terça-feira, 7 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x06 Waldorf Stories

"Who claps for themselves?" – Stan Rizzo

Reconhecer seus próprios méritos é sempre importante, ainda mais num ramo criativo e competitivo como a publicidade. Afinal, sem confiança em si mesmo, não há como superar barreiras ou tentar desafiar o esperado. Mas por maior que seja a modéstia, reconhecimento público é sempre bem vindo para quem já busca afirmação no mercado (veja só o tema particular/público aparecendo novamente). Ainda que Don Draper dissesse que um Clio não faria diferença em seu trabalho, a apreensão poucos segundos antes de seu anúncio, retratada na foto acima, e a insana comemoração em seguida revelam que esse reconhecimento seria ao menos um alívio na sua conturbada vida pessoal. Não foi à toa que esse (meta-)episódio foi ao ar exatamente no dia em que Mad Men venceu pela terceira vez seguida o Emmy de melhor série dramática -- o que me faz questionar ainda mais a qualidade do episódio anterior como eventual tapa-buracos. Se por vezes Don Draper parece dar voz a um discurso do próprio Weiner, fico bastante satisfeito que a série aproveite essa oportunidade para embarcar ao lado de seu protagonista a uma verdadeira descida ao fundo do poço. Após vencer o Clio, Don Draper deixa o orgulho e a bebida subirem à cabeça partindo então para arruinar sua apresentação para os cereais Life. A começar pela patética volta olímpica puxada por Roger, Don não aceita ter sua ideia inicial rejeitada pelo cliente e começa a improvisar disparando os maiores clichês publicitários. Até que a frase repetida exaustivamente nos trabalhos do pateta que Roger queria contratado (primo de sua esposa) é aceita pelo cliente. Parece que o subconsciente de Don (Dick Whitman?) esperava apenas por uma brecha para pregar uma peça. Mas não seria este pequeno intervalo que faria a comemoração terminar ou diminuir de intensidade. Mesmo após tomar outro fora de Faye Miller, Don Draper leva duas outras mulheres (ou quem sabe até mais) para sua cama ao longo do final de semana. Sem nem saber o nome de nenhuma delas, ele só retoma a consciência dois dias depois, sendo acordados aos berros por um telefonema de Betty, cobrando por ele não ter aparecido para cuidar dos filhos. Se até o episódio anterior Don Draper orgulhava-se de pelo menos cumprir com todas as suas obrigações como pai, agora não resta nem mais esse motivo para se apegar.

Além de representar o momento de apreensão, essa imagem de Roger, Joan e Don de mãos dadas por baixo da mesa também simboliza este vínculo oculto entre os três, que aparece revelada através dos flashbacks do primeiro contato de Roger com Don. Desde a fundação da SCDP, Roger é quem tem sido mais subestimado pelos seus sócios. Apesar de ainda ser importante para manter o vínculo com a Lucky Strike, sua presença na agência é resumida em fazer social com clientes ou arrumar material para escrever sua própria biografia. Além disso, Roger sempre se orgulhou de ter descoberto Don Draper, mas descobrimos que mesmo com milhares de oportunidades para ter seu trabalho avaliado, Don só conseguiu iniciar sua carreira a base de muita insistência. E com um certo truque, digamos assim. Mas depois de usar indevidamente a única ideia do novato Danny Siegel (Danny Strong, uma das escalações mais inusitadas da série, conhecido como o Jonathan de Buffy e o Doyle de Gilmore Girls), Don Draper se vê obrigado a contratá-lo e assim determinado a repetir os mesmos equívocos de Roger. Mad Men sempre apostou no estabelecimento destes padrões, até como uma forma de evitar deixar seus temas datados. Neste episódio além da sucessão na SCDP, somos constantemente lembrados do abuso do álcool, até com outra constrangedora participação de Duck Phillips.
Assim, com a ausência dos mais experientes, sobra toda a responsabilidade para os garotos prodígio da agência, Pete e Peggy, que também buscavam alcançar o devido reconhecimento. Pete era o único sensato/sóbrio o suficiente para sugerir que adiassem a apresentação aos clientes da Life. E ele nem precisou ouvir um discurso de Don para perceber o potencial desastre. Depois de ficar sabendo que tramavam a contratação de Ken Cosgrove pelas suas costas, Pete vem cobrar de Lane o mesmo respeito que os outros sócios. E dessa mesma maneira, durante sua conversa franca com seu antigo desafeto, Pete mostra que somente através do respeito mútuo essa nova hierarquia poderia funcionar. Já Peggy merece um capítulo à parte nesta temporada, cada vez mais se tornando a personagem preferida do público. Ainda que ela tentasse alertar de todas as formas possíveis o erro de Don Draper, a única coisa que ela recebe em troca é uma reclusão ao lado de um diretor machista num mesmo quarto de hotel. Peggy parece cada vez mais incomodada pelas constantes ameaças de Stan Rizzo ao seu conservadorismo, até que decide finalmente responder ao seu blefe. E a partir daí, com ambos nús, ela vira o jogo apostando na irresistível sexualidade feminina. Mais uma vez Peggy percebe que não vale a pena tentar encarar os homens de igual pra igual, mas sim explorar seu diferencial. Chama atenção também seu ressentimento na campanha da Glo-Coat por não reconhecerem seu devido valor, tornando-se ainda mais intrigante por nunca ter sido abordado seu desenvolvimento, permanecendo até então "fora da tela" -- assim como o apagão de Don por dois dias ou seu sorriso triunfal ao subir o elevador. Se até então Peggy era tratada como uma extensão do próprio Don Draper, sua perplexidade ao ter de providenciar a contratação do novato, representa sua mais profunda desilusão com o chefe. É aquela desilusão de quem acaba de perceber que seu superior pode não ser tão competente ou genial como se esperava, algo que qualquer um é capaz de se identificar. Como disse anteriormente, mérito para mais uma vez explorar um tema universal, capaz de se repetir naquela época, hoje mesmo ou até no futuro.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Nenhum comentário: