terça-feira, 26 de janeiro de 2010

[FNL] 4x10 I Can't

por e.fuzii
Pronto, agora sim. Porque é diante de um episódio tão consistente e coerente como esse que podemos garantir que qualquer deslize de Friday Night Lights é facilmente compensado no final. Apesar de ainda faltar algum grande momento em campo, a situação paralela de abandono envolvendo Becky e Vince foram os arcos dramáticos que valeram a visita a East Dillon nessa temporada. Já dizia Dr. Paul (de In Treatment) que inverter a ordem natural, quando um filho tem de cuidar de sua mãe, é de uma crueldade absurda e traz consequências psicológicas seríssimas. Assim, parece impossível não sentir a dor de Vince ao lado de sua mãe, totalmente rendido, procurando por alguma simples explicação para esse abandono. E mesmo que a oportunidade dada por Ray esteja dando certo, o que já aparece até no seu curioso interesse por Vince dentro de campo, sabemos que para aqueles que vivem em East Dillon ter apoio serve apenas como luxo perto da falta de recursos. Sem ter qualquer outra saída a curto prazo, Vince decide se entregar novamente ao mundo do crime e recebe uma arma de Calvin e seu capanga, já para mostrar a gravidade da sua decisão. Pelo envolvimento dos irmãos Riggins com os desmanches, fica até um certo receio de que essas duas tramas cruzem-se, agora que eles decidiram pular fora do negócio.
Enquanto isso, Becky continua enfrentando todos os dilemas possíveis ao redor de sua gravidez. Logo aparece mais um obstáculo, quando acompanhamos a família de Luke na Igreja no domingo pela manhã, ouvindo o quanto o jogador é um orgulho para a comunidade. Parecia questão de tempo para que ele contasse aos pais, mas não a tempo de convencer Becky a mudar de ideia. Com certeza lidar com esse pecado será o grande drama de Luke a partir de agora, vindo mais uma vez provar a competência dos roteiristas em aprofundar as escolhas desses personagens. Outro destaque foi a forma como usaram a dinâmica Becky e Tim Riggins -- ele como "veterano" na série -- para aproximá-la de Tami Taylor, que mais uma vez mostra-se perfeita ao explicar as opções que a garota teria. Se na semana passada escrevi sobre manter em suspense se Tim Riggins poderia ser o pai do filho de Becky, aqui a dúvida aparece logo de cara na casa dos Taylor até que Tami, com imensa surpresa, diz que eles parecem ser amigos. Restam ainda uma série de dúvidas do casal em relação ao futuro de Julie -- que traz ainda seu amiguinho para um incômodo jantar -- até ponderando sobre uma possível gravidez.
Mas nada se compara à triste indecisão de Becky, que amparada pela mãe acaba optando pelo aborto. É triste perceber que a delicada relação das duas funciona em duas vias, como se a mãe de Becky, agora com uma maior perspectiva, estivesse arrependida de não ter tomado decisão parecida quando ficou grávida, ou que não quisesse que a filha cometesse o mesmo "erro". Ao mesmo tempo que a mãe é a conselheira ideal para a situação, Becky experimenta a mais amarga rejeição. Roteiro bom é assim, quando explora todos seus paralelos e leva essas relações às últimas consequências. É por essas e outras que Friday Night Lights desponta-se diante de qualquer outra série que tente lidar predominantemente com adolescentes.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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