Não há nada melhor nesta época de retrospectivas do que as já tradicionais listas de final de ano. Uma de minhas preferidas -- pouparei vocês da minha lista de listas favoritas -- é a que compila os melhores episódios do ano na televisão, seja pela importância durante toda a temporada ou por formarem uma unidade coesa durante sua breve duração. Algumas tentativas anteriores podem ser relembradas nas listas de 2007 ou 2008. Claro, são escolhas extremamente pessoais, até porque estão limitadas apenas àquilo que assisti, portanto servem muito mais como um exercício de listar do que como um guia definitivo. Desta vez, resolvi utilizar um critério diferente e escolher apenas um episódio por série, principalmente para deixar a lista mais enxuta e justa. Afinal, uma lista de dez poderia ser facilmente preenchida apenas com episódios de Mad Men e Breaking Bad, de longe as melhores séries em exibição atualmente. Mas, com certeza, uma lista assim não faria jus ao excelente ano que pudemos acompanhar na televisão, com boas estreias e muitas séries veterana encontrando de novo sua boa forma. Sem mais delongas, vamos à lista:
12. Friday Night Lights
"I Can't"
A quarta temporada ficou marcada pela mudança de rumos da série: de lados da cidade, de time e até elenco. Confesso que demorou um pouco até que esses novos elementos engrenassem, mas episódios como esse mostram a competência dos roteiristas em considerar todos os problemas que atingem seus personagens e oferecer conclusões a cada um deles. Seja a indesejada gravidez de Becky ou a frágil condição da mãe de Vince, Friday Night Lights nunca deixa ninguém desamparado e assim continua sendo o retrato mais justo da adolescência a ser exibido na televisão.
Outros destaques: "Laboring", "Kingdom".
11. Chuck
"Chuck vs the Honeymooners"
Sempre fui fã dos episódios mais "leves" de Chuck, que conseguiam lidar com as limitações de seu protagonista, sem precisar envolver grandes conspirações ou manobras. Além do excelente trabalho de composição deste episódio ao situá-lo na Europa -- sendo praticamente todo gravado em estúdio --, o grande acerto veio da relação de Chuck e Sarah, cercada de dúvidas agora que havia finalmente sido consolidada. Durante toda a viagem de trem o casal não demonstrava nenhum receio pelo futuro, apenas apreciava a companhia um do outro até para concluir uma inesperada missão, algo que no atual momento da série só nos faz relembrar com saudades daquela intensa lua-de-mel.
Outros destaques: "Chuck vs the First Class", "Chuck vs the Other Guy".
10. 30 Rock
"Anna Howard Shaw Day"
Nem preciso dizer o quanto a quarta temporada de 30 Rock começou frustrante. Já esta quinta temporada tem mantido uma regularidade tão boa que seria capaz de escolher qualquer um de seus episódios para entrar na lista. Porém, preferi escolher "Anna Howard Shaw Day" porque representa seu grande ponto de virada para essa recuperação. Em mais um episódio especial de dia dos namorados, Jack tem seus primeiros encontros frustrados com Avery, enquanto Jenna está preocupada com a falta interesse de seu stalker, vivido por Horatio Sanz. Já Liz se submete a uma operação de canal e como resultado da anestesia acaba imaginando seus três ex-namorados atendendo no consultório.
Outros destaques: "When it Rains, it Pours", "Brooklyn Without Limits", "Christmas Attack Zone".
9. Glee
"Grilled Cheesus"
Só para se ter uma ideia, desisti de Glee após assistir a esse episódio. Não, essa não é uma escolha irônica tentando sacanear a série. Muito pelo contrário, aliás. Depois de acompanhar tantas histórias pavorosas, com "Grilled Cheesus" tive a certeza que esse seria o episódio que a série nunca mais conseguiria superar. Há quem condene por ser muito predicante, mas acho que é exatamente neste ponto que ele chega perto da perfeição. Glee nunca apresentou qualquer razão que fizesse alguém levá-la a sério, por isso tudo funciona como uma paródia, com os personagens assumindo sua ingenuidade (Finn) e suas certezas (Kurt) enquanto outros tentam convencê-los do contrário. A mensagem final do episódio serve perfeitamente para lembrar do espírito que Glee vem perdendo desde seu início: basta acreditar. Afinal, não existe nada mais sincero do que Kurt interpretando "I Want to Hold Your Hand" ao lado do leito de seu pai, certamente o melhor uso de uma música na série, trocando o otimismo vindo dos Beatles por um tom quase melancólico.
