terça-feira, 15 de dezembro de 2009

[Dexter] 4.12 The Getaway - Season Finale


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Por Danielle M



Eu não esperava ser surpreendida nesta season. Mas não por baixa expectativa, apenas porque Dexter não é Lost, não é uma série que se prende a viradas mirabolantes, suspense indecifrável ou gancho persistente. Começa e termina com seus conflitos sem maiores delongas. O que é mais caro são os personagens, suas motivações, seus diálogos internos, suas verborragias, enfim, o mote são as pessoas, como elas reagem frente aos fatos que se apresentam. E por isso a considero absolutamente humana, imprevisível e coerente. Imprevisível porque quase nunca sei como eles reagirão. Os acontecimentos, os crimes, ficam para segundo plano. Sempre.

Essa temporada não foi unânime. Muitos consideraram inferior. Olha, sempre vejo Dexter com a certeza de presenciar algo em constante evolução. Ora, nenhuma season é semelhante a outra. Seja no defecho, no desenvolvimento e, principalmente, nas ações - e reações, de Dex.


Posso ser você ***


Mas esta season, ahh, esta season levou Dexter ao mais alto patamar de série dramática.
O fim de Arthur foi previsto tranquilamente por mim e por vários. Jogou a toalha mesmo. Mas quando a gente acha que acabou, que já foi coisa suficiente, vem aquele desfecho que me me fez ficar bamba. JURO! Fiquei trêmula. Não acreditava que Rita, e com ela o conceito de família para Dex, terminasse daquele jeito. Mesmo que a cena final seja um pouco óbvia e em demasia didática, ver Harrison na mesma posição que o pai, banhado - ungido - no sangue, mostra claramente que as projeções de Dex, que dez minutos antes eu sonhara ter acabado, não tem como cessar. Ser o que é. Tem peso maior? Há anos associo Dex aos preceitos existencialistas. Não poderia ser melhor, quando ele decide ser diferente, lá vem a vida, ou quiçá, a essência, empurrando de volta ao seu mundo.

Dez minutos antes do derradeiro acontecimento, Dex no mais maravilhoso monólogo interior até então, discursava sobre sua importância para Debra, Rita, e as crianças. Falava também, pela primeira vez na série, sobre a vontade de mudar. Ser diferente. Não permitir mais acesso ao "passageiro negro". Ele não queria mais se adaptar, mas se transformar, de fato. Já achava que só isso era mote suficiente para a próxima season.

Mas não! A série ganhou outro rumo. E na quinta e última temporada, não sei o que esperar de Dexter, a não ser, é claro, continuar a melhor série dramática da atualidade. Aliás, teve sua melhor audiência na noite de domingo passado. Showtime nunca conheceu tantos números!

A brilhante cena inicial, confrontando os dois inimigos tão parecidos, que já sentiram como podem ser vulneráveis, foi de arrepiar. Trinity pronunciando Dexter Morgan. Se tivesse falado "passageiro negro", rá, eu surtava. Mas aí termina a similaridade entre os dois. Arthur só compreende quem é seu algoz no final, apesar de tê-lo causado um dano irreparável. Como se, pela última vez, Trinity emergisse em Arthur para mostrar ao seu aprendiz o que os demônios internos podem fazer. Fica a pergunta. Vingança pura e simples? Mas seguindo o mesmo ritual? Ou Trinity/Arthur tinha algo a mais para ensinar a Dex? Não sei. Família é mais que pessoal, para Arthur era missão divina, mesmo que a gente tenha o senso comum de saber que todo maluco psicopata tem em sua megalomania a certeza que fala por Deus. Mas enfim, o título do completo de Dexter em português, o livro, também aborda isso: "A mão esquerda de Deus". "Cada um faz seu próprio destino", mas Dex não conseguiu apagar mesmo o que era e o que fez. Talvez se tivesse deixado esse caso pra lá.

