quarta-feira, 18 de julho de 2012

[Breaking Bad] 5x01 - Live Free or Die



“Happy Birthday, Mr. Lambert!” - Lucy

Já se tornou um marco da história recente da TV o último episódio da terceira temporada de Lost, “Through the Looking Glass”, em que o aspecto físico de determinado personagem (incluindo uma barba) causa um estranhamento que só será entendido pela revelação na cena final, surpreendendo pela reviravolta e mudança de perspectiva e rumos da série. Breaking Bad também começa sua quinta temporada com personagem fisicamente mudado (incluindo uma barba), mas imediatamente nos situa o momento em que se passa, e tem apenas a duração de um prólogo. E, ao contrário de Lost, em que ao menos sabíamos que certa tripulação não deveria chegar na Ilha, aqui ficamos sem a menor ideia do que aconteceu de tão grave.


Ainda é cedo para saber que tipo de abordagem Vince Gilligan e seu time de roteiristas pretendem dar ao que vemos neste início: flashforwards em pequenas doses, como vistos na excelente 2ª temporada? Um acompanhamento paralelo aos eventos “atuais”? Ou não retornaremos mais a isto por um bom tempo? O fato é que tivemos informações suficientes para criar uma enorme expectativa e muitas dúvidas.


Primeiro fato relevante: o prólogo se passa dois anos após o piloto da série, tempo demais na cronologia de Breaking Bad, considerando que apenas metade deste tempo se passou em quatro temporadas (estimativa aproximada, baseando-me que Skyler já estava grávida quando a série começa e sua filha ainda é um bebê de colo). O Walt de barba, cabelo e aspecto cansado em nada se parece com o Walt que vemos pelo restante do episódio, autoconfiante, arrogante e cheio de si; não usa a aliança que ostenta no ferro-velho, dizendo ser de ouro; tosse e toma comprimidos; mas tem dinheiro (além do pesado armamento que compra, deixa 100 dólares de gorjeta), quando no momento atual precisa pedir emprestado a Jesse.


É interessante que até o final do episódio, nada aponta para aquele momento. Pelo contrário, “Live Free or Die” resolve, de uma maneira até apressada, as pontas soltas que ainda existiam: as filmagens do laboratório são destruídas, Walt se livra da planta usada como veneno, rapidamente acerta as contas com Mike (que só é algo verossímil graças ao cuidado na construção de um relacionamento entre Mike e Jesse na temporada anterior). Walter White não tem inimigos, Hank está longe de qualquer coisa que possa levantar suspeita sobre ele, não tem sequer como recomeçar a produção de metanfetamina para ganhar dinheiro. É como se a série recomeçasse do zero, com a enorme diferença de que os personagens estão longe de serem como eram no início - e o plano inicial e final do episódio falam isso de forma maravilhosa: o bacon gorduroso contrastando com o bacon vegetariano do piloto, que o protagonista come por imposição de uma esposa autoritária que agora é “perdoada” por um marido assustador.


Curioso também que a única ponta solta que fica do ano anterior nem sabíamos que seria uma ponta solta: Ted não está morto. Mas acredito que não veremos mais o personagem, que deve mesmo manter o segredo pelo resto de sua vida. Se seu retorno na temporada passada serviu para culminar no épico final de “Crawl Space”, aqui tem uma única função: em Breaking Bad as pessoas são (e vêm a ser) aquilo que elas fazem e, ao substituir o choque e o lamento por uma fingida ameaça (“Good.” Grande momento de Anna Gunn), Skyler vê um pouco mais do inferno em que está e ganha novas camadas.


Mas como uma coisa leva a outra nesta série, uma conta bancária de Gus Fring é descoberta, apenas graças ao magnético plano de Walt e Jesse. Dificilmente será algo que leva a nossos protagonistas, mas que logo os atingirá de alguma forma – o próximo episódio se chama “Madrigal”, nome da multinacional alemã que Hank descobre estar ligada ao Pollos Hermanos.


Outras considerações:

- “Live Free or Die”, na placa do carro de Walt, é o slogan do Estado de New Hampshire, de onde supostamente vem o “Mr. Lambert”. É também o nome do episódio de Sopranos em que o personagem Vito Spatafore foge para esse Estado (se não viu a série, não se preocupe, os motivos da fuga nada têm a ver com Breaking Bad);

- Por um lado, é realmente divertido ter de volta a velha dinâmica entre Walt e Jesse tentando se livrar de uma enrascada, algo perdido na temporada anterior; Por outro, é o terceiro mirabolante e bem sucedido plano de Walt num curto espaço de tempo. Espero que as coisas se “normalizem” um pouco;

- “Yeah, bitches! Magnets!” consegue ser ainda melhor que “Yeah Mr. White! Yeah Science!”;

- Trabalho técnico sempre incrível. Destaques: a trilha sonora que dá ritmo à destruição da sala de evidências; a visita de Hank ao laboratório queimado no melhor estilo “Alien” (reparem nos cones); e os planos com a câmera dentro do porta-malas de carro, um dos mais usados por Tarantino;

- “Estamos em uma época de partículas de Deus” – imagino que a cena tenha sido refilmada para manter a atualidade?

- Como imaginado, Saul ajudou Walt no seu plano para envenenar Brock e Huell quem roubou o cigarro (ou carteira inteira) de Jesse. Não acho que a série dará mais explicações que esta;

- "O que há entre vocês?" Mike, devidamente irritado com o "Se você matá-lo, vai ter que me matar" de Jesse, algo que os dois protagonistas se revezaram em dizer um bom número de vezes na quarta temporada;

- Falando em Mike... Mike e as galinhas. Existe alguma parceria que não seja boa com esse cara?



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

terça-feira, 17 de julho de 2012

Palpites para indicados ao Emmy 2012

Decidi de última hora postar palpites para os indicados ao Emmy, que serão anunciados na próxima quinta-feira, dia 19. Apenas para não perder a tradição. Peço desculpas, portanto, pelo texto rápido e meio bagunçado.




Melhor Roteiro/Direção

Passando rápido por essas duas categorias, adivinhar os indicados aqui é missão quase impossível, mesmo com alguns nomes claros: enquanto séries favoritas como “Mad Men” e “Breaking Bad” enviam quase a temporada completa pra concorrer na categoria, os votantes sempre dão um jeito de diversificar, em especial mostrando boa vontade com pilotos e finais de série. Neste último caso, “House” é a única série de peso que foi encerrada, mas sua participação no Emmy diminuiu nos últimos anos o suficiente pra não considerarmos. Entre os pilotos, “Homeland” parece um nome certo (nas duas categorias, talvez), enquanto “Luck” e “Boss” têm chances em Direção, pela possibilidade que os votantes têm em votar em grandes nomes do cinema (eles adoram). No caso, Michael Mann e Gus Van Sant, respectivamente. Entre as tantas malfadadas estreias na tv aberta, não me surpreenderia em ver o piloto de “Smash” reconhecido. Favoritas em outras categorias, as indicadas da HBO ano passado, “Game of Thrones” e “Boardwalk Empire”, mandaram vários episódios pra apreciação, muito embora cada uma tenha nomes bem claros pra tentar uma vaga, enquanto a incógnita “Downton Abbey” muito acertadamente enviou apenas seu episódio de Natal para concorrer em ambas categorias. Por fim, “The Good Wife” curiosamente enviou apenas um episódio para concorrer em Roteiro (Blue Ribbon Panel), mas cinco em Direção, todas escolhas boas demais que podem acabar se anulando. Qualquer outra série que conseguisse emplacar um episódio me causaria imensa surpresa.

Chutando bastante, os indicados seriam:

Roteiro


1. Downton Abbey (Episode 7 Christmas)
2. Homeland (Pilot)
3. Mad Men (The Other Woman)
4. Mad Men (Far Away Places)
5. Breaking Bad (Crawl Space)


Outras Possibilidades: Homeland (The Weekend), The Good Wife (Blue Ribbon Panel), Boardwalk Empire (To the Lost), Smash (Pilot), qualquer outro concorrente de Breaking Bad e Mad Men

Meu voto:
1. Breaking Bad (Crawl Space)
2. Breaking Bad (Problem Dog)
3. Mad Men (Far Away Places)
4. Mad Men (The Other Woman)
5. Game of Thrones (Blackwater)





Direção

1. Game of Thrones (Blackwater)
2. Breaking Bad (Face Off)
3. Homeland (Pilot)
4. Luck (Pilot)
5. Mad Men (Far Away Places)


Outras Possibilidades: Mad Men (The Other Woman), Mad Men (Commissions and Fees), Boss (Pilot), Breaking Bad (Crawl Space), Homeland (The Vest), Boardwalk Empire (To the Lost)

Meu voto:
1. Breaking Bad (Crawl Space)
2. Game of Thrones (Blackwater)
3. Mad Men (At the Codfish Ball)
4. Mad Men (A Little Kiss)
5. Sons of Anarchy (Hands)