Outro destaque: "The Power of Madonna".
8. Treme
"Wish Someone Would Care"
Para quem já assistiu The Wire, sabe que George Pelecanos, conhecido escritor de dramas policiais, normalmente era escalado para escrever seus episódios de maior impacto. Mas nesse episódio, sua contribuição está na forma sutil com que leva Creighton a se afogar em sua própria amargura, depois de tanto lamentar o declínio da cidade que escolheu para amar. Durante sua última aula, Creighton está interessado em tratar do livro 'O Despertar', de Kate Chopin, para discutir com seus alunos a diferença entre encerramentos e transições. Todas as suas despedidas ao longo do episódio, tanto da filha e esposa quanto sua última contribuição a Annie, tornam sua morte cada vez mais previsível, mas tudo termina resolvido num suspiro. Num instante Creighton está contemplando o mar, no outro já não está mais lá. Absolutamente sublime.
Outros destaques: "Do You Know What It Means", "All on a Mardi Gras Day".
7. Louie
"Bully"
Alternando histórias roteirizadas e gravações de seu próprio show de stand-up, Louis C.K. teve liberdade total para colocar no ar aquilo que bem entendesse. O resultado foi a comédia mais imprevisível do ano, mas que nem sempre acertava com seus roteiros controversos. "Bully" é um caso a parte, funcionando não só pelo gradativo efeito de irritação de seu protagonista e sua inaptidão para reagir, como pela total versatilidade de transformá-lo num delicada drama, quando Louie consegue seguir o garoto até sua casa. O episódio termina com dois pais discutindo as dificuldades de se criar filhos, o que provoca incômodas risadas apenas pelo absurdo da situação.
Outros destaques: "Poker/Divorce", "Dentist/Tarese".
6. In Treatment
"Adele: Week 4"
Falemos da série mais subestimada do ano. Não apenas In Treatment recebeu pouca atenção da mídia nessa temporada, como parece não ter agradado muito os críticos. Mesmo que os pacientes não tivessem sido dos mais atraentes (Frances é com certeza a pior a passar em seu consultório até hoje), na minha opinião esta temporada superou a anterior porque Paul não parecia sentir apenas aquele leve desconforto, mas estava de fato à beira de uma crise. A participação de Adele como sua terapeuta foi fundamental, e já nessa sessão na metade da temporada, ela foi capaz de dar um parecer esclarecedor sobre sua condição. Diria que foi uma temporada de "auto-sabotagem", tanto nos relatos imprecisos de Jesse quanto na atitude calculista de Sunil, que refletiram na postura do próprio Paul, procurando por situações limiares para finalmente tomar uma decisão na vida. A mais notável delas é essa dependência em Adele, tentando transformá-la em sua companheira, que Paul revela também nesta sessão sob o olhar cuidadoso do diretor Paris Barclay.
Outros destaques: "Jesse: Week 5", "Sunil: Week 7".
5. Parks and Recreation
"Sweetums"
DJ Roomba. Só por essa piada, o episódio já merecia um lugar nesta lista. Mas existem outras muitas razões, afinal estamos falando da melhor comédia no ar atualmente. Todos devem concordar que a primeira temporada de Parks&Rec foi um desastre, mas acompanhar sua recuperação logo no começo da segunda foi um imenso prazer. A melhora mais notável provavelmente foi a expansão da cidade de Pawnee, que antes era reduzida literalmente ao buraco no quintal de Ann. Além disso, cada personagem desenvolveu personalidades distintas de humor: o convencido Tom, o atrapalhado Andy, a sarcástica April, a conservadora Leslie, o libertário Ron. Esse episódio capta todas essas mudanças, investindo num interessante conflito entre os ideais de Leslie e Ron para decidir um patrocínio, levando a uma audiência pública com a população da cidade. Enquanto isso, Tom "convida" todos os outros funcionários a ajudá-lo a se mudar de casa, sendo possível acompanhar os primeiros passos do relacionamento de April e Andy, que foi muito bem conduzido pelo restante da temporada.
Outros destaques: "Summer Catalog", "Telethon", "The Master Plan".
