sexta-feira, 15 de maio de 2009

[LOST] 5x16-17 The Incident

Antes de mais nada, ainda que seja avesso a comparar temporadas, não posso deixar de indicar semelhanças entre esse final e vários que já acompanhamos ao longo da série. No ano passado, lembro que a noção de que tudo não passaria de um simples fechar de pontas na história era mais do que evidente, mas a forma como tudo aquilo foi articulado, abrindo imensas possibilidades com os flashforwards dos Oceanic Six, deixou o episódio bastante interessante. Nesse caso, minha baixa espectativa já dizia que nada poderia me surpreender, mas no momento que tudo terminou naquele fade to white e com o título da série invertido, juro que não sabia se deveria rir ou chorar. Além do episódio ter seguido praticamente dentro do esperado -- o grupo liderado por Jack indo até as últimas consequências para detonar a bomba, e Locke cumprindo sua promessa de matar Jacob -- agora sobra muito pouca coisa para esperar da próxima temporada. Era como naquele final da abertura da escotilha, que poderia sair tanto um dinossauro de dentro quanto estar vazia. Claro, analisando por esse lado e lembrando que Desmond foi introduzido nesse contexto, confio plenamente que os roteiristas vão dar uma saída satisfatória para tudo isso, mas não custava nada ter aquele aperitivo "We have to go back", certo? Embora ainda acredite que nada deva mudar, e que todos aqueles que tentaram impedir o Incidente voltarão a sua linha normal do tempo, as possibilidades são tamanhas que chego a acreditar que a produção está esperando aprovações de orçamento e de elenco para tomar suas decisões. Pois é, tempos de crise...

Pra sempre, Juliet Burke. Podemos ficar meses aqui discutindo se esse foi o derradeiro último episódio de Juliet, mas ainda acredito que não. Por mais que me provem que aquela despedida e seu sacrifício seriam dignos, Juliet merece mais do que isso. Primeiro porque Elizabeth Mitchell é a melhor atriz no elenco com sobras, basta acompanhar as reações dela e Lilly enquanto a bomba caía para perceber. Segundo porque seu verdadeiro objetivo, o de reencontrar sua irmã, ainda não foi cumprido. Imaginava até que ela saísse da Ilha em 77 e esperasse por trinta anos para aproveitar esse momento único. Sua morte agora seria uma das opções mais infelizes de toda a série, ainda mais levando em consideração os motivos para isso acontecer. Ou a falta de motivos. Era tão idiota que uma pessoa racional como ela tomasse essa decisão de seguir Jack, abrindo mão de James por uma simples troca de olhares, que inseriram um flashback completamente desnecessário (por não ter Jacob e estar fora do formato do episódio) para justificar seu ato. Mais decepcionante ainda é ver o desiludido Sawyer também desistir, achando que esquecer tudo fosse a melhor solução para seus problemas. Se ainda acredito na volta de Juliet? Claro, e já que ela estava tão perto da fonte do magnetismo, que seja nos moldes de Desmond pós-implosão da escotilha.
Entre os outros personagens, nenhum dos motivos foram muito convincentes também. Kate mudou da água para o vinho na simples menção de Aaron, Miles atenta-se para o óbvio mas não tenta impedir mesmo assim e Hurley simplesmente dirige olhando para a estrada. E posso estar exigindo verossimilhança demais da série, mas não acredito que nenhum deles tenha considerado os habitantes da Dharma, que conviveram durante esses longos três anos. Ainda que eles estivessem ameaçados, nenhum deles faz o papel de mal nessa história, como se fossem agentes da Fulcrum ou qualquer organização criminosa que se preze. São afinal, simples cientistas desenvolvendo seu trabalho, e aposto que metade deles sejam muito mais bacanas que Jack ou Kate. E falando no casal sem sal, posso até acreditar que Jack teria muitas outras razões para desistir de tudo que passou na Ilha durante essas cinco temporadas, mas resumir tudo isso em seu amor por Kate foi uma das coisas mais patéticas que já acompanhei na televisão. Ele merecia tomar aquela surra de James até o final da série e honestamente, se esse triângulo for mesmo o status quo da série, ainda não sei porque perco tanto tempo assim com esses personagens. Certo, talvez por momentos como a volta de Rose e Bernard curtindo sua aposentadoria da série, na maior conversa de botas batidas (pra quem odeia losermanos, ignore o link e essa passagem).
O que mais me irritou nesse episódio é que pela primeira vez preferi a parte de mitologia de Lost. Afinal, a introdução de Jacob naquele início, só esperando a chegada de novos habitantes (no Black Rock?) ao lado de seu antagonista (Esau?), foi uma das cenas mais emblemáticas de toda a série. Essa noção de que tudo continua acontecendo indefinidamente e sempre trazendo algum tipo de progresso, é bem interessante e rege grande parte de nossas próprias vidas. Por outro lado, ainda acredito que por tudo o que cerca o mito de Jacob, existiam histórias de maior impacto para serem contadas nesses flashbacks, ainda que acredito na sexta temporada dando conta disso. Até porque, inserir um "novo" personagem na história pregressa dos sobreviventes é algo tão comum para Lost que apesar de terem sido em passagens marcantes, trazendo desastres, palavras de conforto ou direcionando esses personagens, tudo foi simples demais na minha opinião. Em todo caso, pra todos que já acreditavam que Locke estava estranho demais nessa sua ressurreição, nada mais incrível do que colocá-lo como esse antagonista de Jacob, que passou por todo tipo de provação para chegar naquele momento e usar a vingança de Ben como forma de matá-lo. Não sei até que ponto esse "Esau" já influenciava a vida dos personagens, mas não deixa de ser curioso pensar que tudo o que Ben sofreu na vida possa ter sido por sua culpa, até mesmo a morte de Alex. Nesse caso, Widmore talvez agisse sob seu comando do lado de fora, considerando até sua impossibilidade de voltar à Ilha. Mas o mais importante de tudo isso é que apesar de existir mais uma vez aquela noção de dualidade, os lados de bom e mau não ficam claros. Até porque Ben, como comandado de Jacob, utilizou-se dessa morte de Nadia pra fazer de Sayid um de seus capangas. Também ainda não faço ideia de que lado fica Ilana e seu grupo nessa disputa, ainda que ela estivesse respondendo ao pedido de ajuda de Jacob.

