segunda-feira, 7 de abril de 2008

[Battlestar Galactica 2003] 4x01 - "He That Believeth in Me"

Antes de tudo, deixa eu postar essa foto, que acho brilhante.




As discussões e referências religiosas de Battlestar Galactica sempre foram complexas. A começar que os monoteístas da série são os vilões. Os mocinhos são pagãos, adoram vários deuses, embora sigam Escrituras Sagradas. Mas a coisa toda não é tão preto no branco, com uma mera inversão de valores (do Ocidente, claro): Galactica deixa tudo muito obscuro, é realmente difícil dizer se os autores estão fazendo uma crítica ou uma glorificação de determinada religião. A vida em sociedade é complicada e a série gosta de navegar nessa complicação, neste e em outros quesitos. A imagem acima é genial, não apenas esteticamente, mas por resumir toda uma simbologia que Galactica vem investindo e que tem se tornado cada vez mais instigante. Mas na foto só existem doze pessoas. Quem está faltando para completar a Última Ceia? Jesus Cristo? Number Six parece fazer esse papel. Apenas na foto. Na série tem sido outra história... ou não?


Mas vamos ao episódio. A nova abertura já elimina qualquer dúvida que poderia ainda existir sobre Tigh, Tyrol, Tori e Anders serem ou não Cylons. Tudo bem que parecia óbvio, por serem os únicos felizardos a ouvirem Bob Dylan numa galáxia muito, muito distante. Mas tirando isso, foi uma dedução que eles haviam feito e nada de fato havia comprovado. Agora eles são os quatro cylons que vivem em segredo.


Após essa confirmação, “He That Believeth in Me” tem início do ponto onde acabou Crossroads 2, com uma diferença essencial: os efeitos especiais nunca foram tão espetaculares na série e os fãs que tanto ansiavam pelo season premiere foram agraciados com ótimas cenas de batalha, já no início, com um verdadeiro massacre. Foram 1702 humanos mortos, fazendo as contas desta abertura em relação a contagem de “The Son Also Rises” (se estiverem contando o retorno de Starbuck). O genocídio teria sido completo, mas os Cylons recuaram após uma das cenas mais interessantes do episódio: o face-a-face entre Anders e um Cylon rider. O que aconteceu realmente? Anders teria dado um comando “inconsciente” para que os cylons recuassem? Ou o rider teria identificado Anders como um dos Final Five? Neste caso, eles têm essa capacidade de reconhecer um cylon, quando nem os sete modelos mais avançados têm? E se sim, isso não elimina Starbuck e Lee como suspeitos de serem o último Cylon a ser revelado? Ou a identificação só foi possível após o gatilho (a música) ter sido acionado ou o Anders já ter consciência da sua condição? Muitas possibilidades e dúvidas e o episódio mal havia começado!



Nova temporada, novos efeitos.


O outro importante gancho que a série havia nos deixado foi o retorno de Starbuck. Embora não acredite que ela seja um Cylon (pelo fato de ser a principal suspeita – a não ser que os autores estão dando uma de Agatha Christie, nos fornecendo o culpado logo no início), fica difícil explicar de outra forma o que realmente aconteceu com ela. A viagem até a Terra não seria duvidosa por si só, mas como explicar a nave novinha em que ela retornou? E como vimos a sua nave explodir e ela não ter consciência disso? Acompanhar seu destino na série vai ser um dos elementos mais interessantes, especialmente por ela estar convicta de que sabe o caminho da Terra e “Razor” nos deixou a informação de que ela pode na verdade levar a humanidade à destruição. Seu gesto desesperado no final do episódio foi bastante verossímil, pois aquelas dores após cada salto da frota no espaço foram bastante convincentes.



Anders confrontando o inimigo. Alguém lembrou de "2001"?


Aparentemente menos importante, mas que pode explicar muito da mitologia da série, são os acontecimentos envolvendo Gaius Baltar. A referência a Jesus Cristo é inevitável, pois a aparência física torna óbvio, mas não é curioso que o milagre visto ocorre DEPOIS que Gaius faz a barba e perde sua aparência messiânica (mas com muito sangue no pescoço)? E novamente mais perguntas: foi um milagre mesmo? Se sim, não me parece deslocado na série, já que Galactica, como eu disse antes, flerta com o misticismo a todo momento. Humanos e máquinas estão constantemente tendo visões e sonhos premonitórios, e já vimos profetas de todo tipo, além de acontecimentos inexplicáveis racionalmente. Mas o deus único tem atendido os pedidos de Gaius? Sua redenção parece óbvia, já que aceita a morte de bom grado. Mas é só isso? Gaius pode não ser Cylon, mas sua participação nos eventos principais é clara, devido ao sonho compartilhado entre Roslin, Six e Athena. Imagino que sua estadia naquela seita (ou harém?) não deve demorar muito.