Saída pelo caixão, Freud explica ***

A família de Arthur saiu humilhada, eles sabiam que o marido e pai era um monstro, mas não conheciam a extensão do que ele era capaz. Agora serão sempre a família do monstro. Escancarado. Essa era uma das piores projeções para Dex.

Mas a idéia de conhecer intimamente um monstro e isso torna-se público, não é nada se comparada ao que Arthur fez a Dex.

E ele perdeu muito nesta temporada. Perdeu Debra, na forçosa cena de contar o que sabia, por mais que eu entenda que era o contexto necessário, achei apressada. Taí uma revelação que merecia um episódio inteiro. E claro, perdeu Rita. Se começasse a mudança naquele exato momento em que Debra conversa com ele. Tudo poderia ser diferente.No score dos serial killers, Trinity venceu.

Bom, foi isso. O melhor desfecho de Dexter desde a primeira temporada. Feliz Natal e um ótimo 2010! Estarei por aqui ano que vem! Mal posso esperar. MESMO!




Cenas pra gente não esquecer:

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Senhoras e senhores, Jeniffer Carpenter merece a indicação ao Emmy por este ano. A desbocada Debra foi responsável por grandes momentos nesta temporada. A moça segurou muito bem! A sua cena final com o irmão, mesmo que apressada, foi absolutamente maravilhosa: "você foi a única constante boa da minha vida".
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John Lithgow foi um escolha inspirada. Ele conseguiu colocar nuances impressionante para seu Arthur. Pavoroso e gentil. Bela criação de um serial killer. Aliás, considero o melhor de Dexter até então.
- LaGuerta e Angel conseguiram salvar um romance que poderia ser tedioso para nós. Mas o bom humor e química da dupla espantou isso.
-Masouka teve bons momentos, um dos grandes coadjuvantes da série.
-A opção por modificar como Harry aparece, não mais em Flashbacks, agora como a consciência do filho, foi arriscada e parecia que não iria deslanchar. Mas no final, mostrou-se acertada e deu frescor ao código Harry.
-Dex perder a cabeça em tantos níveis.
-O desfecho mais incrível de todas as seasons.



*** Fotos: Reprodução

/danna_

7 comentários:

e.fuzii disse...

Juro que vou com calma aqui, embora confesse que precisava desse espaço para "desabafar" mesmo. Concordo com tudo que estão dizendo sobre a série ter dado um passo, ainda que em falso, à frente dos outros finales, salvo a perfeição da primeira temporada. Mas pensando bem e deixando as emoções de lado, foi mais uma bela manobra para impressionar. Antes de dizer o porquê, só queria deixar bem claro que não assisti a nenhum outro episódio dessa temporada além desse, portanto se quiserem apenas invalidar minha opinião por conta disso podem ficar à vontade.

Matar personagem importante aos 45 minutos do episódio, pra mim sempre foi complicado, mesmo que essa (irregular) caçada de Dexter a Arthur tenha tomado tempo demais do episódio. Mas basta dar como exemplo o final de "Two for the Road" em Lost, aqueles tiros em Ana Lucia e Libby, que para mim foram belas trapaças dos roteiristas. Ora, não tem um ser humano sequer que não fique chocado com um descarte a sangue frio desses.

Fora isso, a única coisa que esperava pelo menos, era que dessem tempo para Dexter assimilar essa perda da esposa. Mas não, a cena acaba realizada de forma apressada e como uma imitação tosca do "nascimento" de Dexter. Note que tudo termina com o bebê saindo carregado no colo pelo pai, deixando o paralelo mais do que óbvio. Fica claro também que o único interesse dos roteiristas com a morte da Rita, é que seja mais um personagem a deixar o caminho de Dexter. A tal virada que muita gente espera dificilmente virá, porque é cômodo demais deixar a série como está. Debra talvez seja a única esperança nesse sentido, mas não interessa ter alguém tão próximo do espectador, capaz de julgar seu protagonista. Podem alegar que estou de má vontade com a série, mas só não vejo nenhum desses indícios que fazem os otimistas acreditarem que a série seguirá esse rumo de mudança. Até que isso aconteça, só espero MESMO que Rita não vire outra voz da consciência de Dexter de agora em diante. Aí já seria exigir paciência demais de quem quiser acompanhar Dexter "educando" seu filho...

