domingo, 22 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x04 The Rejected

Após um episódio que dividiu opiniões na semana passada principalmente por conta de suas disparidades, Mad Men apresenta essa semana um dos episódios mais coesos de toda a série. Já considero este um de meus favoritos, tanto por toda coesão já citada como pela sutileza e as provocações tão bem construídas. Por isso, esse texto será um pouco diferente nesta semana, tentando mostrar sua qualidade mais com imagens do que com palavras. Até porque não existe série na atualidade que explore tão bem a arte da mise-en-scène. Para quem prefere textos mais "convencionais", recomendo os do Sepinwall, do Seitz (que tenta se redimir das críticas da semana passada) e do Mateus Borges.

1. "It's nobody's business!" – Don Draper


Fiquei bastante impressionado logo na primeira cena pela estreia de John "Sterling" Slattery na direção: além de precisar também atuar durante a cena, roteiros que dependem de conversas telefônicas, ainda mais em "conferência", tem sempre um nível maior de complexidade. E ele se sai muito bem, ainda que grande parte das direções fossem indicadas pelo próprio roteiro, co-assinado por Matthew Weiner. Espelhos e vidros são itens frequentemente usados pela produção na composição dos cenários, mas dessa vez aparecem como motivo para explorar a ilusão de privacidade na pesquisa de grupo conduzida pela Dra. Miller. Além disso, na cena que já virou clássica, Peggy resolve espiar por cima da divisória a reação de Don ao descontrole de Allison, parecendo que os dois foram acomodados em salas vizinhas para proporcionar esse momento. Don Draper é bastante taxativo quando decide rejeitar o resultado da pesquisa, dizendo que não se pode reafirmar aquilo que seu público alvo já pensa. Claramente alterado por Faye Miller ter extraído a dor das garotas e principalmente de Allison, Don Draper resume dizendo que essas particularidades não interessam a ninguém. Afinal, o que acontece entre quatro paredes fica entre quatro paredes, até mesmo para um casal de velhinhos discutindo sobre peras no final.

2. "It feels much different than I expected." – Pete
"How would you know what this feels like?" – Trudy



Todo o episódio foi construído através de paralelos, não só no mais notável deles, carregando cada diálogo e gesto de Pete com seu passado envolvendo a gravidez de Peggy, mas também em situações mais abrangentes como casamentos e negócios. Joan se sente rejeitada por não participar da pesquisa de grupo com as solteiras, enquanto Peggy tenta provar o anel de Faye sob o olhar surpreso de Don Draper, que por sua vez continua a se afundar em sua vida pós-divórcio, sem nem mesmo conseguir colocar em palavras. Allison tenta comparar sua situação com a de Peggy, que trata de deixar bem claro que nunca teve os mesmos problemas. E em lados opostos sentam-se os dois antigos oponentes Pete e Ken, comparando a visão de suas atuais empresas. Mas é motivado pela estratégia de Ken que Pete descobre finalmente como reverter a rejeição à Clearasil, chantageando seu sogro para conseguir uma conta ainda maior.


3.


Se o pilar no meio da sala não permitia que Pete tivesse visão clara das coisas (e é interessante que ele só consiga resolver seu problema quando deixa o escritório), para Peggy o pilar serve de confortável encosto na festa, apresentando a contra-cultura em toda sua essência. Logo que percebi o interesse de Joyce pensei que sua provável investida serviria para pegar Peggy de surpresa, mas pelo contrário, ela prontamente responde com uma sacada desconcertante. Mesmo que muito à vontade, ela ainda se mostra insegura diante de tantas ameaças ao seu conservadorismo. Apesar de apreciar o filme e as fotos de nudez por exemplo, Peggy logo se reprime dizendo ser católica e imaginando a reação da mãe de uma das modelos.

"The Rejected" termina com Pete e Peggy seguindo caminhos diferentes, dentro e fora da empresa, enquanto trocam sorrisos de admiração. Muito mais do que reconhecer aquilo que cada um conquistou, serve de conclusão para a relação entre os dois, para sempre abalada pelo filho perdido. Como já é tradição da série a cena é toda contemplativa, exigindo que cada espectador preencha com seus motivos e lembranças, assim como fazem os próprios personagens.


Fotos: Reprodução.

e.fuzii
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