domingo, 13 de janeiro de 2008

[Grey's Anatomy] 4x11 "Lay your hands on me"


Sim! É isso mesmo que vocês leram. A partir de hoje a série médica mais vista nos EUA também terá espaço aqui no comentários em série.

Mas antes de prosseguir, gostaria de me apresentar rapidamente: meu nome é Rodrigo, tenho 20 anos e moro no Rio de Janeiro. Tenho alguns hábitos estranhos como ouvir Capital Inicial, não gostar de ir á praia(o que me deve me fazer uns 50% menos carioca) e realmente gostar dos comentários sobre cinema do genial Rubens Ewald Filho(tá...pff...essa é sacanagem. Ninguém é tão estranho assim).

Minha paixão por séries começou há muitos anos atrás quando eu devia ter sei lá...uns 10, 11 anos. Foi nessa época que eu comecei a assistir Buffy, ainda pela Globo. Gostei tanto da série e do formato que não deixei de assisti-la nem quando ela foi deslocada pra madrugada, com o horário variando entre 4 e 5 da manhã. A única coisa que me incomodava(além do horário, é claro) era a falta de coerência e continuidade entre alguns episódios. Anos mais tarde viria a descobrir que esses episódios não eram exibidos na ordem correta...

Não desanimando, apesar da irritante falta de consideração da emissora citada, tive felizmente em algum momento do passado, acesso a canais de séries e pude conhecê-las mais a fundo. E logo percebi que por mais que eu gostasse de um número considerável de séries, era notável que nem todas tinham o mesmo efeito sobre mim. Algumas eram só entretenimento e outras iam muito além disso.

E o fato é que há séries capazes de nos marcar profundamente. Adoramos seus roteiros, nos apegamos a seus personagens e, por vezes, nos pegamos refletindo sobre elas. Enfim...a óbvia conclusão a que quero chegar é que, pra cada um de nós, algumas séries são mais especiais que outras. E quero deixar bem claro que pra mim, Grey's faz parte do grupo "mais especial que outras". Até por isso, meus comentários aqui podem acabar soando bastante exigentes. Mas isso não deixa de ser bom, afinal só posso exigir tanto de uma série se eu considero que ela tem algum potencial. Pena que esse episódio não seja um exemplar do que a série tem de melhor...

Escrito pelo experiente Allan Heinberg, dos bons "What I am", "Testing 1-2-3" e "The heart of the matter" eThe OC", "Lay your hands on me" é o último episódio de Grey's gravado antes da tão falada greve dos roteiristas. E a julgar pelos rumos que a greve toma(ou que não toma) é de se imaginar que esse seja o último episódio dessa temporada, o que só aumenta a expectativa em torno dele.

Esse episódio aliás, tem a mesma particularidade de "What have I done to deserve this?" e de "From a whisper to a scream", nos quais Meredith é substituída por um de seus colegas de elenco na narração do episódio. Se nas ocasiões anteriores, a incumbência havia sido de George e Cristina, hoje o bastão é passado para Bayley.

E aqui abro um parêntese pra falar de Bayley: é fato que muitos fãs da personagem ficaram um tanto quanto decepcionados com sua participação na terceira temporada, já que julgavam que ela esteve bastante apagada. Pois eis que chega a quarta temporada e os roteiristas resolvem "acendê-la". O problema é como eles fazem isso...

Todos bem sabemos que por trás da fama de carrasca da personagem, se esconde uma pessoa bastante sensível e que por vezes demonstra enorme fragilidade. E chega a ser até admirável que essas características da personagem tenham sido bem dosadas ao longo dos três primeiros anos da série. Mas conforme essa temporada se desenrola, percebemos que algo mudou: Bayley nunca esteve tão frágil. Os roteiristas conseguem a proeza de fazer a personagem ter três "breakdowns" em um espaço de apenas quatro episódios. Em "Haunt you everyday", a vemos desabafando com George sobre a dificuldade de conciliar a vida pessoal com a profissional, já que ela passou o feriado presa no hospital e por isso não pôde passar o feriado com o filho e o marido(que irá lhe culpar por isso). Dois episódios depois, em "Physical attraction...chemical reaction", a habitual firmeza da doutora dá lugar as lágrimas quando a mesma descobre que finalmente será chief resident(com direito a abraço emocionado e posterior bronca no chief, já que ela julgava que deveria ter sido escolhida para o cargo anteriormente). E logo no episódio seguinte, "Forever Young", ainda a vemos desmoronando diante de Derek, quando um antigo amor reaparece no hospital.

