sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

[LOST] 5x07 The Life and Death of Jeremy Bentham

Acompanhar a vida e a morte de Jeremy Bentham, a já conhecida identidade de Locke fora da Ilha, poderia ser uma perda de tempo depois do episódio da semana passada. Analisando friamente, com certeza é. Na verdade, esse episódio estaria programada para ir ao ar antes do "316", mas dá para entender perfeitamente por que foi feita essa mudança: não haveria mistério algum durante o voo 316, até pela apresentação dos dois novos personagens Caesar e Ilana. Entretanto, o problema é como a jornada de Jeremy Bentham parece um passo atrás diante de tudo o que vinhamos acompanhando até agora. Enquanto todos os Oceanic Six pouco a pouco aceitavam a ideia de que tinham de voltar e na semana passada atingiram uma brusca conclusão, as tentativas frustradas de Bentham em convencê-los parecem estar fora do ponto, quase atrasados. Principalmente quando vemos Jack confrontando aquela predestinação que ainda viria a abraçar. Talvez o problema continue nessa estrutura focando um dos personagens, deixando a história "engessada" com flashbacks praticamente contínuos durante dois episódios seguidos.
Por outro lado, não dá para criticar um episódio em que presenciamos o renascimento de John Locke na Ilha, interpretado com tanto vigor por Terry O'Quinn e que, acima de tudo, faz um paralelo interessante com o retorno de Jack na semana passada. Seu reencontro com a saudosa Ilha, num longo plano mostrando primeiro os sapatos de Christian para depois envolver Locke é fascinante. Dessa forma entendemos a transformação que ele passa sob a identidade de Bentham, numa espécie de figura de transição, temporariamente numa cadeira de rodas, sem aquele fanatismo que demonstrava nas primeiras temporadas, mas ainda longe de acreditar que é um ser especial. Ainda mais por estar no meio da disputa entre Benjamin e Widmore, sua confusão não permite que Bentham convença os Oceanic Six a voltar. Mas seu retorno acontece exatamente como planejado e esse renascimento é determinante para fortalecar sua fé. Pela primeira vez veremos Locke e Ben realmente como oponentes, porque apesar de todas essas relações bíblicas (que estão mais do que claras), duvido que Locke perdoaria seu "Judas". O pouso forçado do 316 aparentemente num tempo diferente e na pequena ilha onde está situada a Hydra, parece que será outro mistério sem explicação convincente, mas ainda espero alguma razão para só Jack, Kate e Hurley serem vítimas do clarão.
Falando neles, as visitas de Bentham guiado por Abaddon (que finalmente mostrou-se como aliado de Widmore) foram no mínimo bastante irregulares. Além de toda uma fragmentação na história, muitas delas pouco tiveram a acrescentar. Sayid ainda continuava de luto por Nadia e avisa do perigo de ficar entre Widmore e Benjamin. Walt entra em cena assim como sai, só para manter aquela frustração do personagem que foi esquecido no passado da série. Hurley, temendo muito mais um Locke vivo do que uma alucinação, lembra como a vida dos Oceanic Six seguem seu curso fora da Ilha. Até me senti ofendido com Kate (quem diria!) dizendo que Locke nunca amou, mas forçaram a barra para que isso fizesse-o relembrar Helen, antes da triste visita ao seu túmulo. Mesmo desmotivado o suficiente, é o encontro com Jack que conduz Bentham ao seu inevitável destino, quando só resta mesmo a figura do velho solitário e sem importância alguma.
Bentham decide se matar quando volta ao hotel, por não ter nenhuma outra saída além do sacrifício. Mas quem aparece justamente para impedí-lo é Benjamin, que como ninguém ainda motiva e manipula Bentham até conseguir o que quer. E após saber dos procedimentos para o retorno dos Six, dá conta ele mesmo de terminar o serviço envolvido pelos acordes cortantes da trilha de Michael Giacchino. Enquanto vemos Ben limpando todas as pistas do quarto, a sombra da figura de Bentham pendurado está registrado nas paredes. Com toda a certeza, será difícil esquecer uma cena como essa e posso dizer até que já virou marca da série, principalmente pela direção precisa de Jack Bender e a dinâmica excelente entre seus dois principais atores. Pois é, é disso que Lost ainda é capaz.

e.fuzii

10 comentários:

Camaleão Vazio disse...

