quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

[Extra] Melhores episódios de 2010

Não há nada melhor nesta época de retrospectivas do que as já tradicionais listas de final de ano. Uma de minhas preferidas -- pouparei vocês da minha lista de listas favoritas -- é a que compila os melhores episódios do ano na televisão, seja pela importância durante toda a temporada ou por formarem uma unidade coesa durante sua breve duração. Algumas tentativas anteriores podem ser relembradas nas listas de 2007 ou 2008. Claro, são escolhas extremamente pessoais, até porque estão limitadas apenas àquilo que assisti, portanto servem muito mais como um exercício de listar do que como um guia definitivo. Desta vez, resolvi utilizar um critério diferente e escolher apenas um episódio por série, principalmente para deixar a lista mais enxuta e justa. Afinal, uma lista de dez poderia ser facilmente preenchida apenas com episódios de Mad Men e Breaking Bad, de longe as melhores séries em exibição atualmente. Mas, com certeza, uma lista assim não faria jus ao excelente ano que pudemos acompanhar na televisão, com boas estreias e muitas séries veterana encontrando de novo sua boa forma. Sem mais delongas, vamos à lista:

12. Friday Night Lights
"I Can't"


A quarta temporada ficou marcada pela mudança de rumos da série: de lados da cidade, de time e até elenco. Confesso que demorou um pouco até que esses novos elementos engrenassem, mas episódios como esse mostram a competência dos roteiristas em considerar todos os problemas que atingem seus personagens e oferecer conclusões a cada um deles. Seja a indesejada gravidez de Becky ou a frágil condição da mãe de Vince, Friday Night Lights nunca deixa ninguém desamparado e assim continua sendo o retrato mais justo da adolescência a ser exibido na televisão.
Outros destaques: "Laboring", "Kingdom".


11. Chuck
"Chuck vs the Honeymooners"


Sempre fui fã dos episódios mais "leves" de Chuck, que conseguiam lidar com as limitações de seu protagonista, sem precisar envolver grandes conspirações ou manobras. Além do excelente trabalho de composição deste episódio ao situá-lo na Europa -- sendo praticamente todo gravado em estúdio --, o grande acerto veio da relação de Chuck e Sarah, cercada de dúvidas agora que havia finalmente sido consolidada. Durante toda a viagem de trem o casal não demonstrava nenhum receio pelo futuro, apenas apreciava a companhia um do outro até para concluir uma inesperada missão, algo que no atual momento da série só nos faz relembrar com saudades daquela intensa lua-de-mel.
Outros destaques: "Chuck vs the First Class", "Chuck vs the Other Guy".


10. 30 Rock
"Anna Howard Shaw Day"


Nem preciso dizer o quanto a quarta temporada de 30 Rock começou frustrante. Já esta quinta temporada tem mantido uma regularidade tão boa que seria capaz de escolher qualquer um de seus episódios para entrar na lista. Porém, preferi escolher "Anna Howard Shaw Day" porque representa seu grande ponto de virada para essa recuperação. Em mais um episódio especial de dia dos namorados, Jack tem seus primeiros encontros frustrados com Avery, enquanto Jenna está preocupada com a falta interesse de seu stalker, vivido por Horatio Sanz. Já Liz se submete a uma operação de canal e como resultado da anestesia acaba imaginando seus três ex-namorados atendendo no consultório.
Outros destaques: "When it Rains, it Pours", "Brooklyn Without Limits", "Christmas Attack Zone".


9. Glee
"Grilled Cheesus"


Só para se ter uma ideia, desisti de Glee após assistir a esse episódio. Não, essa não é uma escolha irônica tentando sacanear a série. Muito pelo contrário, aliás. Depois de acompanhar tantas histórias pavorosas, com "Grilled Cheesus" tive a certeza que esse seria o episódio que a série nunca mais conseguiria superar. Há quem condene por ser muito predicante, mas acho que é exatamente neste ponto que ele chega perto da perfeição. Glee nunca apresentou qualquer razão que fizesse alguém levá-la a sério, por isso tudo funciona como uma paródia, com os personagens assumindo sua ingenuidade (Finn) e suas certezas (Kurt) enquanto outros tentam convencê-los do contrário. A mensagem final do episódio serve perfeitamente para lembrar do espírito que Glee vem perdendo desde seu início: basta acreditar. Afinal, não existe nada mais sincero do que Kurt interpretando "I Want to Hold Your Hand" ao lado do leito de seu pai, certamente o melhor uso de uma música na série, trocando o otimismo vindo dos Beatles por um tom quase melancólico.
Outro destaque: "The Power of Madonna".