E adivinhem então o que acontece nesse "Lay your hands on me" quando a doutora tem que lidar com o fato de que seu pequeno filho de apenas dois anos sofreu um grave acidente doméstico?

Pois é. O uso do recurso citado acima em exaustão e em um espaço tão curto de tempo consegue transformar Bayley em uma quase caricatura, o que contribui consideravelmente pro pouco impacto da trama na qual ela está incluída, já que o drama pelo qual a médica passa ocupa boa parte do tempo do episódio. E aí quem tem menos culpa é Chandra Wilson que tem de se virar pra não fazer sua atuação parecer "mais do mesmo"(o que, por sinal, ela não consegue fazer). Aliás, nem o roteiro de Heinberg ajuda a atriz a brilhar. No "breakdown da vez", por exemplo, a médica tenta se recordar se teria sido indiretamente culpada pelo acidente do filho, mas a cena não é suficientemente forte pra nos fazer esquecer dos outros colapsos da médica, e por mais que simpatizemos com a dor da personagem, a cena se torna bem menos impactante do que deveria ser.

Pelas outras bandas do Seattle Grace, as coisas também não fluem nada bem. Quando a mãe de George encontra Izzie e elas começam a falar sobre assuntos diferentes pensando estarem falando sobre o mesmo(num tipo de cena jamais visto na história da televisão) já dá pra se temer sobre o desenvolvimento dessa trama. E o tal temor se mostra justificável. Vejamos: A mãe de George é católica. Ela não aprova adultério ou divórcio e está, portanto, muito desapontada com o filho. Ela o aconselha a tentar a terapia de casais. Ele rejeita. Isso só irá magoar os envolvidos ainda mais. Ela o chama pra morar com ela novamente. Ele rejeita. Ele precisa se cuidar sozinho. E...ehr...é isso. Tudo se desenrola da maneira mais previsível e esquemática possível. Sem nenhum momento realmente marcante, o roteiro se escora no óbvio, tornando a visita da sra. O'Malley algo absolutamente "esquecível".
que, entre outros trabalhos, é também responsável por boa parte dos roteiros da ótima primeira temporada da série "

" - Meu filho, um adúltero??"

O que também não empolga é a trama envolvendo uma paciente que diz ser uma "faith healer". Embora deva admitir que a atriz Glenne Headly tenha presença marcante em cena, a personagem não chega a se tornar uma figura particularmente interessante, sendo apenas usada pelo roteiro pra dizer a Alex coisas que já podíamos deduzir perfeitamente ao longo desses quatro anos de série: "Você foi tão machucado que ás vezes quer machucar outras pessoas só...só pra espalhar isso por aí." ou "Você foi um bom rapaz, Dr. Karev, um rapaz bom e meigo. Mas não é um homem muito bom. O que houve com você?" No fim das contas, a situação acaba apenas servindo pra que nos lembremos que Alex não é um personagem lá muito bem desenvolvido e acabamos lamentando que seus conflitos não recebam uma maior atenção da série.

Animação contagiante de Alex após ler o roteiro desse episódio

Aliás, estou sendo impreciso sobre a tal da faith healer. Ela não estava lá apenas pra confrontar Alex. Ela também está lá, eventualmente dando uma escapadinha de seu quarto pra fazer algo assim, normal...tipo, curar um paciente. Seriously. Inclusive é depois da intervenção dela que o filho de Bayley volta a poder respirar sem a ajuda de aparelhos. Mas a situação toda deve ter soado mais marcante na cabeça de Heinberg do que o que realmente vimos no episódio. A falta de um desenvolvimento melhor da personagem e de seus "poderes" impede que aceitemos o que estamos vendo sem que isso nos soe fácil demais. Aliás, o desenvolvimento dessa trama parece ainda pior quando lembramos que a temática fé x medicina já teve vez em outros episódios da série, sendo mais bem explorada até no polêmico "Some kind of a miracle". Mas...deixa pra lá. Melhor pular a parte das comparações. Ela não fará bem algum a esse episódio.