Atriz Coadjuvante

Indicadas 2011 – Margo Martindale (vencedora), Christine Baranski, Michelle Forbes, Christina Hendricks, Kelly MacDonald, Archie Panjabi.
Vagas em aberto – Apenas a vencedora Martindale não retorna. Como Forbes pouco faz na cada vez menos prestigiada “The Killing”, dá pra dizer que ao menos duas novidades teremos na categoria.
Quem retorna – Exceto por Hendricks, que pode até vencer graças à projeção que teve nesta temporada, não coloco a mão no fogo por ninguém, nem mesmo a campeã de 2010 Panjabi.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antesAnna Gunn, fora da competição ano passado nunca teve tão boas chances, e January Jones, que finalmente se colocou como coadjuvante, não seria surpresa total, com dois episódios de participação forte, embora vamos continuar lembrando de Kiernan Shipka, porque seu dia há de chegar; MacDonald, que tenta se manter, pode perder votos pra colega de série Gretchen Mol, enquanto Lena Headey ultrapassa Emilia Clarke entre as candidatas de “Game of Thrones”; Não se sabe o quanto “Damages” foi esquecida (seja pelo intervalo, pelo buzz ou pela mudança pra DirecTV), mas Rose Byrne continua com suas (inexplicáveis, pra mim) chances.
As novidades - A maior delas é Maggie Smith, vencedora no ano passado quando “Downton Abbey” concorreu como minissérie. Muito mais justo se concorresse como atriz convidada, o fato é que mesmo com pouco, Smith é uma daquelas presenças incontestáveis, que nos faz desejar que não saia da tela nunca; Morena Baccarin dependerá do quanto “Homeland” será querida pelos votantes e Angelica Huston só pode ser considerada pelo nome que é.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo):
1. Christina Hendricks, Mad Men
2. Maggie Smith, Downton Abbey
3. Archie Panjabi, The Good Wife
4. Anna Gunn, Breaking Bad
5. Kelly MacDonald, Boardwalk Empire
6. Christine Baranski, The Good Wife


Boas chances: Morena Baccarin (Homeland), Rose Byrne (Damages), January Jones (Mad Men)

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Christina Hendricks, Mad Men
2. Anna Gunn, Breaking Bad
3. Maggie Smith, Downton Abbey
4. Kelly MacDonald, Boardwalk Empire
5. Lena Headey (Game of Thrones)
6. Maisie Williams (Game of Thrones)



Ator Coadjuvante
Indicados 2011 – Peter Dinklage (vencedor), Andre Braugher, Josh Charles, Alan Cumming, Walton Goggins, John Slattery
Vagas em aberto – Nenhuma. Todo mundo volta, mas um ou dois terão que cair fora porque a concorrência está impossível.
Quem retorna – Não consigo imaginar a categoria sem Dinklage e Slattery. Os demais, mesmo com admiradores (embora Charles claramente seja o mais fraco), podem muito bem ficar de fora.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes – o vencedor de 2010, Aaron Paul, retorna pra um verdadeiro banho de sangue contra Dinklage, que pode até sobrar pra Giancarlo Esposito, que também não imagino de fora da disputa; Jared Harris e Vincent Kartheiser nunca tiveram tão boas chances, enquanto Michael Pitt está ainda melhor (e tão protagonista quanto Paul e Dinklage são em suas séries) que ano passado.
As novidades – assim como Baccarin, Mandy Patinkin dependerá do quanto as atenções serão pra o elenco como um todo de “Homeland” ou se Claire Danes concentrou todo o destaque; Goggins terá atenção dividida com Neal McDonough, enquanto Nick Nolte já seria um nome certo se não fosse pela polêmica envolvendo Luck. Como se não bastasse, “Damages” tem tradição de emplacar seus coadjuvantes de luxo e este ano John Goodman e Dylan Baker são nomes mais que respeitáveis.

Os indicados serão (em ordem de favoritismo):
1. Aaron Paul, Breaking Bad
2. Peter Dinklage, Game of Thrones
3. John Slattery, Mad Men
4. Giancarlo Esposito, Breaking Bad
5. Nick Nolte (Luck)
6. Alan Cumming (The Good Wife)


Boas chances: Andre Braugher, Mandy Patinkin, Jared Harris

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Aaron Paul, Breaking Bad
2. Peter Dinklage, Game of Thrones
3. Giancarlo Esposito, Breaking Bad
4. Michael Pitt, Boardwalk Empire
5. John Slattery, Mad Men
6. Kevin Dunn, Luck



Melhor Atriz
Indicadas 2011 – Julianna Margulies (vencedora), Kathy Bates, Connie Britton, Mireille Enos, Mariska Hargitay, Elisabeth Moss
Vagas em aberto – Apenas Britton não volta, com “Friday Night Lights” encerrada. Mas eu gostaria muito de pensar que Bates e Enos já tiveram seu momento e que finalmente será este o ano em que não teremos Hargitay. O que daria uma renovação a categoria.
Quem retornaMargulies, sem dúvida. Moss está mais pra coadjuvante, mas com tudo o que aconteceu na temporada, difícil ignorá-la.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes – Na verdade, o retorno de Glenn Close, maior chance de “Damages” não ser totalmente ignorada; Kyra Sedgwick ganhou em 2010 e, mesmo com a surpresa da exclusão ano passado, um último retorno não seria absurdo; Emmy Rossum, Katey Sagal e Anna Torv continuam com seus admiradores, mas dificilmente eles votam no Emmy.
As novidades – Duas enormes. Primeira, o que mais próximo este Emmy tem de um vencedor antecipado: Claire Danes. Segunda, na série mais prestigiada: o quanto os votantes gostaram (ou odiaram) Jessica Paré? Como se não bastasse, Elizabeth McGovern e Michelle Dockery podem se beneficiar do culto a “Downton Abbey”, e eu não descartaria o poder de Victoria Grayson, papel de Madeleine Stowe em “Revenge”. Como de vez em quando o Emmy surpreende com força, a categoria tem outras fortes candidatas pra isso, como Debra Messing e Kerry Washington.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo):
1. Claire Danes, Homeland
2. Julianna Margulies, The Good Wife
3. Elisabeth Moss, Mad Men
4. Glenn Close, Damages
5. Elizabeth McGovern, Downton Abbey
6. Jessica Paré, Mad Men


Boas chances: Mariska Hargitay, Mireille Enos, Kathy Bates

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Claire Danes, Homeland
2. Julianna Margulies, The Good Wife
3. Elisabeth Moss, Mad Men
4. Katey Sagal, Sons of Anarchy
5. Madeleine Stowe, Revenge
6. Jessica Paré, Mad Men




Melhor Ator
Indicados 2011 – Kyle Chandler (vencedor), Steve Buscemi, Michael C. Hall, Jon Hamm, Hugh Laurie, Timothy Olyphant
Vagas em aberto – Apenas o vencedor Chandler não retorna, o que não chega a ser uma vaga em aberto já que pertence a outro vencedor que retorna este ano...
Quem retorna – Com tantos nomes fortes de novidade, Hamm e Buscemi me parecem os únicos garantidos. O que significa dizer que sim, podemos ter uma categoria sem Dexter ou House (Laurie ainda tem a vantagem de ser a última oportunidade).
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes – Além do retorno de Bryan Cranston, nada que chame muita atenção: William H. Macy, Jeremy Irons e Ray Romano pareciam ter chances em anos anteriores e duvido que com tantas novidades, concretizarão agora.
As novidadesDustin Hoffman era o favorito até mesmo para vencer, aí “Luck” estreou e mostrou o ator praticamente coadjuvante planejando uma vingança misteriosa que infelizmente não veremos a conclusão. A tragédia do cancelamento afundou chances de vitória e até mesmo não garante a indicação. Mas não se pode subestimar um dos maiores nomes dos últimos 40 anos de cinema; Kelsey Grammer, que venceu o Globo de Ouro deste ano (e 14 indicações e 5 vitórias no Emmy não atrapalham); Damian Lewis, que certamente se beneficia da química com Danes; Patrick J. Adams, apenas porque foi indicado ao SAG; e Hugh Bonneville, apenas porque não se deve ignorar quem participa de “Downton Abbey”. Mas se a surpresa vier nesta categoria, o já vencedor Kiefer Sutherland, Jason Isaacs ou Jeffrey Dean Morgan poderiam fazer todo mundo cair o queixo.

Os indicados serão (em ordem de favoritismo):
1. Bryan Cranston, Breaking Bad
2. Jon Hamm, Mad Men
3. Steve Buscemi, Boardwalk Empire
4. Kelsey Grammer, Boss
5. Dustin Hoffman, Luck
6. Hugh Laurie, House


Boas chances: Damian Lewis, Timothy Olyphant, Michael C. Hall

Meu voto (em ordem de preferência):
1. Bryan Cranston, Breaking Bad
2. Steve Buscemi, Boardwalk Empire
3. Jon Hamm, Mad Men
4. Dustin Hoffman, Luck
5. Timothy Olyphant, Justified
6. Damian Lewis, Homeland




Melhor Série
Indicados 2011 – Mad Men (vencedora), Dexter, Game of Thrones, Friday Night Lights, Boardwalk Empire, The Good Wife
Vagas em aberto – Apenas Friday Night Lights foi encerrada, mas vamos concordar que Dexter já passou tempo demais aí e que sua vaga será cedida à colega de emissora, Homeland.
Quem retornaMad Men. E não coloco a mão no fogo por mais ninguém.
Quem já ficou perto de uma indicação ou foi indicado antes – Além do retorno de Breaking Bad, apenas Justified parece ter alguma chance, apenas porque teve um grande salto em indicações ano passado (manter a qualidade ajuda também, claro). The Killing e Shameless não conseguiram quando eram novidade, e Damages, apesar de bem conhecida na categoria, não tem cara de ter feito um grande retorno. O problema mesmo são as estreantes.
As novidades – Além de Homeland (que já venceu o Globo de Ouro), Downton Abbey é tida como certeza. Apesar de uma temporada claramente inferior a que venceu ano passado o prêmio de Melhor Minissérie, isso parece pouco importar e a série virou um fenômeno nos EUA. Luck, além dos problemas que levaram seu cancelamento, já não fazia o tipo de série que é indicada a esse tipo de coisa, mas a qualidade técnica é tão impressionante que não seria uma surpresa total vê-la aqui. Boss agradou ao Globo de Ouro, então nunca se sabe. Já Smash, Revenge e Once Upon a Time teriam alguma chance antes da dominação total das emissoras pagas, o que significa que The Good Wife continuará sendo a única com alguma possibilidade de indicação e representar a TV aberta.

