segunda-feira, 13 de setembro de 2010

[Mad Men] 4x07 The Suitcase

"There's a way out of this room we don't know about."

Não é de hoje que Don e Peggy tem um profundo relacionamento vinculado ao trabalho. Basta lembrar que no final da temporada passada, Don Draper fez uma inusitada declaração de amor profissional à sua funcionária para convencê-la a unir-se à nova empresa. Naquela ocasião, destaquei a forma como ele se posiciona diante de Peggy, sentado numa atitude reparadora, que é repetida aqui na maioria das visitas dela à sala do chefe. Depois de atingir na semana passada a máxima frustração com a conduta cada vez mais desastrosa de Don, Peggy sente-se à vontade para responder de igual para igual ao seu chefe e gera momentos de tensão durante todo o episódio. O que acompanhamos são ambos presos no escritório tentando resolver suas diferenças e aprimorar alguns laços pessoais, dando a oportunidade perfeita para Jon Hamm e Elisabeth Moss brilharem ainda mais. Torna-se óbvio e até limitado demais tentar reforçar os elogios à atuação dos dois. Essa situação de "clausura" logo me lembrou o episódio "Fly" desta última temporada de Breaking Bad, até na estranha presença de um rato na sala de Don. Porém, ao contrário da série de Gilligan que frequentemente se apoia nas causalidades do destino, são as próprias motivações dos personagens que não permitem que eles abandonem o escritório. Mesmo com uma das lutas de boxe mais importantes do século acontecendo naquela mesma noite, ambos continuam buscando por distrações dentro do escritório. Don exige até o impossível de Peggy na campanha para a Samsonite, tentando adiar ao máximo o indesejado telefonema para a Califórnia, enquanto Peggy tenta provar seu valor, evitando o jantar romântico ao lado de seu namorado (que também preferia ver a luta de boxe), transformado numa desagradável festa surpresa com sua família.
Após fazer Peggy chorar com uma de suas broncas mais cruéis, Don Draper só volta a estabelecer este vínculo ao encontrar uma fita com as hilárias memórias ditadas por Roger. A partir deste voto de cumplicidade para guardar este segredo, a relação dos dois vai sendo reparada passo a passo, até mesmo longe das divisórias da SCDP. Don chega a falar de sua época na guerra da Coréia e Peggy revela toda sua insegurança na relação com os homens. Talvez o momento mais íntimo seja quando ambos relembram terem presenciado muito cedo a morte de seus pais. No entanto, é necessário impor certos limites e o roteiro é muito eficaz neste sentido, tanto quando Don decide manter em segredo a identidade de Anna -- e consequentemente sua vida pré-guerra -- como Peggy sinalizando trazer de volta o assunto gravidez até decidir mudá-lo antes de revelar quem seria o pai de seu filho. O mais interessante é como esse episódio recupera grande parte das tramas desenvolvidas na temporada, como todas as implicações do abuso do álcool -- a mais notável delas através da aparição vergonhosa de Duck -- ou o drama da secretária Allison. No detalhe provavelmente mais engraçado, através das memórias de Roger descobrimos a identidade do Dr. Lyle Evans, aquele que ele ensaiava chamar na reunião para provar que Cooper não teria, literalmente, culhões para reagir à "invasão" dos japoneses em The Chrysanthemum and the Sword. Genial.
Na manhã seguinte, presenciamos o momento mais afetuoso entre Don e Peggy até hoje, quando ele aperta sua mão e com um simples olhar transmite toda sua admiração. Uma conclusão perfeita se lembrarmos do constrangedor toque de mão ainda no episódio piloto, quando a ingênua Peggy confunde as instruções passadas por Joan. Apesar de criticar (de maneira hipócrita, diga-se) a postura de Muhammad Ali, Don entende o quanto aquela imagem do lutador em pé gritando para o adversário se levantar é de forte apelo ao público. Talvez nem seja sua ideia mais brilhante, tanto é que Peggy parece rejeitar logo de cara, mas o aperto de mão simboliza também sua confiança na garota. Até então Don tinha um domínio bem maior sobre a vida de Peggy, principalmente em relação a sua gravidez secreta. Mas a partir do momento que Don Draper mostra-se fragilizado diante dela e confia seus segredos, ambos passam a ter uma relação mais equiparada. Peggy responde com um olhar tolerante, talvez tudo o que Don procurava após perder a única pessoa que lhe amou incondicionalmente. Algo semelhante aconteceu na temporada passada, quando Don revelou todo seu passado a Betty, que apesar de perdoá-lo, decidiu mesmo assim seguir com o processo de separação. Claro que ele não espera por uma decepção parecida, mas cabe apenas a Peggy perdoar e esquecer as desavenças dos últimos episódios. É afinal o convite para se estabelecer um compromisso, não apenas através de uma simples paixão, mas sim motivados pela admiração mútua.

"Open or closed? – Open."

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho suas críticas bastante pertinentes e esse episódio foi ótimo mesmo. Uma pequena correção apenas. No fim do episódio, Peggy diz: open or closed? Não, close.

Fernando

e.fuzii disse...

Valeu Fernando, já corrigi!
Abraços.