segunda-feira, 9 de julho de 2007

[DEXTER] [FOX- 1a Temporada] Piloto

O que você perdeu assistindo Dexter dublado*:

Doakes: Ganhou voz de velhinho bravo, mas ele só é bravo, e os palavrões tb não foram traduzidos.

Laguerta: Perdeu seu apelo latino nas falas e também não está tão durona.

Angel:Perdeu as charmosas frases em espanhol.

Debra: Nenhum palavrão traduzido a altura. Parabéns, puritanos!

Dexter:Perdeu todo tom suave, sob controle, cool e todas as nuances possíveis do personagem.


***Crédito da foto: reprodução da montagem do blog ligado em série

Nos primeiros minutos, quase abandono Dexter, achei tudo muito clichê. Mas uns segundos depois já estava apaixonada. Só ter um pouco de paciência e sacar o óbvio, tudo em Dexter é calculado e proposital, assim como seu protagonista: Miami é clichê e brega, com suas cores berrantes, sua latinidade exposta (e o que se entende de "latinidad") quase que as vísceras, a sexualidade latente, a mistura...A narração em OFF, nada óbvia, calma, pausada, cheia de nuances (como já expliquei, quem viu dublado perdeu).

Nas primeiras cenas, somos apresentados a “vítima” de Dexter. Um distinto senhor, Mike Donovan e seus doces meninos cantores. No carro, prendendo a jugular de Mike, já percebemos que Dex não está para brincadeiras. E o prazer com que ele segura aquela cordinha, que controla a sua força, e, por conseqüência, a vida de Donovan, é impressionante. As luvas pretas de couro, fetichismo puro. E por aí entramos na cabeça de um assassino, ou melhor, de dois...De caçador a caça.


Sofra, Mike!


Quando percebi através de Dex o que Mike fez, automaticamente concordei com aquilo, passei a admirar, terrível, eu sei, mas isso que Dexter faz. Nós somos assim, não tente esconder. Sanguinários, todos nós? Até esse momento eu nem sabia do código Harry, da conduta moral, ética, preservar a vida humana. Uia e ai?


Pense num crime horrendo, mas que vc nem ligou muito. Pense nas crianças nas ruas e vc nem se importa mais. Pense nas vezes que vc deveria dizer algo comovente, verdadeiramente humano, mas vc não conseguiu. Bom, se vc não passou por isso, eu já e com isso a minha simpatia por Dexter é quase certeira. A banalidade da vida cotidiana parece nos fazer perder esses pedaços de humanidade.

Dexter e seu life style também é apresentado a nós: seu barco chamado Fatia da vida(Slice of life, hohohoh) cada detalhe de uma vida tão comum, tão humana, mas que em nada é assim na verdade. A música cubana ao fundo, tão calorosa...O seu apartamento, impecavelmente limpo e organizado. E o seu segredo, as gotas de sangue guardadas no ar condicionado, atrás da foto da família Morgan, controle do caos e o código Harry impondo a sua vida. O ritual , o modus operandis de um assassinato, tudo aquilo que o faz ser um assassino em série, mas a grande diferença que a sua série é de justiceiro. Assassino que mata assassino. Assim, seguindo a lógica de tira (detetive/caçador/juiz/executor) do código Harry, Dex segue sua vida.


Todos temos segredinhos...


Quando o Ice Trucker Killer (ITK-> essa é a sigla em inglês para o assassino do caminhão de gelo, fica melhor em inglês e vou adota-la aqui) é mostrado através das prostitutas mutiladas, sem sangue, tudo organizado e limpo, tudo bem ao estilo Dexter, ele imediatamente admira o trabalho. Dex sente um respeito, tenta compreender tudo aquilo. De certo modo, inveja o ITK.


Quando Dex persegue o seu segundo caso, um guardador de carros que estupra e mata suas vítimas, depois de filmá-las e colocar na internet, tipo um snuff filme, o ritual de Dex, frio, metódico, cheio de significação moral e seguindo o Código Harry, fica mais claro para nós. Deve-se provar que ele tem culpa, não apenas achar, deduzir...Esse é o controle absoluto que Dexter possui. E o que mantém "dentro da normalidade".


Nos seus relacionamentos, as suas observações variam de um amor que deveria (e deseja) sentir, a um profundo sarcasmo e pouco caso, no entanto, Dexter precisa da aprovação alheia. Por isso recheia os "amigos" com donuts e singelos "hollas". Com a irmã, Debra, possui uma relação legal e bem próxima, gosta de saber que ela o ama. Com a Capitã Laguerta não compreende o "ritual de acasalamento". E seu "inimigo" é o detetive Doakes, o único que sente arrepios ao ficar perto de dele. E é claro, a relação imbuída de respeito, hierarquia e união entre Dex e seu pai adotivo, Harry. A principal relação dele, que comanda a sua vida.