4. Terriers
"Sins of the Past"
2010 ficou marcado por Joss Whedon se despedir novamente da televisão após o final de Dollhouse. Porém, foi pelas mãos do roteirista Tim Minear (conhecido no twitter como @CancelledAgain, pelo seu amplo currículo em séries canceladas, como Drive, Firefly e Wonderfall) que tivemos a história mais "Whedonesque" do ano, com direito a altos deslocamentos temporais e trapaças. Mas no centro do episódio era formado um interessante paralelo entre o primeiro contato de Hank e Britt, e a separação da dupla no presente. Há quase uma troca de papéis em vigor, com a obsessão e principalmente o álcool levando os dois até as últimas consequências. Essa é a natureza dos protagonistas de Terriers, que mesmo com todas as suas atitudes condenáveis, continuam sendo extremamente cativantes.
Outros destaques: "Fustercluck", "Asunder", "Quid Pro Quo".
3. Community
"Modern Warfare"
Qualquer outro episódio talvez fosse discutível, mas esse tem o dever de estar em qualquer lista que se preze. Não cansam de dizer o quanto "Modern Warfare" é genial, e eles tem toda razão. Seja pelas finas referências, por todas as situações se adaptarem às características de seus personagens ou por simplesmente ser incrivelmente divertido. Sinto por isso acabar sendo até uma maldição dentro da própria série, estabelecendo um nível tão alto de qualidade, que dificilmente poderia ser alcançado por qualquer outro episódio temático posterior. Mas Community vem mostrando que tem tantas ideias originais sem ter receio de usá-las, o que já parece garantí-la como uma das comédias mais bacanas atualmente. E sabe o que mais me agrada na série? Pasmem, a direção dos episódios.
Outros destaques: "Contemporary American Poultry", "Epidemiology", "Cooperative Calligraphy".
2. Breaking Bad
"Sunset"
A escolha mais difícil, até porque poderia colocar qualquer episódio da metade da temporada em diante sem precisar dar muitas explicações. "One Minute" seria a escolha mais óbvia, tanto pelo monólogo de Jesse todo deformado, como pela cena em que Hank é cercado pelos primos de Tuco. Porém, escolhi "Sunset" como uma forma de homenagear um dos episódios menos lembrados depois do turbilhão de emoções que vem a seguir. É uma homenagem também a última vez que Walter e Jesse dividiram o saudoso RV, que havia sido tão "produtivo" anteriormente. Posso assegurar que a tensão dessa cena só funcionaria numa série audaciosa como Breaking Bad, porque era possível esperar qualquer desdobramento vindo dali. Poderia ser até mesmo o fim da linha para Walt. Naqueles minutos que Hank circulava ao redor do RV como se fosse um tubarão encurralando suas presas, minha cabeça fervilhava com todas as possíveis saídas e suas consequências. E não seriam essas, afinal, as principais questões que cercam Breaking Bad?
Outros destaques: "One Minute", "Fly", "Half Measures".
1. Mad Men
"The Rejected"
Provavelmente a escolha mais controversa da lista, já que todos parecem inclinados a preferir "The Suitcase". Até entendo, a relação desenvolvida por Don e Peggy talvez fosse a mais fascinante da série mesmo, e eles mereciam uma conclusão que levasse a outro nível, além do profissional. Porém, "The Rejected" não conta com nenhuma dessas cenas poderosas e ainda assim não cansa de me impressionar. Para se ter uma ideia, revi o episódio antes de montar a lista, o que se não perdi as contas já é a sexta vez. Seu ritmo é mais cadenciado, seus temas mais contidos, tudo para retratar o relacionamento mais obscuro da série, a ligação entre Pete e Peggy. Um dos elementos que valorizo nas séries de tv quando comparado a filmes, é a capacidade de se expandir os personagens coadjuvantes, indo além de meros suportes (até no próprio termo em inglês) ao protagonista. O passado que compartilham juntos transparece em cada diálogo ou troca de olhares. E isso fica bem claro na montagem final do episódio, provavelmente uma de suas cenas mais memoráveis, sem precisar dizer sequer uma palavra.
Outros destaques: "The Suitcase", "The Beautiful Girls", "Blowing Smoke".
Fotos: Divulgação.
