domingo, 7 de agosto de 2011

[Breaking Bad] 4x03 - Open House

“Marie, you want to go home?” – Tim

“Want to do something?” – Jesse


No post anterior, comentei sobre a oportunidade dada a Betsy Brandt brilhar, já que Marie nunca teve muito espaço na série e que felizmente os roteiristas ignoraram sua cleptomania, um dos poucos pontos baixos da 1ª temporada. Mas também já escrevi em várias ocasiões que nada é esquecido em Breaking Bad, com muitos detalhes sendo reaproveitados, sempre em benefício da narrativa.


E eis que a cleptomania de Marie volta. Mas se antes era um pretexto e tentativa de injetar interesse em personagens periféricos que nada tinham a ver com a trama central, agora faz parte da cadeia de eventos e tragédias causadas pelas escolhas de Walt. Não deixa de ser um episódio arriscado este “Open House”, que coloca Walter White como coadjuvante, dedicando-se quase que exclusivamente não só a Marie, mas também a Skyler, as duas únicas mulheres em uma série predominantemente masculina e que sempre teve nos homens os personagens mais interessantes e os momentos mais memoráveis.


É, portanto, uma prova de fé de Vince Gilligan no material que tem em mãos, esperando que os fãs da série também acreditem e se envolvam afetivamente com todos os personagens. É até natural que algumas pessoas se incomodem com este e o episódio anterior, depois da sequência inacreditável de episódios tensos e empolgantes que vimos, mas seria impossível manter aquele ritmo sem sacrificar a verossimilhança que Gilligan parece tanto prezar na trajetória de cada um dos envolvidos nesta história.


De minha parte, não há como não se importar e ficar comovido com Marie e sua fuga da realidade, criando histórias para esquecer a sua própria (e em pelos menos duas delas ela se separa do marido), furtando objetos de valor sentimental, visitando casas para ficar longe da sua. Brandt está excelente (Marie mente com uma naturalidade ainda maior que Skyler e me pergunto se toda essa dissimulação não terá imenso valor pra Walt no futuro), mas não podemos nos esquecer de Dean Norris: observem a intensidade de sua atuação ao receber a ligação de Marie dizendo que foi presa; da fúria ao arrependimento de gritar com ela, Hank desconta todas as suas frustrações na esposa, ao mesmo tempo em que sabe o mal que tem feito a ela (mais adiante falará a Tim que tudo aquilo é muito difícil pra Marie).


Num tom ainda mais trágico e perigoso, temos as consequências dos últimos eventos em Jesse. Da tentativa de fugir do silêncio e dos pensamentos sobre o que fez, no episódio anterior, agora vem a apatia e a desesperança, ilustrada de forma assustadora na visão que temos de sua casa. Da animada e interminável festa, sua sala agora é um antro infestado de almas perdidas, tão degradante quanto o local em que Walt o resgata no fim da 2ª temporada. É desolador, e da mesma forma que entendemos o desespero de Marie quando Tim pergunta se ela quer ir pra casa, compreendemos o de Jesse ao chamar Walt para o Kart (e torcemos para que ele aceite). A situação do personagem é ainda mais perigosa por ser vigiado por Tyrus, e Gus certamente fará algo em relação a isto.


Enquanto Marie e Jesse afundam cada vez mais, Skyler segue sua trajetória em direção ao mundo do crime, ainda de forma mais amena do que o início da trajetória de seu marido. Impagável a expressão de Walt quando ela diz que a violência sugerida por Saul não é o que eles fazem, e imagino que chegará o dia em que Skyler terá que tomar atitudes tão condenáveis quanto às do marido. Toda a sequência com Saul é muito boa, mas me incomoda o excesso de humor da persona do advogado, em especial com o funcionário que precisa usar o banheiro (e a descarga que encerra a cena). Também soa um pouco forçada a sequência em que Skyler e Walt esperam a ligação de Bogdan. A série tem um realismo muito bem encenado e escrito, mas aí a coisa toda pareceu exagerada. No entanto, gosto de como a personagem se preocupa com tudo (o olho roxo de Walt, o champanhe), como a filha está presente nos atos mais condenáveis, e é interessante ver os dois terminando este terceiro episódio celebrando na cozinha, exatamente o mesmo ambiente em que eles terminam o terceiro episódio da temporada anterior em situação bem diferente (o famigerado “I.F.T.” – I Fucked Ted).


Está aí mais um grande exemplo do incrível desenvolvimento dos eventos. Seria inimaginável àquela altura pensar nestes dois como um casal novamente, mas as coisas se sucedem de forma tão orgânica e coerente, que não parece absurdo. É também de se pensar que o drama de Marie, além de comovente, não acabou sendo o motivo para que o caderno de Gale chegasse às mãos de Hank, uma vez que Tim percebe através de Marie que nada vai bem em casa e usar Hank nesta investigação acaba sendo um gesto de “caridade”, ao mesmo tempo em que não passa o assassinato para a Narcóticos. Breaking Bad continua com cuidado apurado nos detalhes para que nenhum acontecimento pareça inverossímil (exceto a cena de Skyler já mencionada que realmente me incomoda), e gosto particularmente da cena inicial do episódio quando Walt chega ao laboratório e parece satisfeito com o andamento de tudo, até que seu olhar pára na máquina de café e sua expressão imediatamente muda, ao lembrar de Gale – que foi quem criou aquela máquina. Há quem reclame de como as coisas estão lentas, mas além da intensidade dos dramas vividos, são pequenos detalhes assim que mostram que não há com que se preocupar. Afinal, como diz Skyler no episódio, “o diabo está nos detalhes”.




(As imagens que abre e fecha este post falam por si: observem o contraste, personagens em lados opostos do quadro, luz ou trevas, espaço vazio ou cheio, o desespero é o mesmo)



3 comentários:

@veneceos disse...

suas resenhas sobre breaking bad são as melhores. desde que descobri sempre tenho que vir aqui saber a sua opinião.

Celia Kfouri disse...

Comentarista bom bagarai

Hélio Flores disse...

Obrigado, @veneceos! Fique a vontade pra deixar sua opiniao também nos comentarios. :)

Celia, sua linda, assim fico timido.