domingo, 29 de março de 2009

[Battlestar Galactica] "Daybreak" - Take 3

Após uma semana e os textos do Hélio e do Allan, não me resta muito o que escrever sobre essa despedida final da Galactica. Mesmo assim queria deixar esse último registro apenas como uma homenagem a essa série que tanto nos emocionou nesses últimos anos. Afinal, o principal foco da série sempre foram seus personagens, suas escolhas, suas personalidades e é isso que fazia criar em todos nós simpatia por alguns, ou antipatia por tantos outros. Mas o que mais impressionava era a dificuldade de dizer adeus para qualquer um deles quando ficavam pelo caminho. Apesar de desenvolver muito bem tantos temas distintos, Battlestar Galactica era acima de tudo um drama de guerra, com seus personagens sempre na tentativa de viver superando seus limites. Eles buscavam sobreviver, e o maior mérito da série sempre foi dar condições para explorar as consequências dessas suas decisões.

A opção de focar principalmente no psicológico da frota nessa última temporada conferiu um ritmo bem mais lento à trama, mas serviu também como ótima conclusão a tudo aquilo que foi proposto durante a série. Depois da revelação dos quatro cylons finais, que sempre estiveram infiltrados entre os humanos, muitos daqueles que por tanto tempo odiavam as "torradeiras" tiveram de aceitar sua própria condição (como Tigh) ou reconsiderar sua confiança (como Adama) e até seu amor (como Cally). Mas tudo isso conduziu à primeira tentativa de entendimento entre os povos, até sua chegada à... Terra.

Era onde todo esse grande drama de guerra merecia terminar: a tripulação se confraternizando por finalmente voltar ao seu lar, relembrando todas aquelas batalhas e superando tantas dificuldades pelo caminho. Mas por outro lado, encontrar o planeta devastado foi o que levou todos eles a encarar uma morte iminente. Morrer nessa guerra era tudo o que restava, porque a esperança já se fora. E presenciamos suicídios, tentativas de rebelião e até condenações de morte para reestabelecer a rotina da frota. Até mesmo a líder Roslin desiste de resistir ao inevitável e passa a desfrutar dos poucos momentos que lhe restavam. Essa reta final pecou, assim como na temporada anterior, por se preocupar demais com o final do túnel, servindo como grande preparação para o episódio final.

Aidna assim, Battlestar Galactica sempre trouxe finais de temporada emblemáticos. Meu favorito ainda é o da primeira temporada quando Boomer é acionada e Adama passa a correr risco de vida. Já o da segunda, quando se instalam em New Caprica, também deve ser lembrado por permitir o arco de história mais interessante da série (já no começo da terceira temporada). Sentia que esses últimos episódios de Battlestar Galactica caminhavam para um final apoteótico, devido ao tanto de angústia e tensão que carregavam. E mesmo que a batalha final na fortaleza Cylon tivesse sido de encher os olhos e a Galactica fosse bombardeada a ponto de me segurar na cadeira, acho que esse confronto merecia um final melhor do que o encontro de todos no CIC. É verdade que ainda dependeu das decisões dos personagens, principalmente quando a repentina raiva de Tyrol quase coloca tudo a perder, mas eram merecidos certos sacrifícios pela deprimente situação que chegaram até aqui. E olha que nem sou avesso a finais felizes.

Talvez o que tenha dividido mais opiniões sejam essas soluções de última hora para tapar os buracos na extensa mitologia da série. Desde que um episódio inteiro foi gasto com Anders vomitando explicações das origens dos cinco cylons finais, já esperava que esses mistérios não seriam revelados de forma satisfatória. Mas mesmo assim fiquei espantado pela cena da Opera House, o destino de Starbuck e os anjos que conduziam Gaius e Caprica Six serem reduzidos a um conveniente deus ex machina. Sei que a vida é cercada de milagres e fatos inexplicáveis, e acho ainda que Daniel poderia fazer parte desse complô para unir os dois povos (ou seja, que de certo modo é um final ambíguo), mas que isso mostra um tanto de falta de criatividade dos roteiristas, não posso negar. Ficou parecendo uma grande obra divina, ainda que deveras amoral.

Mas sinto-me feliz por ter acompanhado toda essa jornada. Por através da Galactica passarem tantos assuntos delicados a discutir como a política, a fé, as diversas formas de preconceito, o militarismo, ataques terroristas, etc., sem nunca ter sido vítima de protestos por parte das pessoas com coração mais fraco. Até porque, além de ser a série original de 78 reimaginada, Battlestar Galactica apostava sempre em paralelos, como se fosse de fato uma reimaginação da própria humanidade. Por isso, ainda sinto uma certa frustração pelo real e o imaginário terem se misturado de fato em seu final. Também não vejo com bons olhos que esquecendo de suas origens, estamos perto de "tudo isso acontecer novamente". O alerta poderia ser mais sutil, principalmente depois de acompanhar tantas tentativas de aceitação entre humanos e cylons.
Apesar de tudo isso, o final foi digno porque resolveu explorar esses personagens. Quando vemos Tigh e Ellen finalmente andando nos largos campos verdes, tentando entender as motivações de Tyrol em procurar viver solitário. Quando vemos Starbuck percebendo que sua missão chegou ao fim, se despedindo de Anders para depois dar adeus a Lee, sem nunca encontrarem um final feliz. Quando o próprio Lee decide abandonar a tecnologia em prol de um recomeço, colocando de lado qualquer diferença. Quando Adama leva Roslin para seu passeio final, e promete contruir a tenda onde ela agora descansa em paz. E claro, quando o cientista Baltar finalmente se rende ao sentimento do amor, tanto a Caprica Six quanto ao seu pai. Todo esse emocionante desfecho pontuado por flashbacks de suas vidas anteriores à destruição de Caprica, que só serve de prova que esses personagens ainda poderiam ser desenvolvidos por dezenas de temporadas. E assim eles serão lembrados, por anos e anos até que uma nova reimaginação surja, seja novamente no espaço ou em terra firme.

So say we all!

Só um adendo: gostaria de homenagear também o excelente compositor Bear McCready, que quase virou personagem da série após "All Along the Watchtower" ganhar função na trama. Mas sua competência vem há tempos, sempre carregando de emoção cada uma das cenas da série. Vale a pena visitar seu blog, onde ele documenta todo o processo de criação da trilha sonora, além de oferecer suas próprias análises sobre Battlestar Galactica.

e.fuzii

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