E o que dizer de Meredith e Derek? Haverá, no atual momento da televisão, casal mais fora de sintonia do que os dois? Todos devem lembrar que no quarto episódio dessa temporada, "The heart of the matter", Derek diz a Dra. Grey que quer casar, morar, ter filhos e envelhecer com ela. Meredith então diz não estar pronta. Esse tipo de "conflito de interesses", por vezes, siginifica o rompimento de um casal. Mas não em "Grey's Anatomy", onde percebe-se a clara intenção de explorar ao máximo a interação do casal queridinho do público, mesmo quando a relação não parece mais ter pra onde ir.

Mas manter os dois "juntos" tinha afinal um propósito narrativo que foi constatado nesse episódio. A idéia era novamente separar os dois, mas por outro motivo que não a diferença de objetivos do casal. Pena que dessa vez, o roteiro acabe se revelando tão manipulador. Afinal, ainda em "The heart of the matter", o Dr. Shepherd diz a Meredith que não sabia como reagiria se, enquanto ela estivesse ficando "pronta", surgisse alguém que quisesse o mesmo que ele. O que Meredith então faz? Nada. Apenas seis episódios depois, na segunda parte de "Crash into me", é que ela diz a Derek que não quer que ele se envolva com outras pessoas. Como "Grey's" não é "24 horas", esse período de seis episódios já é mais do que suficiente pra que Derek se interesse por outra pessoa, no caso, Rose. E aí o beijo ocorrido entre ele e a bela enfermeira(no período em que ele não recebeu nenhuma indicação de que deveria ser "exclusivo") acaba virando o estopim pra briga e pro rompimento do relacionamento entre os dois. Bastante conveniente, afinal.

" - Engole essa, Meredith! O Mcdreammy agora é todo me-eu!"


Incluindo ainda uma participação digna de figurante do chief, a já cansativa implicância de Hahn com Cristina, o hiper-desinteressante questionamento de Izzie sobre ela não saber o que quer pro seu futuro profissional, e um princípio de relacionamento entre Mark e Hahn que simplesmente não evolui,
"Lay your hands on me" encerra de maneira insossa o quarto ano de "Grey's Anatomy". Um quarto ano que começou de maneira arrebatadora, mas que com o tempo passou a ser refém de roteiros marcados por várias soluções discutíveis. Afinal é difícil não se incomodar com detalhes como a solução fácil dada para o romance entre George e Izzie, ou ainda ter de ver Cristina apagada pela já citada subtrama com Hahn, ou ainda ter de testemunhar o fato de que os roteiristas não sabem o que fazer com Ava(o que se reflete na sua constrangedoramente inútil participação em "Crash into me"), além de não dar pra esconder a decepção com o "evento" desse ano, que não conseguiu nem manter a qualidade do primeiro e nem chamou a atenção como o segundo.

E por tudo que foi falado, é evidente que "Lay your hands on me" também é uma decepção e, por mais que eu tente evitar cobrar desse episódio o que eu cobraria de um season finale("expectativas desleais", já cantaria Vanessa da Mata), o fato é que esse episódio é a última lembrança que teremos da série por sabe-se-lá quanto tempo. E não há boa vontade que possa apagar isso.


Rodrigo

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Rodrigo! Legal vc estar no nosso time! Bem vindo!
:)

Rodrigo disse...

Oi Dani! Fico feliz de estar aqui, embora tenha conseguido a proeza de ter problemas com a fonte na hora de postar(o blogger definitivamente não gosta de mim), além de alguns outros deslizes como não colocar os marcadores, mas com o tempo eu vou me acostumando...


Enfim...valeu pelas boas vindas.

:)

e.fuzii disse...

Seja bem-vindo!
Fãs de Buffy são sempre bem-vindos... :)

Rodrigo disse...

Haha...valeu Fuzii! Brigado! :)