Por tudo isso, apesar de estabelecer um caminho fascinante com a morte de Jacob, esse final de temporada foi uma frustração imensa por não dar importância alguma aos personagens que fizeram essa história. A viagem no tempo teve sim seus momentos brilhantes, principalmente ao lado de James e Juliet, mas terminou com a jornada mais desgastante de todas e ainda com grandes chances de servir pra nada. Ou alguém ainda acredita que eles impediram o tal incidente? E que assim, o grande desenvolvimento para toda a mitologia da série, a morte de Jacob e ascensão daquele que se apresentava como Locke, poderia ser apagado nesse simples clarão? Ainda abatido pelo destino incerto de Juliet, me despeço dessa temporada de comentários agradecendo a atenção de todos e esperando a opinião de vocês. Quem sabe ainda teremos aquela rodada final de conclusões ou no mais, estarei de volta com certeza para acompanhar a terceira temporada de Mad Men em agosto. Grande abraço a todos!

Obs.: Nenhuma foto dos outros personagens, porque eles simplesmente não merecem. :P

e.fuzii

7 comentários:

Hélio Flores disse...

Queria ter paciencia para elaborar e escrever sobre todas as implicaçoes religiosas desse episodio. Mas nao tenho saco.

So registrando, antes dos fãs enrustidos do Fuzii aparecerem, discordo de quase tudo, pq achei o episodio sensacional, que so perde para o final da terceira temporada pq naquele havia um choque absurdo reservado pros 2 minutos finais.

Enfim, devo concordar que o quadrangulo amoroso ate ameaçou estragar um pouco as coisas (menos pelas intençoes e mais pela falta de desenvolvimento para se chegar naquele ponto), e espero que a Juliet nao tenha saído da série, mas que conclusão podemos chegar com aquele flashback com clima de despedida (mal feita, mas ainda assim...)?

Abços!

Celia Kfouri disse...

Sem dúvida a sub-trama envolvendo Jack, Kate, Sawyer e Juliet foi a mais fraca e a que me pareceu mais 'improvisada'. O flashback com a separação dos pais de Juliet foi muito ruim!
Mas relevo, completamente. Tá mais que perdoado.

Adorei o episódio, adorei a sensação de que realmente sabiam o que estavam fazendo desde o começo, e que eu não vinha me prestando ao papel de cobaia na apresentação de tentativas aleatórias e desesperadas para a resolução da trama (do tipo, "vamos por aqui, se der certo, fine! se não, vamos por ali...")

Me convenci de que nao era nada disso. A história parece estar muito bem construída e, por mais que tenham ocorrido muitas falhas pelo caminho, na maneira de contá-la, hoje acredito que serei recompensada, após tantos anos acompanhando a série.

O incrível é que estamos, há anos assistindo a apenas metade da história. A outra metade, ou o contraponto de tudo o que sabemos até hoje, começa a ser mostrado agora.

Se o Hélio não tem saco, o que eu não tenho é conhecimento. Vou ter que dar uma lida por aí na história desses tais irmãos do antigo testamento. Tomei pau no catecismo (juro!), nunca me aprofundei em qualquer estudo bíblico (ainda que por razões históricas) e associo "Esaú e Jacó" a Machado de Assis e listas de livros obrigatórios para vestibular.

As superficialidades escritas sobre os dois, nos comentários ao episódio por aí, não dizem grande coisa, porque até eu conhecia. Falo das tais 'implicações' mesmo ( no judaísmo, cristianismo, as diferentes versões em diferentes civilizações, etc). Vou tentar ir atrás...

Já viram, não é? Uma ajudinha do Hélio seria muito bem vinda.

Um abraço!

Hélio Flores disse...

