domingo, 8 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x02 Christmas Comes But Once a Year

Joan liderando uma fila de Conga, o que mais preciso dizer?

Acompanhamos neste episódio a primeira festa de Natal na Sterling Cooper Draper Pryce, que tinha tudo para ser modesta e econômica até que Lee Garner Jr confirmasse sua presença. E sabemos muito bem -- basta lembrarmos da demissão de Sal -- o que é necessário fazer para agradar o cliente majoritário da empresa. Era preciso que a festa fosse transformada em "orgia romana" nas palavras do próprio Roger, que logo se viu vestido de Papai Noel, distribuindo presentes e falsos sorrisos. Por maior que fosse a empolgação era inegável o esforço de todos tentando se divertir, fazendo parte do show particular de Lee Garner Jr. Como se tentassem imitar os saudosos tempos de Sterling Cooper, que também estiveram representados no retorno de Freddy Rumsen. Peggy aprende que esta é uma época que nunca irá voltar a medida que tem de trabalhar ao lado de Freddy e suas ideias mostram-se cada vez mais datadas. Todo seu respeito e gratidão por um dia ter sido seu mentor passam a ser esquecidos conforme a paciência se esgota. Ela termina insultando-o de "antiquado", justamente quando está envolvida num relacionamento em que tenta posar de boa moça. Acho que desde o começo da série, ao menos entre as mulheres que tenho mais contato, Peggy é a personagem que o público feminino tende a se identificar com maior facilidade. Talvez então não fosse a pessoa mais indicada para analisar seu comportamento, mas tenho a impressão que ela busca separar sua vida profissional da pessoal, adotando uma postura mais conservadora. Peggy termina cedendo às vontades de seu namorado, principalmente pelo receio de passar o Ano Novo sozinha. Mas em seu rosto mais uma vez só se enxerga desilusão. No final, a bela Dra. Fay Miller resume o pensamento desta época dizendo que as pessoas travam um duelo constante entre aquilo que querem e o que é se espera delas. E qual outra época do ano poderia simbolizar tão bem essas expectativas cumpridas ou frustradas do que o Natal?

Neste caso, provavelmente não teria uma forma mais cruel de exemplificar a decepção do que através da carta enviado por Sally ao seu pai. Já conformada por não poder ganhar o presente de Natal que realmente queria (a presença dele), ela ainda mostra bastante maturidade por manter viva toda fantasia natalina para seu irmão. Na contramão disso, tivemos o retorno de Glen, o famoso vizinho dos Draper que mantinha uma obsessão bizarra por Betty e agora parece voltar sua atenção para os problemas de Sally. Se num primeiro momento sua presença assustadora tentava abrir os olhos da garota para o novo casamento da mãe, depois de vandalizar a casa e deixar o quarto dela intacto, Glen parece convencê-la de que está ali para ser seu protetor. Com certeza Glen serve também como um paralelo de como Sally será obrigada a amadurecer mais rapidamente com seus pais separados, um recurso já bastante utilizado ao longo de toda a série -- assim como vemos o problema de alcoolismo de Freddy também afetando Don Draper agora. Porém, o próprio vovô Gene deixou como conselho para sua neta que ela só poderia se enquadrar neste mundo quando deixasse de viver no mundo de conto de fadas criados por Betty. Quem sabe Glen seja seu guia, mas só espero que eles tenham diálogos um pouco melhores daqui pra frente.
Enquanto isso, Don Draper mostra que apesar de sua bem sucedida entrevista para o jornal, tudo não passou de uma performance muito bem ensaiada e pouco mudou na sua vida prática. Assim que as perguntas do questionário psicológico ganharam um caráter mais pessoal, até Lane Pryce previa com um sorriso maroto que Don daria um jeito de escapar da sala. Ele é o retrato perfeito de alguém fragilizado por essa época do ano, a ponto de um dos funcionários pela primeira vez considerá-lo patético. Talvez a admiração mostrada por Peggy no episódio anterior também fosse a forma que ela encontrou para agradá-lo, ou ela ainda é uma das poucas a depositar confiança no chefe. Depois de todos os casos que acompanhamos de Don Draper enquanto estava casado, era difícil prever que seu comportamento mais reprovável viria quando já estivesse divorciado. Ainda mais envolvendo sua secretária, motivo pelo qual já havia se desentendido com Roger na época em que se separava pra ficar com Jane. Mas por incrível que pareça, tudo não passou de um mal entendido. Afinal, se Don Draper havia falhado nos encontros com sua vizinha enfermeira e a mulher da empresa de pesquisas, principalmente por elas sempre se anteciparem às suas investidas, por que Allison seria convencida então? A intimidade entre os dois que só vinha crescendo -- a ponto dela se envolver até nos seus assuntos familiares pós-separação --, a promessa de uma "bonificação" no final de ano, a partida súbita de Don da festa esquecendo a chave no escritório, um pedido de ajuda no meio da noite. Não seria capaz de condenar Allison por considerar essa sucessão de eventos uma elaborada cantada de Don para chegar àquele momento a sós em seu apartamento. Acredito que até passou pela sua cabeça que esse relacionamento teria desdobramentos futuros, ou pelo menos para que Don não passasse as comemorações de Ano Novo sozinho. Mas se este evento não passou de um equívoco, o mesmo não pode ser dito da atitude de Don Draper no dia seguinte. Allison veste-se com suas melhores roupas, trata de providenciar os presentes de seus filhos e mostra uma alegria contagiante, mas é recebida por Don como se nada tivesse acontecido. E para piorar, ele ainda entrega com a maior frieza o bônus por seus "serviços" prestados ao longo do ano. Com certa ênfase nos serviços, a secretária foi rebaixada ao posto de prostituta nas horas vagas. Pobre, Allison.

Sinceramente, às vezes fico pensando como podemos torcer em um episódio para Don Draper triunfar nos negócios para logo depois desejar um destino desgraçado diante de uma atitude tão desprezível. Não é à toa que ele se mantém como um dos personagens mais complexos dos últimos tempos, principalmente porque seja nos fascinando ou seja nos decepcionando, Don segue agindo além de nossas expectativas.


Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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