Lee disse...

Sei não, mas a cena final com o "Dexterzinho" sentadinho sobre o sangue da mãe e chorando, tal qual o seu pai há décadas atráz, me veio de súbito uma sensação de um puro oportunismo comercial por parte dos produtores.Olhando gananciosamente para os números da audiência desta season finale,não seria absolutamente fora de
propósito, que os já mencionados produtores estivessem pensando em uma sequência da série, desta feita, com o filho do nosso serial killer preferido.Afinal, o mecanismo pscológico, o gatilho subconsiênte do pequeno Dexter II, já foi acionado.Então, o experiênte papai lhe ensinaria o código Dexter.Estão dizendo que o "baque" do final foi devastador para o Dexter.Não creio muito nisso.
Só se for em termos puramente práticos...não nos esqueçamos nunca quem é Dexter realmente.Um pscopata, em que no começo da série afirmava que todas as suas "emoções" eram simuladas, enfim ele não sente pena, empatia por ninguém.Ele mesmo diz que se sentisse alguma coisa por alguém, esse alguém seria a sua irmã Débra.
Agora, o final foi corajoso, já que grande parte dos fãs da série, entre os quais, eu me incluo, não gostou nadinha da morte da Rita.Em chats ou forums de discussões nos Estados Unidos, occorre acaloradas discussões entre os prós e contras sobre o ocorrido nos derradeiros segundos deste último Dexter.

danielle disse...

Concordo que a cena final, apesar de surpreendente, foi apressada e a referência óbvia demais. Até pq Debra tinha acabo de descobrir e com isso refrescar a nossa memória.Poderiam deixar Harrison de fora.
Imagino que a luta de Dex daqui pra frente é tentar tirar um possível passageiro negro no filho. No mais, esperava uma virada, mas acho que Dex vai se tornar pior, mais frio e muito mais "assassino" na temporada que vem. A rigor, este episódio trouxe informação demais, e deixou muito para a última temporada. Talvez não tenhamos um serial fixo ano que vem, só isso bastará para ocupar Dex.

Mas continuo achando a melhor série da atualidade. E Michael C Hall precisa ser recompensado. Além de Carpenter, que brilhou como nunca com sua Debra.

Rubens disse...

Dois comentarios:

1. A autora do review foi a única, até aqui, que eu vejo comentar na internet que "LaGuerta e Angel tinham química"... Really?

2. Neste blog as pessoas parecem que queriam uma humanização do personagem. OK. Mas eu, ao menos, odiaria isso. Prefiro o personagem ser o serial killer sem sentimentos que ele sempre foi. Sem essa de "virada" para ficar mais humano.

Lee disse...

Curioso...a choradeira pela morte da Rita em Dexter continua grande entre os fãs das comunidades do orkut, mesmo entre aqueles chatos que viviam chamando-a de chata e pedindo que ela morresse.Vai entender...

e.fuzii disse...

É por todo esse fanatismo de campanhas e abaixo-assinados que pra mim Dexter já era. Não duvido mesmo que a situação que propus (Rita servindo de consciência) tem grande chance de acontecer.

E Rubens, também sempre fui contra essa humanização do Dexter. Pra mim, a série começou a desandar justamente quando começaram a jogar isso pra torcida.

Lee disse...

Ô, danna, quanto a sua observação do Harry não mais aparecer em flashbacks, como nos primeiros anos da série, e depois(agora),como consciência do Dex, foi arriscada sim, mesmo porque tem muita gente, inclusive jornalistas, achando que trata-se de um fantasma,E já vi um grande número de fãs da série se referir às aparições do Harry assim.Acho que é falta de atenção à estória.Mas, sem dúvida deixou mais prática a compreenção de detalhes do universo dexteriano