sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x03 The Good News

Já dizia aquele batido poema que circula todo final de ano por e-mail (erroneamente atribuído ao Drummond), que trata-se de um gênio aquele que teve a ideia de industrializar a esperança através da divisão do tempo em anos. É cercado por este espírito de renovação que acompanhamos na Sterling Cooper Draper Pryce os dias que antecedem o ano de 1965, normalmente ocupados com ponderações, balanços e resoluções para o futuro. Porém, que esperança resta quando o novo ano já chega prometendo inevitáveis más notícias? Se é fato que elas sempre são as primeiras a chegar, os três personagens principais deste episódio fazem de tudo para tentar adiá-las. Após sua reprovável conduta no episódio anterior, Don Draper busca refúgio na Califórnia para reencontrar Anna, a única pessoa a demonstrar por ele amor incondicional. Mas depois de revelada sua grave condição de saúde, Don acaba preso nos mesmos dilemas que o levaram até lá, e foge de volta a Nova York. Lane Pryce continua tentando colocar a empresa em ordem e sua fixação pelo trabalho acaba afastando cada vez mais sua esposa. Na tentativa de reparar seus erros, termina por agravá-los, chegando ainda mais próximo do divórcio. Já Joan tenta cumprir todos os preparativos para poder engravidar, mas seu futuro com Greg continua incerto. Parece questão de tempo até que ele seja mandado para o Vietnã e sabe-se lá que fatalidade lhe aguarda assim que chegar.

Se parece surpreendente que Joan tenha se submetido a dois abortos anteriormente -- e não quero de forma alguma levantar nenhuma controvérsia a respeito disso --, não deixa de ser prova de que ela precisa manter sua vida planejada, nem que seja levando às últimas consequências. Mas agora já passando dos 30 anos, as pressões para constituir uma família são enormes. Afinal, mesmo depois daquela atitude grotesca que nos esforçamos para esquecer, foi isso que levou ela a casar-se com Greg, não? Até Peggy mostra-se admirada com o casamento de Joan, a medida que também tenta corresponder com seu novo namorado a todas as expectativas da sociedade. Entre curtos encontros por conta de turnos alternados, Joan faz o que pode para melhor o clima com seu marido em casa, até que acaba na mais pura ansiedade cortando seu dedo. Se este acidente por um lado mostra que Greg não é o fracasso que todos (até mesmo Joan) esperavam, por outro lado prova que ele continua a subestimar sua própria mulher. Ainda mais Joan que despede uma secretária por não assumir responsabilidade por um erro, enquanto ela mesmo se responsabiliza por ter lhe contratado. Como bem concluiu Greg, ele é capaz de "estancar" problemas com curativos, mas não pode ainda fazer consertos definitivos. Resta saber quanto tempo Joan ainda aguenta esperar ao seu lado com este futuro indefinido.

Essa também é a postura de Don Draper quando decide passar férias na Califórnia e se vê diante da triste notícia do câncer de Anna. De certa forma esse episódio pareceu desarticulado, principalmente entre essa primeira parte na costa oeste e depois a noite de diversão ao lado de Lane em Nova York. Não costumo rebater textos durante meus comentários, mas chamou bastante atenção essa semana a crítica de Matt Zoller Seitz no site The New Republic, onde ele classifica este episódio como o pior da série. Apesar de concordar com uma certa mão pesada na maioria das frases ditas por Stephanie ao longo do episódio, parecendo julgar a época sob uma perspectiva atual, o que mais me incomoda é essa presença constante de garotas que servem de potenciais conquistas a Don Draper. É verdade que ela teve uma função maior ao revelar o câncer de sua tia -- além de servir como voz da juventude californiana --, mas cada vez parece uma distração desnecessária do roteiro. O que realmente discordo do texto é a forma como Don resolveu lidar com o segredo sobre o câncer. Posso imaginar que qualquer outro drama tentaria armar esse momento de despedida da forma inversa: Anna sabendo de sua condição mas tentando ao máximo esconder dele até atingir a revelação-clímax. No entanto, sua ida à costa oeste sempre representou o desarmar de Don Draper, quando ele pode enfim relaxar sem sua "máscara" e aproveitar os breves momentos como Dick Whitman. Quando ele precisa esconder de Anna sua condição de saúde, passa a estar envolvido nas mesmas mentiras que lhe fizeram chegar até ali. Assim, ele se despede em silêncio deixando a inscrição na parede "Dick+Anna '64", como se fosse um epitáfio para ambos. Aproveitando seus últimos momentos ao lado de Anna, ele promete levar os filhos na próxima Páscoa para conhecê-la. Como se já não fosse possível fazer nada para reverter essa situação, a não ser cercá-la de boas notícias até que a inevitável má notícia viesse.
De volta a Nova York, a história toma um rumo completamente diferente quando Don Draper convida Lane Pryce para conhecer seu estilo de vida, buscando por diversões pela cidade. Bêbados, os dois partem para perturbar uma sessão de Gamera, com um hilário Lane gritando em falso japonês para o público. Depois de jantarem e assistirem a um show de stand-up, ambos terminam no apartamento de Don na companhia de duas prostitutas. Se isto poderia representar o perigo de Lane cair nas mesmas tentações que Don, na manhã seguinte essa preocupação parece dissipada quando ele faz questão de pagar por sua acompanhante e indaga como é ter esse nível de intimidade com uma delas. Don, obviamente, não sabe responder. Lane agradece as distrações, mas volta a focar sua atenção aos problemas da empresa e de seu casamento. Assim, damos adeus a 1964 sem grandes celebrações, cumprimentos ou contagens regressivas, apenas com a ressaca do primeiro dia do ano, tomando conta de todos ao redor da mesa de reuniões da SCDP. Sejam então todos bem vindos ao ano de 1965, esperamos que apesar de tudo seja mais um ano magnífico.

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Um comentário:

Emanoel disse...

Esse episódio gerou discussões interessantes. Entendo algumas críticas negativas, mas não nego que adorei, os minutos passaram voando. Lane esteve bastante envolvido (acho que o personagem nunca recebeu tanta atenção) e os ad men's conseguiram encontrar comédia na desgraça: bilhetes trocados, bêbados soltos pela cidade, as cenas do cinema e stand-up me arrancaram boas risadas. Pode não ter sido genial, mas o roteiro me pegou de surpresa e talvez algumas situações provem sua importância com o decorrer da temporada.