As indicadas serão (em ordem de favoritismo)
1. Mad Men
2. Breaking Bad
3. Homeland
4. Downton Abbey
5. Game of Thrones
6. Boardwalk Empire


Boas chances: The Good Wife, Justified, Boss

Meu voto (em ordem de preferência)
1. Breaking Bad
2. Mad Men
3. Game of Thrones
4. Boardwalk Empire
5. The Good Wife
6. Luck


Considerações Finais: Gostaria muito que a HBO emplacasse suas duas principais séries, embora o tom geral parece apontar que Boardwalk Empire tenha perdido força com o tempo (apesar de a segunda temporada ser claramente melhor que a anterior). Game of Thrones pode se beneficiar pela exibição mais recente e com um episódio tão admirável como “Blackwater”. Mas manter as duas significa excluir The Good Wife, que há 3 temporadas dá uma bela aula de como fazer uma série “Caso da Semana”, desenvolvendo vários personagens e subtramas interessantes, ao mesmo tempo em que se especializou em participações especiais marcantes, de atores de um episódio só, a antagonistas que de tão bons, foram ganhando cada vez mais espaço em um elenco já grande. Claro, essas três séries estão na corda bamba considerando que duas vagas são de Breaking Bad e Mad Men, de longe o que de mais incrível vem sendo feito nos últimos anos, e outras duas parecem pertencer às queridinhas Homeland e Downton Abbey. A primeira me aborrece um pouco pelo esquematismo e situações formulaicas usadas pra segurar uma temporada de 13 episódios, embora Claire Danes claramente nos dá a grande atuação do ano; já a série inglesa vive altos e baixos após uma primeira temporada bastante superior. Tem a maior qualidade nos diálogos rápidos e cortantes, mas de modo geral a trama tem ficado cada vez mais novelesca e de soluções facéis. Seria bom vê-la de fora, mas acho que isso sim seria uma grande surpresa.


Categorias de Comédia

Como ano passado, não farei apostas aqui. Explico: além de não ver tantas séries como gostaria, as favoritas costumam ser coisas que não gosto ou não importo. No entanto, a briga é muito mais interessante do que em Drama: enquanto as maiores indicadas dos últimos anos (Modern Family e Glee) vêm sofrendo uma queda de interesse, antigas favoritas retornam com um grande ano (30 Rock e Curb Your Enthusiasm), outras têm aumentado seu número de indicações com o passar dos anos (Parks and Recreation e The Big Bang Theory) e, para cada série que vem perdendo mais e mais prestígio (The Office, as dramédias da Showtime), surgiu uma novidade na última temporada (Veep, Girls, New Girl, Enlightened, House of Lies), além de séries que sempre se beneficiam de um reconhecimento maior no seu segundo ano (Louie, Raising Hope, Mike and Molly). 

Dentre todas as categorias, vale destacar a de Melhor Atriz, que promete ser um massacre ainda maior que o visto em Ator Coadjuvante de Drama: os votantes terão que escolher manter as seis candidatas do ano passado (a vencedora Melissa McCarthy, Tina Fey, Amy Poehler, Edie Falco, Laura Linney, Martha Plimpton) ou eliminar uma ou mais para dar lugar a Julia Louis-Dreyfus, Zooey Deschanel, Lena Dunham, Laura Dern (vencedora do Globo de Ouro) ou Christina Applegate.

Fica minha torcida para que 30 Rock seja reconhecida pelo seu retorno ao brilhantismo das primeiras temporadas, e que Curb Your Enthusiasm, Parks and Recreation, Louie e Raising Hope as acompanhe na categoria principal (não vai acontecer).




 Hélio Flores

sábado, 16 de junho de 2012

[Mad Men] 5x13 The Phantom

"And that his life with his family was some temporary bandage on a permanent wound."

E assim chegamos ao episódio final de mais uma temporada de Mad Men, que pode não ter sido surpreendente como tantos outros anteriores, mas que não deixa de ter seus méritos por conseguir valorizar essa excelente temporada, pontuando parte de seus temas recorrentes e oferecendo conclusão a maioria de suas tramas. Certamente seria impossível superar o impacto do suicídio de Lane Pryce na semana passada, ou proporcionar um clímax mais efetivo para uma temporada que começou com ares leves e agradáveis até atingir esse clima fúnebre no final. Para os personagens também não parece nada fácil evitar essa ausência, ou melhor, uma presença quase que espectral de Lane. Em uma insuportável reunião entre os sócios, com uma das cadeiras ainda desocupada, Joan tem de controlar sozinha a falta de paciência dos outros homens à mesa. Don sofre novamente com alucinações de sua cabeça, devido a fortes dores de dente. Dessa vez são visitas de seu próprio irmão, apresentando até as marcas de enforcamento ainda no pescoço, prova de que Don também sente uma parte da culpa pelo suicídio de Lane. E assim como essas dores que só aliviam quando decide finalmente extrair o dente, sua visita à viúva Pryce ocorre muito mais para diminuir esse peso do que como ato de generosidade, até por "ressarci-la" com a quantia exata que o marido havia investido na empresa.

Porém, o termo "fantasma" que aparece no título não se aplica apenas de um modo literal, se é que podemos chamar assim, mas simboliza também as ilusões e fantasias que esses personagens tem perseguido ao longo de toda a temporada. Megan é censurada pela mãe por buscar um sonho impossível, pela primeira vez admitindo a possibilidade de desistir, assumindo assim seu fracasso. Beth volta neste episódio para dar a chance de um último encontro a Pete, antes de ter suas memórias apagadas por uma terapia de eletrochoques. Na visita ao hospital no dia seguinte, Pete já é tratado como um estranho, e percebe suas fantasias sendo dissipadas dentro da única pessoa que se vê capaz de revelar seus sentimentos, ponderar sobre sua própria depressão. Muita gente reclamava durante a temporada de uma falta de sutileza na série, e das inúmeras vezes que personagens faziam verdadeiros discursos entregando o tema do episódio. Defendi por tantas vezes dizendo que, a medida que mergulhamos década adentro, tudo parece ficar mais evidente, tornando-se impossível até para esses personagens deixarem de notar tais transformações. Matthew Weiner, em uma entrevista essa semana para o Sepinwall, revela que a intenção dos roteiristas era justamente essa, diminuir a ironia, derrubar os disfarces. Weiner sempre declarou não acreditar que as pessoas fossem capazes de mudar, apenas de se adaptar a uma nova situação. Por isso essa temporada me parece crucial porque revela tudo isso diante dos personagens, e eles se mostram impotentes, incapazes de reagir. Outros se sentem impulsionados a tomar decisões que vão carregar pelo resto de suas vidas. Há uma certa preocupação em mostrar também aqueles que saem derrotados diante do triunfo dos outros, como pelas vítimas de adultério, dos crimes e atentados, das concorrências da SCDP. Neste episódio, Megan utiliza o pedido de sua colega a seu favor para conseguir o papel no comercial através de Don. A vitória de Lane sobre Pete, naquele épico combate dentro da sala de reuniões, fica marcado como um dos breves momentos de satisfação ao alcance de Lane nos últimos meses -- outro seria uma noite com Joan que, para surpresa de muitos, ela chega até a cogitar caso evitasse essa fatalidade. Pete virou saco de pancadas nesta temporada porque ninguém mais tem paciência com suas atitudes presunçosas. E depois desta última surra no trem, Trudy enfim concede a Pete o direito de procurar por um apartamento na cidade, para morar durante a semana, e assim tentar resolver seu problema permanente com outra solução temporária.



"You wanna be somebody's discovery, not somebody's wife."