Bom, Fuzzi, vamos lá:

Me parece que você começou com um pé atrás só para terminar dando mão à palmatória. E, por favor, me corrija se eu estiver errado, isso também parece estar se tornando um hábito.

Pense bem: a despeito da suposta inversão com "316", para não estragar o prazer das surpresas (pô, mas Lost sem surpresas não é Lost!), o episódio todo não é para ser exatamente centrado em Bentham/Locke, na vida e morte de um para o ressurreição do outro? E, portanto, na autoaceitação da liderança do último? Ou melhor, de que isso é obra do "destino"? (Até mesmo Ben e Widmore o admitem, embora ambos exponham isso apenas para enganar Locke, acabam com suas ações evasivas confirmando o inevitável.)

Natural então esse "passo atrás", mesmo "fora de ponto" e fragmentado. Desnecessário e arriscado seria estendê-lo para dois episódios, acho. Desde que não se perca o foco, que o foco é no protagonismo de Bentham para Locke, logo vemos que o "acréscimo" para esses picotes de encontros fracassados é exatamente a tônica no destino, um destino em linha reta, que culmina na tentativa, também fracassada, do suicídio do "velho solitário e sem importância alguma".

Ora, ora, mas veja só como são traçadas as linhas tortas do destino, digo, do roteiro). E então surge Benjamin. Não fosse ele, e Bentham morreria. E a "promessa Locke" com ele. E não fosse Ben assassinar o fodão do Fringe, Bentham não se encontraria no hospital onde trabalha Jack, e não criaria o estopim para a piração do cirurgião. Isso sem contar que, Kate não colocando em pauta o tema amor, Locke não visitaria o túmulo de Helen, na região do hospital de Jack. Isso sem contar que, não visitando o internado Hurley, este não o avisaria sobre Abaddon, e Helen nem seria mais evocada. E assim por diante. Até a decomposição final da fé de Bentham. Sacrifício? Ué, por que não produzir mais um episódio para novas tentativas? Porque bateu o desespero, isso é o prevalece. Porque, afinal, Jeremy Bentham nunca foi um homem que se baseou na fé mesmo. Jeremy Bentham é Widmore, inglês e utilitarista à toda prova. E, em certa medida, é também Benjamin Linus.

Ben que estava o tempo todo atrás das cortinas, subentendido no episódio (talvez também um motivo a mais para a inversão de episódios?), seguindo invisível os passos de Bentham, para ajudar na reunião dos Oceanic Six. Ajudar? Sim, claro. Mas à maneira interessada de Ben. Então acho que ele não surge como Judas, mas como, e como sempre, um competidor e um manipulador de alto nível. Pô, mas faltava "preparar" Sun. Ah, Jin está vivo? Então o anel, acompanhado com a devida mentira, será um artifício de convencimento poderoso. Mas para isso, agora sim, Bentham precisa morrer, para dar lugar a Benjamin. E precisa mesmo, já que aquele sabe da existência da tal Sra. Hawkings, e isso é um tanto perigoso. Temos então, para Ben, uma dupla conveniência aqui: uma nova oportunidade para afastar em definitivo a ameaça de Locke à sua liderança (olha só, o encontro com Walt, como gratidão por tê-lo "salvo" do primeiro assassinato) e, ao mesmo tempo, readquirir a confiança dos Oceanic Six, fazendo o papel de benfeitor ao leva-los, com John devidamente encaixotado, de volta à ilha. Esperando talvez a aprovação de Jacob? Coitado. Mal sabe que sua ciência na manipulação (e não me surpreenderia ser Benjamin o responsável por conseguir os Oceanic Six em novo vôo) não passa de um instrumento à consumação do destino de Locke, que é fundar um novo Contrato Social na ilha.

