terça-feira, 10 de novembro de 2009

[Mad Men] 3x12 The Grown Ups

por e.fuzii
Então John F. Kennedy de fato morreu. Em meio a tantas incertezas cercando os personagens da série, o único fato que estava previsto para encerrar essa temporada era o trágico assassinato do presidente americano. Fiquei bastante satisfeito que decidiram adiantar o acontecimento para antes do último episódio, mais preocupados com a repercussão ao invés de considerá-lo como o clímax da temporada. Já elogiei no episódio anterior a competência dos roteiristas em lidar com os marcos da história americana e numa situação tão delicada como essa eles não poderiam ter-se saído melhor. As próprias imagens de arquivo já foram capazes de me emocionar, principalmente quando um dos locutores, mostrando dificuldades em manter seus óculos no rosto, não consegue ler as notícias sem deixar de gaguejar ao tentar engolir o choro. Mesmo para os próprios americanos, que devem ver essas imagens a cada ano que relembram sua morte, essas cenas não deixam de emocionar pela perplexidade dos personagens diante da televisão. Como é o caso de Carla, a empregada dos Draper, que chega com as crianças logo que é anunciado a morte de Kennedy e desaba em prantos, compartilhando o mesmo sofá com Betty. É interessante como o episódio abre com Pete recebendo a notícia de que foi "menos promovido" do que Ken, ressaltando a hierarquia da empresa, para depois mergulhar nessa comoção coletiva. Como o próprio nome do episódio sugere, para esses personagens nascidos na época do "baby boom" chegava a hora de crescer. Mesmo Pete surpreende tanto ao mostrar equilíbrio enquanto recebe o triste aviso de Lane Pryce, quanto uma certa sensibilidade ao analisar a reação dos outros funcionários da Sterling Cooper, ainda interessados com o que poderiam lucrar com esse fato. Diante disso Trudy repudia a atitude, dizendo que essa era uma luta de toda a América e que todos deveriam se unir para enfrentar esse atentado à pátria.

Porém, não são todos que mostram-se comovidos nesse mesmo nível. Duck prefere desligar a televisão, mesmo já sabendo que haviam atirado em Kennedy, para aproveitar os breves momentos ao lado de Peggy. Já ela, com sua peculiar determinação, decide trabalhar no dia de luto nacional simplesmente por achar mais proveitoso do que acompanhar o sofrimento de seus amigos e familiares. Mas como era de se imaginar, ninguém teria de superar mais rápido esse trágico acontecimento do que a família Sterling, que promoveria o casamento da filha no dia seguinte. Apesar de tantas ausências, o casamento é celebrado e Roger parece cada vez mais convencido de que está apenas trocando uma criança por outra, enquanto carrega Jane pelos ombros até em casa. A primeira coisa que ele decide fazer? Buscar consolo na doce voz de Joan -- e vejam como ele sabe o telefone dela de cabeça --, contado de seu dia e sobre a desastrosa situação do mundo. Ou talvez constatando a situação desastrosa de suas próprias vidas, bem longe daquilo que esperavam de seus relacionamentos, mas tendo sempre de continuar seguindo em frente. Não queria me antecipar mas já dá pra desconfiar quem Roger pensava enquanto citava seu único amor na semana passada…
O casamento da filha de Roger serviu também como palco para mais um encontro entre Betty e Henry. Se no episódio anterior cheguei a prever que Don Draper revelando toda a verdade a sua esposa poderia salvar seu casamento, não esperava que mais uma vez Betty fosse recusar-se a amadurecer. Não é somente pelo fato de estar chocada com a morte do presidente, passando o dia inteiro chorando sem razão e sendo consolada até pela própria filha. Tudo que ela precisa é de alguém que lhe dê proteção e esteja disposto a cuidar somente dela. Não podemos deixar de reconhecer os esforços de Don Draper nesse sentido, presente nas altas horas da madrugada cuidando do bebê, tentando explicar o caos que as crianças veem na televisão e convidando até Betty para dançar. Mas para ela isso não é mais suficiente, não depois que Don já mostrou toda sua fragilidade diante de seus olhos. Betty simplesmente não pode mais amá-lo. E por todo seu esforço em compensá-la da melhor maneira possível, fazendo crer que tudo seria diferente, essas palavras de Betty atingem Don Draper como um golpe fatal. Para um homem que pensa tanto adiante, tentando esquecer as tragédias do passado e do presente, vê-lo sentado solitário à meia-luz é o sinal da derradeira derrota. Agora só resta mesmo esperar pela separação, e torcer para que nesse momento tão delicado da história americana, seja menos traumático possível para seus filhos.

Fotos: AMCTV/Reprodução.

e.fuzii
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