sexta-feira, 14 de maio de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E08 - Mark of the Brotherhood

por Rafael S


Com Spartacus deixando seu passado para trás, era natural que sua fama nas arenas disparasse e sua lenda começasse a ser construída entre o povo de Cápua. Assim, sua glória continuou, para felicidade de uns (Batiatus) e ódio de outros (Ilhityia). Mas como o tempo passa, e o ludus necessita de não apenas um mas vários gladiadores em seu plantel, chegou a época de uma nova leva de escravos chegarem ao ludus, e tentarem ganhar a marca da irmandade ao qual o título se refere, a marca dos gladiadores de Batiatus.

Esses novos candidatos, lutando por suas vidas e para se tornarem gladiadores, marcaram o início de um novo ciclo no ludus. Interessante ver aqueles novos personagens passando pelas mesmas dificuldades e desafios que Spartacus passou assim que chegou, e ver o herói em uma posição bem diferente agora gozando de fama e prestígio. E até por isso acaba pegando "leve" com os novatos (tendo em vista, claro, a noção de leve na vida naquele local), por ter a consciência deles estarem trilhando um caminho que já foi seu. E dentre esses novos candidatos a gladiadores (além, é claro, daqueles que só estavam ali para morrerem devido a demanda de cenas de violência da série) se destacaram os irmãos alemães Duro e Agron, e o gaulês Segovax. Este curiosamente ganhou destaque imediato pelo seu...dote. Sim, o tamanho de sua "ferramenta" foi capaz de deixar todas as mulheres da série estarrecidas, em uma cena engraçada, embora não tenha certeza que esse tenha sido o objetivo dos roteiristas com ela. E com seu grandioso dote, ele fisgou Ilithyia instantaneamente, e ela o adquiriu como seu escravo. Mas claro que o que menos a interessa são as batalhas na arena, e sim seus jogos de sexo e poder.

O roteiro desse episódio foi construído de modo um pouco diferente dos anteriores. Aqui, Spartacus aparece mais como um coadjuvante, como que seu "endeusamento" criasse um distanciamento do personagem não só no universo da série, mas também com o espectador. Assim, ele acaba se tornando um objeto digno da atenção de diversos personagens: um bravo guerreiro, exemplo para os novos candidatos a gladiadores, inclusive Segovax; um rival para Crixus, finalmente com a saúde restabelecida, mas ainda sem a habilidade de antes; e uma pedra no sapato de Ilithyia, que depois de demonstrar seu desgosto por ele em vários capítulos, resolveu partir para decisões extremas para livrar-se dele.

O encontro frente a frente entre Ilithyia e Spartacus, recheado de tensão, foi um dos melhores momentos do episódio. Ali deu para notar toda a raiva que ela sentia do trácio, todo e seu desejo de destruí-lo. Uma fúria tão grande que seu descontrole transpareceu para Lucretia e suas outras amigas. E em sua jogada mais vil, ela ordenou a Segovax que assassinasse Spartacus em troca da liberdade. E assim os destinos de Spartacus e Segovax se cruzaram prematuramente pela última vez. O gaulês até parecia um homem honrado, mas naquele mundo cruel, a liberdade era um bem valioso demais para deixar passar.



E assim a tragédia foi orquestrada, e um triste fim se desenhava para Spartacus. Mas ele não contava com a interferência, quem diria, de Crixus. Este não vivia momentos fáceis - embora recuperado, com certeza preferiria ter tombado na arena contra Theokoles, afinal o ludus definitivamente não era mais o mesmo: toda sua fama e glória havia escorrido para o ralo, e Spartacus, que só havia sobrevivido graças a seu quase sacrifício, havia tomado seu lugar como o grande gladiador do local. Para piorar, seu maior companheiro não estava mais ali (Barca, cuja morte ele ainda desconhecia) e o tempo no leito da morte havia enfraquecido seus músculos, e seu estado atual estava longe do seu auge. E esse último ponto ele descobriu da pior forma possível, ao ser humilhado em luta pelo trácio na frente de todos do ludus - escravos, gladiadores, guardas, Dominus e Domina. A gota d'água para Batiatus decidir vendê-lo de vez para outro ludus, considerando-o um peso morto entre seus gladiadores. O ponto mais baixo em sua carreira, contando apenas com Naevia ao seu lado lhe apoiando. Mas o destino quis que ele presenciasse o ataque de Segovax a Spartacus, e quando viu seu grande adversário prestes a morrer, não hesitou em decidir ajudá-lo. E em mais uma dessas grandes ironias da vida, Crixus mais uma vez salvou Spartacus da morte.

E por mais que não percebesse, essa foi justamente a segunda chance que ele estava precisando. Ao salvar o trácio, conseguiu fazer com que Batiatus visse que ele ainda não estava acabado e desistisse da sua venda. E mais que isso, conseguiu voltar aos olhares de Spartacus, que agora devia sua vida a ele. E assim começou a nova jornada de Crixus, renascido das cinzas. Por mais que tivesse todos os motivos para deixar Spartacus morrer, seus valores de gladiador falaram mais alto, e ele seguiu a máxima de "mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda", como se naquele ato garantisse a sobrevivência de Spartacus até a próxima vez que se cruzassem na arena para uma revanche.



E no meio disso tudo, o pior sobrou para Segovax. Embora parecesse tão promissor, teve sua trajetória encerrada prematuramente ao cair nas mãos ardilosas de Ilithyia, mas ainda assim, não revelou que ela era a mandante do atentado, nem mesmo após ser crucificado e castrado, naquela que sem dúvida foi a cena mais forte da série até agora (e olha que a concorrência é grande). Mais uma vez Spartacus: Blood and Sand levando o fator choque ao limite. E envolvido nas teias de Crixus, determinado a trilhar seu retorno ao topo, e de Ilithyia com seus planos frustrados, Spartacus dormiu para viver mais um dia, mas ciente que os perigos espreitam em todos os cantos, quer seja ele um escravo ou um renomado gladiador.

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

Um comentário:

Rodrigo Ferreira disse...

Muito bem elaborada sua análise dos episódios de Spartacus.

A série é realmente espetacular. Mas confesso que demorei um tempo pra me acostumar com o formato que ela adotou, com o modo muitas vezes caricato de retratar os acontecimentos, os exageros estilísticos, e tudo mais. Todas características que afastam pessoas atrás de uma obra que siga alguma fórmula bem definida.

Spartacus ousa não apenas na forma de contar sua história, sempre adequando seu estilo ao que pretende retratar, mas também na maneira como abraça muitos dos "tabus" existentes na indústria do entretenimento televisivo (sexo, nudez, violência, homossexualismo...). E só por isto merece atenção.

Felizmente insisti um pouco mais com a série, e fiquei muito satisfeito com o que vi.

Tramas bem elaboradas, personagens fortes, cenas de sexo e violência perfeitamente justificáveis, tendo em vista o período histórico que reproduz, e o quanto os romanos daquela época se encontravam mais próximos dos bárbaros que tanto temiam mais do que gostavam de admitir. A suntuosidade era tudo que os separava de seus inimigos. No que diz respeito a baixeza moral, ambos empatavam.

Continue o excelente trabalho. Essa série merece uma "defesa" muito bem argumentada, como é o caso da sua.