Enfim, se este episódio não tivesse sido, hum, demasiado conciso, talvez ele perderia sua eficácia inclusive como amarra entre o que se passou fora da ilha (considerado por muitos sem propósito, ao contrário do que penso, considero apenas uma virada, ainda que incompleta, lógica) e o que acontecerá daqui por diante, resolvida a avaria do dispositivo temporal da ilha (que também considerei perfeitamente lógica, em sintonia com a proposta de desde o início da série, uma vez que tudo em Lost gira e gira e gira em torno do tempo. E aqueles longos flashbacks na consciência dos personagens, nas primeiras temporadas, não foram igualmente provocados pela ilha? Mas no seu funcionamento "normal"?)

Enfim, Fuzzi, um passo atrás não pode muito bem significar passadas mais vigorosas para frente? Que se perca em audiência, mas nunca em consistência.

Abraço.

P.S.: Mas vou ser sincero Fuzzi. No fundo, no fundo, despejei tudo isso aí acima pra ver se organizo melhor minhas predições, e tentar antever qual o verdadeiro papel do Richard Alpert, quem verdadeiramente me intriga em Lost. Acho que esse cara é... "o" cara.

Anônimo disse...

desconfio que jack e compania voltaraum para ilha e estão em outro tempo , ou em outro ano da ilha !!! pq locke estava em uma epoca q a dharma não existia , e qd jack encontra o jin ,ele é um dos dharma( e a prova é a comboza da iniciativa) provavelmente em um futuro eles vão se tornar " os outros " e locke vai encontrar eles no futuro e assim será o lider depois de muitaaaaaaa enrolação...acho que lost ta ficando sem "saida" , tem q terminar logo =) ^^ obs: dharma era uma marca de tennis brasileira , não era ? jaeklajekjae abraço =*

Rubens disse...

Cicero, Ben nao precisava ter matado Fringe, para que Locke fosse visitar Jack no hospital. Ele simplesmente iria ao hospital visitar Jack, exatamente como fez com todos os demais Oceanic Six, e mais nada.

Rubens disse...

Fuzii, um detalhe nao comentado foi a má confecção de toda a cena de Ben limpando o quarto onde matou Locke. Se fosse rolar mesmo uma investigacao CSI naquela cena do crime, a corda totalmente limpa de impressões digitais iria despertar suspeitas, porque, pelo certo, no minimo seria necessario que a corda tivesse impressões digitais de Locke, para ser um suicídio. Igualmente despertaria suspeitas o quarto limpo demais.

Outra: quando Ben entra no quarto de hotel pela primeira vez, ele ARROMBA a porta. Na cena a gente ve pedacos de madeira voando e tudo. Ora bolas, COMO Ben arrumou novamente a porta, consertando a madeira, de uma forma que a policia nao percebesse que a porta havia sido arrombada??!? (na cena de Ben indo embora, a porta e o caixilho estão inteirinhos novamente).

Camaleão Vazio disse...

@Rubens

Hum, tem razão. Ben ter matado o cara... Na verdade, foi pra afastar de vez a influência, digo, vigilância dele sobre John, principalmente porque a visita a Jack (claro, inevitável) era de suma importância, Jack é o pivô para reunião dos Six. Por isso teria que ser a última mesmo. E se Bentham não o convencesse... Bom, aí deu no que deu.

(Sabe que eu fiquei matutando e matutando nessa "cena da limpeza"... Talvez tivesse que ser mais (ou menos até) detalhista, para evitar suspeitas como a sua...rs. Mas aí eu deixei pra lá.)

e.fuzii disse...

Cicero,
com essa concisão, pode usar desse espaço toda semana para organizar suas ideias.
A mudança na ordem de episódios é na verdade contraditória porque o flashback de um vem antes do outro, mas as ações no presente acontecem antes no outro que no um. Enfim, perderia-se de um jeito ou de outro. Para um bem maior -- porque sinceramente não dei a mínima para a história da recriação do acidente -- preferia ver o "316" depois.