Mas com Rita e as crianças, Dexter é a própria personificação da contradição. Mesmo ele não entendendo esses rituais amorosos, ele os executa com perfeição. Sua relação com eles é terna e íntima.Quando Dex fala de Rita é uma maravilha, na sua descrição, ela é tão estragada quanto ele. A questão da sexualidade é bem retratada, quem lê Freud e Lacan, sabe que assassinos em série costumam ser frustrados nessa área. Dex é assim, compensa com outras necessidades: matando e comendo.




No final desse episódio é revelado para nós a empatia imediata entre Dexter e o
ITK. Ele o convida para brincar. E o que será desse joguinho entre dois assassinos seriais? O que o ITK sabe de Dexter?

Let´s play!


Frases legais:

“Acredite em mim. Com certeza, eu entendo”

"Just like me. Empty inside."

" Harry e Dorris Morgan fizeram um ótimo trabalho me criando. Mas estão ambos mortos agora. Eu não os matei. Honestamente!"



*Cada um tem a sua opinião, claro. Eu detestei ver Dexter dublado.


->Atenção, a partir do próximo episódio, Crocodile, terá a abertura de Dexter. Muito legal!


Danielle Mística


O Fuzii leu o livro que inspirou a série, legal ter essa referência e saber até onde eles foram. E é com ele que deixo vcs agora:




Darkly Dreaming Dexter
de Jeff Lindsay


Embora toda essa primeira temporada do seriado seja baseada
neste livro, muita coisa é diferente na tradução entre as mídias. Para dar uma noção da diferença de dinâmica entre os dois, esse episódio"piloto" corresponde a quase um terço do livro, principalmente por Dexter ser muito mais desenvolvida. Ele possui uma segunda personalidade, denominada como "Passageiro Negro" por ele mesmo, que tem Necessidades próprias em assassinar pessoas.

Esse conflito é interessante porque Dexter, além de ser o psicopata que já é, acaba atingindo um nível próximo da psicose, tendo sonhos e alucinações que o confundem na busca pelo assassino que o chama para "brincar". As constantes indagações com as situações deixam o personagem ainda mais completo, como na perseguição ao furgão refrigerado, onde ele pergunta-se o que faria se pegasse o motorista (prenderia? levaria a LaGuerta? revistaria?).

Seu humor no livro é ainda mais sagaz e sinistro, e aparentemente, seus sentimentos estão próximos de transparecerem, mas ele não os percebe ou falha ao tentar trazê-los à vista.

" Eu não consigo manter animais de estimação. Animais me odeiam. Eu comprei um cachorro uma vez; ele latiu e rosnou - pra mim - de forma descontrolada e sem parar por dois dias, quando tive de me livrar dele. Tentei uma tartaruga. Toquei-a uma vez e ela não saiu mais de
seu casco, até que alguns dias depois ela morreu. Ao invés de me ver ou que eu lhe tocasse novamente, ela morreu."

Por outro lado, a maioria dos casos investigados que estão por vir e a riqueza dos personagens coadjuvantes são méritos dos produtores do seriado. Se o livro criou e desenvolveu Dexter, o seriado conseguiu criar a ambientação necessária pra manter a história interessante na
televisão.



e.fuzii

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu já via série toda e também já li o livro, e os dois são perfeitos. Na verdade a série foi mais do que uma adaptação, no sentido de apenas traduzir de uma mídia pra outra, tem muita coisa diferente no livro, e principalmente o final é bem diferente. Mas eu acho que a série acabou indo mais longe do que o livro em muitos pontos. Eu por exemplo não gostei muito da psicose do livro, que fica o tempo todo te dando a entender que talvez o ITK seja o próprio Dexter. Claro que até dá rpa explicar a coisa da psicose e tal, mas acho que não ia ficar legal na tv.

e.fuzii disse...

Julia, eu acho que condiz perfeitamente a psicose apresentada no livro, confundindo Dexter (e nós também) sobre ele ser ou não o ITK, porque o foco do livro é exatamente desenvolver mais a personalidade, o que o deixa bastante introspectivo.
Concordo que na televisão isso se perderia, por não haver espaço para nossa imaginação fluir (mesmo que fossem mostrados por sonhos), por isso, optaram por seguir esse padrão "policial" no seriado.

blackstar disse...

Eu tenho os livros no PC, mas ainda n li... Gostei de saber o que a série acrescentou. Adoro coadjuvantes, hehehe

ótima review, Danete!!

JLM disse...

Lembrando que a segunda temporada começou agora. Me parece que no primeiro episódio já estão tecendo a trama do próximo grande inimigo de Dexter, desta vez um matador latino.