domingo, 16 de maio de 2010

[LOST] 6x15 Across the Sea

por e.fuzii
Bom, sinceramente não sei mais como lidar com você, Lost. Se posso me apropriar de uma comparação feita por uma amiga ainda no início da terceira temporada, minha relação contigo é como num casamento ruim (e nem precisei ser casado para perceber isso). Nessa semana, é com muito pesar que anuncio que estou pedindo divórcio. Busco uma separação amigável, após tantos momentos incontestáveis de felicidade vivendo ao seu lado. Afinal, depois de elogiar o episódio anterior por finalmente nos levar para uma direção correta, revelando os reais planos do Homem de Preto e estabelecendo-o como o grande oponente da temporada, nesta semana fomos desviados novamente do caminho quando voltamos centenas de anos para acompanhar o nascimento de Jacob e o Homem de Preto -- que ainda sem ter seu nome revelado já parece virar paródia dentro da própria série. Como se Lost ainda pudesse se dar ao luxo, tendo personagens completamente devastados para amparar e toda uma realidade alternativa para explicar, de colocar todos os personagens regulares de lado e passar 45 minutos acompanhando uma história linear das duas entidades introduzidas na última temporada. Ou pior, transformá-las em mortais cheios de falhas, sendo que na primeira conversa entre os dois, sentados na praia, ambos demonstram claramente uma enorme distância ao falar dos humanos que chegariam na Black Rock. Ou ainda pior, executar tudo isso com base num roteiro raso e com atuações beirando o ridículo.
Confesso até que tive muita boa vontade com o episódio e só fui mesmo perder qualquer esperança que ainda restasse quando Jacob deu "descarga" no seu irmão na caverna de luz, que acabou assim condenado a virar fumaça por toda eternidade. Acho que o mais grave de um episódio lidando apenas com mitologia estar posicionado a essa altura, como antepenúltimo de TODA a série, é que os produtores tentam reforçar sua importância. Mas apesar de todo esforço, sua importância é aparentemente nula, o que me fez lembrar bastante daqueles episódios anexos de Battlestar Galactica, que poderiam até adicionar certa perspectiva à série mas eram tão dispensáveis que acabavam lançados fora da temporada regular. Aliás, o grande tema encontrado em BSG, constatando que "tudo isso já aconteceu e voltará a acontecer", encontra paralelos também em Lost através desse ciclo que parecem condenados todos aqueles que um dia pisaram na Ilha. Bebês sequestrados e criados por outra mãe, a desconfiança daqueles eternamente conhecidos como Outros, a purgação de um grupo em nome de um bem maior, condutas morais transmitidas de geração em geração, as regras de um jogo que não permite a eliminação de um ao outro, os homens de fé opostos aos homens da ciência. Mesmo que todas essas questões fossem levantadas no decorrer do episódio, pouco me interessam quando relacionadas ao que ocorreu num passado ainda remoto, afetando personagens sem qualquer apelo. Existem dezenas de outras maneiras de dar conta dessas questões, por exemplo, ao tratar do destino de Aaron ou o sentido dessas regras quando aplicadas ao relacionamento entre Widmore e Ben. Como já disse, minha única exigência é uma conclusão digna para aqueles que realmente importam nessa história, não acabando descartados como Sayid foi no episódio anterior. Além disso, diante das resoluções apresentadas em "Across the Sea", não seria demais esperar também que Jack, o homem da ciência que foi convencido a trilhar os caminhos da fé, sobrasse como o próximo guardião da Ilha e assim fosse recompensado por sua jornada redentora. Na minha opinião, é preocupante essa tentativa de encontrar um lugar comum e conciliar as expectativas de seus espectadores, como esse episódio parece sugerir. Ironicamente, neste momento a relação entre devotos e descontentes, que já não era das melhores há algum tempo, atingiu níveis de intolerância nunca antes vistos. A principal razão para isso é que a complexidade da trama, sempre proporcionando uma interpretação ambígua de seu público, foi de uma vez por todas reduzida a uma questão de venerar uma energia luminosa dourada.
Ultimamente, um dos argumentos mais usados por aqueles que tanto defendem Lost, toma como base a tese de que essa história não é minha, não é sua, mas sim desses produtores e roteiristas. Isso me parece no mínimo contraditório, ainda mais para quem tanto preza pela capacidade da série de levantar discussões. Até porque os produtores estão ganhando seu dinheiro de qualquer maneira, agradando ou não. Mas para quem tanto se orgulha de planejar a série desde o início e ainda ter quatro anos para calcular seu desfecho, fica difícil depositar qualquer tipo de confiança a partir de agora. Se eles estivessem determinados mesmo a manter seus mistérios, não teriam dado tanta ênfase em estruturar todo um episódio para revelar as identidades de Adão e Eva, que aparentemente não devem ter relevância alguma para a trama. Então, sinto dizer mas eles sucumbiram aos apelos daqueles que assistem aos episódios com uma lista de perguntas ao lado, riscando cada uma conforme são respondidas. Além disso, não consigo valorizar essa tentativa de explicar aquilo que é profundamente abstrato, como no caso do que alguns consideram milagre ou destino e outros encaram como acaso ou sorte. Se essas são questões que regem nossas próprias vidas, não seria uma série de televisão, por mais importante que fosse, que seria capaz de esclarecê-las com sua mitologia quase bíblica. Afinal, se a intenção era responder seus mistérios com base em metáforas, acabaram falhando vergonhosamente, como prova o já citado caso da caverna com a fonte luminosa. Um elaborado mistério é muito mais instigante do que qualquer explicação rasteira. Mas disso os produtores deveriam saber até melhor do que eu, até pelas próprias palavras da Mãe alertando que qualquer pergunta assim respondida, apenas geraria ainda mais perguntas.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

