terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

[Battlestar Galactica] 4x13 e 4x14 - "The Oath" e "Blood on the Scales"

Com um prazo determinado para o final da série, os roteiristas de Battlestar Galactica tem feito um trabalho espetacular de coesão e síntese, avançando rapidamente a trama, mas sem esquecer do essencial, e delimitando os episódios de forma muito específica: se os dois primeiros desta segunda parte da quarta temporada retratavam as consequências da descoberta de uma Terra devastada (desesperança, conflitos emocionais, alianças desesperadoras, revolta de alguns), os dois seguintes, "The Oath" e "Blood on the Scales", focaram na trágica rebelião promovida por Gaeta e Tom Zarek, 85 minutos da mais pura ação, emoção e de sequências antológicas que certamente nenhum fã da série irá esquecer.



Não dá para negar que, a princípio, os rebeldes tem razão para questionar as atitudes de Adama: como confiar nos cylons e em sua tecnologia? A tomada de poder com Gaeta na melhor posição estratégica possível (interceptando toda ligação importante) em "The Oath" foi uma construção dramática incrível e tensa, em parte porque o espectador sabe que os motivos são justos, mas também porque desperta em nós o mais crescente ódio pelos revoltosos: quem não se empolgou com Starbuck matando um dos soldados que ameaçava Lee (e teria sobrado também para Racetrack se Kara já soubesse como ela estaria rindo das piadas de Zarek no episódio seguinte)? Uma das grandes qualidades destes dois episódios é como mobilizam nossos sentimentos e nos coloca na torcida pelos protagonistas, de forma tão intensa.



O problema é que aos poucos percebe-se que Gaeta é mais movido por um sentimento de vingança disfarçado de justiça. Junto com o oportunista do Tom Zarek, as coisas só tendem a piorar, levando o que restou da humanidade ao seu ponto mais crítico até agora na série, por se tratar de atos cometidos pelos próprios humanos e não pelos cylons (como a destruição de Caprica ou o Holocausto em New Caprica). Ainda assim, o quesito humanidade não ficou de fora: Gaeta foi se sentindo cada vez mais incomodado com o caminho tomado, e Zarek, por mais terrível que tenha sido, foi bastante coerente com o que conhecíamos dele, já que sabia muito bem que não se poderia voltar atrás, demonstrando a necessidade daquele assustador assassinato dos membros do Quórum (maravilhosamente filmado, a câmera se mantêm em Zarek desde a ordem dada aos gritos e tiros ao fundo).



Os roteiristas não só capricharam em todo este conflito e resumido algo que poderia muito bem ter durado por uns quatro ou cinco episódios, mas também adicionaram pequenos detalhes que enriqueceram muito mais a trama: de Seelix lembrando de seus sentimentos com Sam, à amargura ainda existente de ex-tripulantes da Pegasus, passando pelo soldado que recorda com Tyrol os bons tempos da Galactica ou ainda a breve confissão de Gaius, tudo nos faz lembrar como os personagens chegaram até aquele ponto.



Claro que o brilhantismo dos roteiros não seriam o suficiente, caso não houvesse quem os executasse de forma tão perfeita. Num nível muito mais pessoal, estes dois episódios me fizeram vibrar, torcer, sentir raiva, me emocionar como pouca coisa recente. Ressalto aí não só a perfeita união de roteiro, direção e os diversos aspectos técnicos (montagem e trilha sonora, especialmente), mas esse formidável elenco que provavelmente nunca será reconhecido pelo Emmy, Globo de Ouro ou Sindicato dos Atores.



O excelente Edward James Olmos já é mais do que admirado há muito tempo, mas Alessandro Juliani (Gaeta) e Richard Hatch (Zarek) nunca brilharam tanto na série, e a aquela troca de olhares e sorrisos no final de "Blood on the Scales" foi uma despedida inesquecível. Mas em meio a tantas atuações maravilhosas, o que Mary McDonnell tem feito está acima de qualquer coisa. Desde sua aparição pública após a visita a Terra, quando ficou sem o que dizer, McDonnell tem se superado com os presentes que os roteiristas tem lhe dado: vários momentos de grande intensidade dramática que a atriz consegue elevar a um nível emocional que hipnotiza quem assiste.



E o que fica deste incrível conflito? Uma boa quantidade de traidores para o Almirante Adama cuidar, um Quórum para ser refeito, uma presidente que agora sabe que nunca poderá fugir de sua responsabilidade, mais um terrível abalo para o que sobrou da humanidade, um Final Five à beira da morte e preocupantes rachaduras na Galactica. Se o que os roteiristas estão preparando para os últimos seis episódios chegar próximo do que vimos até agora, não só teremos uma conclusão antológica para a série, mas haverá muito mais a se lamentar com o seu fim.



Hélio.

Um comentário:

e.fuzii disse...

"I SWEAR IT, I'M COMING FOR ALL OF YOU!"
Sério, eu me arrepio só de escrever essas palavras...

O que gostei mesmo foram as mentiras contadas por Zarek contruindo todo uma tensão que parecia levar ao jump. Quando finalmente retomaram o controle do CIC, confesso que dei um suspiro aliviado.

Mas Gaeta foi o destaque mesmo, depois de tudo o que já passou durante a série, seu adeus foi bastante digno. Aliás, como de todos os outros, né?
Acho que nesse quesito, podemos ficar tranquilos para esses próximos episódios...