terça-feira, 5 de outubro de 2010

[Mad Men] 4x10 Hands and Knees

"Put your home in order. Either there or here. You will not live in-between."

Primeiramente, peço desculpas por ter demorado tanto para publicar este texto. Tive alguns contratempos que acabaram me atrasando, mas prometo colocar tudo em dia ainda essa semana. Pelo menos não foi um episódio que exigisse muita discussão, já que de tempos em tempos Mad Men se atrapalha um pouco quando tenta explorar exaustivamente um determinado tema. Desta vez foram os segredos guardados por alguns de seus personagens que ameaçavam vir à tona, transformando a história numa espécie de pesadelo coletivo. Apesar de forçar uma relação durante todo o episódio entre esses eventos desastrosos, ocorrendo quase que simultaneamente, o grande motivo para essas coincidências veio ao final com a reunião dos sócios da SCDP. Terminando a reunião num tom até sereno, nenhum deles desconfia que estão prestes a enfrentar a pior crise da empresa desde sua fundação, ameaçando desmoronar até seu segundo andar imaginário. Claro, ninguém além de Roger, que ainda não reuniu coragem suficiente para revelar a saída da Lucky Strike. Com essa inoportuna licença tirada por Lane Pryce, a tendência é que esse abandono seja ainda mais difícil de ser contornado, o que certamente resultará no principal conflito até o final da temporada. Afinal, a maior vantagem de se contar uma história fictícia é atingir essa convergência, certo? Confesso que ainda assim sinto falta nesta temporada de algum acontecimento de grande impacto para movimentar a história. Tivemos uma luta de boxe importante, a constante promessa de perigo vinda do Vietnam, alguma discussão acerca dos direitos civis dos negros e menções à contracultura. Agora acompanhamos a chegada dos Beatles à América, que não deixa de ser curiosa por Lane Pryce precisar fazer o caminho inverso para colocar sua vida em ordem. Durante a visita de seu pai, Lane age como uma criança tentando ser motivo de orgulho, exibindo o respeito que conquistou, seus amigos e até um novo amor. Mas seu pai parece cada vez menos impressionado com tudo isso, até que perde a paciência e obriga Lane a tomar uma decisão. Pressionado aos pés de seu pai, Lane promete voltar à Inglaterra e dar alguma satisfação à família que deixou para trás e àqueles que dependem dele. Apesar da posição humilhante, era de um choque desses que os outros personagens, passando por momentos tão delicados quanto ele, também precisavam para enfim tomar uma atitude por conta própria.