Celia, nem estava pensando nas referencias mitologicas, que tb conheço pouco ou quase nada. O que menos me estimula em Lost sao as associaçoes que andam fazendo com divindades egipcias e blablabla. E sobre Esau e Jaco, nao sei se ha muito a comparar: no genesis, ambos sao gemeos, Esau nasce primeiro e Jaco vem atras, segurando no calcanhar de Esau (o nome Jaco tem esse significado "que segura o calcanhar", "que leva vantagem" - vai ver morar num calcanhar gigante nao seja por acaso, ne?). Jaco ira roubar o posto de primogenito de Esau e se passara pelo irmao pra ganhar a bençao do pai e toda sua riqueza. Ambos serao inimigos, mas no final fazem as pazes. Jaco, alias, é um puta dum covarde.

Enfim, quando falei em religiao é mais numa defesa de certa espiritualidade e fé do ser humano. Do inicio, com Jacob discordando de sua contraparte sobre um suposto aprendizado dos homens diante de toda violencia aparentemente ciclica que cometem, passando por toda sua serenidade durante o episodio, pregando o livre arbitrio, e ainda Rose e Bernard pregando a paz, a aceitação e uma certa contemplaçao da vida. E toda aquela historia dos primeiros episodios, Locke e o gamao, as pedras brancas e negras, dois lados opostos, etc.. tudo fazendo sentido agora.

Acho tudo muito bonito. Mesmo sendo ateu. Hehehe

Hélio Flores disse...

Quando falo aí em cima em morar num calcanhar gigante, estou me referindo ao Jacob de Lost mesmo, hein?

Celia Kfouri disse...

Sim, sim! Eu sei!

Nao mencionei detalhes porque certamente vou esquecer muitos, que depois acharei que eram mais importantes. Mas o jogo de gamão, lá no começo da primeira temporada e esse finale da quinta mostram o tanto que a história já estava construída lá atrás. Isso para não falar no tal livro cujo manuscrito estava no Oceanic, lá no começo. Lembra que o título era Bad Twin? Pois é...

Sei que essa história dos gêmeos tem leituras diferentes, de acordo com a religião. E esses significados diversos é que vou procurar entender. Quem compreende e aceita melhor a atitude de um e do outro e porque; o que deve ser valorado, para alguns, e ao mesmo tempo é motivo de censura para outros. Essa dualidade me parece muito interessante e eu nada sei sobre ela.

Estou fascinada, adolescente diante de uma mega descoberta. Depois de tanta coisa que Lost já me deu, sinto que abriu novas perspectivas que eu, humildemente, nem cogitava.

e.fuzii disse...

Hélio, percebo que você está agindo de forma defensiva. Você também tem muitos fãs por aí...

Mas gente, Lost sempre foi recheado dessas discussões sobre dualidades. E em todas as vertentes, até a maior delas contrapondo o homem da ciência e o homem da fé.
Sinceramente, por eu sempre preferir o lado do desenvolvimento da trama e de seus personagens, fiquei bastante frustrado com seu final. Mas pela primeira vez, estou gostando bem mais dessas implicações da "mitologia" da série, essas figuras que ficaram por tanto tempo atrás das cortinas. É impressionante como a toda hora aparece um "flash" na mente de um episódio anterior e eu me pergunto se isso era mesmo obra de Jacob ou de seu antagonista.

Por outro lado, continuo ainda com o pé atrás, porque afinal introduzir dois personagens com essas proporções nos últimos minutos da série nem sempre é garantia de sucesso. Talvez falta aquela simpatia, aquilo te motive a querer acompanhar. Pra mim, é aquele velho ditado que saco vazio não para em pé. Mas quero esperar, as possibilidades são mesmo enormes, basta que não se percam. Porque continuo um descrente (e teimoso talvez) convicto dos Darlton, mas tenho certeza que eles não tem ainda a menor ideia de como prosseguir com tudo isso e chegar onde querem. Battlestar Galactica é uma história de sucesso nesse sentido, vamos ver como Lost se sairá.

Anônimo disse...

Já houve um tempo em que muita gente começou a reclamar da evolução da série quando ficou aparentemente claro que a história maior estaria em torno da disputa entre Ben e Widmore pelo controle da ilha. Lembram?

E se agora surgem Jacó e Esaú nada mais acontece que a prova que os personagens não são importantes para Lost.

Paulo Fabian

Eu digo isso desde que no dvd da primeira temporada há um vídeo onde os produtores comentam como escolheram alguns atores e DEPOIS criaram personagens para eles.

Para confirmar que personagens não são tudo vale lembrar que o bom doutor Jack foi salvo da morte no piloto da série e nem por isso a trama desandou. Como também aposto que só haviam planejado um líder, o Alpert, já que Ben surgiu apenas por força de Michael Emerson.

Por isso, as dualidades, o preto e branco lá do começo poderiam tanto ser transferidas para personagens já conhecidos como para os novos. E até mesmo um Nikki e Paulo.

O que também faz os esqueletos Adão e Eva serem quaisquer casais.

Claro, os episódios valorizam os personagens, mas o que vale é que todos eles são complementos de uma história tão simples e antiga como a influência do bem e do mal.