sábado, 26 de abril de 2008

[Battlestar Galactica] 4x02 e 4x03 - "Six of One" e "The Ties That Bind"

Desculpem-me pela demora. Enquanto não vejo o quarto episódio...


“Battlestar Galactica” é uma série tão complexa que até suas falhas são complexas. Seriam falhas mesmo? Depois de uma premiere arrasadora, a quarta temporada dá continuidade com dois episódios que causam estranhamento, seja pelos caminhos tomados (surpreendentes, inusitados), seja pelas opções estilísticas (narrativa, fotografia, edição), seja pela mitologia da série, que talvez só perca em enigmas para “Lost”. O fato é que não dá para ter a menor idéia de como os autores terminarão essa saga, ou mesmo saber o que está por vir no próximo episódio. Gosto muito disso.


Comecemos, por exemplo, com a resolução do embate entre Starbuck e Roslin. Por que Roslin erra o alvo? Estava debilitada demais? “Deus” evitou que Starbuck morresse? Roslin é o quinto cylon e sua programação a impediu de acertar? Ou porque era conveniente para a trama? Acho que esta e outras questões só poderão ser respondidas no final da temporada.


Tiro certeiro... é o que está por vir?


Esta seqüência foi uma das poucas coisas interessantes que ocorreram no lado dos humanos no episódio “Six of One”. A outra seria Baltar tendo visões dele mesmo, ao invés de Six. É interessante que tenha ocorrido na primeira vez em que Gaius conversa com um dos Final Five já consciente de sua identidade (no caso, Tory). Mas que relação isso teria com a interação Baltar/Six, que, a propósito, é um dos enigmas mais antigos da série?


No mais, os humanos não foram muito interessantes neste episódio. Quer dizer, houve uma discussão intensa entre o Almirante Adama e a Presidente Roslin, em que verdades muito bem ditas foram ouvidas um pelo outro. Grandes personagens, grandes atores e grandes diálogos só podem resultar em ótimas cenas, e a química de ambos sempre me encanta. Em “The Ties That Bind” houve outra grande cena em que Adama lê um romance policial para Roslin, pequenos momentos que não costumam ser construídos e valorizados na maioria das séries, mas que “Galactica” investe muito, graças aos deuses.


"Six... é você?"


De resto, Starbuck gemendo cada vez mais a cada salto que a frota dava na direção (que ela considera) errada e inúmeras despedidas para Lee Adama: no bar, onde seu discurso interrompeu um interessante strip poker; com Kara... um beijo de adeus definitivo? Duvido; e finalmente antes de partir, uma homenagem comovente (porque em “Galactica” até o sentimentalismo barato é mais comovente que os dos outros), que serviu, pelo menos, para dar um ponto final na sua história com Dualla. Foram seqüências que pareciam existir mais para preencher um episódio completo. Lee, aliás, merece logo uma nota aqui pelo episódio seguinte, pra não perdermos tempo com personagem tão bundão. Eu até acho seus questionamentos válidos a respeito dos caminhos que o governo de Roslin estão tomando, mas ele me passa um ar de arrogância e burrice tão grande que é impossível ter simpatia. Na verdade, com exceção de seu depoimento no julgamento de Baltar, não lembro de nada que Lee Adama tenha feito na série que fosse interessante.


No lado dos cylons, a trama foi bem mais interessante. A recusa dos raiders em atacarem os humanos no episódio anterior acabou resultando numa guerra entre os sete modelos mais avançados. Talvez este tenha sido o motivo para os quatro novos cylons serem “despertados” naquele momento. O que não explica nada, na verdade.


Os cylons estão cada vez mais humanos e se a história da lobotomização chega até ser esperada nesta série, não deixa de ser um ótimo pretexto para o racha visto. É interessante como o Cavil (modelo número Um, agora sabemos) não admite comportamentos fora da programação temendo a extinção de sua espécie, mas aceita com prazer Boomer ter mudado de lado, já que lhe convêm. Aliás, o fato de que todos os cylons de mesmo modelo devem ter a mesma opinião rende uma boa discussão sobre identidade e grupos e espero que a série explore mais este tema. Já Six toma medidas extremas para valer sua opinião, e as conseqüências disso já puderam ser vistas no episódio seguinte. O pedido de “por favor” para o Centurion já anuncia o que vem por aí. E que diálogo maravilhoso entre Boomer e Cavil (novo casal romântico?), cheio de ambigüidade, quando resolvem destruir as Six e Sharons, esperando que elas rezem a deus por suas almas, enquanto eles (os algozes) não possuem almas por serem máquinas.