Depois de um longo hiato, a volta de Mad Men esteve cercada de expectativas, principalmente em relação ao inesperado pedido de casamento de Don Draper. O casal parecia viver uma eterna lua-de-mel, até que começam a surgir os primeiros desacordos e Megan decide abandonar tudo para se dedicar novamente à carreira de atriz. Acho que esse dilema imposto por Don, de ser descoberta por alguém ou apenas a mulher de alguém, traduz grande parte da dinâmica do casal nesta temporada. Porque mesmo enquanto trabalhava na SCDP, Megan era tratada com desdém pelos outros funcionários, aquela que tinha oportunidades apenas por ser esposa do chefe. Mas a medida que ela começa a fazer a diferença no ramo criativo, utilizando entre outros artifícios sua aptidão para interpretar, Megan começa a servir também como satisfação profissional para Don, que percebia cada vez mais estar diante de alguém especial, de uma descoberta. Com a desistência dela, a situação pareceu se inverter e é ela quem precisa constantemente da presença de Don, pedindo pelo seu apoio e sua compreensão. Quando Megan pede para o marido influenciar nos testes para o comercial da Butler, provavelmente sabendo que nem precisaria passar por teste nenhum, é um dilema que não afeta apenas seu casamento, mas que vai contra a própria postura profissional de Don. A cena em que ele assiste à exibição de Megan diante das câmeras (uma referência ao carrossel da primeira temporada) permanece sendo um mistério para mim, porque não acredito que a interpretação dela tenha lhe impressionado de fato. Naquele momento, talvez ele tenha considerado a perseverança (que tomou lugar da versatilidade no início da temporada) da mulher que ama. Mas com certeza sua decisão de ajudá-la no teste e assim recuperá-la de um princípio de melancolia deve-se também ao encontro casual com Peggy no cinema, quando ele admite que esse é o processo natural de suas pupilas, ser ajudada até conseguir seguir seu próprio caminho. As consequências disso podem ser vistas já no primeiro dia de gravação do comercial dos sapatos Butler: Don deixando Megan sob a luz dos holofotes enquanto vira as costas e se distancia em direção à escuridão.



"Are you alone?"

Poucos personagens seriam capazes de responder a essa questão com uma negativa. Enquanto a SCDP alcança sucesso a ponto de considerar expandir para um andar superior, os sócios se mostram cada vez mais isolados, cada um enxergando pontos de vista em janelas diferentes. Pete termina ouvindo seu aparelho de som, tentando silenciar o restante do mundo. Joan falhou como esposa, recusou a ajuda de Roger e cedeu à imagem de amante para garantir seu futuro na empresa. Roger acaba divorciado pela segunda vez e experimentando outra dose de LSD sozinho, encarando assim o mundo nú e de braços abertos. Embora a ausência de Peggy já esteja sendo sentida na SCDP e ela tenha finalmente conquistado o respeito que merece na CGC, sua primeira viagem de negócios está longe de ser encantadora. E temos por fim Don, sentado no balcão do bar prestes a se entregar aos velhos costumes. Sua resposta à garota pode ter ficado em aberto, mas até para manter coerente com esse desgaste no casamento, tudo leva a crer que Don está disposto a trair novamente. A montagem final acaba sendo brilhante tanto atenuando a decisão de Don, ao estabelecer esse paralelo com os demais personagens, quanto servindo de conclusão para uma temporada em que a maioria experimentou o amargor da desilusão. É como se todos estivessem enfim acordando para encarar a dura realidade após um longo e coletivo sonho, mas que deve continuar a atormentá-los pelo resto de suas vidas.

Assim chegamos ao final de mais uma temporada. Queria agradecer a todos pelo apoio e elogio nesses últimos meses. Até a próxima temporada! Abraços.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

sexta-feira, 8 de junho de 2012

[Mad Men] 5x12 Commissions and Fees

"What is happiness? It's a moment before you need more happiness."

Em seu discurso inflamado para os executivos da Dow Chemical, Don Draper declara que o sucesso é apenas temporário, que essa busca pela felicidade é como a fome que não pode ser saciada. Certamente é impossível ouví-lo e não relacionar com sua própria trajetória ao longo de cinco temporadas. Ou antes, durante toda sua vida. Porque esse espírito inquieto de Don é o que impulsiona novas conquistas, cada hora focado em aspectos diferentes de sua vida. Neste momento, o objetivo principal é ampliar os negócios, porque apesar do reconhecimento com a Jaguar, a SCDP ainda é considerada uma pequena agência brigando contra a concorrência. Seu casamento, que era até pouco tempo atrás sua única prioridade, deixou de ser seu motivo de felicidade e passou a ser uma preocupação. Chegar em casa é um cansativo exercício de reconhecimento, de colocar a mulher a par de sua vida. Pela segunda vez Megan reclama que ele não dá notícias durante o dia inteiro. Não parece ser a toa que ele prefira uma longa viagem imprevista, uma fuga como tantas outras, a ter que encarar sua nova rotina. Ficar confinado em seu apartamento passou a ser razão de aflição para Don Draper.

Esse conceito de felicidade não deixa de ser aplicado também à publicidade, que nesta década propõe uma verdadeira revolução nos costumes das pessoas, que passam a ser adotadas como consumidoras. A própria série retrata essa busca incessante por prazeres passageiros, que sempre terminam em revés, conforme resumiu Glen de uma forma um tanto quanto óbvia no elevador. Mas é curioso como na cena seguinte Don pode facilmente satisfazer a vontade do garoto e fazê-lo esquecer de qualquer outro problema. A trama de Sally e Glen se aventurando pela cidade pode ficar esquecida diante dos outros acontecimentos do episódio, mas não deixa de reforçar o tema quando ambos exploram a fascinante vida selvagem no Museu de História Natural. A visita de Sally, depois de rebelar-se contra os planos de viagem de Betty, lembra uma fábula infantil em que ela se sente crescida acompanhando as conversas com Megan e a amiga, desafia ordens (usando até as botas que seu pai proibiu), se achando auto-suficiente até se deparar com as responsabilidades de um adulto, com a chance de humilhação, e volta correndo para debaixo da saia da mãe. Betty ainda tem chance de mostrar um lado pouco visto na temporada, agindo com maturidade ao assumir o papel de mãe e, claro, aproveitar para se vangloriar frente a Megan.

Mas enfim, acho que já evitei demais tratar da morte mais impactante da série até aqui. E não foi por falta de aviso. Durante toda a temporada, em meio a vídeos de acidente de carro, menções a apólices de seguro de vida e elevadores que se tornam armadilhas do destino, dava para prever que algum personagem talvez pudesse sucumbir a esse mau presságio. Mesmo quando parecia óbvio que Lane Pryce optaria pelo suicídio, o roteiro ainda joga com nossas expectativas e aproveita o fato do Jaguar ser tratado como um carro indomável pelos americanos para falhar ironicamente com a primeira tentativa dele. Depois disso, são mais de dez minutos até que Joan finalmente encontre a porta de sua sala obstruída. Não vejo necessidade do roteiro explicar uma decisão dessas (na vida já é algo tantas vezes inexplicável) mas é bastante triste pensar que Lane foi derrotado pelo próprio orgulho, por se negar a pedir ajuda. Ao contrário do suicídio de seu irmão -- e é interessante como o corpo é mostrado de modo explícito dessa vez --, não vejo a culpa caindo sobre os ombros de Don. Quando ele sugere que Lane faça uma saída elegante, me parece a melhor forma de lidar com a situação, evitando um escândalo tanto para a empresa quanto para o sócio. Afinal, quem poderia confiar novamente as finanças de sua empresa a alguém que forja uma assinatura em benefício próprio? É uma cena magnífica, que Jared Harris merecia para deixar a série com louvor, mostrando mais uma vez toda sua versatilidade. Aquele descontrole que parecia crescer pouco a pouco no personagem ao longo da temporada, atinge o limite e vemos sentimentos conflitantes de revolta, vergonha, medo, resignação, tomando conta de cada gesto, cada expressão facial. O que Don nem suspeitava ao encorajá-lo a recomeçar a vida na Inglaterra é que Lane veio disposto a abandonar seus costumes britânicos para se dedicar até as última consequências ao sonho americano. Essa já era sua última chance e a possibilidade de perder seu visto chega a ser desperador. Lane volta a sua sala, suspira, e enxerga ao seu redor todos aqueles objetos que adotou em terra estrangeira: a flâmula dos Mets na parede, a estátua da liberdade, o Empire State Building em miniatura. O céu caindo do lado de fora como se estivesse preso em um grande globo de neve. Revendo o episódio, já sabendo como tudo isso irá terminar, quando Lane diz sentir a cabeça mais leve, não é um sinal de alívio ou mesmo de angústia, mas uma sensação de plenitude, de que tentou viver o sonho até o final. Fazendo uma retrospectiva da temporada, em A Little Kiss, Lane se entrega às fantasias quando encontra a foto de uma bela moça, e garante a ela que sempre poderá ser encontrado em sua sala. Acho que um paralelo óbvio a se fazer é com a condição de Pete, até porque muitos apostavam que seria ele a morrer nessa temporada. Certamente o fato de ter sido o primeiro a ver o corpo pendurado deve afetá-lo a ponto de reconsiderar algumas de suas atitudes. Mas isso já parece ser assunto para o finale, que pelo rumo das coisas, promete altas emoções.

Resta prestar uma última homenagem a Lane, resgatando um vídeo que havia colocado há algum tempo no youtube. No final do ano de 1964, sozinho na América, Lane Pryce tem um singelo encontro com Don Draper em sua sala. Sem ele a SCDP não passaria de um sonho distante. Então, proponho um brinde a esse magnífico personagem: chin-chin!

P.S.: Em uma entrevista essa semana, Jared Harris deixou escapar que Elisabeth Moss teria se despedido da produção no episódio anterior. Acontece que ela já havia se comprometido com as filmagens de Top of the Lake, minissérie para TV da Jane Campion, por isso teve sua participação reduzida na temporada. Claro que isso não significa que ela estará ausente do finale (ela pode ter gravado uma ou outra cena antes) e acho praticamente impossível que aquela tenha sido sua última participação na série.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

[Mad Men] 5x10 Christmas Waltz | 5x11 The Other Woman

"Money solves today, not tomorrow."

