segunda-feira, 9 de agosto de 2010

[The Wire] 1x02 - The Detail

Como já informado no texto anterior sobre a série, comecei uma maratona de "The Wire" e postarei no blog minhas impressões sobre cada episódio. A ideia é escrever logo depois de ver o episódio, o que ficou marcado no momento. Como acontece muita coisa (são muitos personagens que circulam pela trama) e não costumo fazer anotações enquanto assisto, os textos não trazem tudo que eu gostaria de abordar, mas são cheios de spoilers e só recomendo a leitura pra quem já viu o episódio em questão.


1x02 - The Detail

"You cannot lose if you do not play." - Marla Daniels

Como no piloto, este começa com um cadáver, mas desta vez que terá implicâncias mais reais para os personagens: a testemunha William Gant, que pode estar relacionado aos Barksdale – ou não, já que uma vez que D’Angelo foi absolvido, por que matá-lo?


O que basicamente temos aqui é uma definição maior do formato que provavelmente será adotado pela série: um acompanhamento minucioso dos eventos, que se desenvolvem tão lentamente, que o que interessa são os detalhes e os personagens. A conversa entre D’Angelo e seu tio, por exemplo, começa com o primeiro contando como foi o interrogatório de McNulty e Bunk, algo que sabíamos exatamente como aconteceu. Mas Avon não sabia e em outra série, provavelmente, seria o tipo de cena excluída por repetir o que o espectador já conhece. Aqui, serve para conhecermos a dinâmica entre os personagens, como o chefe Barksdale lida com os seus e reforça o que já tínhamos percebido de como D’Angelo vê toda a violência dos negócios.


Também acompanhamos a formação da “força-tarefa” comandada por Daniels, com o pior que a polícia pode oferecer, no pior local de trabalho possível. Novos personagens são introduzidos e só imagino que terão destaque porque um deles é feito pelo Clarke Peters, embora seja o policial Pryzbylewski o que mais chama a atenção no episódio, inicialmente pintado como um bobalhão, mas que se torna assustador quando agride um jovem de 14 anos, numa seqüência que define bem o transtorno que Daniels terá com “Prez” e a dupla já conhecida por ele (e pouco experiente) Herc e Carver.


O episódio estimula a curiosidade em saber no que resultará essa operação formada por gente tão incompetente (apesar de McNulty, Greggs e Daniels serem ótimos no que fazem), num sistema que claramente não se importa com o que eles estão fazendo, mas que inevitavelmente terá que lidar com as dimensões cada vez maiores dos eventos que, se foram iniciados por McNulty no episódio anterior, aqui continuam sendo desenvolvidos por ele, ao mais uma vez procurar o Juiz Phelan e piorando ainda mais sua situação diante dos superiores. O personagem continua sendo o centro da trama (e ainda temos uma rápida visão de seu caótico e vazio apartamento), embora Daniels tenha um maior destaque aqui, com todo o peso e responsabilidade em suas mãos que parece ser aliviado apenas se seguir o conselho de sua esposa (“Você não pode perder, se não jogar”). Tudo indica uma aproximação maior entre os dois protagonistas (únicos a quererem investigar com mais atenção a morte da testemunha) que, obviamente, tem que passar por um conflito envolvendo confiança.


Toda a articulação entre os personagens (que inclui ainda a participação crucial de Bubbles, o usuário de drogas do piloto) se dá com ótimos diálogos, onde o destaque fica com a discussão sobre o criador dos Nuggets ter ficado rico ou não com sua invenção. Se a série planeja um desenvolvimento detalhado, extenso e lento dos personagens e acontecimentos, será necessário esse tipo de diálogo que é, ao mesmo tempo, esperto, engraçado e que diz alguma coisa sobre os temas e a visão de mundo dos autores da série. No caso específico, D’Angelo provavelmente ressentido com sua nova posição filosofando sobre a máquina capitalista (“It´s about money!”) que enriquece apenas os patrões. E é curioso que depois, quando é interrogado na polícia, McNulty diz quase a mesma coisa que ele, mas completa questionando-o por quê no mundo das drogas, além do dinheiro, é preciso matar.


São estes pequenos detalhes, nos diálogos mais corriqueiros, onde se encontra a beleza maior, provável trunfo da série: os autores não apenas se propõem um retrato realista deste mundo que focaram, mas também comentam criticamente um certo estado de coisas.



Hélio Flores
twitter.com/helioflores

Um comentário:

Rodrigo Ferreira disse...

Ótimos comentários sobre esta série que merece ser conhecida por mais gente (mesmo mal que acomete Breaking Bad).

Parabéns pela iniciativa de apresentá-la aos leitores do blog.