domingo, 19 de outubro de 2008

[Mad Men] 2x11 The Jet Set

É difícil que alguém discorde que a cena mais marcante da primeira temporada de Mad Men é o comovente discurso de Don Draper sobre o "carrossel" da Kodak em "The Wheel". Em poucas palavras, Don explica ali toda a conexão que se pode fazer com o produto, através da nostalgia que te leva a épocas adoráveis. Mas após ter sua mala perdida no caminho -- e, portanto, um de seus laços com o passado --, o publicitário enfrenta problemas na sua viagem para uma conferência sobre o programa espacial na Califórnia. Além da própria viagem já ter sido motivada pelo desconforto com o seu casamento, a cada nova cena vemos Don sendo irritado e confundido: são as poucas roupas usadas na piscina do hotel, o clima quente da costa oeste, uma jovem semelhante a Betty no bar e a aproximação de um estranho grupo que decidiu escolhê-lo com um propósito desconhecido. Porém, Don só mostra-se perturbado realmente durante uma das apresentações dos foguetes. Com o "carrossel" ao fundo, servindo de suporte para todo esse plano, somos levados ao futuro tecnológico, em que embora possa levar o homem a cantos desconhecidos do Universo, pode também destruir em um piscar de olhos o planeta que conhecemos. São com essas imagens da devastação na época da Guerra Fria que Don Draper, mesmo assim parece estabelecer uma ligação com o passado que ele tanto tenta esquecer lutando na Guerra da Coréia. Ou seja, tudo acontece exatamente ao contrário da forma que ele apresentou o produto.

Com esse estado de espírito, era praticamente impossível que Don resistisse ao convite da tentadora Joy. Aquele estranho grupo, que parece saído de um filme do Fellini, é apenas um bando de nômades, vivendo da luxúria numa sociedade praticamente teatral. Não é possível enxergar nem uma clara diferenciação entre pais e filhos e tudo o que eles esperam é ser os personagens que quiserem. Tanto é que Willy desconversa quando Pete fica interessado em saber de onde poderia conhecê-lo. Para eles, Don representa apenas o bonitão calado, que com certeza é uma situação confortável o suficiente para viver pelo resto de sua vida. Mas tudo muda na presença dos filhos de um desses personagens, que bastante semelhantes a Sally e Bobby, vivem momentos tensos com a separação dos pais. Envolvido nesse clima, Don resolve enfrentar de vez o Dick Whitman preso por tanto tempo dentro dele e fazer um misterioso telefonema. Ao final, ele anota um endereço na última página do livro "O Som e a Fúria" de Faulkner -- que só aí já é um interessante paralelo -- e termina sentado no sofá com a câmera focalizando suas costas, numa posição refletida da seqüência de abertura. Aqui ele finalmente aparece relaxado, despido de seu terno. Mesmo que sua mala eventualmente encontre o caminho de casa, Don Draper já está longe, livre daquela identidade que esforçou-se tanto por manter.

Enquanto isso na Sterling Cooper, depois de enfim sucumbir novamente à bebida (como já desconfiava), Duck transforma-se diante de nossos olhos e volta a mostrar o estilo arrojado pelo qual ficou conhecido. Aproveitando a ausência de Draper na empresa e a iminente separação de Roger, que lhe deixaria numa situação complicada -- contando com sua própria experiência, nesse caso --, Duck coloca o plano de negociação da Sterling Cooper em andamento. Embora a promessa seja de uma gama maior de clientes internacionais, francamente acho que Duck está apenas tentando sair vitorioso nessa, seja ganhando pontos com seus chefes antigos ou com os atuais. Já Peggy chega finalmente a simples conclusão de que ela não consegue escolher o cara certo: ou que está prestes a casar, ou que fez votos de castidades, ou nesse caso que é homossexual. A parte mais engraçada é como Kurt resolve sair do armário para os outros funcionários justamente quando Peggy e ele são "acusados" de estarem namorando. A reação imediata, de surpresa e depois com as inúmeras piadas, tem um impacto ainda maior por Salvatore estar na sala, sentindo até certa inveja pela revelação ser tão espontânea.



e.fuzii

Um comentário:

Marcelle disse...

Sei se gostei do episódio n. Não gostei da forma como os novos personagens foram inseridos. Mad Men sempre apresentou personagens como se já fossem velhos conhecidos do público, pois eles eram velhos conhecidos dos outros personagens. Daí surge esse grupo do nada... Não consegui ver um propósito para eles. E, Peggy, te entendo muito, amiga :p