Antes de começar o texto, acho que preciso me desculpar pela ausência na última semana. Até imaginava que conseguiria dar meu parecer sobre o episódio (nem que fosse de forma resumida), mas infelizmente, em meio a correria de uma viagem, não tive tempo. Por outro lado, estes dois últimos episódios parecem estar intimamente ligados, o da semana passada servindo como preparação para o marcante episódio dessa semana. Por isso, vou aproveitar a "valsa natalina" para servir de introdução ao texto, com seus principais destaques, para depois me concentrar em "The Other Woman". Qualquer observação, favor usar os comentários do texto, para podermos assim nos aprofundar em um ou outro ponto que deixei passar.

Há alguns episódios, quando Megan decidiu abandonar a carreira promissora na criação publicitária para perseguir seu sonho de se tornar atriz, destaquei o quanto essa também era uma decisão corajosa dos roteiristas, já que tirava a personagem da zona de conforto que é a SCDP. Muitos outros personagens simplesmente desapareceram assim que foram demitidos ou deixados para trás em meio às mudanças da agência. Paul Kinsey, que retorna em "Christmas Waltz", foi um desses casos. Sempre levado a tomar decisões motivado muito mais pela emoção -- basta lembrar seu envolvimento com os Direitos Civis por conta de sua namorada negra --, sua incursão no movimento Hare Krishna não foi exceção. E após tantas atitudes desagradáveis nos últimos episódios, chega a surpreender a discrição de Harry em relação ao amigo, estendo ainda a mão para lhe oferecer ajuda. Paul percebe que não existe estado de espírito capaz de livrá-lo de uma verdadeira crise financeira e acaba rendendo-se a essa chance de tentar recomeçar a vida do outro lado do país. É interessante como essas ofertas de dinheiro ligam os dois episódios, assim como é um tema recorrente ao longo de toda a temporada, já virando piada pelas inúmeras vezes que Roger é extorquido, ou quando Lane Pryce sempre aparece para evitar alguma crise na SCDP. Mas dessa vez são os próprios problemas financeiros de Lane que lhe obrigam a cometer graves delitos para conseguir se livrar das dívidas pessoais, colocando o futuro da empresa em risco. A dificuldade sempre esteve em encontrar um ponto de equilíbrio entre os assuntos pessoais e os profissionais, sem que um interferisse no outro. Joan também sofre quando é desafiada por Greg, mandando os papéis do divórcio para dentro da SCDP, lugar onde até então ela se sentia intocável. Esse breve momento de fraqueza permite um passeio com Don Draper fora da agência, fingindo ser até um casal para testar o carro da Jaguar (test-drive "comprado" por Don), e uma animada conversa sobre as alegrias e decepções no casamento. Mas obviamente Don preferia estar acompanhado de Megan.

Don não é apenas o centro da série, no qual todos os outros personagens são obrigados a circular, como também seus valores pessoais e profissionais moldam seu status quo. Mad Men é acima de tudo a televisão como publicidade (assim como Breaking Bad é a televisão como droga). Por isso, a partir da saída de Megan os conflitos passaram a ser cada vez mais frequentes. Don não sente apenas que ela rejeitou uma carreira, mas sim uma parte importante de sua identidade. E isso culmina no seu discurso final, motivando os funcionários a vencer a qualquer custo a concorrência da Jaguar, se comprometendo a passar até mesmo os finais de semana e feriados na agência. Don mostra que está de volta aos negócios, e isso significa uma tendência cada vez maior do casal viver em mundos separados. Em "The Other Woman", essa crise chega a agravar-se quando Don descobre que um dos papéis de Megan exigiria que ela ficasse três meses em Boston, colocando distância literalmente nesta relação. O casal consegue eventualmente chegar a um acordo, mas pela persistência que Megan demonstra, superando até uma audição em que é tratada como um mero pedaço de carne, será questão de tempo para que ela consiga enfim sua primeira chance. Mas essa trama passa até despercebida perto das outras duas grandes mulheres que dominam o episódio: Joan e Peggy. Ambas enfrentaram tantos desafios dentro da agência para chegar onde chegaram, para serem principalmente respeitadas pelos colegas, e tiveram de quebrar tantas regras de conduta pregadas pela sociedade, que não pode ser considerado menos do que memorável um episódio em que as duas tem de encarar os maiores dilemas de suas vidas.
Joan é a mais afetada desde o começo do episódio, quando um dos membros do conselho na campanha da Jaguar sugere uma proposta indecente a Ken e Pete para assim não desfavorecer a agência na concorrência. Justamente quando Joan parecia enfim ter se livrado do fantasma do estupro que lhe perseguia por tanto tempo, aparece outro tema polêmico para aborrecê-la. Muitos parecem ter caído num dogmatismo para criticar a decisão de Joan, outros devem achar sua decisão incoerente por ela ter categorizado esse tipo de serviço como prostituição logo de início. Mas não quero propor esse tipo de discussão, até porque isso só tende a diminuir o valor do episódio e da própria série em si. O que realmente merece ser analisado é a forma como ela chegou a essa conclusão, como Pete teve papel fundamental (e Vincent Kartheiser teve uma de suas mais brilhantes performances) não apenas para convencê-la, como também "envenenando" aos poucos os outros sócios. Repare como ele distorce as palavras dela quando se reúne com os chefes, omitindo que ela teria ficado chocada, que apenas não esperava que eles fossem capazes de chegar a um valor condinzente. O resultado de tudo isso é uma corrente de mal entendidos, até Lane aconselhando que ela deveria reconsiderar uma proposta (e assim livrá-lo de pedir outra extensão de crédito), deixando Joan acossada a ponto de ceder. Claro que essa aparente decisão unânime dos sócios seria difícil de ser mudada, tanto se ela aceitasse ou não, e reflete uma opinião pública da própria sociedade. Salvatore foi demitido (e desapareceu da série) justamente por não ter cedido a uma proposta parecida. Além disso, era uma proposta capaz de solucionar todos os seus problemas financeiros e garantir ainda um futuro estável para seu filho. A postura passiva de Roger também me parece bastante coerente, tanto por ele oferecer apenas uma ajuda financeira para criar o filho, quanto por não se irritar com um possível admirador secreto de Joan. Roger não é capaz de amar ninguém. A montagem final, da apresentação aos executivos enquanto Joan se submete a um deles, parece extremamente óbvia ao tratar a mulher como o carro que está sendo anunciado, mas não vejo possibilidade de ocultar uma cena tão trágica como essa. Até porque ela ainda aparece usando o casaco que ganhou de Roger em "Waldorf Stories" para proteger seu corpo. O que mais me incomoda é a repetição do encontro com Don para enfatizar que ele chegou tarde demais, porque me parece um excesso de complacência com o protagonista, mesmo que sua origem desse motivos suficientes para condenar tal conduta. Além do mais, deixa em aberto se Joan poderia ter desistido por isso. Mas é brilhante a conclusão, a troca de olhares quando Don percebe que ela havia cedido mesmo, e que vão dando lugar a uma decepção pela campanha assinada por ele não ter sido aprovada por si só.
Do outro lado da moeda está Peggy, claramente insatisfeita por ter sido colocada em segundo plano na agência e não ter seus esforços reconhecidos. Ainda acho interessante que em nenhum momento ela tenha disputado com Ginsberg pela preferência do chefe, ela apenas não quer ser considerada inferior a ele, o que é bastante compreensível. Já que Don está ocupado demais para sequer perceber o nível de desgaste que se encontra essa relação -- a ponto de jogar dinheiro em seu rosto --, cabe a Peggy encontrar seu próprio caminho e enfim se libertar de seu mentor. Ela aceita a oportunidade na CGC depois dos conselhos de Freddy, outro antigo personagem que volta a aparecer nesses episódios. Não que essa despedida fosse inesperada, a série preparou terreno durante toda a temporada para isso, mas até pela importância da trama de Joan, não imaginava que seria também neste episódio. Porque sua demissão é um fato tão marcante na série, até pelo piloto mostrar o primeiro dia de trabalho de Peggy e seu primeiro encontro com Don, que achei que seria guardado para o finale. Mas claro, como previsto, é uma cena magnífica mostrando Don passar por todas as fases antes da aceitação, dando um beijo na mão (onde mais?) de sua pupila até enfim soltá-la livre. Se os dois haviam atingido um estado de admiração mútua em "The Suitcase", agora chegou a vez de Don demonstrar um profundo sentimento de respeito pela decisão de Peggy. E acho que essa relação chegou em um nível que merecia passar por tal provação. Antes de sair ela ainda troca olhares com Joan, e embora ambas não façam ideia do que acabou de ocorrer, suas escolhas não poderiam ser mais opostas. Enquanto uma praticamente sacrificou seus valores morais para garantir o futuro na agência, a outra sai pela porta da frente, de cabeça erguida e um sorriso triunfal. E ao contrário de tantos outros personagens que passaram por Mad Men, Peggy é a única profissional com a certeza de que acumulou valores suficientes para "sobreviver" na série mesmo que longe de Don Draper e da SCDP.

Confira também o texto do Hélio Flores sobre "The Other Woman".

Fotos: Reprodução.

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

[Mad Men] 5x09 Dark Shadows

"This could change everything."

