sábado, 3 de abril de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E06 - Delicate Things

por Rafael S


"Sura será libertada. Nessa vida, ou na próxima, com o marido ao seu lado." - Spartacus

Os ventos mudaram para Spartacus. As agruras e a aridez foram substituídas pelos louros da vitória e chuva. Depois se sua heróica vitória na arena, se tornou ídolo da população, reconhecido nas ruas e respeitado pelos gladiadores, além de virar uma mina de ouro para Batiatus. Assim, sua reputação finalmente cresceu, e nisso sua chance de se reencontrar com Sura. Após saber que ela havia sido comprada como escrava por um comerciante, o agradecido Batiatus providenciou seu resgaste. E assim, os neurônios de Spartacus começaram a maquinar uma espetacular fuga do ludus.

Um recurso interessante em séries e filmes é simular situações hipotéticas durante digressões de personagens. Acho sensacional quando em Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead), Shaun fica simulando mentalmente o que pode acontecer caso ele resolva salvar sua ex-namorada durante o ataque dos zumbis. E aqui, em Spartacus: Blood and Sand, aconteceu algo incrivelmente parecido: Spartacus pensando nas diversas possibilidades de executar uma fuga frenética junto com Sura assim que ela chegasse. No início, achei estranho o recurso, que não combinava com a série, mas acabou funcionando muito bem e dando ritmo às cenas: enquanto Spartacus montava seu plano, Varro ia questionando sobre os possíveis empecilhos: guardas, armas, transporte, e principalmente, Doctore. Falando nele, esse episódio trouxe um lado mais suave do treinador, que feliz de Spartacus ter vencido Theokoles, finalmente se abriu com o guerreiro, falando de sua vida e até esboçando alguns sorrisos (!). Assim, esse foi um capítulo onde todos os movimentos do herói foram calculados: a armadura que ganhou, a proximidade do filho do magistrado o suficiente para roubar-lhe a faca, a comemoração envolvendo bebidas e mulheres, e por fim, a droga na bebida de Doctore para que ele dormisse.

Mas ele não foi o único com planos ambiciosos. O episódio serviu para revelar a cruel face de Ashur. Sabendo da grande quantia que Barca havia ganho ao apostar em Spartacus na luta contra Theokoles, ele articulou um plano ardiloso para colocá-lo contra Batiatus, e provocar sua morte. Uma jogada onde manipulou seu mestre, o lutador e seu amante, Pietros. Em um ato de covardia, Barca acabou encurralado e massacrado pelos guardas e pelo próprio Batiatus, confiando em um falso boato de que o filho de Ovidius havia sobrevivido ao massacre do capítulo passado. A ambição de Ashur já era conhecida por todos, mas agora vimos até onde ele irá para conseguir o que quer - e tendo tratos com quase todo mundo daquele ludus, tem muita munição para seus planos futuros. Já para Barca, foi a triste despedida de um personagem interessante, rival inicial de Spartacus, mas que já demonstrava simpatia pelo trácio, ao contrário de Crixus (que passou todo esse episódio agonizando entre a vida e a morte devido a seus ferimentos no capítulo anterior), além do fato de manter abertamente um relacionamento homossexual, (aparentemente) encarado com normalidade naquela época, ao contrário dos dias de hoje (infelizmente).



Mas a desgraça de Barca foi apenas parte das terríveis surpresas guardadas para esse episódio. Talvez a própria chuva torrencial que caiu durante todo o capítulo (e conferiu um visual bem peculiar, quebrando um pouco da padrão "amarelado" da série) fosse um prenúncio do que viria a seguir. Sejamos realistas, era evidente que Spartacus não iria conseguir executar seu mirabolante plano como imaginava: senão, o seriado poderia acabar ali. Um complicador era esperado no horizonte - talvez uma fuga mal-sucedida, talvez Sura não estivesse naquela carruagem que adentrou o ludus, ou fora capturada por inimigos do herói. Mas os roteiristas resolveram ir além. E quando a porta da carruagem foi aberta e o corpo quase já sem vida de Sura desfraldou como uma bandeira ao vento, foi um soco no estômago de todos os espectadores. O grande objetivo de Spartacus, o motivo para ele aguentar todo aquele sofrimento, servidão e violência, estava lá, estirada no chão e vertendo sangue convulsivamente. A frase que abre esse texto, dita por Spartacus no meio do episódio, foi uma bela pegadinha dos roteiristas, uma ironia cruel para o que viria a seguir.

E se a morte de Sura foi um soco no estômago, o que veio a seguir foi uma punhalada pelas costas: nada de teorias conspiratórias, de vingança de adversários - o responsável por sua morte foi ninguém menos que o próprio Batiatus. Ciente do efeito que a chegada dela traria em Spartacus, ele orquestrou seu plano de modo a prender o herói ainda mais ao seu ludus, não deixar sua fonte de lucros escapar pela porta. O curioso que essa foi uma preocupação demonstrada por Lucretia durante o capítulo, e Batiatus apenas reagia com incredulidade. O choque ao final foi tão grande que até a Domina ficou impressionada com a crueldade do marido. E tudo isso começou a estabelecer Batiatus como o grande vilão da série, subvertendo as expectativas de todos.



Delicate Things foi o episódio mais diferente da série até agora, trocando as sangrentas batalhas, pelo não menos cruel drama, e porque não, traição. Depois de tudo, a chuva não mais significou um presente dos deuses como se pensava, mas um choro antecipado, ciente das tragédias que viriam pela frente. E agora com Sura morta, fica a dúvida sobre o futuro de Spartacus. Fúria e vingança parecem os caminhos mais óbvios, e precisamente os combustíveis que mais Batiatus procura para alcançar mais glória e poder.

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

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