sexta-feira, 31 de outubro de 2008

[Mad Men] 2x13 Meditations in an Emergency

O que fazer quando o mundo pode acabar a qualquer momento?

No auge da crise dos mísseis cubanos, pela primeira vez a ameaça de um conflito no meio da Guerra Fria torna-se realidade. O que se vê nas personagens, com essa dúvida de que o próprio futuro deixaria de existir, são atos confusos que revelam toda sua culpa e medo. Don Draper volta de sua viagem pela costa oeste disposto a colocar as coisas em ordem no seu casamento. Já Betty recebe uma resposta inesperada para seu sangramento do episódio anterior: está grávida. Era tudo o que ela precisava justamente quando tentava distanciar-se da sua vida condicionada a Don Draper. Apesar de tudo que ocorre no mundo a sua volta, Betty cria seu próprio estado de emergência e para forçar um aborto, faz o contrário de tudo que seu médico receita, seja montando cavalos ou até transando com um charmoso rapaz num bar (por acaso o Captain Awesome, de 'Chuck'). Se acompanhamos por toda a temporada um amadurecimento de Betty, perdendo aquela sua inocência quase infantil e seguindo cada vez mais os passos do marido, dessa vez ela atinge o auge quando percebe que essas amarras do casamento são inevitáveis. Betty não aceita o marido de volta só porque se sente culpada, mas sim porque agora também carrega um segredo e se sente no mesmo patamar de Don Draper, ainda que isso vá contra sua própria noção de superioridade (ter uma relação extra-conjugal). O encontro final do casal na cozinha causa desconforto por Betty aparentemente estar em dúvida entre revelar a gravidez ou a traição. Quando ela opta por continuar sustentando a mentira, temos enfim um momento terno, com um segurando a mão do outro, exatamente oposto à separação do final da temporada anterior.
Mas não é só em seu casamento que Don consegue triunfar nesse retorno. Com uma manobra já antecipada há alguns episódios -- Roger já dizia que Don não tinha contrato --, ele reverte a investida de Duck em presidir a Sterling Cooper e mudar a estratégia da empresa. A irritação de Duck, outra vez dominado pela bebida, deixa a impressão de que esse é o seu adeus final. Uma pena por toda a evolução de seus dilemas, principalmente nessa parte final da temporada. Por mais uma vez, Don evoca sua noção "romântica" da publicidade, o que me faz pensar que essa teimosia está inserida na sua personalidade. No seu encontro com Anna no episódio anterior, ele diz acreditar que as pessoas não mudam. Nesse caso, é esse seu "personagem" que não dá espaço para mudança, a não ser que ele volte às suas origens. Com a rápida evolução dessa década então, Don Draper corre sério risco de ser deixado para trás.
Peggy e Peter tem uma história a parte nessa temporada. Após o final do caso que estavam envolvidos, eles tiveram de fazer vários sacrifícios para adquirir maturidade na empresa. Peggy teve de esquecer sua misteriosa gravidez para chegar onde nenhuma outra mulher chegou na Sterling Cooper, mesmo que cercada de todos os lados para confessar. Peter lutava contra os dilemas de manter sua opinião sobre a adoção de um filho ou satisfazer o desejo de sua mulher e sua família. Ainda que esse apoio de seu sogro envolva sua carreira, acho que o elogio recebido de Don por ter conduzido bem os negócios em L.A. são mais do que suficientes. Toda essas situações são resolvidas numa única cena, uma conversa final na sala de Peter, enquanto os funcionários da Sterling Cooper corriam desesperados para suas casas. Enquanto ele revela seu amor e diz o quão perfeita ela é, Peggy decide finalmente confessar o destino de seu filho. Ironicamente, o filho legítimo de Peter foi posto para adoção. Ela fazendo o sinal da cruz antes de dormir mostra seu alívio em finalmente colocar as coisas a limpo, se não na forma de uma confissão formal ao padre, pelo menos para a pessoa mais interessada.

Embora tenha ficado bastante satisfeito com esse final, que acho até melhor do que da temporada anterior, algumas subtramas ainda ficaram em aberto. Principalmente os relacionamentos dos outros funcionários da Sterling Cooper, que foram tão desenvolvidos na temporada, acabaram ficando para só daqui a um ano. Já sinto uma saudade imensa dos anos 60, mesmo que isso ainda dependa da renovação de contrato de Matthew Weiner.




Com a vitória no Emmy desse ano, é impressionante a atenção dada a 'Mad Men' por toda a mídia americana. Depois da participação de Don Draper e companhia no episódio de Saturday Night Live dessa semana, o aguardado episódio de Halloween de 'Os Simpsons' (que vai ao ar no próximo domingo) também conta com uma genial homenagem a Mad Men na abertura:






e.fuzii

Um comentário:

Marcelle disse...

Sem palavras para o quanto essa temporada foi uma delícia de aompanhar, apesar de ter visto vários episódios logo após o outro (prefiro dar uma pausa entre episódios, pois acontece tanta coisa que preciso de um tempo pra absorver totalmente o episódio).

A S2 também mudou minha opinião sobre Peggy, Betty e Pete. Achava a Peggy muito passiva, apagada, mas ela se impôs muito nessa temporada, tanto que Pete percebeu que a amava. Não que eu acredite nisso. Para mim, Pete está bastante frustrado pelo casamento não ser do jeito que ele queria. Dizer que deveria ter ficado com a Peggy é só um escapismo.

Sobre Betty, considerava ela a esposa perfeita, a bonequinha de porcelana. Durante a temporada, foi ficando claro o quanto ela realmente é frágil, mas por conta de todos os desejos e vontades que ela guarda. Ela cresce muito durante a temporada por finalmente agir e pensar sozinha, mesmo que suas atitudes possam parecer um tanto quanto infantis. Espero que a gravidez não corte todo esse desenvolvimento.

Durante toda a S1 Pete foi o bajulador interesseiro, navegando seguindo a maré, sendo ambicioso, mas fraco e acomodado ao mesmo tempo. Aí na S2 ele começa a se aventurar, a ponto de lidar com os prováveis clientes sozinho em LA quando Don desaparece, enfrentar a esposa quando discorda em adoção, e preferir perder a conta da empresa do sogro a aceitar a imposição da adoção. Acho que o começo dessa virada é a morte do pai, tanto por ele ver que a vida não para quando alguém morre, quanto por descobrir que a fortuna do pai havia sido destruida e que ele teria que se virar sozinho.

Com relação aos outros personagens, concordo que houve algum desleixo, como o fim do romance do Paul com Sheila, mas espero ver mais sobre essas subtramas, como o casamento da Joan, na terceira temporada.