Para quem levantava suspeitas desde que foi revelado o título do episódio dessa semana, já que iria ao ar justamente na mesma semana em que o filme de Tim Burton chegava aos cinemas americanos, tudo não passou de mera coincidência. Na verdade, trata-se da novela original (a qual o filme atual é adaptado) bastante popular na época, que alcançou verdadeiro sucesso depois de enveredar por caminhos sobrenaturais. Além da colega de Megan ter conseguido um papel nesta novela, o título ainda pode estar relacionado a um intenso nevoeiro que cobriu a cidade de Nova York no ano de 1966. E num clima sombrio como esse, os personagens lidam com as dificuldades de manter segredos e controlar seus sentimentos quando são enfim revelados. Muito conflitos surgem a partir disso: Sally perde o respeito que tinha por Megan, Peggy sente-se traída por Roger e Ginsberg fica furioso por Don prejudicá-lo numa concorrência criativa. Megan é quem consegue melhor encarar essa situação, enxergando de longe o plano manipulador de Betty, mantendo a calma antes de desfazer as confusões na cabeça de Sally. Suas aulas de interpretação acabam sendo úteis até quando Sally precisa contar para a mãe como eles reagiram. Mas a presença de Betty no episódio, como sempre, divide opiniões. Embora tente controlar o peso através de um programa de ajuda mútua, Betty continua mostrando a mesma insatisfação com sua vida e invejando todas aquelas que alcançam melhores resultados que ela. O esperado encontro com Megan é cheio de rancor, ainda que totalmente compreensível. Além das invejáveis curvas da nova senhora Draper, o apartamento moderno no fervor da cidade é oposto a todo aquele isolamento no subúrbio que Betty aturou enquanto casada com Don. E o bilhete improvisado, repleto de amor, com certeza seria um golpe duro demais para Betty suportar, principalmente por estar mais que evidente que seu casamento com Henry foi outra aposta errada. Tomada pelo ódio, Betty é capaz de tramar um plano tão diabólico, que envolve até a própria filha para se vingar de Don. E fica cada vez mais difícil entender seus motivos, pelas poucas vezes que aparece, sempre com atitudes tão sórdidas. Deve ser razão de preocupação para os produtores, porque com essa postura de vilã, Betty tem sido o que mais aproximou a série até hoje daquele rótulo que eles tanto tentam evitar: a telenovela de luxo.

Porém, Don Draper também não deve se orgulhar de suas atitudes neste episódio. Os negócios na SCDP parecem estar melhorando -- até porque Lane Pryce está ausente há vários episódios -- e finalmente Don está de volta à criação, embora ainda mostrando claros sinais de falta de prática. Além disso, durante sua ausência, Ginsberg tem ganhado tanto espaço na agência, assinando a maioria das campanhas, que começa a se tornar uma potencial ameaça. Até entendo que a intenção de mostrar ideias tão distintas para o SnoBall, em termos de encaminhamento e principalmente qualidade, sirvam para guiar o espectador que não esteja familiarizado com a área de publicidade. Mas bem que poderiam ter criado uma ideia melhor para Don, ao menos que convencesse que ele teria chances mesmo se tivesse apresentado também os cartazes de Ginsberg. Ainda reforçaria mais o desespero de Don, apelando para um golpe tão desleal antes da reunião. O que deveria permanecer em segredo, acaba sendo revelado na primeira oportunidade por Harry (sempre ele) e desperta o temperamento explosivo de Ginsberg. Ele não hesita em confrontar Don, que responde mostrando poder controlar até suas ideias, e não dando a menor atenção para seu inflado ego.

Já Pete continua fracassado tanto em suas fantasias envolvendo Beth quanto ao criar ilusões de grandeza para aparecer em uma matéria especial sobre publicitários na revista do NY Times. Nem Howard leva Pete a sério, mesmo que ele revele sarcasticamente suas façanhas com Betty. Enquanto isso, Roger tenta fisgar por conta própria um cliente judeu interessado em expandir seus negócios, para isso utilizando a companhia de Jane. Para esse encontro, eles precisam manter em segredo sua futura separação e ao mesmo tempo tomar proveito da origem judia de Jane, que Roger tanto tentava esconder. Não sem precisar mais uma vez colocar a mão no bolso e comprar um novo apartamento para Jane morar. Mas ele acaba estragando a possibilidade de um recomeço para sua ex-mulher após preenchê-lo com novas memórias suas. Peggy também fica extremamente decepcionada por Roger ter confiado esse serviço extra a Ginsberg, por mais que ele fosse o mais indicado. Ela esperava ao menos algum tipo de lealdade de seu chefe, até em uma parceria inusitada. Mas Roger deixa bem claro que cada um deve defender seus próprios interesses. E esse parece ser outro tema recorrente ao longo do episódio: indivíduos preocupados apenas em satisfazer seus próprios egos. Essa temporada parece estar conduzindo todos os personagens ao isolamento, com exceção obviamente do casal do momento: Don e Megan. Por isso, não parece à toa que Don consiga lidar tão bem com as dúvidas de Sally, explicando honestamente os motivos que levaram-no a casar-se com Anna, respeitando também os limites de compreensão de sua filha. "Dark Shadows" pode não ter sido o episódio mais memorável da série, mas continua a reforçar que os altos e baixos do relacionamento entre Don e Megan tendem a virar a principal razão de Mad Men ser reconhecida de agora em diante.

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quinta-feira, 10 de maio de 2012

[Mad Men] 5x08 Lady Lazarus

"Surrender to the void."

Depois de cinco temporadas acompanhando Don Draper em Mad Men, era possível que qualquer espectador antecipasse sua reação quando colocasse para ouvir a última canção do revolucionário disco dos Beatles, Revolver. Sozinho em seu apartamento, confortavelmente reclinado em sua poltrona, entre o som de cítaras, cantos de pássaros e vozes distorcidas, Don certamente iria preferir o barulho da cidade entrando por suas janelas. Ele chega a confessar pouco antes para Megan que não entende o apelo da música pop na publicidade da época, e sente que está ficando ultrapassado. Pode parecer uma constatação explícita demais, indo direto naquilo que temos acompanhado, mas essa temporada tem apresentado cada vez mais esse tipo de discurso, como por exemplo, Roger analisando seu casamento com Mona no episódio anterior. Os tempos são outros e todas as mudanças tornam-se mais evidentes, fica impossível tentar contornar. O episódio piloto mostrava Don revertendo os malefícios do cigarro criando uma campanha em que provocava e confundia seu consumidor, mas nos últimos tempos ele mesmo teve de se render aos apelos da sociedade do câncer e publicar sua famosa carta anti-tabaco. O cliente, já seduzido pelas comerciais de televisão, não se contenta mais apenas com uma ideia, ele quer também entender a execução. Ginsberg chega a arrancar aplausos de seu cliente pela performance do clipe dos Beatles. Novos negócios chegam à empresa pela promessa de uma atuação convincente do casal do momento, Don e Megan. Mas Megan, como vinha demonstrando nos episódios anteriores, não está satisfeita com esse sucesso.

Era previsível que ela abandonasse a carreira publicitária, mas não deixa de ser uma decisão corajosa por parte dos roteiristas, principalmente pela comodidade de ter Megan sempre presente, convivendo com Don e os outros funcionários da SCDP. Embora não houvesse necessidade de prolongar tanto sua "despedida", o mais interessante foi a reação dos outros personagens diante dessa decisão, cada um refletindo sua própria condição na agência. Stan, que tem aparecido como coadjuvantes em todas as apresentações para clientes, culpa a profissão pela sua desistência, por não valer a pena se preocupar por tão pouco. Peggy acredita que tenha sido dura demais, mas também não enxerga outro modo de lidar com essa situação que Don lhe colocou. Para Joan, Megan está apenas aproveitando as boas condições que seu casamento oferece, algo que ela também procurava quando se uniu a Greg -- caso ele fosse bem sucedido em sua carreira. Já Don vive durante o episódio um longo processo de aceitação. Em um momento de fúria, após o fracasso da apresentação ao lado de Peggy, ele chega a culpar a pressão dos colegas na agência, lembrando que Megan havia reclamado deles no início da temporada, certamente transparecendo sua própria insatisfação com o trabalho.

Megan vinha sendo nesta temporada uma forma de desviar a atenção de Don dos assuntos da agência, e os poucos momentos que ele se sentia motivado eram justamente ao lado de sua mulher. Mais do que isso, Megan era sua passagem para essa nova geração. Na simbólica despedida do casal, isso não poderia fazer mais sentido: enquanto Megan embarca no elevador em busca de novos desafios, Don termina encarando um fosso vazio. Poderia ser apenas obra do acaso, um destino irrevogável. Mas não foi o próprio Don Draper quem escolheu por esse destino? Joan estava certa em prever que Megan se tornaria uma nova Betty? Roger sugere que ele tente estabelecer uma rotina para esse relacionamento funcionar, mas bastam duas noites para Don perceber que isso não depende só dele. Na primeira, ele parece satisfeito em encontrá-la em casa preparando seu jantar, mas na segunda, o encontro é breve até que ela tenha de sair para sua aula de interpretação. Megan diz que era assim que imaginava que ele seria como marido, mas pela reação de Don, ele não parece ter essa mesma convicção.

