segunda-feira, 19 de abril de 2010

[LOST] 6x12 Everybody Loves Hugo

por e.fuzii
Ao longo de todos esses anos, Hurley sempre mostrou ser aquele personagem carismático que toda série precisa, que com seu jeitão atrapalhado e ingênuo conquistava os espectadores a ponto de ser alguém que todos poderiam confiar. Afinal, não era possível duvidar das boas intenções de Hurley, principalmente sabendo que seu mega prêmio ganho na loteria converteu-se numa maldição ao seu redor, culminando na sua chegada à própria Ilha. Mas como breve recompensa, ou apenas outro desgosto, Hurley pareceu encontrar ali seu verdadeiro amor, Libby, que logo acabou morta por Michael dentro da estação Cisne, mudando o rumo de seu personagem na série. Ele deixou de servir apenas de alívio cômico e foi até importante no final da terceira temporada, quando dirigindo uma Kombi Dharma salvou a vida dos sobreviventes que corriam perigo na praia. Mas agora tão próximo da conclusão, acho merecido que fechem aquela ponta deixada solta na segunda temporada e resgatem toda a sensibilidade de Hurley, principalmente acompanhando sua preocupação ao trocar as flores no túmulo de Libby enquanto indagava a razão dela nunca ter lhe visitado. Questão mais do que justa, que ainda serviu de preparação para o episódio em si, tanto em relação a sua história na realidade alternativa quanto a participação de Michael.

Mesmo que Hurley já tivesse aparecido como coadjuvante antes em algumas dessas tramas de 2004, não esperava que nesse caso ele teria acumulado toda sua fortuna por ser um empreendedor de sucesso. Óbvio que não existindo a Ilha nessa vida, também não existiriam números malditos. Mas ainda que Hugo pudesse ter confiança em si para se arriscar nos negócios, ele nunca teve a mesma coragem para o amor. Até que sua alma gêmea consegue lhe encontrar. Libby carrega consigo as lembranças de seu encontro com Hurley na Ilha, mas parece ainda confusa por sua própria instabilidade mental. Após um pequeno incentivo de Desmond, que está disposto mesmo a consertar a relação dos personagens nessa realidade, Hugo e Libby podem finalmente desfrutar daquele merecido pic-nic na praia. E quando os dois se tocam através de um beijo (semelhante ao momento em que Desmond pega a mão de Penny) tudo passa a fazer sentido para Hugo também.
Como já se suspeitava desde a semana passada, todos aqueles que morreram na Ilha tem uma probabilidade maior de lembrar dos eventos dessa outra realidade. Claro que, como tudo em Lost, não é possível fazer disso uma regra, mas mesmo os casos de Keamy ou Bakunin podem ser explicados pelo fato do espírito de Michael -- assim como todos aqueles que "pecaram" -- continuar preso à Ilha. Aliás, a revelação do que seriam os sussurros, apesar de não ser nada inventiva, pareceu ter sido feita num momento bem oportuno. O único problema é como às vezes essas respostas passam do ponto, ficando escancaradas demais. Michael aparecendo depois dos sussurros e revelando sua condição já parecia suficiente para deduzir tudo, sendo desnecessário que Hurley fizesse aquela pergunta diretamente. Volta a fazer sentido ainda a famigerada teoria do Purgatório, dessa vez aplicada à própria noção da Ilha como rolha para conter o mal. Por isso, ainda acho que o conselho de Michael pode servir apenas para seus próprios interesses, levando Hugo a reunir os candidatos para cumprir o plano do UnLocke, e assim conseguir também sua liberdade.

Porém, confesso que qualquer interesse que ainda tivesse nesse rearranjo de grupos da Ilha foi reduzido a cinzas quando Ilana resolveu prestar uma homenagem ao Arzt da primeira temporada. Não apenas pela paródia, nem pelos efeitos sofríveis ou a estranha edição, mas sim pela própria personagem, que entre os sobreviventes do Ajira era a única que parecia ter alguma importância aos planos de Jacob. Porque se os produtores pediram boa vontade para esperar pela revelação "na hora certa" do que seria a realidade alternativa, agora olhando em retrospecto não faz o menor sentido tanta demora com gente vagando pela floresta, personagens sendo manipulados pelos motivos mais bizarros ou o chatíssimo encontro no Templo do início da temporada. Além do mais para tudo acabar resolvido com o UnLocke esperando calmamente que os outros candidatos aparecessem. Apesar disso, a cena em que Hurley tenta convencer seu grupo a seguí-lo sob as ordens de Jacob foi absolutamente hilária. Não só por lembrar tantas vezes que fomos obrigados a aceitar ordens duvidosas durante todo esse tempo, mas porque Hurley, o então personagem mais confiável da série, parecia claramente estar inventando tudo aquilo enquanto todos ao seu redor percebiam isso. Mas justamente Jack, cansado de liderar os sobreviventes ao fracasso, acaba deixando-se levar pelas convicções de Hurley -- e ficamos impressionados com as transformações de Sayid e Claire em zumbis, hein? -- o que também influencia Sun e Lapidus a seguí-los. Assim, para defender os interesses de Jacob, restam apenas Richard, Ben e Miles que partem em busca de uma forma de destruir o avião da Ajira.
Mas apesar de Hugo ser o personagem central do episódio, o grande destaque mesmo foi o encontro entre UnLocke e Desmond, que com toda sua serenidade para lidar com a situação mostra a importância de ter sido trazido de volta à Ilha por Widmore. Ainda não se pode dizer com certeza que toda essa calma é em razão de estar ciente das duas realidades, mas não deixa de ser curioso que logo após ser jogado para o fundo do poço, Desmond siga para atropelar Locke no estacionamento da escola. Não acho que esses fatos ocorram em paralelo como a edição nos leva a acreditar. Muitos menos consigo crer que esse seja um plano de vingança de Desmond. Até pelo olhar revelador ao final, o mais provável é que esse atropelamento seja a forma que Desmond encontrou para expor Locke a uma condição próxima à morte nessa realidade. Mas se Locke está morto em 2007, será que ele já não teria recebido essas tais revelações? Apesar de tanto ter valorizado no episódio anterior o rumo que a realidade alternativa decidiu tomar, fico ainda desconfiado que essas histórias estejam indo em direção a um final feliz. Mesmo considerando todo o esforço de Desmond, é impossível ignorar o fator Ilha, tanto influenciando a vida de cada um deles como pelo seu significado para a própria série. Por isso, essa aparente conclusão feliz já tão cedo para tantas tramas, só me parece indício de que o final será bastante difícil para todos esses personagens.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Nenhum comentário: