isaac.

A segunda surpresa veio com a revelação de que Hiro e Ando foram parar 5 anos no futuro, e que uma linha do tempo foi construída na casa que era de Isaac. A cena final que mostra os dois Hiros certamente deixa muita gente com água na boca, esperando pelo próximo episódio. Mas eu sempre fico preocupado com viagens no tempo, porque dá margem para milhares de furos. Tudo indica que o Hiro do futuro organizou cronologicamente os eventos cruciais que levaram à explosão de New York, a fim de evitar a catástrofe, e que “save the cheerleader, save the world” seria apenas o começo.


Aqui a série cai numa grande contradição, especialmente pela subtrama que envolveu Charlie no episódio “Six Months Ago”. A idéia ali era deixar claro que Hiro não poderia mudar o passado para salvá-la e, conseqüentemente, qualquer outra coisa. Não foi muito convincente (“se eu volto no tempo para evitar que alguém seja assassinado, não adianta, porque se ela foge do assassino, morrerá de tumor” foi um dos argumentos mais fracos de toda a série), mas serviu ao propósito, pois do contrário, tudo que acontecesse na série poderia ser resolvido com uma viagem no tempo do personagem.


A contradição está no fato de que a série vendeu a idéia de que o futuro não pode ser alterado, ao mesmo tempo que se coloca os protagonistas lutando para mudar o futuro. Ora, se formos coerentes com esse tipo de raciocínio, vamos nos importar muito pouco com a saga dos heróis, já que sabemos que eles lutam contra o inevitável.


Por outro lado, acho bastante improvável que a explosão ocorra, pois seria o acontecimento que estabelece o fracasso dos protagonistas, algo que certamente não satisfaria a maioria das pessoas que procuram divertimento com “final feliz” na televisão. E, afinal, os mocinhos sempre têm que vencer. Então, se New York não explode, a idéia que nos foi vendida de que Hiro não poderia alterar o futuro torna-se furada.


Quando Hiros colidem.

Outra coisa que me chateia é que, definitivamente, a visão que Peter tem de que é o responsável pela explosão, foi totalmente por água abaixo. Quer dizer, esperava-se que toda aquela seqüência iria ocorrer e que, na melhor das hipóteses, algo de surpreendente aconteceria e salvaria o mundo. Mas agora isso é impossível: Simone e Isaac, presentes na visão, estão mortos; Matt, fardado de policial, foi demitido; e Nathan, também presente na visão, estaria vivo após a catástrofe, como mostra uma notícia de jornal na linha do tempo criada pelo Hiro do futuro. Ou seja, se não vai acontecer, NEM DE LONGE, da forma como Peter previu, pra que serviu aquilo tudo? É como se aquela seqüência tivesse sido filmada antes dos roteiristas terem imaginado tudo isso que aconteceu depois (a morte de dois personagens, principalmente).


Mas esses últimos parágrafos são reclamações bobas. Talvez eu esteja exigindo demais. Afinal, com tantos furos já relevados, por que não ignorar esses incômodos? Talvez um dia tudo isso faça sentido, no fim das contas. De qualquer forma, gosto da idéia de explorarem esse futuro em que o Hiro se encontra e, pelo preview do próximo episódio, vão abusar bastante disso.

O que Hiro viu de tão interessante neste jornal?

Episódio muito bom, dentro das limitações e padrão “Heroes” de ser. Nota: 8,0.


No próximo episódio: O futuro. Cinco anos depois da explosão que devastou New York, os heroes lutam para mudar o passado.



Hélio.

5 comentários:

Unknown disse...

Aiii, não saco nada de física!
Helio, Mohinder pegou um taxi com o cadáver, vai por mim :P

Putz, não tinha percebido as contradições do episódio...Vamos virar roteiristas?

:)

Anônimo disse...

cara vc ñ le os quadrinhos da serie que é disponibilizado no site da nbc , la responde onde ta a hannah fala sobre o petrelli pai

vai neste site que tem os quadrinhos em portugues
http://www.9thwonders.net/index.php

Anônimo disse...

Comentário PERFEITO!
Mas cuidado ao criticar Heroes, os fãs xiitas não perdoam. Quase fui massacrada nos comentários do meu blog, mesmo deixando claro que havia gostado do episódio.
Parabéns mais uma vez, texto maravilhoso!

Hélio Flores disse...

Allan, se vc tá dizendo, eu acredito. Não dá pra contrariar um físico, né? :P

Dani, não sei se eu tenho cacife pra isso, nao. Eu gosto mesmo é de criticar. Mas nao duvido que a gente poderia criar umas soluções mais "engoliveis" que essas dos roteiristas.

Anonimo, eu nao leio os quadrinhos da série. Mais por uma questao de principio (e falta de interesse mesmo): a série tem que se bastar por si mesma. Eu sei que nos quadrinhos há uma explicação para o sumiço da Hannah, mas isso nao deveria ser mostrado NOS EPISÓDIOS? Do jeito que está, os roteiristas só estão assumindo a propria incompetencia em resolver todas as questoes criadas pela serie na propria serie, apelando para outros recursos.

Enfim, nao leio esses quadrinhos, da mesma forma que nao vejo nada "alternativo" de Lost, e ainda espero que a série dê conta do recado.

Gisele, obrigado! Eu vi que seu texto fez sucesso até na Heroes Brasil no orkut, espaço que deve ter a maior concentração de fãs xiitas no país. Foi jogada aos leões, hein? Mas do jeito que voce diz no texto, eu devo gostar mais da série do que voce (nao chego a "amar odiar").

E concordo completamente sobre o Eric Roberts. Eu sempre fico com a sensação de estar vendo um filme Z de ação na madrugada da Band, quando ele entra em cena.

Unknown disse...

Teoricamente o futuro é um plano fluido, sujeito a alteraçoes.
O fato de haver uma "linha do tempo" feita pelo Hiro do futuro significa que ele tentou recriar todos os fatos que levaram á explosao. As visoes de Peter sao decorrentes dos fatos acontecidos até aquele momento. Se acontecerem modificaçoes a antiga visao deixa de ser válida.
O que se pode pensar é que a própria pessoa que veio do futuro nao pode diretamente modificar a linha de tempo mas uma pessoa que está vivendo o presente sim. por isso a instruçao tipo "save the cheerleader" para Peter. Senao porque ele mesmo nao a salvou?
De alguma maneira o Hiro do futuro deve estar interferindo no presente para que a explosao nao ocorra mas ele nao pode influenciar demais senao as coisas saem do controle e outra tragédia pode ocorrer.
Sei que este pensamento tb tem falahs mas é que eu imagino neste momento.
Quanto ás interpretaçoes... tem canastroes demais nessa série!! Matt rindo da ignorancia de Bennet (realmente tosco e forçado), choro e lágrimas por Peter, AFE! E agora o canastrao mor, o nosso amigo Calígula.