Pete volta neste episódio, depois daquele nocaute sofrido, para ser confundido novamente pelas suas fantasias. Dessa vez elas surgem ao encontrar Beth (interpretada por Alexis Bledel, que me isento de comentar por Gilmore Girls ser uma de minhas séries favoritas), a mulher de Howard, seu companheiro de trem a caminho da cidade. Pete parece chocado com a indiscrição dele, que é capaz de alugar um apartamento na cidade para manter uma de suas amantes. Depois de uma carona e sexo casual na própria sala de Beth, Pete enxerga neste relacionamento a maneira ideal de solucionar os problemas dos dois. Afinal, ele assume que ambos estão infelizes em seus respectivos casamentos. Sua obsessão é tanta que até se arrisca ao demonstrar interesse pela oferta de Howard, só para ter poucos minutos com Beth, roubar-lhe um beijo, mandar um recado. Como um adolescente sufocado por uma paixão juvenil. Mas seus sonhos são dissipados como o coração desenhados por Beth no vidro embaçado. Durante toda a temporada um aspecto sombrio parece envolver Pete, nos seus pertences, suas conversas, seus desejos. Pelas constantes decepções, não seria demais esperar pelo pior. O próprio título do episódio é baseado em um poema de Sylvia Plath contemplando o suicídio. Por mais que alguns até torçam por isso, acho que a série só tem a perder com a saída dele, principalmente agora que a dinâmica na SCDP com Megan ficou para trás. Mas como Mad Men nunca se baseou em grandes acontecimentos dramáticos, deve ser apenas um mau presságio, como no caso do falso alarme com o câncer de Betty.

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

[Mad Men] 5x07 At the Codfish Ball

"Dirty."

Talvez seja cedo demais para garantir isso, só agora atingimos a metade da temporada, mas tudo leva a crer que Sally Draper será a principal voz desse ano. Afinal mesmo com curtas participações (no episódio anterior ela apareceu em uma única cena de flashback) Sally, em sua inocência ainda infantil, consegue sempre expor aquilo que todos parecem querer esconder ao seu redor. Ela lembra até um narrador-personagem, através de um ou outro recurso narrativo, comentando as mudanças acontecendo em seu mundo. Muitos espectadores ainda temem seu futuro, mas para mim, já que sua maturidade confunde-se com as próprias transformações dos anos 60, Sally é quem mostra maior capacidade de se adaptar enquanto cresce, ao contrário de quem precisa abandonar tantos vícios. Sua constatação final, sobre a condição suja da cidade, é algo aparente para todos os outros personagens mas que nenhum deles tem coragem de dizer, ou mesmo vontade de ver. Sally está cada vez mais solitária, com a mãe ausente (os roteiristas estão prestes a esgotar todas as desculpas possíveis para manter Betty fora da série) e seu pai mais preocupado com sua nova vida na cidade. Além disso, essa idade de transição é bastante delicada, tanto por suas fantasias serem desmanchadas pouco a pouco (a entrada triunfal no baile por uma escada enorme, por exemplo) como por ainda não poder se portar como adulta. Na festa em que Don recebe um prêmio pela sua carta anti-tabaco, ela termina esquecida na mesa, tendo de se contentar com o peixe que despejam em seu prato, e até uma simples ida ao banheiro representa o perigo de se deparar com a promiscuidade escondida por trás da primeira porta que se abre. Por mais traumático que isso possa ser, Sally ainda tem todo tempo para superar, ao contrário das outras filhas a aparecerem no episódio: Megan e Peggy.

Megan finalmente recebe a visita de seus pais, que parecem viver um relacionamento bastante turbulento. Emile é o típico escritor decadente, que provavelmente escreveu uma grande obra na carreira e nunca mais fez sombra a esse sucesso em suas publicações seguintes. Já Marie aparenta uma constante frustração. Dá para entender por que ela se casaria com Emile, mas o tempo parece ter desgastado a relação a ponto dela não aguentar a implicância do marido com tudo. Mesmo que estivesse o tempo inteiro nesse fogo cruzado dos pais, Megan ainda arranja tempo neste episódio para se destacar em seu trabalho, ao sugerir uma nova abordagem para o comercial da Heinz, baseado no jantar em família da noite anterior. Impressionante não apenas pela ideia, mas também na apresentação improvisada frente ao cliente em um jantar informal, quando Megan percebe que a SCDP está prestes a ser dispensada. A virada de jogo é incrível, principalmente pela sintonia com Don -- num apelo nostálgico que é o estilo dele -- como se tivessem ensaiado por semanas, cada palavra, cada gesto, cada interação com o cliente. Eles chegam até a induzí-lo a pensar que a ideia de colocar os mesmos atores para interpretar mãe e filho em todas as cenas fosse inteiramente dele. Mas apesar de acender uma chama de amor nos Draper enquanto retornam para casa, o entusiasmo de Megan parece desaparecer aos poucos na manhã seguinte. Por um lado, mesmo que seja reconhecida pelos demais funcionários da agência, Megan teve de abrir mão da total autoria do comercial frente ao cliente, principalmente porque Don (ou outro homem qualquer, Peggy que o diga) certamente seria mais convincente para ganhar sua confiança. Por outro lado, Emile se mostra extremamente decepcionado na festa pela filha ter abandonado seus sonhos para escolher o caminho mais fácil, a vida de luxo que Don pode proporcionar. Em outras ocasiões Megan já havia hesitado quando ganhava espaço na agência, e agora entendemos o porquê: ela ficava cada vez mais distante da carreira de atriz.

Peggy também se mostra confusa quando Abe propõe que passem a morar debaixo do mesmo teto. Afinal, por mais moderna que possa ser, Peggy ainda não sabe lidar prontamente quando sente seu conservadorismo sendo ameaçado. A mensagem contida na tal campanha da Heinz, certos costumes que são passados de geração em geração, funciona como um excelente paralelo para a postura de Megan e Peggy em relação aos seus pais. São aquelas rígidas estruturas que regem nossa sociedade, que por mais que sejam chacoalhadas, sempre permanecem intactas. Peggy desafia um destes tabus quando convida sua mãe num jantar em seu apartamento, a fim de contar a novidade. Com certeza ela já era capaz de prever a reação de sua mãe, só não esperava que fosse além da questão da união pecaminosa vista aos seus olhos, mas uma preocupação pela filha não estar sendo valorizada como merece. Joan, agora a mulher madura da SCDP, tem papel fundamental para ajudar Peggy a entender seus sentimentos, tanto convencendo que o jantar especial com Abe é sinal de boas notícias, quanto provando depois que um documento assinado pode não ter valor algum. Peggy também oferece seu apoio a Megan na manhã seguinte ao triunfal jantar. Embora com um texto óbvio demais -- Peggy se esforçando para explicar que não deveria sentir inveja --, ela aconselha que Megan aproveite o máximo de prazer que esse trabalho poderia lhe proporcionar. Há um tempo atrás era Don quem dava esse conselho para sua aprendiz. Acho realmente admirável essa união feminina durante o episódio, porque mesmo em um contexto mais moderno, não deixa de representar esses ideais já sendo passados entre diferentes gerações. Afinal, entre tradições antigas e tentações modernas, somente unidas essas personagens serão capazes de atravessar essa época, saindo da penumbra dos bastidores ("Go get 'em, Tiger!") para finalmente abrir suas asas e voar livremente.

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e.fuzii
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sábado, 28 de abril de 2012

[Mad Men] 5x06 Far Away Places

"I don't want vacation to end."

Para um episódio que prometia tratar de lugares distantes, o que acompanhamos na verdade foi a influência dessa passagem do tempo para os personagens. Essa sensação de inadequação parece ser o tema que guia a temporada, como expresso na música dos Beach Boys "I Just Wasn't Made For These Times", ou como temos visto nas últimas semanas, com Sally encarando a adolescência, por exemplo, e Pete a idade adulta. Mas dessa vez, a própria estrutura da narrativa parece afetada pelo turbilhão de mudanças. Mad Men tem por costume apresentar contos isolados de seus personagens que normalmente acabam se relacionando entre si através do estilo ou tema, mas nunca a série havia experimentado apresentá-los de modo linear, embora todos acontecessem simultaneamente ao longo de um mesmo dia.

Como em três grandes blocos -- que poderiam até ter sido literalmente isolados, caso os comerciais fossem estrategicamente inseridos entre eles --, Peggy, Don e Roger aparecem enfrentando problemas em seus respectivos relacionamentos. Os três personagens comparados lado a lado criam também um fluxo temporal de continuidade, Peggy imitando o estilo de vida de Don Draper, e este cometendo erros semelhantes aos de Roger. Mas nesse caso, a estrutura pouco fez diferença ao conduzir as histórias, exceto pela viagem de Don, que certamente teria seu ritmo de tensão crescente prejudicado se fosse intercalado com as outras histórias. O misterioso telefonema de Don sob o ponto de vista de Peggy, também não tem grandes desdobramentos depois de revelado seus reais motivos. Na verdade, o episódio peca justamente por não se preocupar tanto assim com as nuanças, sendo óbvio até demais. Mesmo na experiência de Roger e Jane, a primeira viagem de LSD mostrada pela série, os efeitos mais surreais passam rapidamente e logo dão lugar a resoluções concretas, para avançar a narrativa, embora fossem suficientes para John Slattery mostrar toda sua versatilidade, seja encarando as marcas da velhice diante do espelho como vibrando feito criança numa final de beisebol. O casal logo cai na real no chão de seu apartamento (um recurso também utilizado depois na história de Don) e quando verdades acabam vindo a tona, ambos decidem pela dissolução do casamento. É um situação confortável para Roger, que mesmo pagando caro para se livrar de outro problema, parece revigorado quando percebe não adiantar mais continuar se enganando assim.

