quinta-feira, 15 de maio de 2008

[Battlestar Galactica] 4x04, 4x05 e 4x06 - "Escape Velocity", "The Road Less Traveled" e "Faith"

Bom, não estou tendo muito tempo para comentar a série aqui no blog, mas sempre reservo um tempinho para ler um pouco sobre as opiniões alheias. Francamente, não consigo entender a ampla maioria dos que participam da comunidade “oficial” do orkut, que tem criticado os últimos episódios exibidos. Porque a série vem explorando e desenvolvendo temas que sempre estiveram lá. Então qual o problema? A qualidade do texto, o desenvolvimento de personagens, os conflitos... tudo continua impecável, até mesmo os efeitos especiais (o acidente com o viper de Racetrack em “Escape Velocity”, o encontro de Starbuck e cia. com a basestar cylon em “Faith”) estão presentes e superiores aos da temporada passada.


Parece que tem havido uma necessidade cada vez maior de que respostas aos grandes mistérios da série sejam logo resolvidos, uma ansiedade que só aumenta a cada episódio que se aproxima do fim definitivo. A comparação entre “Battlestar Galactica” e “Lost” parece inevitável, no sentido de que ambas possuem uma mitologia muito discutida pelos fãs, que ainda estão cheios de dúvidas. A diferença, penso eu, é que o enigma faz parte da diversão de “Lost”. O jogo aí é se reinventar, eliminar mistérios não com respostas, mas com novos mistérios, brincar com as expectativas do espectador. “Lost” se sustenta (e faz isso maravilhosamente bem) pelo enigma. “Battlestar Galactica”, não. Ela traz alguns enigmas, sim, mas para além da diversão, há uma temática proposta, de usar a ficção científica como alegoria para comentar algumas questões próprias da humanidade, que serão sempre atuais. Não gostar do Baltar messiânico ou do Tyrol enlouquecido, a esta altura, me parece que é não entender o espírito da coisa.



Então como as coisas estão após estes três últimos episódios? Uma crise existencial em massa, começando pelos quatro novos cylons, que tentam se reestruturar, com níveis variáveis de sucesso. Tyrol sofreu as mudanças mais drásticas. Após perder a esposa, o que mais fazer? A cabeça raspada se tornou o símbolo máximo para mostrar sua despersonalização, uma identidade caótica que precisa urgentemente de uma ordenação. E o que funciona quando nada mais parece fazer sentido? A religião, claro. O culto de Gaius Baltar não poderia ter se fortalecido em melhor hora. Desígnios divinos? A aceitação de Tyrol foi muito bem construída, do ódio absoluto ao aperto de mão unificador. Que James Callis é um excelente ator, já sabíamos desde a primeira temporada. Mas Aaron Douglas nunca se mostrou tão grandioso.



Tigh também está passando pelos seus momentos difíceis. Se podemos acreditar que ser uma máquina não muda o que sempre fomos (como ele acredita), é bem verdade que nesta nova condição quem sabe possamos apagar coisas que fizemos. Eis o grande dilema de quem quer fingir que não é um cylon. Porque Tigh traz o peso de ter matado sua própria esposa, por traição a causa humana em New Caprica. É possível deletar a culpa que sente ou desligar a consciência? Tori, a nova cylon mais bem resolvida, acredita que sim, mas Tigh vai buscar em Six as respostas que procura porque, afinal, ela consegue conviver com o peso de ter matado toda a civilização humana. E é a dor que ele encontra como possível “salvação”. Nada mais cristão: é o sofrimento físico, da carne, que purifica a alma, e enquanto Six inflige dor a Tigh, Baltar paga sua própria penitência, definindo de uma vez seu papel protagonista na religião cylon, ao apanhar (e ser levantado por Six?) em nome de sua causa. Bom lembrar ainda que momentos antes Tori ensinava a ele algumas coisinhas sobre prazer e dor. A nova cylon, ainda misteriosa, parece peça fundamental e articuladora nos eventos que ligam os demais, especialmente agora que Roslyn tem lhe dado cada vez mais autonomia. A pergunta que fica é: Tori tem consciência de tudo o que faz e ainda fará?



O outro cylon é Anders, que ficou um tanto apagado nos últimos episódios, mas retornou com força total em “Faith”. O mais interessante é que Anders não se expressa com palavras, não sabemos o que se passa em sua cabeça, tal como sabemos em relação a Tyrol, Tigh e (em menor intensidade, claro) Tori. Ficamos apenas com alguns comportamentos, com o que é dito por outros e a ambigüidade de seu olhar. No último episódio, Anders atira em Gaeta, se volta contra o motim, mas não se sabe se é por amor a Starbuck ou uma necessidade ou curiosidade sua para saber o que encontrar na basestar. Mais uma interferência de um dos quatro cylons vital para os acontecimentos do futuro. E o que teria acontecido se ele tocasse a híbrida? Impressionante a tensão enorme causada unicamente por sua presença naquele ambiente. O momento mais tocante, sem dúvida, foi seu gesto ao tentar aliviar a morte de uma Sharon. Ato de humanidade ou de “cylonidade”?



Porque os cylons estão cada vez mais humanos, ou as diferenças estão mais difíceis de se perceber. Seja Athena dando uma bela lição a suas colegas Sharons, seja a mesma Athena sendo bastante desumana ao não se importar com a morte definitiva de uma das cópias, seja Six matando Barolay friamente e por trás, seja a mesma Six atormentada pelo trauma de ter sido morta friamente por Barolay em New Caprica... não há fronteiras entre bem e mal. Há, sim, uma falta de compreensão de seu lugar no mundo, de não saber o que fazer com os traumas, ressentimentos, com o desejo de vingança. Talvez a fé em algo maior seja a solução. Porque só essa crença em um poder superior, de que há um papel importante para cada um nessa vida, que faz Starbuck se aliar a Leoben, alguém que tanto lhe fez mal. E novamente temos Baltar e sua religião que canaliza toda essa força superior em um único deus. E eu só espero que os criadores de “Galactica” não concluam a série como uma pregação fundamentalista enfatizando o cristianismo como essencial para dar sentido a nossa vida...



Com toda essa crise vivida por boa parte dos personagens, ainda temos Roslyn tendo seu contato particular com a religião dos cylons. Incluir uma moribunda para lhe apontar este caminho não é dos recursos mais originais, mas a presidente está numa ala hospitalar convivendo com outros doentes. Parece natural que alguém lá esteja ouvindo as pregações de Baltar. Estas seqüências em “Faith” não tiveram a força de todo o resto do episódio, mas certamente é de suma importância para o que virá pela frente.


E o que virá pela frente, afinal?





Hélio.

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