sexta-feira, 10 de setembro de 2010

[The Wire] 1x13 - Sentencing

E chegamos ao final da brilhante Primeira Temporada de "The Wire", concluindo apenas uma etapa da maratona que ainda deverá cobrir mais outras quatro temporadas desta que é considerada uma das melhores séries de todos os tempos.


1x13 - Sentencing



"All in the game..." - Traditional West Baltimore


Uma das coisas mais fascinantes deste season finale é a capacidade que os autores da série tiveram em “revisitar” toda a temporada. Diálogos, situações, esclarecimentos. Muita coisa é retomada, mas sem com que isso trave o desenvolvimento narrativo, que as coisas sigam adiante.


Há uma noção bem clara de repetição (Poot assume posição e falas de D’Angelo; Bubbles volta às drogas e roubos; Stringer continua com os negócios; Omar volta a fazer o que faz melhor), ao mesmo tempo que nos traz um encerramento altamente satisfatório ao notarmos que, embora o movimento pareça cíclico, os personagens foram afetados de maneira irreversível – o jogo continua, a guerra não acaba, mas as peças já não são como eram antes e, seja lá o que venha na segunda temporada, não é possível para os autores (e nem deve ser a intenção) manter o status quo.


Claro que encerramento satisfatório não significa o mesmo para alguns personagens: toda a investigação do destacamento resulta em penas brandas para Avon, McNulty vai parar onde não gostaria de ir (como já havia dito no piloto e, episódios depois, alertado por Lester), Daniels não consegue sua promoção por fazer o que considerava certo, Greggs continua no hospital. O FBI mostra-se uma instituição tão desinteressada nos casos de drogas, quanto Burrell mostrou-se um obstáculo na investigação do dinheiro. A América anunciada no piloto de The Wire chega aqui ao seu ponto mais pessimista e trágico.


Esta crítica feita pela série encontra ressonância na forma como dá peso à violência dos atos da gangue de Barksdale. A estupenda seqüência em que D’Angelo se oferece para entregar o tio tem aquele momento em que relembramos todos os homicídios da temporada, com uma advogada devidamente horrorizada com o que vê. E que força dramática tem a foto de Wallace, por tudo que conhecemos dos acontecimentos...


Esta seqüência, que culmina no discurso de D’Angelo sobre a falta de opções e liberdade do meio violento onde cresceu, é a mais emocionalmente forte do episódio, juntamente com o encontro entre McNulty e Greggs. São momentos cuja carga dramática é intensificada (para além das grandes atuações de Gilliard Jr. e Dominic West) por toda a construção e relação entre personagens, cuidadosamente realizadas durante toda a temporada. Da mesma forma que é totalmente compreensível que alguém como D’Angelo mude de idéia após ouvir de sua mãe o discurso sobre a importância da família.


Além de encerrar a temporada de forma brilhante, a curiosidade sobre o que virá a seguir é enorme, mesmo que não tenha acabado com um cliffhanger. Isso se deve pela separação da maior parte dos personagens (alguns na prisão, outros em funções diversas) e “The Wire” já provou que não trabalha na chave da conveniência do roteiro. Ou seja, não me parece que Avon e D’Angelo simplesmente fugirão da cadeia, ou que McNulty voltará para a Homicídios, e que toda a turma se reúna novamente para tentar desmontar o esquema de Stringer. A série é cuidadosa demais com detalhes, com um desenvolvimento realista dos acontecimentos e, apesar de eu já saber que alguns personagens permanecem até a quinta temporada, é estimulante pensar no que os autores planejaram para criar mais situações e temporadas completas que fascinaram tanta gente.


A viagem, até aqui, foi incrível e está apenas começando. Vamos à segunda temporada.




Hélio Flores
twitter.com/helioflores

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