8. Treme
"Wish Someone Would Care"


Para quem já assistiu The Wire, sabe que George Pelecanos, conhecido escritor de dramas policiais, normalmente era escalado para escrever seus episódios de maior impacto. Mas nesse episódio, sua contribuição está na forma sutil com que leva Creighton a se afogar em sua própria amargura, depois de tanto lamentar o declínio da cidade que escolheu para amar. Durante sua última aula, Creighton está interessado em tratar do livro 'O Despertar', de Kate Chopin, para discutir com seus alunos a diferença entre encerramentos e transições. Todas as suas despedidas ao longo do episódio, tanto da filha e esposa quanto sua última contribuição a Annie, tornam sua morte cada vez mais previsível, mas tudo termina resolvido num suspiro. Num instante Creighton está contemplando o mar, no outro já não está mais lá. Absolutamente sublime.
Outros destaques: "Do You Know What It Means", "All on a Mardi Gras Day".


7. Louie
"Bully"


Alternando histórias roteirizadas e gravações de seu próprio show de stand-up, Louis C.K. teve liberdade total para colocar no ar aquilo que bem entendesse. O resultado foi a comédia mais imprevisível do ano, mas que nem sempre acertava com seus roteiros controversos. "Bully" é um caso a parte, funcionando não só pelo gradativo efeito de irritação de seu protagonista e sua inaptidão para reagir, como pela total versatilidade de transformá-lo num delicada drama, quando Louie consegue seguir o garoto até sua casa. O episódio termina com dois pais discutindo as dificuldades de se criar filhos, o que provoca incômodas risadas apenas pelo absurdo da situação.
Outros destaques: "Poker/Divorce", "Dentist/Tarese".


6. In Treatment
"Adele: Week 4"


Falemos da série mais subestimada do ano. Não apenas In Treatment recebeu pouca atenção da mídia nessa temporada, como parece não ter agradado muito os críticos. Mesmo que os pacientes não tivessem sido dos mais atraentes (Frances é com certeza a pior a passar em seu consultório até hoje), na minha opinião esta temporada superou a anterior porque Paul não parecia sentir apenas aquele leve desconforto, mas estava de fato à beira de uma crise. A participação de Adele como sua terapeuta foi fundamental, e já nessa sessão na metade da temporada, ela foi capaz de dar um parecer esclarecedor sobre sua condição. Diria que foi uma temporada de "auto-sabotagem", tanto nos relatos imprecisos de Jesse quanto na atitude calculista de Sunil, que refletiram na postura do próprio Paul, procurando por situações limiares para finalmente tomar uma decisão na vida. A mais notável delas é essa dependência em Adele, tentando transformá-la em sua companheira, que Paul revela também nesta sessão sob o olhar cuidadoso do diretor Paris Barclay.
Outros destaques: "Jesse: Week 5", "Sunil: Week 7".


5. Parks and Recreation
"Sweetums"


DJ Roomba. Só por essa piada, o episódio já merecia um lugar nesta lista. Mas existem outras muitas razões, afinal estamos falando da melhor comédia no ar atualmente. Todos devem concordar que a primeira temporada de Parks&Rec foi um desastre, mas acompanhar sua recuperação logo no começo da segunda foi um imenso prazer. A melhora mais notável provavelmente foi a expansão da cidade de Pawnee, que antes era reduzida literalmente ao buraco no quintal de Ann. Além disso, cada personagem desenvolveu personalidades distintas de humor: o convencido Tom, o atrapalhado Andy, a sarcástica April, a conservadora Leslie, o libertário Ron. Esse episódio capta todas essas mudanças, investindo num interessante conflito entre os ideais de Leslie e Ron para decidir um patrocínio, levando a uma audiência pública com a população da cidade. Enquanto isso, Tom "convida" todos os outros funcionários a ajudá-lo a se mudar de casa, sendo possível acompanhar os primeiros passos do relacionamento de April e Andy, que foi muito bem conduzido pelo restante da temporada.
Outros destaques: "Summer Catalog", "Telethon", "The Master Plan".


