segunda-feira, 12 de setembro de 2011

[Breaking Bad] 4x08/4x09 - Hermanos/Bug


Por uma série de questões não pude escrever sobre o episódio da semana passada, "Hermanos". Pra compensar, posto um texto único já com comentários sobre o episódio de ontem, "Bug". Não está bem estruturado, é cheio de idas e vindas, transitando por ambos os episódios. Portanto, sugestão é que seja lido após o nono episódio ser visto. Também foi escrito às pressas, com "Bug" visto uma única vez (costumo rever os episódios para só depois comentá-los). Então durante a semana posso acrescentar mais algumas impressões, caso tenha tempo, que irão pra caixa de comentários. Tenho certeza que muitas coisas interessantes ficaram de fora do texto abaixo, ou por esquecimento ou por não ter percebido numa primeira visão do episódio.



“Guess there's a lot of angles to consider.” – Jesse


E como há ângulos. Breaking Bad chegou a um ponto que é possível dedicar quase um episódio inteiro a um coadjuvante que só surgiu no fim da 2ª temporada, com direito a um longo flashback contando seu passado, e ainda fazer desta hora uma das melhores da TV deste ano. A proposta de “Hermanos” chega no momento ideal, quando Gus se vê cercado por todos os lados: Hank, o Cartel, Walt. E é um episódio extremamente bem dirigido e montado, não por algum arroubo técnico ou solução visual criativa, mas é estruturado de forma que tenhamos três grandes momentos de tensão, todos se resumindo a personagens conversando entre si – o interrogatório de Gus, Hank e Walter no estacionamento do Los Pollos, o flashback.


E aí vem um episódio como “Bug”, que coloca Walt no centro novamente e, mais importante, sua relação com Jesse, que sempre foi a grande protagonista da série. Em Breaking Bad somos surpreendidos constantemente pelo que vai acontecer no episódio seguinte, mas não é que os roteiristas criam do nada, e até vão diretamente ao ponto: se Walt vê uma mensagem no celular de Jesse que o faz suspeitar do parceiro, parece óbvio que ele usará o equipamento que descobriu através de Hank como é fácil comprar e utilizar; da mesma forma, se temos Hank contando aos colegas policiais suas suspeitas sobre Gus, logo em seguida temos um interrogatório (a propósito: ali tira as suspeitas sobre Gomez e o chefe de Hank, pois Gus se sai muito bem mas foi claramente pego de surpresa, assim como mais adiante Mike vai buscar informações; o que não aconteceria se um dos policiais envolvidos no interrogatório estivesse na lista de pagamento do “chicken man”). As coisas acontecem rápido na série, não há enrolas, um acontecimento leva a outro que leva a outro que leva a outro... e todos são incríveis, bem narrados, tensos, bem atuados.


E esta sequência de acontecimentos segue uma linha descendente, ladeira abaixo mesmo, pois todos se afundam cada vez mais na bagunça que virou suas vidas. A relação entre Walt e Jesse corre o risco de nunca mais ser a mesma e é genial que a briga entre os dois venha logo após Jesse mostrar toda a lealdade ao seu ex-professor, confrontando Gus mais uma vez e deixando claro de que lado está (é a segunda vez que Jesse desafia Gus e as reações de Giancarlo Esposito são de arrepiar, mistura de incredulidade por alguém ousar contestá-lo, raiva e talvez até algum respeito pela atitude de Jesse). Outra coisa incrível é que finalmente sabemos o que o Cartel quer com o “sim ou não” (a série nunca fez questão de manter segredos) e acaba sendo uma revelação que fica em segundo plano, tamanha é a tensão que ficamos com o que acontecerá entre Walt e Jesse (amplificada pela breve abertura do episódio que nos faz questão de mostrar que se trata de Walt com sangue pingando no chão).


Por um lado, nossa simpatia fica com Jesse, especialmente pela capacidade que Walt tem em ferir o parceiro, ao mostrar que realmente não acredita que ele seja capaz de ensinar algo aos químicos do Cartel e que é totalmente seu dependente. É interessante pensar em como Jesse se comportará, pois apesar de tudo, ele continua o jovem de bom coração, não só preocupado com Andrea e Brock, mas ainda se preocupa com Hank, mesmo que apenas por saber como Walt ficaria mal, ao reforçar com Mike a importância de não matá-lo.