10 comentários:

Celia Kfouri disse...

Já disse que ainda nutro alguma esperança de um final menos vergonhoso, mas considerando até esse episódio, uma pergunta ecoa em mim.
Quando você diz que 'Adão e Eva aparentemente não devem ter importância alguma para a trama', eu me pergunto 'que trama?' 'existe mesmo alguma trama?' 'sobrou alguma coisa?'
Que triste.

Manoela disse...

É dose mesmo. Acho que os autores e produtores da serie não imaginavam atingir tanta gente "pensante". Pelo nivel dos depoimentos vejo muitos se preocupando apenas com respostas do obvio (que na minha opinião tambem não tem importancia para o "grande final").
A qualidade dos ultimos episodios está quase pra teatro amador.
Pena! Resta ainda 3% de esperança. Abçs.

Unknown disse...

Fuzii, entendo exatamente o tipo de série que você preferia que Lost fosse até a reta final, mas convenhamos que, apesar dessa suposta série funcionar para um punhado de gatos pingados, como eu e você, seria a maior alienação coletiva de base de suporte da história do entretenimento. E Lost, por mais groundbreaking que tenha sido em seu formato e linguagem, ainda é exatamente isso: entretenimento. Ainda é um produto Disney que tem muito o que ser ordenhado para compensar os cofres do conglomerado que pagou por seus 6 anos de exibição. E ainda é escrita por gente que, muito mais do que nós, passou os últimos 5 anos tendo que responder as mesmas perguntas estúpidas de gente que não aprecia sutilezas e faz listas de mistérios para riscar, só que, no caso deles, as pessoas em questão eram formadores de opinião das mídias e do showbusiness. Qualquer liberdade criativa que sobre aos produtores nessa altura do campeonato já é uma vitória estrondosa.
E é por isso que eu sou um dos que advoga sobre a não-apropriação da série pelo telespectador, mas não porque a série é a visão pristina e imaculada de seus criadores, mas porque, como toda telesérie americana, é altamente influenciada pela vontade da massa burra, expressa em números de audiência. E nem eu nem você fazemos parte dessa massa, e por isso vivemos ano após ano lamentando cancelamentos e desvirtuamentos inexplicáveis de séries boas que não conseguem se tornar palatáveis para o povão.
Claro, é a análise de uma obra por elementos externos a ela, mas nas atuais circunstâncias, eu prefiro admirar Lost por ter se mantido um entretenimento relativamente inteligente mesmo depois de 6 anos de intensa especulação e escrutínio público.

e.fuzii disse...

Pois é garotas, só nos resta mesmo torcer.

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Rafael, bom que você apareceu por aqui e posso te parabenizar também pela excelente análise no seu blog. Melhor texto que li de alguém a favor da série. Ou ao menos conformado.

Concordo que só por Lost ter terminado sem cortes e no tempo pedido pelos seus produtores já é uma razão para comemorarmos. Mesmo que não seja um final, digamos, satisfatório. A única ironia que vejo nisso (e não contradição) é que era exatamente na época áurea que Lost sentia as maiores pressões de audiência. Agora com contrato assinado e base de fãs assegurada, não haveria por que perder a oportunidade de entregar seu desfecho autoral. Mas sim, nunca se sabe até que ponto a produtora pode influenciar para chegar num final moralmente aceitável.

O grande problema é que a série não tem me entretido por cerca de 80% do tempo nessa temporada. E sinceramente, mesmo que apareça um "truque" no último minuto que dê todo um novo sentido para o que vimos até aqui, será difícil fazer valer a pena retroativamente. E TODAS as pessoas que tenho contato offline, que não são fãs tão passionais assim da série, não estão gostando dessa última temporada. Mas enfim, ainda não consegui encontrar um padrão, além de quem é "devoto" pela série, para quem está satisfeito. Estou literalmente perdido nessa.

