domingo, 17 de outubro de 2010

[Mad Men] 4x12 Blowing Smoke

"I thought you didn't go in for those kinds of shenanigans."

Na premiere dessa temporada, Peggy e Pete armam juntos uma briga ensaiada de dois atores para impulsionar as vendas de presunto. Por pouco essa encenação não acaba delatada, por isso Don repreende Peggy dizendo evitar há tempos o uso desses shenanigans (ou artimanhas, mas a palavra em inglês é boa demais para deixar de ser usada). Naquela ocasião, Don também lidava com a pressão de seus sócios para enfim sair de trás das cortinas e assumir a posição de representante da empresa perante a mídia. Assim como naquele episódio, este também começa com Don atendendo a uma entrevista, mas neste caso com o cliente da Heinz citado por Faye Miller na semana passada. Através deste encontro ficamos sabendo da corrente de desconfiança que atinge a SCDP após a saída da Lucky Strike, com todos duvidando que a empresa consiga superar essa crise nos próximos 6 meses. Assim, a SCDP encontra-se à deriva, assistindo seus antigos clientes saindo pela porta, sem credibilidade para correr atrás de novos clientes e cada vez mais perto de uma inevitável redução no quadro de funcionários. Mas com base na evolução apresentada por Don Draper ao longo de toda a temporada, ainda era possível ter alguma esperança. Restava apenas a Don mais uma vez se reinventar e arriscar tudo para tentar salvar a empresa.

Muita gente (inclusive eu) acreditava que Don Draper não conseguiria acompanhar todas essas transformações dos anos 60, talvez obrigando a série a assumir até um tom depressivo para tratar dessa incompatibilidade de seu protagonista. Mas ele provou ser capaz de se adaptar, assim como a própria série. Em temporadas anteriores, esse penúltimo episódio era marcado por um grande acontecimento histórico que mudava o rumo da maioria desses personagens. Na primeira foram as eleições, na segunda o auge da crise dos mísseis e na terceira o assassinato de Kennedy. Desta vez, embora tivesse até sinalizado seguir a mesma linha com um falso telefonema de Bobby Kennedy, o episódio se preocupou em dar um senso de conclusão a grande parte das tramas desenvolvidas durante a temporada. Além do elegante paralelo com o primeiro episódio, é possível lembrar passagens como a servidão de Roger a Lee Garner Jr no Natal, a relação cada vez mais estreita entre Don e Peggy, Pete aguentando todo tipo de desaforo dos sócios, entre tantos outros. Chega a ser interessante também a forma como evocaram até a primeira temporada, tanto na presença de Glenn, como principalmente através do retorno de Midge.

Se logo de início ela aparenta se reencontrar com Don por acaso, basta uma visita ao seu apartamento para perceber seu desespero latente, vivendo da arte para sustentar seu vício em heroína. Após pagar para dispensar seu parceiro do apartamento, Don também acaba comprando um dos quadros de Midge para ajudá-la, mas não sem antes agir com extrema curiosidade para entender este seu vício. É motivado por esse encontro e as sugestões de Peggy para mudar de assunto, que Don Draper busca por uma solução diante do quadro de Midge, concentrando-se para perceber aquilo que está "além da fumaça". O vício em cigarro era até então tratado como um hábito passado de geração para geração, sem ser contestado, assim como a conta da Lucky Strike herdada ainda dos tempos de Sterling (pai) e Cooper. Depois de diminuir o consumo de álcool nos últimos episódios, mesmo que Don não abandone o cigarro imediatamente, sua mensagem é de seguir adiante sem impedimentos, superando essa dependência com sua criatividade. Um simples truque ou uma elaborada cortina de fumaça para reverter esse abandono da Lucky Strike, através daquilo que Don caracteriza como a menos importante entre as atividades mais importantes da empresa. Depois de mandar sua carta ao jornal The New York Times, Don confessa poder finalmente dormir tranquilo e arruma tempo até para ir nadar, prova de que estamos diante daquele Don Draper introduzido em The Summer Man.