Assim, encerro minha participação por mais um ano, desejando a todos os comentaristas e leitores do blog um feliz ano novo. Que 2011 chegue repleto de realizações, saúde e promissoras séries. Grande abraço a todos.
e.fuziitwitter.com/efuzii
Para aqueles que me seguem no
O lema de Terriers é que Hank e Britt são "pequenos demais para falhar", o que já gerou todo tipo de paralelo com a questão do cancelamento prematuro. Porém, a fama de azarões já pode ser acompanhada desde seu início quando a série começa apresentando um longo arco, parecendo muito maior do que eles poderiam suportar, mas que logo é moderado e dá lugar a pequenos contos de Ocean Beach, dando vida à cidade diante de nossos olhos. Esses casos aproximam cada vez mais a dupla, que com seu bom humor e perspicácia provam ser capazes de resolver qualquer problema enquanto juntos, mas que separados continuam tendo poucas chances de sobreviver. Afinal, em meio a tantas conspirações, viradas de roteiro, mentiras, chantagens e até assassinatos, Hank e Britt mostram que no fundo travam conflitos ainda maiores em seus corações, a medida que tentam conquistar o respeito das mulheres que tanto amam. Hank continua apegado ao seu relacionamento com Gretchen, que agora está prestes a se casar novamente. Britt vive um sólido namoro com Katie, mas diante de uma previsível estagnação tem medo de tomar um passo adiante. Vale destacar também a participação da irmã de Hank, mentalmente instável demais para conviver em sociedade, mas que garante momentos intensos logo quando tira os personagens de suas zonas de conforto. Aliás, esse talvez seja o principal destaque do roteiro da série, exigindo sempre o máximo de todo seu vasto elenco de atores. Sabe quando você admira um ator mas lamenta pelas poucas chances dadas para mostrar seu talento? Ou quando sente certo alívio pelo cancelamento de uma série, torcendo para que alguns dos atores possam ter melhores oportunidades? Pois em Terriers ocorre justamente o contrário: Donal Logue e Michael Raymond-James tem a atuação de suas vidas e em poucos episódios já criam uma sintonia impressionante. Certamente o maior pecado deste ano, e a principal razão para se lamentar o cancelamento da série, seja a separação forçada desta parceria que prometia ainda nos surpreender e durar por muitos e muitos anos.
Para uma série que nunca teve medo de encarar as consequências das escolhas de seus personagens -- às vezes levando além até dos limites aceitáveis --, não chega a ser surpresa nenhuma que Julie e Vince estejam agora envolvidos em tramas trazendo lembranças que gostariam de esquecer. Julie, que até então vivia a história mais delicada desta temporada em sua nova vida universitária, procura pelo suporte de sua família em Dillon. Porém, o receio de revelar seus segredos levam a garota a tomar outra decisão tola para retardar sua partida. Dramático até demais, isso para alguém que um par de cenas depois já está desabafando com Tami Taylor num restaurante. Lidar com esse problema provavelmente levará à maior crise da família Taylor, já que Tami ainda parece hesitante mas não quer deixar sua filha desamparada, enquanto Eric mostra-se claramente desapontado com sua conduta. Coach Taylor "caçando" sua filha pelos corredores para obrigá-la a voltar para a universidade talvez tenha sido a cena mais perturbador a se desenrolar naquela casa. Mesmo que os fins de forma alguma pudessem justificar os meios, certamente a impressão seria outra sem ter tolerado por tanto tempo esse affair tedioso longe de Dillon.
Já os problemas de Vince parecem mais graves, até porque a volta de Kennard representa um risco tanto para sua vida quanto para sua família. O arco de seu pai, que parecia estar sendo direcionado para atingir a redenção, sofreu um pequeno desvio neste episódio e ganhou complicações interessantes, assim que ele assumiu a responsabilidade de proteger o filho. Embora Vince ainda não saiba os meios que seu pai teve de recorrer para afastar Kennard, esse ato com certeza fez surgir um reconhecimento que antes não existia. Afinal, hoje Vince tem tudo a perder: sua carreira promissora no futebol, o respeito de seus colegas de equipe, as responsabilidades dentro de sua casa e o excelente papel que vem desempenhando ao cuidar dos irmãos de Jess. Mas parece certo, principalmente por toda a hesitação diante da casa de Coach Taylor, que esse perigo ainda deve voltar a perseguí-lo. Afinal, como aconteceu por tantas vezes com outros jogadores, mais cedo ou mais tarde todas as ocorrências acabam chegando em Coach Taylor. Além disso, como já disse anteriormente, nenhuma decisão, seja de Vince ou de seu pai, acaba passando em branco na série.