A notícia da saída da Lucky Strike pegou Roger de surpresa que sem encontrar outra alternativa, resolve adiar ao máximo este anúncio, até implorando pela boa vontade de Lee Garner Jr (agora já podemos até cogitar a volta de Sal, não é mesmo?). Aparentemente, o único negócio de Roger é bajular seus clientes, até mesmo pagando a conta quando já teve seus serviços dispensados. Além de não assumir essa tragédia e descontar todas as suas frustrações em Pete durante a reunião, Joan aparece para revelar que está grávida depois do sexo casual no episódio anterior. Às vezes fico com a impressão de que Joan até imagina como seria sua vida se tivesse assumido seu caso com Roger, outro dos grandes segredos guardados pela série. Mas tudo ligado a Joan é muito misterioso, já que não temos sequer indícios de sua origem ou contato com sua família. Acho que nem chega a ser um arrependimento do que deixou de fazer, mas uma profunda tristeza diante de sua atual situação. Porque apesar de claramente amar Roger, essa notícia faz ressurgir tudo aquilo que Joan mais teme nele: sua irresponsabilidade em não assumir o filho e sua indecisão sobre o que realmente sente por ela. Ele chega a sugerir que Greg poderia nem voltar da guerra, mas Joan, como se dissesse a todos os mais cruéis espectadores, garante que essa não é a solução para nenhum de seus problemas. Resta a Joan enfrentar sozinha seu terceiro aborto, cada vez correndo maiores riscos de vida e exposta a maiores humilhações. Na sala de espera da clínica, ela chega a mentir para uma mãe que acompanha sua filha, para assim evitar qualquer constrangimento ou julgamento. Muita gente ficou na dúvida se Joan teria ido adiante com o aborto, mas pela forma como ela responde a Roger no dia seguinte, constatando que preveniram uma tragédia, fica claro que sim. Além de que seria apenas questão de tempo até que a gravidez começasse a ficar aparente.
Enquanto isso, Don Draper nunca se sentiu tão encurralado na vida, com sua falsa identidade correndo sério risco de ser denunciada. Ainda que cada vez mais gente fosse cúmplice de sua farsa, Don ainda não estava preparado para enfrentar uma detalhada investigação do departamento de defesa americano. Se fosse descoberto, não haveria negociações, seria o fim. Assim, sem ter a calorosa costa oeste para se refugiar e as palavras de conforto de Anna Draper, ele chega a se desesperar e até ter um ataque de pânico ao avistar dois possíveis agentes nos corredores de seu prédio. No entanto, depois de todas as suas experiências ao longo dos últimos episódios, já é possível notar certo progresso quando Don chama às pressas seu advogado para deixar garantido o futuro financeiro de seus filhos. Quem acaba prestando socorro nesta situação é Faye Miller, que não é apenas a última a saber sobre sua identidade verdadeira, mas também a primeira pessoa que Don decidiu confiar este segredo voluntariamente. Ela até propõe que ele abra logo o jogo e arque com as consequências, mas tudo o que ele mais teme na vida é voltar a ser o frágil e ingênuo Dick Whitman, aquele que tomou essa decisão quando garoto. Como disse na semana passada, acho improvável que essa relação seja duradoura, ainda mais agora que Faye assumiu claramente uma posição de terapeuta perante Don. Quanto mais ela tentar resgatá-lo, mais ele tentará fugir.
Sem encontrar outra alternativa viável, Don decide recorrer a Pete para resolver seu problema, assim colocando-o também contra a parede. Como Don Draper ainda é importante demais para a agência e para o próprio futuro de Pete, ele sabe o que deve fazer: abrir mão de sua conta e levar toda a culpa pelo ocorrido. Por mais revoltante que possa ser, o problema de qualquer segredo é que ele sempre leva a outro segredo. Não importa o que ele venha dizer para convencer Trudy (parecendo quase um balão rosa de tão volumosa) de que é "um cara honesto", porque ao longo de todo esse tempo presenciamos diversas atitudes de Pete que ele também não seria capaz de se orgulhar. Afinal, em meio às voltas do mundo, tudo isso não passa de uma consequência para a atitude precipitada de Pete ainda na primeira temporada, quando tentou chantagear Don com a carta de seu irmão. Esta mesma precipitação é vista quando Don promete os ingressos dos Beatles para Sally sem que ainda estivessem em suas mãos, certamente tentando reparar seus erros da semana anterior. Essa promessa cria uma expectativa durante todo o episódio, que acaba felizmente resolvida no seu final. Assim, Don Draper volta a sua antiga postura, de quebra deixando a porta aberta para uma nova paixão. Quem sabe Megan não seja sua primeira secretária a encontrar uma saída além de ser demitida, pedir as contas ou bater as botas...

P.S.: Sei que acabamos de perder a pequena Sally para a Beatlemania, mas queria deixar aqui registrada a imagem de seu grito histérico. Claro, na versão com protetores de ouvido:


Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei de uma frase do review que a Maureen Ryan, do TV Squad, fez sobre esse episódio:

"When Sally Draper is the happiest person in an episode of 'Mad Men,' you know things have gone wrong."

e.fuzii disse...

Word!
Além de Betty ficar satisfeita pela felicidade da filha, por uma atitude de Don.
Difícil lembrar de algo parecido na série.

danielle disse...

Tô baixando só por causa deste gif. vc vê meu amor por aí.