No dia seguinte, os funcionários da SCDP parecem não entender a repentina atitude de Don, com exceção de Peggy e, curiosamente, Megan. Isso desperta até a fúria de seus sócios, repreendendo Don por tomar essa decisão sem consultar ninguém. Cooper é o mais alterado, procurando por seus sapatos para deixar empresa, já que a única contribuição que lhe restava -- a credibilidade de seu nome -- foi ignorada por Don assim que decidiu assinar a carta sozinho. Os sócios não deixam de ter certa razão em ficarem bravos por Don ter desrespeitado a hierarquia da empresa, mas ele apenas mostrou o artistas criativos que realmente é, aproveitando seu momento de inspiração. Sua mensagem é clara, rasgando as páginas que restavam de seu bloco de notas antes de escrever a carta. Se a intenção era libertar-se de suas memórias, nada mais coerente do que deixar de consultar os sócios que representam esse passado. Fora isso, ele decide investir no único sinal de futuro na empresa, saldando sua dívida com Pete Campbell, que havia sido tão massacrado nesses últimos meses. Se aquela pergunta que abre a temporada fosse feita agora, acho que poderia responder facilmente. Quem é Don Draper? Ele é um desses Mad Men do título, capaz de se reinventar e tomar a decisão mais inesperada, vanguardista, beirando a insanidade. Mas que pode ser a única forma de salvar a SCDP deste marasmo.
O único dano colateral desta sua manobra foi a saída de Faye Miller, retirada da empresa para evitar qualquer desconforto com outros clientes. No entanto, ela até se mostra aliviada na presença de Don, já que agora não precisaria mais manter essa relação em segredo. Mas ele não parece tão entusiasmado assim, principalmente quando Faye sugere que Megan pode fazer reserva para seus próximos jantares. Ela nem imagina o impedimento que pode surgir daí, mesmo que Megan garantisse que não esperava por um relacionamento duradouro. Don se mostra pouco à vontade para revelar a intimidade dos dois, o que pode representar o grande risco de Faye terminar magoada. Vale destacar também a cena de despedida de Peggy e Faye, que apesar de contracenarem juntas anteriormente, nunca haviam tido uma interação tão direta. Ainda que seja comum no ambiente de trabalho tentar consolar quem acaba de ser demitido, suas palavras me pareceram bastante sinceras, dizendo admirar o trabalho de Faye e garantindo que sentirá sua falta. Ambas carregam tantas semelhanças que mesmo levando em conta a diferença de idade, elas certamente mereciam mais oportunidades juntas.

Enquanto isso, em Ossining acompanhamos mais uma história paralela envolvendo Betty e Sally. A única relação que podemos estabelecer é que Betty também se mostra totalmente dependente das sessões de terapia da Dra Edna, a única capaz de enxergar e trabalhar essa sua incapacidade de agir como adulta. Ela se revolta quando a Dra Edna propõe diminuir as horas da filha e quando sugere que deveria mudar de terapeuta, provavelmente lembrando de suas desastrosas sessões anteriores. Já Sally demonstra bastante tranquilidade em sua sessão, jogando cartas e ouvindo Dra Edna repetir o quanto está orgulhosa de sua evolução. Mas ela se mostra realmente à vontade para confessar seus receios e temores para seu vizinho Glenn durante seus encontros secreto. Ela chega a admitir que não acredita em Deus e revela temer pelo conceito de eternidade, lembrando que toda sua irritação começou justamente enquanto assimilava o fim da vida de seu avô e o final do casamento de seu pais. Quando Betty flagra um dos encontros furtivos dos dois, age tomando uma decisão drástica: mudar sua família daquele lugar. Sally obviamente se revolta, mas não tem outra opção. Afinal, ela é a única personagem no elenco principal que não tem poder de decisão e tem de sujeitar-se por enquanto à dependência de sua mãe, terminando assim numa profunda melancolia, solitária em sua cama.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

2 comentários:

apopularonline disse...

adorei.

Blogger disse...

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