terça-feira, 31 de agosto de 2010

[Mad Men] 4x05 The Chrysanthemum and the Sword

"A man is shamed by being openly ridiculed and rejected. It requires an audience."

Acho que ficou bastante claro que este episódio tratou basicamente de diversas modalidades de vergonha, seja no papelão de Roger frente aos japoneses da Honda como na pequena Sally cometendo obscenidades na casa de sua amiga. Aproveitando esse tema e tomando como base a "cartilha" dos japoneses, Don Draper executa um plano para reverter a má impressão deixada por Roger e de quebra eliminar um de seus mais novos concorrentes. O grande problema é o quanto essa trama precisou ser enxuta para caber em um só episódio, algo até pouco comum na série. Além disso, estas questões de desonra e decepção são sempre recorrentes no cinema oriental e ainda mais quando vista sob o olhar estrangeiro. Entendo que essa superficialidade pode ter sido intencional, principalmente numa época em que recomeçava a aproximação entre americanos e japoneses, até mesmo através do livro que dá nome ao episódio. Porém, nada justifica a forma como Ted e os japoneses foram mal tratados pelo roteiro, servindo apenas de meros recursos para Don Draper prevalecer. É preciso algo mais elaborado para reestabelecer sua genialidade, como sempre reconheci. Terminou parecendo um episódio tradicional de House, com uma certa benevolência com o protagonista que normalmente me preocupa, embora Mad Men sempre tenha lidado com isso de maneira bem natural.

Mas houve outra cena quando isso também me incomodou. Após dois episódios longe da série, Betty aparece em sua primeira cena desferindo um tapa no rosto da pequena Sally. Apesar de claramente transformá-la em vilã para assim Don parecer com uma imagem de pai "melhor", confesso que ainda fico em cima do muro para interpretar essa atitude. Até porque isso provavelmente seria visto como algo normal na época, assim como a grosseria de Roger quando invade a reunião com os japoneses. De qualquer forma, faltou sutileza durante grande parte do episódio, como Pete entrando na sala de Roger para tirar satisfação e escancarando que ele estaria com receio de ser deixado pra trás. Como se já não ficasse ambiguo o suficiente quando Roger deixa a reunião dizendo estar satisfeito com a Lucky Strike. Outra participação que me irritou bastante foi a constante presença de Mrs. Blankenship como alívio cômico, quebrando o ritmo de várias cenas. Se era para transmitir leveza no roteiro, passaram do ponto. Até porque sem chance de Don Draper aguentar viver com esse tormento por tanto tempo, ainda que conformado com a punição por não saber lidar com uma secretária mais jovem. Já todo o rancor guardado por Roger durante tanto tempo me pareceu adequado. Além de ser consequência também da propaganda na época da guerra, seu sarcasmo sempre mostrou certa dose de intolerância, como na vez que cantava com a cara pintada de preto.

O que achei mais interessante foi como aquele tema de privado/público da semana anterior apareceu também na trama envolvendo Sally. Afinal, ela se escondeu para cortar o cabelo e foi acusada (injustamente) de masturbar-se em frente à amiga. Posso imaginar como deve ter sido difícil dar instruções à pequena atriz de como reagir em cena. Enquanto Sally se mostra cada vez mais rejeitada pelo pai, a ponto de chamar atenção e querer ficar parecida com uma de suas namoradas, ela está cada vez mais exposta a todo tipo de situação que ainda não é capaz de compreender. Some isso às constantes ameaças e mesmo agressões para termos um legítimo caso a ser tratado pela Dra. Edna. Na breve entrevista em seu consultório, Betty reforça suas inclinações infantis não só se mostrando à vontade com a psicóloga -- que faz questão de ser chamada pelo nome --, como ao final olhando fixamente para a casa de bonecas, ao mesmo tempo satisfeita por ter colocado tudo em ordem em sua própria casa e irritada pela filha não reconhecer/valorizar isso. A decisão de focar a tensão na sala de espera em sua primeira visita, quando Betty também não faz questão de estar presente, também pareceu um acerto, principalmente por manter a privacidade de sua sessão.
Outros dois momentos brilhantes do episódio aconteceram exatamente quando os personagens puderam "respirar" melhor em cena. No primeiro deles, Joan aproveita sua intimidade de longa data com Roger para convencê-lo de que deveria se orgulhar por ter ajudado a fazer um mundo melhor. Ela mostra novamente toda sua competência sabendo separar seu lado profissional do pessoal e agindo com extremo otimismo, mesmo que a iminente partida de seu marido à guerra seja tudo o que ela mais teme na vida. No outro momento, Don Draper encontra Faye Miller na cozinha da SCDP após um longo dia de trabalho. Se a relação dos dois sempre esteve abalada por divergências profissionais, ambos encontram um ponto em comum quando começam a compartilhar seus segredos. E Don aproveita como nunca se viu (ao menos com uma mulher) para revelar seus receios e aflições em relação aos filhos. Ainda fragilizado, ele termina sozinho sem nem mesmo tentar chamá-la para sair. Parece questão de tempo para aprofundar esse envolvimento, que começo a considerar cada vez mais benéfico para Don. Seria por saber agora a verdade por trás do falso anel de casamento? Ou porque, como diria Peggy no grupo de pesquisa, ela é muito boa para lidar com as pessoas?

Falando em Peggy, não posso deixar de destacar minha cena favorita do episódio, quando ela finge estar gravando o comercial no estúdio. Uma garota sobre uma motocicleta vermelha andando em círculos num cenário branco. Poderia ficar horas e horas vendo essa imagem e posso garantir com certeza que é melhor do que grande parte da publicidade veiculada atualmente.
(retirado de bestweekever.tv)

Fotos: Reprodução.

e.fuzii
twitter.com/efuzii

Um comentário:

Lucas Alves disse...

Entre os novos personagens desta quarta temporada, Faye Miller foi quem mais chamou a minha atenção e gostei bastante daquela conversa dela c/ Don na cozinha. Além disso, achei a trama c/ Sally muito interessante e torço p/ que ela seja retomada mais vezes nessa temporada.