Depois de investir pesado no drama pessoal de seus personagens durante essas primeiras semanas, os autores resolveram dar um tempo nessas tramas e deixá-las um pouco de lado, para assim concentrar-se nos Lions como uma equipe. Dessa vez os jogadores precisam viajar até Kingdom, onde enfrentariam os Rangers, aqueles mesmos que na
Enquanto isso, Julie Taylor continua vivendo sua vida de isolamento longe de Dillon, um tipo de situação que Friday Night Lights sempre teve dificuldades para lidar. Mas felizmente esses parecem ser seus últimos dias na universidade, já que assim como previa, seu caso com o tutor acabou em um escândalo assim que sua esposa descobriu tudo. Resta a Julie apenas voltar para Dillon e procurar por conforto no lar dos Taylors, provavelmente em definitivo. Ou ao menos assim todos nós esperamos.
Apesar de ambientada em uma cidade que vive sob a influência do futebol colegial, Friday Night Lights nunca se esforçou para desenvolver episódios temáticos, tentando relacionar seus personagens através de um mesmo assunto. Mas neste início de sua temporada final, chama atenção a quantidade de relações estabelecidas entre pais e filhos que vem sendo abordadas. Não é de hoje que a série explora este tema, mesmo o breve retorno do pai de Matt Saracen a Dillon há algum tempo atrás, provocou reação bem similar a essa que acompanhamos agora com Vince. E assim como Saracen tinha de assumir uma posição invertida nesta relação, após tanto tempo cuidando sozinho de sua avó, Vince também precisa manter seu pai longe de qualquer desvio que possa decepcioná-lo mais uma vez. Além do interesse repentino na carreira do garoto, justamente diante de um futuro promissor em uma universidade, ainda deixarem incertas as reais intenções nesta nova aproximação. A grande ironia é que Vince não acredita que seu pai possa mudar, quando ele mesmo é a maior prova disso. É neste exemplo também que Buddy Garrity resolve se apegar com a chegada de seu filho, já que todas as tentativas de controlar seu comportamento abusivo foram frustradas. No final, Buddy acaba recorrendo à disciplina do East Dillon Lions, com a esperança de que seu filho tenha herdado a mesma dedicação pelo futebol.
Porém, o episódio foi mesmo marcado novamente pelas relações entre pais e filhos. Quando Friday Night Lights resolve investir nesses temas familiares, fica impossível não lembrar de como Parenthood trabalha esse mesmo tema. Parenthood parece assumir poucos riscos e sempre investir numa mesma fórmula, de que todos os problemas podem ser superados através da sólida estrutura familiar dos Braverman, mas nem por isso deixa de ser uma das séries mais prazerosas da atualidade. Ao final de um de seus episódios, por exemplo, é bem capaz de que você esteja convencido a mudar-se para os EUA, constituir uma família apenas para passar um Halloween como os Braverman. A comparação pode parecer injusta -- como todas normalmente são --, até porque as séries lidam com públicos diferentes e em emissoras diferentes (embora Friday Night Lights também chegue à grade da NBC posteriormente na midseason), mas não custa lembrar que ambas são comandadas por Jason Katims com extrema competência. Então, se você já está sentindo saudades de Friday Night Lights por antecipação, dê uma chance a Parenthood, até porque uma boa parte do elenco de Dillon já arrumou uma vaga, mesmo que temporária, em sua contraparte da Califórnia.






É com mais uma incrível atuação de Vince Howard que os Lions chegam a sua terceira vitória consecutiva, mantendo-se assim invictos na competição. Porém, não há razão para reclamar das vitórias quando esta concede tantas vantagens ao roteiro, principalmente impulsionando a trama de Vince para um emocionante desfecho. Michael B. Jordan apresenta sua melhor performance na série, transmitindo toda a insegurança ao se ver novamente diante de seu pai, liberado da prisão e logo acolhido de volta por sua mãe. Depois de tanto se esforçar para assumir essa posição de homem da casa, Vince sente como se o seu próprio território estivesse sendo invadido. Não à toa, as poucas lembranças do pai que ele se dispõe a compartilhar remetem a uma profunda amargura, chegando a culpá-lo pela dependência química de sua mãe. Já no campo de futebol, Vince também não tem sossego, sendo forçado a assumir seu papel de líder da equipe justamente enquanto questiona a falta de um modelo paterno para seguir durante a vida. É um tema ainda estreitamente relacionado ao abandono das últimas semanas, mas que desta vez leva o jogador ao extremo, a ponto de precisar ser contido por Coach Taylor, que lhe convence a buscar pela melhora dentro de si mesmo.