Tem um texto de conclusão da quarta temporada que resume mais ou menos a forma que tenho pensado ultimamente sobre a série. Por mais absurdas que sejam as manobras para trazer os O-6 de volta à Ilha, estou tentando pelo menos entender as motivações das personagens, que antes eram totalmente nulas.

Se você não leu alguns textos meus de episódios anteriores (principalmente na temporada passada), tenho problemas com esses roteiros "sistemáticos", que parecem ser feitos de trás para frente, com cada ação somando-se para chegar onde se quer. É verdade que os personagens como reféns dessa predestinação fazem o roteiro parecer mais fluído, mas ainda espero explicação melhor do que a Ilha quis, ou tinha de ser assim.


Rubens,
Na verdade eu acho que o Abaddon morreu porque tinha de voltar para fazer Fringe. haha
O encontro com Jack era mesmo inevitável (até pelo Christian ter mandado seu 'oi') e a morte do Abaddon serviu para Locke sentir-se ainda mais abandonado (sem trocadilhos).

Sinceramente, nem fã de CSI eu sou para ficar procurando nas cenas tantos detalhes assim. Mas você está certo, embora não me incomode tanto falhas assim quando permitem uma cena dramática como essa (e um belo conserto em alguns detalhes da história). E a gente sabe que de uma forma ou de outra, Ben iria conseguir se safar, como no caso dos crimes da Kate ou até Sayid embarcando no 316.

Anônimo disse...

e.fuzii,

Também considero os encontros com os Oceanic Six como os momentos mais fracos do episódio. Só que se fossem limados muita gente reclamaria, do por quê não mostrar e do que teria acontecido. Foi um mal necessário.

Sobre o conteúdo das conversas, a verdade é que Locke não tinha força alguma para mover o pessoal de lá. Até mesmo o motivo do Jack não é dele. E foi dado por Christian quando já estava sumindo da ilha.

Minha ideia é que Locke foi apenas um joguete da ilha. Tudo o que ele fez de útil foi dar a Ben as duas coisas que lhe faltavam: convencer Sun a voltar e a dica que deveria procurar a senhora Hawking.

E pior, o defunto necessário era ele mesmo. Aposto que sempre Ben soube que precisaria de um morto, mas, obviamente, não queria ser o próprio.

Devemos lembrar o que Christian frisou: Locke deveria sair, não Ben. O zoiudo não devia ter saido da ilha.

O episódio eu considero ótimo, tanto quanto o anterior. Foi eficiente com o título dado. Uma mini-saga da inutilidade humana.

Gostei da inverção dos episódios, deixou as coisas mais fora de ordem, o que em Lost sempre é um atrativo que gera teorias.

É isso. Lost é uma série forrada de mistérios porque vemos várias respostas antes das perguntas. O que geram as teorias.

Camaleão Vazio disse...

Fuzzi,

Em primeiro lugar, agradeço o convite, mas... Talvez, não sei, simplesmente acontece de, e sem premeditação, de uma hora para outra desembestar a escrever. De qualquer forma, lhe digo que, a cada episódio, faço leitura obrigatória de seus posts. E desde que descobri o Comentários em Série, via Lost Download, há uns, pasmem!, dois anos.

Então, sim, sou seu fiel leitor. Mas tive, naturalmente, que recapitular os posts anteriores para verificar a correção do que lhe, hum, acusei, de começar "com um pé atrás só para terminar dando mão à palmatória". E veja só as pérolas de seu post ao final da temporada anterior, as quais me fizeram compreender suas, ao lado de tantas outras, decepções:

Já fora da Ilha, o mais intrigante será como Ben irá lidar com a impossibilidade de retornar à Ilha e seu plano para unir os Oceanic 6 no mesmo ideal.

