terça-feira, 23 de setembro de 2008

[Alice] 1x01 Pela toca do coelho

A primeira preocupação que tive quando descobri que seria Karim Aïnouz o diretor de "Alice" era como São Paulo seria revelada na série, tanto por já ter sido retratada diversas vezes na ficção como por ser a minha cidade de nascença. Isso porque um dos mais fascinantes aspectos de "O Céu de Suely", seu último longa, é a forma como a cidadezinha de Iguatu vai sendo montada diante de nossos olhos, enquanto acompanhamos o retorno da personagem principal. Nesse caso, São Paulo é apresentada da forma que já estamos acostumados a ver: panoramas de seus arranha-céus, as luzes de seu trânsito caótico e pelo olhar disperso de seus habitantes. Tudo isso simples o suficiente para conseguir chocar Alice, que já desestabilizada pela morte do pai quer fugir da cidade de qualquer maneira. Mas soa um pouco estranho que alguém que tenha uma passado com a cidade e pareça bem esclarecida seja levada por sua amiga/estranha Dani a uma festa banal, e acabe reduzida ao clichê máximo de "Maria Pick-up". Embora a montagem inicial tente passar o quão estável era a vida dela em Palmas, sua transformação acontece bruscamente, sem dar tempo para que possamos entender quem ela realmente é. Seja pela dor da perda, o isolamento ou mesmo sua aparente ingenuidade, a vida de Alice caiu na armadilha clichê que a cidade preparou. No final, devo confessar que fiquei muito mais interessado por sua vida em Palmas do que em suas desventuras paulistanas.

Minha esperança é que a personagem ainda mantenha sua essência e saiba lidar com essa fantasia de liberdade que São Paulo pretende passar. Pela horrenda cena final em que Alice diz querer aproveitar aquilo que seu pai desperdiçou, é difícil ter esperança pelo que vem pela frente. Esse confuso episódio piloto com certeza não seria suficiente para emplacar, mas como a série foi planejada como um todo -- assim como outras da HBO e a maioria dos canais a cabo --, ainda estou otimista que possa melhorar. Bons motivos não faltam: as razões para seu pai ter se suicidado, a briga pela herança e os relacionamentos de Alice com a meia-irmã e seu noivo.

Por outro lado, a parte técnica da produção é de encher os olhos, principalmente a bela fotografia e a trilha sonora do Instituto (aquele que faz turnê do disco "Racional" há milhares de anos). A direção embora escorregue em algumas cenas consegue levar bem os atores, que comparando com outras séries nacionais está acima da média. Destaque para a cena de sexo entre Alice e o DJ, intensa sem chegar a ser vulgar e com um belo plano mostrando o amanhecer ao fundo, com os primeiros raios de Sol atravessando o casal. Andréia Horta, que também está no ar pela Record em Chamas da Vida, transmite um ar bastante honesto à protagonista e me deixou impressionado. Mas como não é só de protagonista que vive uma boa série, espero que o resto do elenco consiga também se destacar.

Para quem interessar, o primeiro episódio também está disponível para ser assistido pelo site oficial da série.



e.fuzii

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, pensei exatamente o contrário Fuzii. Aqui vai:

Sim, São Paulo ainda é mostrada daquele jeito com arranha céus, e transito caotico, mas é impossivel fugir disso (e nem seria interessante faze-lo). E mesmo assim, eu acho que trabalho da série em relação a estetica da cidade foi muito mais interessante e criativo que na maioria da produção nacional, se utilizando muito de cores mais fortes na foto (e de vez em quando na arte), ao invés daquela aparência selva de pedra já muito batida.

2- Nossa, eu achei a parte dela em Palmas muito chata. A introdução foi bacaninha. Mas depois, aqueles papinhos de casamento, suicidio do pai... Claro que isso vai ficar mais interessante depois (espero, pelo menos), mas são histórias batidas sem muita força propria. Amiga japa e balada banal (mas divertida) e o dia seguinte, assim como a cena de sexo mais bem feita da produção nacional atual, deram mais vida ao piloto.
Se focar na vida pessoal de Palmas, vai ser clichê. Se focar nas baladas de Sampa, vai ser divertida, e dar a chance de vermos um estilo de vida que por algum motivo estranho não é explorado, por mais que seja muito interessante: o dos jovens que vão em balada, que escutam musica boa, que fazem sexo sem culpa, que usam drogas de vez em quando...

Claro, o lance vai ser achar o equilibrio entre os dois lados (até porque nenhuma série poderia se sustentar só em balada), mas ainda assim, acho que problema maior está na previsibilidade das situações pessoais dela. è bem obvio que os planos de casamento vão acabar, que ela vai ficar em são paulo, e encontrar outro cara aqui.
E para tornar algo tão comum interessante, o roteiro terá que ser fenomenalmente bom.

Mas é só minha opinião... :P

e.fuzii disse...

Renato, você está mais do que convidado a dar sua opinião.

Pelo menos em um aspectos a gente concorda: precisa-se achar um equilíbrio entre os dois lados. Mas a minha curiosidade pela vida de Alice em Palmas é exatamente porque ela foi retratada sem profundidade alguma ali. Não sabemos quais são seus problemas, seus amigos, seu modo de vida... ou seja, falta uma motivação para aquilo que vimos acontecer em São Paulo.

Já em relação à forma como retrataram São Paulo, realmente foi um belo trabalho de fotografia. A minha crítica é a forma como Alice foi atingida por essa situação, que pelo nível de instrução dela não deveria ser novidade. Essa transformação dela, esse deslumbramento, tudo pareceu brusco demais para um primeiro episódio.

Mas vamos esperar que melhore.

Anônimo disse...

Eu achei um episódio perfeito para uma estréia; para falar a verdade, com uma atmosfera mais de cinema que televisão.

A transição rápida de Alice pode ser estranha num dia normal mas ela estava com a morte do pai na cabeça, mesmo sem trasparecer para ela mesmo. E isso é um ponto do roteiro, que também não disse isso em palavras, disse em encenação.

Agora uma coisa que realmente me deixa muito curioso é pra onde a série caminhará tanto em São Paulo quanto lá em Palmas. Será que manterá os dois núcleos?