Mas qualquer deslize é perdoado no impressionante final do episódio, quando Vince tem de encarar seu pai mais uma vez após a partida. Há todo um esforço do pai em reconhecer o valor de Vince, não só durante sua ausência, mas pela brilhante apresentação com o uniforme dos Lions. Orgulhoso ele se diz estar, assim como Coach Taylor revelava ao garoto antes da partida. E os roteiristas mostram toda sua competência ao não cair na fácil armadilha de emocionar reparando essa relação prematuramente. Vince com toda sua dureza ainda não é capaz de esquecer todos esses anos, abrindo caminho para que seu pai fosse embora. Mas antes disso, ele não deixa de se preocupar com seu destino ou mesmo apertar sua mão, mostrando que finalmente acatou os conselhos de Jess e de Coach Taylor. Vince está disposto a mudar e se tornar uma pessoa melhor. Pouco importa se ele conseguirá ou não, apenas acompanhar essa sua busca e o empenho em tentar mudar já será magnífico.




Nada como uma semana para que minhas preocupações logo fossem dissipadas. No episódio anterior, meu principal receio era que a equipe dos Lions pudesse ser repentinamente transformada em favorita ao título na sua temporada final. Mesmo que os jogadores acumulassem maior experiência e grande parte deles atingisse o limite de idade da categoria, seria difícil acreditar numa condição muito diferente da pífia performance na temporada de estreia. Mas apesar disso, os próprios jogadores acreditam em seu potencial, esperando por uma boa colocação no ranking de equipes divulgado pela imprensa. Chega até ser doloroso acompanhar essa ansiedade dando lugar à revolta assim que descobrem que sequer figuram a lista. Coach Taylor desde o começo segue cauteloso, provavelmente já esperando pelo pior. Mas diante de um quadro tão adverso, contando ainda com uma punição absurda a Luke por um lance perigoso na partida de estreia, ele se vê obrigado a fazer uso dessas perseguições para motivar seus jogadores. Com apenas 5 letras escritas na lousa ("State"), Coach Taylor mexe com o orgulho de sua equipe durante a preleção, mostrando que só terão chance de vencer esse campeonato através da superação de todos.
Em meio a tantos tormentos, o único alívio pareceu vir da pequena trama de Vince, recebendo diversas cartas de universidades interessadas em seu talento. A comemoração ao lado de sua mãe, tanto aspirando por um futuro melhor quanto pela colocação em um emprego, foram bem emocionantes, dando oportunidade a Michael B Jordan brilhar mais uma vez. Porém, não acredito que todo esse otimismo irá permanecer por muito tempo, até porque as propostas ainda não tem qualquer validade. Além disso, quem acompanhou a série até aqui já está cansado de saber que nenhuma decisão em Dillon pode ser tomada tão fácil assim, não sem envolver grandes hesitações e dilemas.
Não poderia começar esse texto sem antes também constatar aquilo que provavelmente todos já disseram: estamos diante do início de um desfecho anunciado. Última temporada, a série procurando mais uma vez se reinventar com novos personagens, enquanto velhos conhecidos estão dizendo adeus. Mas o sentimento continua o mesmo: aquela sensação de abandono, compartilhada pela maioria dos habitantes de Dillon, uma cidade "esquecida" no interior do Texas. Tim Riggins é certamente aquele que melhor simboliza esse sentimento, ainda mais agora que tem sua liberdade cerceada, e após ter assistido a despedida de todos os colegas de sua geração. Numa mistura de profunda melancolia e desprezo, resta a Tim se apegar num fio de esperança de que a boa conduta leve a redução de sua pena. Mesmo se sentindo culpado em vê-lo nestas condições, Billy também tem pouco a fazer além de cumprir o desejo de seu irmão e dar suporte a Becky, cada vez mais solitária ao ser deixada para trás aos cuidados de sua madrasta. Se já parece desenhado um provável conflito dela com Mindy, quem deve ganhar maior importância ao longo da temporada é Billy, até por também aparecer integrado ao já inchado quadro de treinadores sob tutela de Coach Taylor. Na contramão de tudo isso encontramos Jesse, que mesmo deixada sozinha tomando conta de seus irmãos, enfrenta essas dificuldades com o apoio confortante de Vince, que já havia demonstrado antes essa mesma responsabilidade paternal ao cuidar de sua mãe.