Por outro lado, é compreensível a atitude de Walt, que vem sendo construída cuidadosamente desde o início da temporada, preocupado e obcecado com os próximos passos de Gus e em “Bug” reforçado por duas vezes, quando se pergunta o mesmo que Hank (“como pegar esse cara?”) e Skyler (dar um jeito de abandonar seu segundo emprego). Ele sabe que Jesse está mentindo pra ele, descobre que estiveram juntos na casa de Gus (num jantar que mais parece um ritual para Mr. Fring, que adora cozinhar quando precisa do favor ou simpatia de alguém, algo já feito com Walt na temporada passada), se vê cada vez mais sozinho, acuado, mas acredita que tem controle sobre sua vida e que pode defender todos. É preocupante que o protagonista tenha, a cada episódio, comportamentos mais e mais desagradáveis, mas até agora nada é fora de tom ou incoerente. Só espero que até o final da temporada, Walt tenha alguma atitude nobre (como na temporada anterior) para equilibrar com o péssimo ser humano que ele vem sendo.


Isso nos leva ao seu ato desprezível em “Hermanos”, na cena com o outro paciente com câncer, que aguarda um exame. É uma sequência engraçada e triste, porque Walt é insensível ao sofrimento do outro e diz duras verdades que ele acredita estar vivendo, mas está longe disso. Prova maior é seu inesperado encontro logo depois com Gus. Mike já havia avisado que eles nunca mais se veriam e, claro, sabíamos que até o final da temporada iria acontecer. O choque, para nós e principalmente para Walt, é acontecer desta forma tão repentina e de forma oposta esperada pelo “Heinsenberg-controlo-minha-vida”, que queria estar frente a frente com Gustavo Fring para um acerto de contas e acaba numa situação embaraçosa, desesperado e quase pedindo desculpas pelo que Hank o pediu pra fazer. O outro detalhe desta cena do exame médico é nos lembrar da saúde de nosso protagonista e de que o câncer é algo que pode retornar para o centro da trama. Em “Bug” tivemos mais uma sinalização disto ao vermos Walt evitando tragar/inalar a fumaça do cigarro que fuma com Jesse. O câncer de Walt entrou em remissão num momento em que ele já estava aceitando a morte e vendo como resolução para seus problemas. Não duvido de mais uma peça pregada pelo destino que a doença retorne quando ele se sentir ainda mais em controle e de bem com a vida (embora seja difícil pensar quando Walt estará em posição tão confortável).


Enquanto isso, Skyler também tem que lidar com as conseqüências de seus atos. Depois de descobrir onde guardar o dinheiro do marido (tão metafórico o peso que não se sustenta e vai parar debaixo da casa), o passado bate à sua porta na forma de Ted e seus problemas legais. É divertido ver Skyler, sempre inteligente e dissimulada quando precisa ser, livrando Ted da confusão em que se meteu fingindo ser uma contadora burra e ingênua e por um momento achei que era apenas um ciclo que precisava ser fechado, mas a falência de Ted a obriga a uma atitude mais drástica: é preciso pagar sua dívida para que não cause problemas futuros que colocariam a Receita muito próxima do lava-a-jato. Como ela fará isto com a discrição que tanto tenta manter ao controlar os gastos de Walt é uma das questões mais interessantes, que aparenta desenvolver uma trama que será tão importante quanto a guerra de Gus com o Cartel (e é curioso o detalhe do carro modesto dirigido por Ted para ilustrar sua situação financeira, já que no episódio anterior Hank comenta sobre a modéstia do carro de Gus e é exatamente o que Skyler deseja para o seu filho, também para manter as aparências).


