sexta-feira, 21 de maio de 2010

[LOST] 6x16 What They Died For

por e.fuzii
Quando dizia na análise do episódio anterior que os roteiristas poderiam lidar perfeitamente com os principais temas da série sem que para isso precisassem sacrificar seus personagens, era exatamente de uma história assim que estava falando. Mas de certa forma, talvez tenha sido até válido para canalizar logo toda minha frustração em "Across the Sea" e assim aproveitar melhor o desfecho, sem que tivesse de me importar com qualquer das bobagens mitológicas abordadas ali. Bom que Lost conseguiu se recuperar desse tropeço tão rapidamente, ainda que muita gente ache que alguém que critica a série está mesmo torcendo para vê-la ardendo no magma. Se existe algo de pioneiro em Lost é nesse caráter passional de seus seguidores, logicamente aliado às possibilidades da internet, às vezes nem conseguindo assimilar a opinião de alguém antes de levá-la para o lado pessoal. Já acompanhei neste blog todo tipo de reação extremada, de ambos os lados, e às vezes penso em como a série tratou dessas diferenças ao longo de sua trama. Como a maioria de seus personagens eram complexos a ponto de não ser possível rotulá-los a partir de uma única postura ou opinião. De como vemos toda a imensa jornada de Jack ser concluída com a tarefa de proteger a Ilha pelo máximo de tempo que pudesse.
Confesso que amoleci. Para quem se lembra, uma de minhas maiores preocupações em relação ao final, talvez desde a metade da série, era de que tudo pudesse se resumir à busca por redenção. Porém, Jack se candidatando para ser o guardião diante de Jacob e o restante dos sobreviventes, foi uma resolução bastante elegante na minha opinião. Claro que muita coisa ligada ainda ao episódio anterior continua a me incomodar, como esse ritual de passagem através de um simbólico líquido. Principalmente por resolver de forma apressada, mais parecendo um atalho de roteiro, preferia que a história garantisse sustentação por si só. Mas já que Jack foi um dos poucos a ter algum desenvolvimento satisfatório nesta temporada, consigo até relevar. Além disso, temos ainda a constante lembrança da energia luminosa dourada, que ao que tudo indica terá um papel fundamental no embate final com o UnLocke. Estou cada vez mais inclinado a considerar esse o maior erro cometido pelos produtores, em tentar achar um ponto comum entre seu público, transformando a fé em algo concreto e a ciência em algo abstrato. Entendo que serve para Desmond mostrar ser a peça-chave no final, capaz de ter contato direto com a luz, depois tanto insistirem nas suas propriedades especiais. Pra mim, apenas outra prova de como essa luz era dispensável no contexto geral da série, já que Desmond só foi introduzido na segunda temporada.

A reunião ao redor da fogueira, onde queimam pela última vez as cinzas de Jacob, é uma amostra de que se a série estivesse preocupada em responder cada um de seus segredos, somente deixaria mais dúvidas. Apesar de Jacob tentar ser bastante claro que a solidão motivou ele a trazer todos à Ilha, é difícil de acreditar que ele não tenha influenciado todos durante esse processo, como no caso dos números que chegaram ao conhecimento de Hurley antes de ganhar na loteria. Fora que se fosse necessário apenas procurar por um novo candidato, seria fácil demais encontrá-lo entre tantos dos Outros, como por exemplo o leal Richard Alpert, que acabou descartado aqui de forma ainda mais vergonhosa do que Sayid. Acho que teria sido melhor deixá-lo morrer logo na Black Rock então. Mas como disse, questionar só levará a maiores dúvidas, perdendo assim a oportunidade de apreciar o verdadeiro propósito da série. Quando Kate pergunta a razão para ter sido riscada da lista, Jacob responde que foi por ela ter tornado-se mãe, mas que sendo apenas um risco na parede tudo dependia de aceitar ou não. Mas apesar de encontrarem nessa tarefa a razão para a morte de seus companheiros, Jack também precisa tomar essa decisão, fazendo disso uma questão de livre arbítrio. Seria a forma que vejo para desapegar-se de sua vida, assim como vemos na realidade alternativa, com John Locke finalmente decidindo se submeter à cirurgia e percebendo existirem ocorrências que se mostram além de sua vontade própria.
Embora tenha demorado demais para que essa realidade paralela de fato engrenasse, agora é interessante acompanhar cada um dos personagens passando a acreditar no plano de Desmond. Depois de convencer Hurley através do encontro com Libby (que parece ter despertado nele toda noção de sua outra vida), Desmond age de duas formas diferentes para despertar o restante dos personagens. Com Ben e Locke, suas ações beiram a insanidade mas demonstram certa despreocupação com o que possa acontecer nesse mundo. Como se por maior que fosse o crime cometido ele estaria blindado por essa "missão" de colocar as coisas em seu devido lugar. Já com Kate e Sayid, sua aproximação foi parecida com a de Jacob, dando uma segunda chance a quem já sentia-se abandonado na vida. Assim, Desmond pretende reunir todos de baixo do mesmo teto, quando finalmente descobriremos quem é a misteriosa ex-esposa de Jack (que só pode ser Juliet, certo?) e qual seria seu propósito. Ainda que tenha sido uma forma interessante de concluir a história de Ben nessa realidade, satisfeito em ouvir de Danielle sua importância na vida de Alex, espero que ele tenha ainda sentido nessa conclusão além da parceira com o UnLocke. Até porque, agora que Ben está livre de todas as regras impostas durante a vida e pode finalmente acertar as contas com Widmore, sua jornada merece uma resolução digna, ainda mais por ser o personagem que melhor representa a complexidade humana, sejam nos erros ou nos acertos, de toda a série.

Não queria lembrar, mas só faltam três dias até o "The End".

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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