Gaius Baltar Superstar


No meio de tantas dúvidas, o episódio discutiu com propriedade algumas questões bastante complexas. A primeira delas se refere a preocupação dos quatro novos Cylons: é possível burlar a programação e agir de acordo com suas experiências e sentimentos? Os autores estão querendo discutir sobre nossa capacidade de SER, independente das nossas limitações/programações genéticas? Ou é sobre nossa capacidade de escolher, acima do que somos “programados” pela sociedade e seus dispositivos (família, religião, mídia, escola e outras instituições)? Acredito que nos próximos episódios haverá muita tensão sobre o que os quatro estão programados para fazer. Seja como for, Caprica Six e Roslin têm uma importante cena que mostra que programação (tal como a sede) não é tudo. Aliás, é interessante que Six consiga “sentir” a presença dos Final Five. Se a presidente Roslin fosse um Cylon, Six teria sentido com mais intensidade?


Outra questão colocada é: o quanto nossos sentimentos pelo outro podem mudar sob nova perspectiva? É Lee quem questiona seu pai sobre como ele reagiria caso o filho morto retornasse se revelando um cylon. Anders fala para Starbuck que para ele nada mudaria caso ela fosse um Cylon, e tivemos como resposta uma daquelas frases de efeito, que invariavelmente alguém solta nesta série recheada de grandes diálogos. Só que Anders diz o que diz por estar no papel de acabo-de-descobrir-que-sou-um-cylon, enquanto Starbuck diz o que diz por estar no papel de acabo-de-ser-acusada-de-ser-um-cylon. O fato é que, de uma forma ou de outra, esse casamento está acabado.



Grande final. E depois, Starbuck?


No mais, todas as cenas de perplexidade e desespero dos Quatro Cylons são muito boas. O destaque maior, claro, é para o suposto assassinato de Adama. É claro que desde o início sabíamos que aquilo era imaginação de Tigh, mas aquele movimento de câmera revelando a farsa foi maravilhoso. Lee indo para a política deve ter ressonância no futuro próximo. Quem sabe Roslin dê lugar a ele na presidência?


Enfim, tudo foi impressionante neste episódio. Um ótimo início para o que promete ser uma das temporadas mais memoráveis da história da tv.




Hélio.


4 comentários:

Anônimo disse...

Eu ia escrever aqui pois adorei a primeira foto da "santa"ceia, maaaaaaaaaaaaaaaaaas vou parar de "perder tempo" e ir ver o ep... volto dpeois hehehe

Anônimo disse...

Oi, Hélio!
Adorei sua análise! Para mim, o ponto alto do episódio foi essa questão que o Lee colocou. Foi isso que falei na minha própria análise, no blog que mantenho sobre BSG. Vou linkar vocês lá, tudo bem?
Beijos!!
Marília

Hélio Flores disse...

Oi, Marília

Só faltou voce dar o link do seu blog. Manda aí, vai!
Bjos

e.fuzii disse...

Também adorei a cena da Última Ceia. A falta de um dos personagens foi questionado pela EW (no caso, o cálice solitário sobre a mesa) e Moore desconversou quando especularam ser o cylon final. Pode ser uma "cópia" ou poderia ser mesmo Bob Dylan. E isso explicaria muita coisa, pelo menos em nosso mundo...

Achei uma excelente estréia também e a pós-produção realmente melhorou MUITO. Até as cenas de cockpit pareceram mais nítida.

Enfim, para mim a parte mais intrigante foi mesmo de Gaius (com um James Callis a cada temporada melhor) e o milagre que o salvou da emboscada.
Isso porque a cena foi completamente construída para convencer a Gaius e nós que ali houve uma intervenção. Além de focar na garota erguida e impossibilitada de libertar-se, a própria Six aparece para confirmar se Gaius rende-se. Só depois disso tudo muda e logo na sequência atéo garoto termina salvo.
Ou essa fé monoteísta de Gaius realmente funciona ou os Deuses ainda tem algum interesse nele.

Por fim, o cliffhanger foi ótimo para um episódio tão analítico. Claro que Roslin não morrerá, então resta saber o que será de Kara agora que expôs-se desse jeito. Desisti de apostar em Kara como a última cylon, acho que realmente só sobra Roslin (o que cairia nas mesmas contradições de Tigh).