domingo, 1 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x01 Public Relations

"Who is Don Draper?"

Mas antes de responder esta, lanço outra pergunta: qual outra série poderia iniciar sua quarta temporada com uma pergunta tão direta tentando desvendar seu misterioso protagonista? Como se isso já não tivesse sido tarefa árdua para a maioria de seu público durante essas três temporadas. O mais irônico é que tudo que se esperava da vida de solteiro de Don Draper, agora já separado de Betty e morando sozinho em Manhattan, mostra-se na verdade bastante surpreendente. Acho que a questão não era nem saber em que período a série voltaria, mas sim em que situação esses personagens estariam. Um ano após o assassinato de Kennedy, um ano após a fundação da Sterling Cooper Draper Pryce. Parece pouco tempo, mas basta comparar esteticamente o novo escritório, mais claro e cheio de vidros no lugar das paredes, com o apartamento quase antiquário que Don está vivendo, para perceber essas profundas mudanças. Ao invés de se preocupar com essa transição gradual, já encontramos um Don Draper absolutamente incomodado com sua condição atual, obrigado a novamente se reinventar. É interessante lembrar seu conselho a Sal -- que já faz falta, até na campanha da Jantzen dominada por fotografia -- ainda na premiere da temporada passada: limitar expor-se. Tudo que ele buscou em sua vida, desde que tomou para si a identidade de Don Draper, foi meticulosamente calculado para se enquadrar nesta sociedade de prestígio e glamour. Mas a partir do momento que se vê longe de sua família, e portanto sem a máscara que lhe protegia, Don parece entregue ao tédio e ao fútil. Todas as vezes que alguém aparece em sua sala, ele está tirando uma soneca em seu sofá, apenas esperando o tempo passar. Seu feriado de Ação de Graça é gasto com sua prostituta usual (curiosamente parecida com Joan) que lhe aplica tapas como forma de punição. E ele nem se esforça para atender o telefone neste dia. Além disso, o pouco tempo que tem direito de dividir com os filhos, Don Draper aproveita conciliando com seu trabalho.

Porém, o momento que melhor representa esse desajuste de Don com a sociedade é no encontro arranjado por Roger com uma amiga de Jane. Apesar da noite agradável, esta acaba longe da forma como ele gostaria, sendo repelido por usar de truques manjados. Mas seria somente esse o motivo? Ou estaria ela violando as regras de conduta, com o status de divorciado dele representando uma ameaça de relacionamento sério? Ou seria, nas suas próprias palavras, pelo mundo encontrar-se imerso na escuridão? A verdade é que essas incertezas também atingem a Sterling Cooper Draper Pryce (a partir de agora abreviada para SCDP), emergindo numa época em que confiança não é conquistada apenas com trabalho. O anúncio de televisão criado por Don Draper para a Glo-Coat chama atenção para a empresa e esta pode ser a grande chance de se estabelecer no mercado. Mas ele parece não entender a importância de sua imagem na primeira entrevista para a revista. Compreensível para alguém que há alguns anos atrás se recusava a ficar preso a um contrato e de lá pra cá viu seu nome sendo escrito até na porta da empresa. Somente através da campanha para a Jantzen, uma empresa de trajes de banho querendo manter a falsa decência de suas peças e anúncios, Don Draper percebe que há apenas duas escolhas: manter a modéstia e ser deixado para trás ou se arriscar e alcançar o sucesso. O incidente no supermercado orquestrado por Pete e Peggy para impulsionar as vendas de presunto (aliás, uma piada recorrente de SNL com o nome de Jon Hamm) quase termina em desastre, mas também serve como exemplo de estímulo para atrair clientes. Além disso, Peggy é mais uma vez peça chave para convencê-lo sobre a admiração e dependência dos outros funcionários por ele, mesmo depois de descontar todas suas frustrações nela. Quando Don coloca os clientes da Jantzen pra fora do escritório, ele já sabia exatamente o que deveria dizer na sua nova entrevista. Era hora de criar uma nova história, mostrar quem era o verdadeiro protagonista dessa sabotagem que em breve faria a empresa ocupar dois andares do edifício Time Life. E quando alguém tão brilhante quanto Don Draper decide promover sua própria imagem, alguém duvida disso?

Apesar de Don Draper ter sido personagem central do episódio, é interessante notar como o ritmo foi bastante parecido com aquele visto no final da temporada passada. O roteiro mostra uma maior fluidez, trocando cenas de contemplação por uma maior presença de diálogos. Poderia passar o resto do texto citando alguns destaques, como a mãe de Henry procurando motivos para o trânsito no feriado, Joan garantindo a Harry que não comentaria sobre o especial de Jai Alai nem depois que fosse ao ar ou Roger com seu tradicional humor negro desprezando o (meio) jornalista que entrevistava Don. Nesses meses, Peggy ganhou também um novo companheiro de trabalho, Joey, e me pareceu bastante eficiente a forma como mostraram a proximidade dos dois logo de imediato, com as constantes citações a "John and Marsha", de Stan Freberg -- também publicitário influente da época.
E como fica Betty nessa história? Seu novo relacionamento não parece estar muito diferente do vivido ao lado de Don, e Henry precisa se esforçar para acender aquela antiga paixão (algo que me lembrou a viagem a Roma da temporada passada). Se ele ainda não se arrependeu desse casamento, talvez seja apenas questão de tempo. Meu único receio é que Betty, depois de uma excelente terceira temporada, seja novamente reduzida à dona-de-casa como obstáculo do protagonista, razão de ódio para a maioria dos espectadores -- Skyler de Breaking Bad que o diga. Mas me parece que nesta temporada será explorada principalmente a relação de Betty com seus filhos, aparentemente mais crítica do que há um ano atrás, a ponto de ser motivo de temor para as crianças. Como sempre digo, Sally deve ser fundamental para mostrar essa transição da sociedade, principalmente por atingir a adolescência nessa época. A inclusão da atriz Kiernan Shipka no elenco regular da série só vem pra confirmar isso. O crítico Devin Faraci postou até uma brincadeira no twitter apostando que o final de Mad Men seria parecido com Freak and Geeks: Don decidiria seguir a banda Grateful Dead no final. Mas desconfio que Sally Draper tem uma probabilidade bem maior de se despedir assim.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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