E que isso deveria ocorrer em no máximo 6 episódios, com o sacrifício do que se passasse na ilha, para ganhar-se em clareza e dinâmica.

Ou seja, por um lado, mantendo a proporção dentro/fora da ilha, a despeito da diferença de ritmos, os roteiristas, creio que para você, comprometeram o entendimento das motivações dos Six, tanto mais que, por outro lado... Se já foram resgatados, por que razão voltar? Resgatados, mas em precária segurança, Fuzzi. Não seguros, porque em dívida, em dívida moral para com eles mesmos e com a ilha. Que usa Ben para fazer então as tais manobras ao retorno.

Fuzzi, eles não precisam de motivações para o retorno, eles precisam ser constrangidos ao retorno. Porque eles não foram resgatados, visto que eles não "se" resgataram, não há nenhum sinal explícito de redenção em nenhum desses personagem. Eles simplesmente fugiram, eles novamente manipularam um escape às conseqüências de seus atos pessoais, que a ilha, na ilha, revelava a suas consciências.

Tá, supondo uma escala motivacional de 0 a 10, e a cada episódio um degrau nessa escala, então a resolução para o retorno demorando o tempo de uma temporada enxuta... Mas certamente para os confinados esse desdobramento não requereria um novo e parrudo contexto dramático, correndo o risco de se agravar as "distâncias" entre os dois grupos?

Os personagens que restaram na Ilha terão uma nova dinâmica, tanto por não contarem com um líder como por não saberem que os Oceanic 6 conseguiram escapar.

O argumento que você colocou para determinar essa nova dinâmica para os confinados, claro, só valeria em condições normais de "temperatura e pressão", no caso daquele desdobramento. E não foi o caso. O caso é que decidiram imprimir um ritmo insuportável, mas com prazo curto de validade, um deadline que teria que coincidir com a volta dos Oceanic. Talvez o erro aqui fosse sanado com um prazo mais curto ainda, postergando então a tal da coincidência. Seria uma solução. Mas o que sabemos do clímax da temporada, onde ela vai dar?

Aliás, como podemos antecipar o que a ilha quer ou o que quer que tenha que ser para aqueles sob seu domínio, ainda que "desde sempre" o saibamos? O propósito disso que você chama "roteiro sistemático", Fuzzi, é o propósito de toda e qualquer criação ficcional. O mundo da ficção é o mundo da predestinação por excelência, mesmo personagens livres são cativos de sua liberdade, até que... seus criadores movimentem os pauzinhos e dêem um jeito nisso de uma vez por todas. E quando o fazem, o fazem com proficiência, da maneira mais sistemática possível. Mas quem se incomoda com essa situação? Os personagens? Não, somos nós, nós somos os reféns da ilha, Fuzzi. E de sua fluidez monstruosa, que nos leva, ação por ação, a um destino irrevogável, do qual sabemos "desde sempre". Se você tem problemas com esse tipo de roteiro, sinto dizer que é porque eles te "pegaram" mais do que você gostaria...rs.

Dei uma de advogado em defesa incondicional de Lost, não dei? Dei. Mas tenho que concordar plenamente com todos e com você:

Outra coisa que chegou a me irritar é a arbitrariedade com que muitas das decisões tomadas pela Ilha, poupando ou matando alguns personagens, eram convenientes para os roteiristas.

O enredo de Lost, feliz ou infelizmente, é vítima do seu próprio sucesso, do amplo leque de possibilidades às linhas de fuga narrativa. E aí não posso omitir crítica ao que é crítico à série.

Mal a gente começa a vislumbrar plots paralelos/secundários promissores, e tiram o doce da criança, digo, de nós. Sem contar coadjuvantes idem, que logo são riscados sumariamente do script para que o avanço da trama principal não seja barrado.