Por fim, temos Gustavo Fring. Metódico, frio e calculista, é incrível como se dá bem no interrogatório, preparado até mesmo para uma situação que provavelmente nunca imaginou que passaria. A sequência é um primor de edição, atuação e sutileza (adoro como Gus pede para que Hank não se levante e o ajuda com as muletas) e culmina com o personagem no elevador, apenas um leve tremor no dedo indicador que abala sua postura, e um close frontal de seu rosto (“Hermanos” é cheio de closes desse tipo, assim como das mãos dos personagens e até mesmo do pescoço de Gus em situação tensa e de Walt no estacionamento com Hank, no momento em que Mike estaciona ao lado). Não é o ponto alto de Giancarlo Esposito no episódio, porque ao final temos a longa sequência em flashback, elemento estranho da série, que pela primeira vez usa o recurso durante a trama (sempre foi utilizado na abertura dos episódios), mas que funciona perfeitamente para dar novo sentido à relação entre Gus e Hector “Tio” Salamanca, além de mais um grande feito narrativo: podemos até ter certeza de quem morrerá naquela cena (a água da piscina com sangue que fecha a introdução do episódio já antecipa isto), mas tudo é construído de forma que não parece que Gus sobreviverá ao encontro com Don Eladio.


Minha proposta original para um post só sobre “Hermanos” era pontuar os aspectos importantes deste flashback, mas de forma resumida: é provável que Don Eladio já esteja morto, uma vez que seus dois capangas, Hector e Juan, assumiram postos de chefia dentro do Cartel (e pelo menos Hector virou Don Salamanca); Eladio é interpretado por Steven Bauer que, assim como Mark Margolis (Hector), atuou em “Scarface”, filme referência de Vince Gilligan; não lembro se em algum momento fica claro qual a doença de “Tio”, mas é provável que seja algo degenerativo, que já mostra seus sintomas no flashback – notem como ele segura uma mão com a outra para beber; Gus certamente não mentiu sobre como conheceu Gale, inclusive informando sobre seu “Hermano”, um homem que morreu cedo demais, cujo nome foi dado à bolsa em Química que ele desenvolveu; seu passado no Chile é mais um mistério criado em torno do personagem, e motivo para não ter sido morto por Don Eladio. Não é difícil imaginar algo relacionado ao próprio Pinochet, lembrando da abertura do episódio “One Minute”, em que Hector ao telefone se refere a Gus como “Generalissimo”.


Como se não bastasse, em “Bug” tivemos mais uma cena sensacional com Gus, andando em direção ao franco-atirador, como o Terminator (bem lembrado por Jesse). É um episódio em que se permite explodir a violência e a tensão e catarse vem sempre do quanto conhecemos os personagens. Um momento incrível de um personagem incrível de uma série idem.


O que esperar para os quatro episódios finais? Parece impossível imaginar um final de temporada em que, no mínimo, um de nossos coadjuvantes prediletos não morra: Gus, Mike ou Hank? (não consigo imaginar Jesse ou Skyler fora da última temporada) E se todos esses excelentes atores retornarem no ano que vem, melhor ainda. Prova de que teremos uma resolução incrivelmente genial e inesperada para os conflitos criados.




8 comentários:

Anônimo disse...

Deveras pertinentes os cometários! Concordo que são indispensáveis, Jesse, Skyler e até mesmo Gus, para a última temporada. Falo do Gus, pois, iriam desenvolver tanto um personagem durante a temporada, para matá-lo no final? Sem dizer, que é um personagem interessantíssimo.

e.fuzii disse...

Grande problema de Breaking Bad nesta temporada é que fica difícil de apontar qual episódio é melhor logo depois de assistir o próximo. E não faz nem parte de uma crescente, mas a série mostra maior regularidade do que nas anteriores. Esse "Hermanos" por exemplo, continuava desenvolvendo o tema lealdade (já desde "Problem Dog") mas sob o ponto de vista de Gus. Às vezes tenho até certa aversão de flashback expositivos, mas nesse caso não haveria outra forma de dar conta do passado de Gus. No final serviu bem para pontuar tanto as conversas com 'Tio' quanto o depoimento para o DEA -- afinal a melhor forma de dissimular é fazendo uso de experiências semelhantes em sua vida. Além disso, ainda que Gus não tivesse carinho na mesma intensidade por Gale, nada impede que ele também aplique sua lei de "sangre por sangre" no seu(s) assassino(s). São acontecimentos que fizeram Gus mudar sua relação com seus parceiros e que colocam em risco Walt e Jesse.