O curioso é que nesta guerra ambos os lados tomam decisões moralmente equivocadas, assim como os humanos, que passaram todas as temporadas convivendo com dilemas e situações em que são/foram “obrigados” a atitudes condenáveis. A tendência, me parece, é que no fim das contas as categorias vilões e mocinhos não vão caber em ninguém nesta série. E se no final, há a destruição total, sobrevivendo apenas os híbridos Hera e Nick que chegarão a uma Terra inabitada por humanos e sendo rebatizados de Adão e Eva? Quem sabe eles até pousem numa misteriosa ilha do planeta...


Starbuck, completamente perdida.


No terceiro episódio tivemos o que eu acho o maior absurdo e incongruência da série até agora: a tripulação escolhida para acompanhar Starbuck. Que o Almirante queira confiar nela, tudo bem. Mas daí a enviar os principais nomes da frota com ela me parece um despautério, que só pode ser explicado pela conveniência dos roteiristas que certamente terão muito a explorar com os conflitos que vão surgir na Demetrius.


Cally contemplando a morte.


Mas “The Ties That Bind” tem como foco principal Tory e Cally. Achei que a morte da última foi desenvolvida muito rapidamente, como se houvesse muito a explorar nesta temporada final e não há tempo a perder. Ainda assim, a cena final com Adama e Tyrol é uma dessas pontuações amargas que dizem tanto com tão pouco e que só pode vir de quem sabe o que faz, mesmo não tendo o tempo que queria. A opção de se usar uma câmera que não pára de tremer e distorções na fotografia para expressar a perturbação da personagem também são compreensíveis neste sentido, já que parece claro que os autores querem explorar estilos e recursos visuais/narrativos o máximo que conseguirem nesta etapa final que lhes impuseram (prova disso foi a tentativa de trazer Joss “Buffy” Whedon para dirigir um episódio).


Tory contemplando a morte.


E tem Tory. A mais misteriosa das personagens. É a única, entre os quatro novos cylons, que não foi explorada pela série em nenhum momento anterior, e portanto mais difícil de entendê-la. Tory faz sexo com Anders, com Gaius, se esfrega sutil e maliciosamente em Tyrol. Ela chora fazendo sexo. Ela parece se sentir bem com sua nova realidade. Mas ela constantemente está com cara de deprimida. A mulher é um enigma e o assassinato de Cally não explica nada. Foi instinto de sobrevivência? Desespero? Foi a sangue frio? Seu lado cylon aflorado? Salvou Nick pela importância de ser um híbrido ou simplesmente porque se tratava de uma criança? Não vou sentir falta de Cally e acho que sua morte pode ser usada como um estopim para coisas maiores que virão. Que coisas exatamente eu não sei, mas estou ansioso.




Hélio.


Um comentário:

e.fuzii disse...

Grande Hélio,
Pode levar tempo, mas você sempre traz uma análise interessante.
Gostei dessa sua suposição de que os híbridos pudessem ser as bases da civilização. Como disse na comunidade, também é interessante a desconfiança que algumas pesoas levantam em relação a Cally ser a cylon final (e daí Nick seria a primeira reprodução "humana" entre dois cylon).
Enfim, essas discussões cylon às vezes me causam um certo desconforto e é bom que você tenha explicado bem. Considero até pular essas partes no próximo episódio...

Eu era um Cally-hater. Mas a forma como retrataram a decepção final de uma humana que sempre teve os cylons como seus piores inimigos (tanto pessoalmente quanto profissionalmente) foi expecional. Tory também cria uma expectativa enorme pelos confrontos humano/cylon por suas ações serem totalmente inesperadas. Ainda acho que ela não deixou de lado seu aspecto humano, tanto que assim como diz, ela sente que seus instintos parecem mais desenvolvidos. Tudo não deixou de ser a auto-preservação humana.

Concordo que a tripulação do Demetrius foi completamente sem sentido, mas se considerava certo que seria uma missão para a morte (principalmente com a despedida entre Kara e Lee), agora com tanta gente envolvida o destino passa a ser duvidoso. Também não entendo, se todos eles realmente se ofereçam para estar ali como disse Anders, como de um episódio para outro todos passaram a acreditar em Kara. Só faltou mesmo colocarem Dualla para não fazer sentido algum...