Um exemplo unânime, e que você mesmo citou: a morte estúpida da Danielle-velha. E, a propósito, outro, que é recente: a Danielle-jovem tendo que matar os clones do seu companheiro (um outro dispositivo de segurança, como o Smoke? Uau!) E aí, puf! E, também a propósito desse recurso de flashs temporais intermitentes, mais outro: o fim de Charlotte, quando pensei cá com meus botões: "pqp, que desperdício, ela se "arrastando" desde a temporada passada, pra ter esse fim memorável." Então memorável assim só pra dar abertura à futura explicação da cena de Faraday nas escavações na Estação Orquídea, quando então ele encontrará a ruiva criança? Jin "fardado" de Dharma parece estar indicando isso, acho.

Enfim. Espero que os criadores de Lost comecem seriamente a se preocupar em não perder o controle entre o equilíbrio necessário entre satisfação e frustração causadas. Não suportamos tanto assim essa coisa de, me desculpe dizer, coito interrompido...rs.

Valeu?

(Hum, quanto ao 316 ter vindo antes ou depois... podemos parar por aqui. A importância desta ou daqueloutra ordem de flashbacks, nesta altura de Lost, acho que não depende mais de uma coerência tão rigorosa assim. Já nos acostumamos a apreender o que comunica essa variações temporais através de uma razão que eu chamaria de, hum, sensível, ao invés de uma formal.)

e.fuzii disse...

Paulo,
Concordo plenamente que essa saga foi um "mal" necessário. Espero ainda entender por que Ben pode voltar a Ilha, ou quais são as consequencias disso. E mais: se essa sua saída, servindo como pivô da reunião dos Five, seria tão errada assim. Se por um lado Christian diz que Ben não deveria ter girado a roda, por que no final é ele quem conduz todos a esse destino irrevogável? Ou será que tivemos mais uma correção de curso?


Cicero,
Primeiramente, todo tipo de previsão para Lost acaba sendo uma grande furada, porque mais cedo ou mais tarde acabam nos surpreendendo, como essas viagens no tempo introduzidas logo no início da temporada. Com isso a estrutura mudou por completo e aqueles que restaram na Ilha ganharam uma dinâmica bem melhor, colocando essa volta dos Oceanic Six outra vez em segundo plano. Não me refiro motivação no sentido de estimular as personagens a voltar, mas sim fundamentar melhor suas razões. Porque apesar dessa lacuna entre o "não voltamos nem ferrando" e a bizarra recriação do voo 815, a volta para a Ilha continua cercada de conveniências estranhas, que vão além dessa simples renúncia de si. Restam amplas possibilidades, que como você mesmo diz precisam ser satisfeitas da melhor maneira possível.

O fato é que grande parte do que move o roteiro ultimamente confunde-se com a predestinação que a Ilha parece submeter esses personagens. Cabe a cada um acreditar se isso é necessário e será explicado ou funciona como simples tapa-buracos. É o caso da salvação de Jin. Pra mim, é óbvio que ele só reviveu para passar o anel de mão em mão até que chegasse em Sun. Seria, então, uma situação clássica de deus ex machina ou o tal destino irrevogável que pretende reunir todos novamente na Ilha?

A minha crítica em relação ao roteiro sistemático se estende a várias outras produções -- a mais recente, as duas últimas temporadas de Dexter -- e tem a ver com as personagens não conseguirem "respirar" até chegarem no ponto certo, normalmente reestabelecer o status quo. É por isso que elogiei o roteiro de "Jughead", que consegue a medida que desenvolve a trama, amarrar com o drama pessoal de cada um dos envolvidos.

Acho que é isso. São pontos demais para serem discutidos aqui, então desculpe se ficou algo sem responder.

Camaleão Vazio disse...

Ah, Fuzzi, resolveu colocar o Dexter no mesmo imbróglio? Embora numa cadência diversa, então se deve pôr aí Damages também. Essas sistematizações não são prova cabal de que há, finalmente, vida inteligente na TV? E, é, essa coisa de deus ex machina... mas pensando bem... pode até ser deliberado provocar essa dúvida, mas...

Mas isso já está sendo demais, passamos da conta! rs. Anyway, adorei a "discussão". Grande abraço.