Abraços.

Daniel Oliveira disse...

Acho que não devíamos levar uma série de TV tão a sério. Assistimos para nos entreter, se não há mais entretenimento, então paremos de assistir. Comentários ranzinzas não levam a nada, como também as defesas desesperadas de alguns. Sou muito fã de LOST, mas não preciso ficar defendendo a série como se fosse algo a ser provado, nem criticar como se fosse algo insuportável. Vamos apenas apreciar a jornada, quem quiser claro, pois querendo ou não, a série já marcou época.

Manoela disse...

Ja marcou epoca mesmo. Mas isso, na minha opinião, se deve ao fato de, hoje, existir a internet. A serie tem uma grande repercussão aqui, onde os debates acabam sendo muito mais interessantes do que o que vemos.
Conheço muita gente, que por não ter acompanhado aqui, desitiu da serie.
Abrçs

Anônimo disse...

eu acho um falta de respeito qdo alguem fica combinando com moderadores de foruns, a hora de postar a primeira analise de um episódio, com a clara intenção de tentar influenciar o resto da galera

pra mim, quem diz q o seriado tá uma bosta, "porq a vida é assim mesmo" não age de forma correta ao vir aqui passar atestado de mediocridade qdo fala q o mercado de seriados é assim mesmo e q devemos mais é abaixar as calças pra os executivos enfiarem qualquer besteira

pois lost era muito o contrario disso, era um seriado q falava de pessoas diferentes, de tolerancia, tinha um formato muito diferente, mexia com a cabeça das pessoas

esse episódio across the sea, foi só uma forma de plantar pistas bem bobocas pra coisas q já existiam, foi quase q um replay de outros momentos do seriado

pra mim esta bem claro q enrolaram cinco temporadas só pra fazer um mini filme no final e q respondesse tudo, eu não duvido q possam fazer um final legal, mas tenho certeza q o resto foi enrolação

mas pra mim, elogiar essa enrolação, fazer pacto com outros fans pra fazer a cabeça dos outros, pra aceitar esse tipo de atitude, é um tipo de coisa q estraga muito mais q um seriado, estraga o mundo

são esses tipos de pessoas q o seriado mostra muito bem, os traidores, reis do seu propio mundinho, felizes em achar pessoas ingenuas e q caiam em qualquer conversa fiada

se fosse o caso de ser uma opinião normal, sem conchavos com pessoas q parecem ter um intere$$e pessoal com o lost, eu até respeitava

mas conchavos, pra mim algum intere$$e tem por tras disso, é a gente precisa ter noção disso

Unknown disse...

AHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA amigo, pelo menos eu assino minhas opiniões =) Além disso, por favor, tenha a polidez de ir me atacar no meu próprio blog pra não ficar sequestrando os comentários do (excelente) texto do Fuzii, sim? Só copia e cola a babaquice acima lá que eu terei muito prazer em replicar. Abraços!

Anônimo disse...

eu acho q fora do grupo q vc frequenta, pouca gente sabe q voce tem um blog

eu nem sabia disso, fiquei sabndo agora

mas leva na esportiva, voce acabou de mostrar q se acha importante demais ao achar q todo mundo conhece seu blog

eu não acho certo algumas coisas, e so to aqui pra marcar uma posição a favor das otimas e realistas criticas do fuzi

a gente tem outro jeito de gostar de lost, mais liberdade pra analisar as coisas e sem ficar presos a uma opinião dominante de um grupo

eu acho q lost tem uma historia boa e a gente precisa aprender com o seriado q algumas coisas erradas são erradas até na vida real, é as ideias q a histoira passa

pra mim lost está num mal momento porq muitos fans ficaram cobrando coisas sem sentido e qdo eles resolveram tentar pegar a parte da audiencia mais bobinha, foi onde eles erraram

pra mim defender esse empobrecimento da historia deles foi onde eles mais erraram, porq justamente isso foi onde eles começaram a mentir e inventar coisas mediocres

defender essa mediocridade que pegou lost por causa dessa obrigação idiota de popularização, não é coisa de quem gosta do seriado de verdade, pra mim é só modinha

mas cada um tem sua opinião, eu so quero mostrar pros outros q não é todo mundo q concorda com certos tipos de opinião sobre lost

Unknown disse...

Desculpe, ainda não peguei seu nome... ?

Meu blog está no header do meu perfil do Orkut, ao qual vc obviamente tem acesso. Você assiste Lost, deveria ser minimamente investigativo, certo?

Agora por favor, atenha-se ao review do Fuzii, que é o assunto em voga. Abraços.