Já em "Bug" tudo gira em torno dos rastreamentos, de Hank e o cartel em Gus, da polícia federal em Skyler, e principalmente de Walt em Jesse. Confesso que o sangue pingando em Walt logo no início me levava a crer que era de Gus (pelo foco no episódio anterior), mas talvez porque não esperava por um confronto com Jesse tão insano assim, e nem tão cedo na temporada. Ainda acho que não é uma separação definitiva, mas deixará marcas adiante com certeza. Agora resta saber quem será descartado nesta imensa cadeia de eventos. E espero que seja usado sangue escorrendo em todas as "cold opens" até o final da temporada. :P

Hélio Flores disse...

Lembrei de umas coisas que ficaram de fora do texto:

- momento mais hilário da nervosa e incrivel cena de Hank e Walt no estacionamento em "Hermanos": "Voce acha que Gus matou Gale?" "Nao, um cara desses arranja um imbecil pra fazer o seu serviço"; Pobre Jesse, mas a reação de Cranston é impagavel.

- so revendo "Bug", mas acho que ha varias cenas de personagens filmados numa "prisao", como Skyler por tras das cortinas de seu escritorio e os demais atraves de janelas, vidros, etc. Enquadramentos sao bem fechados e ilustra bem o cerco se fechando pra todos eles.

- Triste ver o Walt perguntando pra Jesse como vai a vida, o que ele anda fazendo, etc. Se tivesse feito isso (com sinceridade e sem segundas intençoes) la no inicio da temporada, as coisas estariam tão melhores...


Anônimo, o problema é que todos os personagens sao interessantes demais. Mas concordo que o flashback dá uma importancia maior a Gus. Espero que sobreviva à temporada.

Fuzii, nao tinha pensado em Gus querer se vingar da morte de Gale. É um relacionamento que nunca ficou claro o quanto de estima havia, mas nao parece que a serie vai seguir esse caminho. Alias, isso me lembra os varios comentarios sobre a suposta homossexualidade entre os hermanos, coisa que preferi evitar de comentar no texto. Nao acho que será relevante e que ficará em aberto ate o fim.

Hélio Flores disse...

Ah, sim, sobre o flahback. O Mateus comentou la no SerieManiacos que nao curtiu a fotografia e é realmente o tipo de coisa dispensável, mas as cenas no Mexico sempre tem aquela tonalidade. A maquiagem tambem é meio grotesca e nao vou mentir que o Esposito tentando falar espanhol me incomodou um pouco. Mas de resto é tudo muito bom, e o momento do tiro lembra muito uma sequencia em Sopranos que tem tratamento do som semelhante (la pela 6a temporada). Em Sopranos é mais impactante, mas os caras em Breaking Bad evitaram copiar e é o preço que se paga por chegar depois.

Lee disse...

Grande texto, Hélio...meus parabéns.Ganhou um leitor fiel.Ler tudo o que vc já escreveu sobre BB está sendo um prazer.

Bel disse...

Concordo com todos os seus comentários no texto.
Eu tinha horror da Skyler, achava uma chata e sempre "rooted" pelo Walter. Mas agora, cresce repulsa pelo Walter e simpatia pela Skyler, que tá muito digna, passando por tudo isso com elegância e inteligência.
Eu também, sinceramente, espero que o Walter venha a se redimir até o fim da temporada. Os últimos rompantes dele com Jesse foram horríveis, mas como você mesmo disse, até então não foram incoerentes com o desenvolvimento do personagem. Enfim, go Jesse!

Hélio Flores disse...

Obrigado, Lee! Apareça sempre e comente o episodio tambem. :)

Bel, é interessante o numero de pessoas que nao gostavam (e alguns ainda nao gostam) da Skyler. Nunca tive problemas com ela e algumas criticas parecem ignorar o fato de que o que ela atura do Walter nao é pouco, e isso desde o inicio da série.

Abços!

Anônimo disse...

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