Já Peggy nunca se sentiu tanto como Don Draper antes, seja na posição que foi colocada de "fachada" criativa da agência diante do cliente da Heinz, como nos costumes de fumar e beber. Vendo seu trabalho sendo rejeitado outra vez, ela adota o discurso de seu chefe e despeja todas as suas frustrações no cliente, dizendo saber melhor do que ele o que sua empresa precisava. Mas é uma estratégia completamente suicida porque como Stan lembra logo em seguida, espera-se que a mulher esteja sempre pronta para tentar agradar. Ela decide então tirar umas horas de folga, e assim como Don Draper, ir ao cinema no meio da tarde, arranjar um encontro casual (e claro, dessa vez oferecer o agrado). Mas talvez tirar um cochilo no próprio sofá da sala de Don, sendo acordada por sua secretária, tenha sido o limite. Peggy só vai cair em si ouvindo a história de Ginsberg sobre sua estranha origem, ter nascido em um campo de concentração. Tudo levava a crer que eles entrariam em um conflito criativo, mas estou achando bem mais interessante essa aparente identificação por ambos se sentirem deslocados, algo que Peggy sempre procurava encontrar em Dawn, Rizzo e tantos outros anteriormente. Embora nas suas escapadas Don sempre voltasse para sua família ao final do dia, Peggy parece mostrar um verdadeiro arrependimento quando chama seu namorado de volta e percebe que precisa contar com alguém para lhe dar suporte.

A viagem de Don Draper e Megan acaba sendo uma história cheia de contrastes: começa com a promessa de férias fora de época, provavelmente tentando resgatar ainda o frescor inicial de seu casamento, e termina em uma atmosfera noir de tensão e desconforto. As cores super saturadas do restaurante Howard Johnson's dão lugar ao breu de uma auto-estrada. Os delírios de perseguição de Don Draper em seu apartamento voltam dessa vez de modo inverso. Enquanto os papéis de marido e chefe continuam a se confundir, Megan vai se sentindo pressionada a ponto de sua maneira flexível e dócil de encarar a vida (se dar bem com todo mundo, comer de tudo) se transformar em puro inconformismo. Sua paciência se esgota e de forma até cruel chega a sugerir que Don ligasse para a mãe que nunca conheceu. A reação habitual de Don quando contrariado desse jeito, lógico, é sempre fugir. Mas hoje ele não está lidando mais com uma mulher submissa, Megan não precisa esperá-lo, ela pode continuar seguindo sua vida que ele vai acabar deixado para trás. Pelo contrário, aliás, sua posição logo depois de encontrá-la de volta no apartamento é que mostra submissão, de joelhos agarrado ao seu abdômen, como um filho suplicando pelo perdão de sua mãe. E Bert Cooper -- quem diria? -- chega com o choque de realidade final: força Don Draper a terminar seu período de lua-de-mel e voltar a se concentrar em seu trabalho. Enquanto vemos ele de costas na sala de reunião numa posição bem mais tensa do que a usual (como na abertura da série, por exemplo), ele assiste os funcionários circularem, sem ter a menor ideia do que está se passando. Como o Howard Johnson's que Don ficou confinado por quase um dia: era considerado a maior rede americana de restaurantes entre os anos 60 e 70, mas acabou abandonado a beira das estradas, e hoje está reduzido a apenas 3 unidades.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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quinta-feira, 19 de abril de 2012

[Mad Men] 5x05 Signal 30

"We're supposed to be friends!"

Por mais que fossem duros os golpes sofridos por Pete Campbell ao longo desse episódio, nada soa tão triste quanto esse seu lamento final. Ainda mais vindo de alguém que no decorrer da carreira nunca hesitou em passar a perna em quem fosse preciso para levar vantagem. Já no episódio piloto, Don é categórico ao afirmar que ele nunca seria capaz de substituí-lo porque ninguém simpatizava por ele. Pouco tempo depois, ele tenta chantagear Don com a carta de seu irmão e corre sério risco de ser demitido, só se salvando pela influência de sua família. Nesta temporada, suas atitudes na SCDP também não podem ser consideradas das mais nobres, principalmente em relação a Roger. Joan, enquanto consola Lane e tenta evitar maiores constrangimentos, diz que todos naquela agência já tiveram vontade de socar Pete uma ou outra vez. Por isso, tanto essa ideia de que os sócios da empresa deveriam compartilhar sentimentos de camaradagem, quanto suas investidas na garota que faz aulas de direção junto com ele, mostram uma pessoa ainda tão inocente e frágil, que só poderia resultar na mais profunda desilusão com sua pacata vida no subúrbio. Pete pode ter atingido a idade adulta mas ainda não sabe se portar como gente grande.

Aproveitando a chegada no mercado americano dos carros da Jaguar, um símbolo de virilidade por si só, o episódio reúne seus personagens em ambientes e situações tipicamente masculinas: o jantar de família entre colegas de trabalho, a torcida em um pub assistindo à final da Copa, uma noite de diversão no bordel e, claro, a épica luta travada na sala de reuniões. Tudo isso coloca em discussão o compromisso nas relações dentro e fora do trabalho. É exatamente desse assunto também que trata um dos contos de ficção científica (nada mais que os contos de fada do episódio anterior mas direcionados aos garotos) de Ken Cosgrove: um robô dedicado a manutenção de uma ponte que liga dois planetas. E isso aparece inclusive no pacto secreto firmado entre Ken e Peggy, assim como na relação entre Lane e seu companheiro britânico. Lane enxerga em seu compatriota a chance de conquistar uma conta milionária, tentando assim se livrar do rótulo de avarento da agência. Para isso, ele conta com os conselhos de Roger, que se mostra realmente competente ao tratar do assunto. Porém, por mais que se esforce e procure diversos ângulo para estabelecer uma relação com seu cliente, Lane falha em todas as tentativas. Roger define essa "amizade" como uma maneira estratégica para atrair seus clientes e chega a dizer para Ken que quando seu trabalho é bom, ele satisfaz toda as suas necessidades. Mas a SCDP não vive um grande momento há algum tempo e por isso, aqueles que ainda vivem vinculados a ela tendem a afundar junto, como é o caso de Pete e Roger.

Pete Campbell passa por um verdadeiro inferno astral neste episódio. Sua única intenção com o jantar de casais era receber a visita de Don em sua casa, mas por mais que tivesse insistido, somente Trudy foi capaz de realmente convencê-lo a comparecer. Pete experimenta uma espécie de crise de meia idade precoce, quando percebe que já não tem mais a mesma juventude de um "Handsome", que acaba por confundí-lo com o instrutor do curso antes de conquistar sua garota, nem nunca terá a mesma destreza de Don Draper, que conserta com extrema facilidade a torneira enquanto ele se perde dentro de sua caixa de ferramentas. Até mesmo nos negócios ele não é capaz de corresponder às expectativas do cliente, que busca um tipo de entretenimento que só Roger guarda na manga. Trudy não permite nem que ele tenha um rifle em casa. E para todos aqueles que reclamaram dos sonhos serem óbvios demais nas últimas semanas, dessa vez foi através da intimidade com uma prostituta que Pete revela seu desejo de ser tratado como rei, posto que provavelmente havia sido preparado para assumir desde a infância. Já que não consegue se garantir sozinho, tudo que lhe resta então, é procurar desesperadamente pela aprovação de Don. Mas nem isso ele consegue, já que Don critica sua infidelidade ao saírem da noitada no bordel. Para completar, sua derrota mais dolorosa ainda estava por vir. Dolorosa não apenas pela surra em si, nem pela vergonha diante dos colegas, mas porque ele acreditava que estaria seguro na agência, nunca seria atingido daquela forma. Quando ele diz que os sócios deveriam ser amigos, é porque esperava que eles tomassem alguma atitude e não ficassem apenas assistindo a briga, como se estivessem no pátio do colégio.

Há alguns episódios, Trudy diz que a insatisfação de Pete pode ser revertida a seu favor quando serve de ambição. Mas esse foco exagerado no trabalho significa uma queda ainda mais cruel diante de qualquer revés. A presença de Ken não é a toa, serve como paralelo perfeito de como encarar essa desilusão. Por mais que sua carreira como escritor tenha sido reprovada por Roger, basta certa cautela e adotar um novo heterônimo para manter esse segredo rolando. Ken nunca foi de misturar trabalho com a vida pessoal (no final da temporada passada, ele se recusa a envolver o pai de Cynthia nos negócios), e parece muito confortável assim. Don Draper -- quem diria? -- também serve como exemplo. Nesta sua nova postura despreocupada de encarar o trabalho, ele parece ter feito as pazes não só com seu presente mas também com seu passado, até pela forma como corrige num impulso o sobrenome do assassino do Texas durante o jantar, ou como fala tranquilamente sobre sua infância numa fazenda. A verdade é que quanto mais investem no trabalho, mais insatisfeitos eles se tornam. Resta saber como Pete irá se portar diante disso, já que esses personagens nunca foram adeptos de mudanças bruscas.

Fotos: Reprodução.

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