4. Terriers
"Sins of the Past"


2010 ficou marcado por Joss Whedon se despedir novamente da televisão após o final de Dollhouse. Porém, foi pelas mãos do roteirista Tim Minear (conhecido no twitter como @CancelledAgain, pelo seu amplo currículo em séries canceladas, como Drive, Firefly e Wonderfall) que tivemos a história mais "Whedonesque" do ano, com direito a altos deslocamentos temporais e trapaças. Mas no centro do episódio era formado um interessante paralelo entre o primeiro contato de Hank e Britt, e a separação da dupla no presente. Há quase uma troca de papéis em vigor, com a obsessão e principalmente o álcool levando os dois até as últimas consequências. Essa é a natureza dos protagonistas de Terriers, que mesmo com todas as suas atitudes condenáveis, continuam sendo extremamente cativantes.
Outros destaques: "Fustercluck", "Asunder", "Quid Pro Quo".


3. Community
"Modern Warfare"


Qualquer outro episódio talvez fosse discutível, mas esse tem o dever de estar em qualquer lista que se preze. Não cansam de dizer o quanto "Modern Warfare" é genial, e eles tem toda razão. Seja pelas finas referências, por todas as situações se adaptarem às características de seus personagens ou por simplesmente ser incrivelmente divertido. Sinto por isso acabar sendo até uma maldição dentro da própria série, estabelecendo um nível tão alto de qualidade, que dificilmente poderia ser alcançado por qualquer outro episódio temático posterior. Mas Community vem mostrando que tem tantas ideias originais sem ter receio de usá-las, o que já parece garantí-la como uma das comédias mais bacanas atualmente. E sabe o que mais me agrada na série? Pasmem, a direção dos episódios.
Outros destaques: "Contemporary American Poultry", "Epidemiology", "Cooperative Calligraphy".


2. Breaking Bad
"Sunset"


A escolha mais difícil, até porque poderia colocar qualquer episódio da metade da temporada em diante sem precisar dar muitas explicações. "One Minute" seria a escolha mais óbvia, tanto pelo monólogo de Jesse todo deformado, como pela cena em que Hank é cercado pelos primos de Tuco. Porém, escolhi "Sunset" como uma forma de homenagear um dos episódios menos lembrados depois do turbilhão de emoções que vem a seguir. É uma homenagem também a última vez que Walter e Jesse dividiram o saudoso RV, que havia sido tão "produtivo" anteriormente. Posso assegurar que a tensão dessa cena só funcionaria numa série audaciosa como Breaking Bad, porque era possível esperar qualquer desdobramento vindo dali. Poderia ser até mesmo o fim da linha para Walt. Naqueles minutos que Hank circulava ao redor do RV como se fosse um tubarão encurralando suas presas, minha cabeça fervilhava com todas as possíveis saídas e suas consequências. E não seriam essas, afinal, as principais questões que cercam Breaking Bad?
Outros destaques: "One Minute", "Fly", "Half Measures".


1. Mad Men
"The Rejected"


Provavelmente a escolha mais controversa da lista, já que todos parecem inclinados a preferir "The Suitcase". Até entendo, a relação desenvolvida por Don e Peggy talvez fosse a mais fascinante da série mesmo, e eles mereciam uma conclusão que levasse a outro nível, além do profissional. Porém, "The Rejected" não conta com nenhuma dessas cenas poderosas e ainda assim não cansa de me impressionar. Para se ter uma ideia, revi o episódio antes de montar a lista, o que se não perdi as contas já é a sexta vez. Seu ritmo é mais cadenciado, seus temas mais contidos, tudo para retratar o relacionamento mais obscuro da série, a ligação entre Pete e Peggy. Um dos elementos que valorizo nas séries de tv quando comparado a filmes, é a capacidade de se expandir os personagens coadjuvantes, indo além de meros suportes (até no próprio termo em inglês) ao protagonista. O passado que compartilham juntos transparece em cada diálogo ou troca de olhares. E isso fica bem claro na montagem final do episódio, provavelmente uma de suas cenas mais memoráveis, sem precisar dizer sequer uma palavra.
Outros destaques: "The Suitcase", "The Beautiful Girls", "Blowing Smoke".

Fotos: Divulgação.



Assim, encerro minha participação por mais um ano, desejando a todos os comentaristas e leitores do blog um feliz ano novo. Que 2011 chegue repleto de realizações, saúde e promissoras séries. Grande abraço a todos.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Um comentário:

@BrunoFrog disse...

Muito boa a lista.
Principalmente Community aí em terceiro lugar. Pra mim, foi a série com o maior número de episódios excelentes em 2010.

Até hoje eu vou no Youtube só pra ver a cena final de "Conspiracy Theories and Interior Design".