segunda-feira, 12 de abril de 2010

[Spartacus: Blood and Sand] S01E07 - Great and Unfortunate Things

por Rafael S


Depois do mar de tragédias que foi o episódio passado, é hora dos personagens se perguntarem: como seguir em frente? Luto, desorientação, desânimo, desapego, são todos sentimentos compartilhados não só pelo Spartacus, mas por muitos outros nesse sétimo episódio de Spartacus: Blood and Sand, o capítulo mais bem escrito da série até agora.

Tendo se despedido de Sura, restou a Spartacus apenas a incerteza sobre o futuro: se tudo que ele havia feito desde o momento em que chegou a Cápua foi por causa dela, o que fazer agora? Restaram a ele apenas as memórias ao lado de sua amada, e foi nelas que ele foi buscar algum aconselhamento. Ou seja, mesmo com sua personagem morta, tivemos mais uma oportunidade de ver a bela Erin Cummings na série em flashbacks - e será que ela se tornará uma presença constante de agora para frente nesse estilo? Seria interessante. Mas Spartacus teve pouco tempo para degustar seu luto, pois as contas do ludus não param, nem os sonhos de voos altos de Batiatus: assim, o Domino tratou de acertar a participação de seus lutadores em mais uma festividade para homenagear os feitos do comandante romano Marcus Minucius Rufus e sua luta para expulsar os trácios de Roma. E quão cruel foi o destino ao colocar justo Spartacus, um trácio, para representar aquele que massacrou seu povo no passado.

E esse foi o grande dilema que o herói encontrou nesse episódio: jogar tudo para o alto agora que Sura está morta ou continuar em seu caminho como o novo Campeão de Cápua? A Trácia agora lhe parecia uma memória distante, destroçada pelas tropas de Claudius Glaber, e aquela que era sua última ligação com essas lembranças, Sura, havia morrido em seus braços. Todo o episódio trata desse momento de transição na vida de Spartacus, dele, à duras penas, cortando os laços com seu passado para mergulhar de uma vez por todas nessa vida nas arenas. Como se o gladiador, forjado nas batalhas sangrentas, guerras, no Submundo, nas arenas, tomasse o controle. Toda aquela paranóia de se tornar uma máquina de matar, evidenciada em capítulos anteriores, como o The Thing in the Pit sobrepujou o jovem idealista trácio, que sonhava em viver ao lado de sua amada. E assim, o protagonista se transforma, dando uma guinada inesperada nos rumos da série. Temos um novo Spartacus, com novos objetivos e motivações - um marionete cuidadosamente esculpido por Batiatus e seus planos de grandeza. Nesse novo cenário, apenas a revelação dele como o responsável pela morte de Sura poderia trazer o velho Spartacus de volta - mas isso deve ser assunto para o fim da temporada.



Mas falando em traição, Ashur definitivamente não contava que seu plano de assassinato de Barca poderia ter consequências. O jovem Pietros, sofrendo pelo sumiço do namorado e indefeso na mão dos gladiadores, recorreu ao suicídio para aplacar a dor que sentia. E isso colocou ninguém menos que Doctore no caminho do negociante. O treinador, suspeitando da história de "liberdade comprada", resolveu investigar o desaparecimento de Barca a fundo, e com a ajuda de Naevia (uma das poucas que sabe da morte do lutador), chegou a Ashur, deixou claras suas ameaças caso viesse a resolver esse mistério. Isso coloca Doctore em uma nova posição na série: agora que teve seu fantasma expurgado (Theokoles), o personagem parece mais flexível para transitar em outras tramas. E embora rígido, ele sempre soube reconhecer a força de seus "pupilos" quando merecida, e ele definitivamente não está feliz nem convencido com o sumiço de Barca. Esse novo antagonismo entre Doctore e Ashur promete bastante, e mal posso esperar para ver o golpista sendo desmascarado.

Ainda no leito de morte, Crixus passou mais um episódio apenas estirado na cama, mas ao recobrar sua consciência, pode vislumbrar a nova configuração amarga das coisas: Spartacus era o novo Campeão de Cápua, e ele um moribundo gravemente ferido, e abandonado pelo seu maior parceiro do ludus (Barca). Depois de muita arrogância, foi curioso ver a decepção em seus olhos, tendo apenas Naevia para lhe amparar naquele momento. Um grande revés no personagem, que terá que reconquistar muita coisa de agora em diante. E espero que não o coloquem de novo como rival de Spartacus, e sim que seja construída alguma camaradagem entre os dois, a parceria deles contra Theokoles foi um dos melhores momentos da série até agora.



E como desgraça pouca é bobagem, sobrou até para Varro nesse capítulo. Em seu reencontro com sua mulher e filho, descobriu que ela não havia sendo a mais fiel das mulheres enquanto ele estava preso no ludus, e muito do que acreditava parece ter ido por água abaixo. Claro que ela teve os motivos dela, soando até como uma crise de ciúmes besta a cena de briga dos dois, mas essa endurecida pode ser benéfica ao personagem, já que Varro era até agora um dos personagens mais bonzinhos da série. E nesse mundo de Spartacus, os bons parecem não ter vez.

Um episódio sobre como lidar com perdas: Varro, ao se separar da mulher, ficou carrancudo. Pietros, ao perder Barca, desistiu de viver. Crixus, ao perder sua glória, aprendeu sua mais cruel lição. E Spartacus, ao ver Sura morta, abdicou do seu passado. Como a cena final representou tão bem, foi a morte do velho Spartacus, para que novo, banhado a ferro, fogo e sangue, nascesse. Great and Unfortunate Things teve, na minha opinião, o roteiro mais bem construído até agora, amarrando diversas tramas em torno de um único tema e criando esse novo painel no qual a série se configurou. Que comece essa nova fase, promete.

Fotos: Reprodução



Rafael S
http://twitter.com/rafaelsaraiva

Um comentário:

Maradona disse...

Um capítulo intrigante realmente, pra mostrar, a quem duvida ainda, que Spartacus n é só sexo e porrada, e sim boa temática, roteiro e história. Tudo é bem real, bem simples, ao mesmo templo complexo e profundo. Meus parabéns pela analise do capítulo e que continue a grande saga de Spartacus.